quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

PERANTE OS NOSSOS OLHOS!

 


Perante os nossos olhos, acontece um novo Holocausto!

“O Holocausto foi a perseguição sistemática e o assassinato de 6 milhões de judeus europeus pelo regime nazista alemão,  seus aliados e colaboradores. O Holocausto foi um processo contínuo que ocorreu por toda a Europa entre os anos de 1933 a 1945.”

 

Perante o nosso olhar e face à indiferença dos “poderosos”, incentivados pelos falcões da guerra e o alheamento hipócrita dos que só veem crimes se praticados pelos não amigos, o governo terrorista de Israel, persiste o assassinato de milhares de Palestinos e o arrasar de Gaza e da Cisjordânia.

Perante o silêncio cúmplice de governos e opinadores que, cumprindo as ordens do imperialismo teimam em apelidar de terroristas os que morrem e de Estado “bom” quem os assassina, assistimos com a minha (e de muitos outros) indignação, ao ruidoso silêncio do Governo e Presidência da República do meu país, face às tentativas de crucificação de um Português que, no exercício das obrigações do prestimoso cargo que detém, tem denunciado os crimes perpetrados a mando do governo terrorista de Israel com o apadrinhamento dos EUA e dos seus súbditos da União Europeia.

No momento em que escrevo ainda não é conhecido o resultado de mais uma corajosa decisão de António Guterres para tentar travar o morticínio mas face ao que tem sido a posição dos Estados Unidos, não será de admirar que mais uma vez, os EUA garantam o “colinho” aos assassinos através do seu Veto nas Nações Unidas. Independentemente do que for o resultado da reunião do Conselho de Segurança da ONU este não apagará a posição (que entende no mínimo de cobarde subordinação) do governo e presidência portugueses.

Ao nível da nossa região constatamos igualmente que não há grandes diferenças do que se constata a nível dos governantes. Aqui, persistem os silêncios ruidosos de quantos se afadigaram (e bem) a denunciar os mortos na Ucrânia e particularmente com as imagens que nos chegavam de vítimas civis ou, no início deste conflito, quando tomamos conhecimento das vítimas do ataque dos guerrilheiros do Hamas a civis israelitas, mas que agora fingem não ver, ouvir ou ler sobre o “holocausto” em Gaza e na Cisjordânia.

Triste postura de quem teima em ver, sempre, à luz da ideologia que defendem e à catalogação que a essa luz fazem do que é bom ou mau, certo ou errado e que muitas vezes é o resultado de um misto de fanatismo e desinformação.Ainda na passada semana um dos chamados cidadãos informados a quem a Rádio Portalegre dá tempo de antena, afirmava, sem…digamos pudor, ainda não se ter apercebido que “a nossa esquerda apoiante desta Rússia” tenha comentado/condenado a posição do Supremo Tribunal Russo de considerar Persona não grata a associação LGBT+.

Um bom exemplo do que designo como resultado da mistura do fanatismo e desinformação. Fanatismo ideológico que não estranha o silêncio sobre o genocídio na Palestina mas se incomoda (e bem) com a perseguição por motivos de orientação sexual. Fanatismo ideológico e desinformação por não ter ainda percebido que há décadas que a Rússia é governada à direita e que só por maldade ou estupidez se pode querer colar a “nossa esquerda” às posições neocapitalistas dos governantes russos.

E assim, também por cá, entre festarolas que hipnotizam e opinadores que se limitam a difundir “a verdade” fabricada nas centrais do capitalismo, promovemos a anestesia, o desinteresse e o conformismo. Até quando?

 

Diogo Júlio Serra


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Está tudo grosso, está tudo louco!



Este país é um colosso. Está tudo grosso!

Está tudo louco!

Titulei o presente escrito com uma rábula popularizada nos anos 80 do século passado num popular programa televisivo com os atores Ivone Silva e Camilo de Oliveira.

Era assim que terminava uma rábula revisteira dos “Agostinho e Agostinha” que denunciava a situação vivida em Portugal, quando o país “sofria” a governação da direita protagonizada pela AD (PPD+CDS+PPM).

Quarenta e três anos depois, no mesmo país, uma qualquer resposta ou comentário de um treinador de futebol a um jornalista desportivo, durante uma conferência de imprensa, transforma-se em motivo de acesas discussões e levanta entre os comentadores do futebol uma onda de protestos e análises e levou mesmo a associação que representa os jornalistas desportivos a exigir desse treinador e da sua entidade patronal um pedido de desculpas.

Eu, como certamente a maioria dos portugueses e até dos que se sentiram ofendidos. Não ouvi tais afirmações e não tenho nenhum interesse em ouvi-las, compreendo a agitação.

Até aqui “tudo bem”. Sei, embora tal me desgoste, que uma parte significativa dos portugueses tem maior facilidade em indignar-se com um pontapé mal dado, com o livre não marcado ou com uma resposta de um qualquer agente do futebol do que a indignar-se com a abertura (por encomenda?) de mais uma crise politica em Portugal, com os horrores das guerras, com o genocídio do povo palestiniano que o Estado Terrorista de Israel leva a cabo em Gaza e nos territórios ocupados da Cisjordânia.

Contesto mas percebo! Já tenho uma grande dificuldade em perceber e aceitar, certamente por estar muito marcado por uma vida inteira dedicada à acção sindical, que uma associação sindical portadora de um passado de luta contra a censura e o cerceamento das liberdades que o fascismo lhes/nos impunha, se sinta “obrigada” a vir a terreiro tomar posição sobre este incidente.

Trata-se de defender um seu associado (o jornalista desportivo) dir-me-ão. E eu estaria “obrigado” a perceber tal posição. Só que essa associação sindical tem vindo, nos últimos anos, a fingir que não vê, não ouve, nem lê os ataques soezes, as perseguições e a violência exercida sobre jornalistas, também portugueses, só porque estes não se deixam corromper e não são megafones dos poderosos.

Refiro-me como facilmente já perceberam da mesma associação sindical que não levantou um “pio” quando camaradas seus eram vilipendiados e presos por persistirem em serem jornalistas no lado “dito errado” das guerras. Não tiveram uma palavra de censura perante uma “comentadeira” portuguesa que quase apelava a que assassinassem o jornalista Bruno Carvalho que cobria a guerra da Ucrânia a partir das Repúblicas do Donbass. Uma associação que mantém o mesmo silêncio ensurdecedor, face às intervenções policiais nas escolas e universidades que nos trazem à memória as incursões do famigerado capitão Maltez nos tempos do fascismo.

“Arrumado” este assunto do pontapé na bola, dois pequenos apontamentos esses sim, a meu ver, passíveis do nosso enérgico protesto.

Primeiro os olhares diferentes que a auto intitulado “Mundo Ocidental” lança sobre a guerra da Ucrânia e o genocídio do Povo Palestiniano e sobretudo a ligeireza com que cataloga de terroristas uns ou outros, não pelas suas praticas mas pelos ideais e sobretudo pelas “ordens” que lhes chegam dos centros de decisão que os/nos controlam sejam os sedeados no Vaticano ou na Casa Branca.

Por último, a campanha de destabilização interna visando alinhar o nosso país nas cartilhas da U.E. e dos USA que endeusam o capital e usam as políticas de ódio e as guerras como instrumento de garantia para os seus mandantes, de que continuarão a acumular riqueza, independentemente de qual seja o preço a pagar pelos povos.

Que não cometamos os erros do passado! Que saibamos semear e manter a PAZ!

Diogo Júlio Serra

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

VEMOS, OUVIMOS E LEMOS...

 VEMOS OUVIMOS E LEMOS...


Vemos, ouvimos e lemos…

Cumpriram-se este ano duas décadas, desde o dia em que o chamado Ocidente (leia-se EE.UU. e seus apaniguados) invadiram militarmente o Iraque. Fizeram-no, como bem sabemos, alicerçados numa mentira deliberada porque bem sabiam, particularmente a CIA, americana e o MI6, inglês, que não existia qualquer programa de armas de destruição maciça.
Entre os dirigentes e países que construíram a mentira e estimularam a guerra, Portugal e o então Primeiro-Ministro Durão Barroso que viria a ver premiada a sua postura com a oferta da cadeira de Sr. Europa e posteriormente com empregos milionários ao serviço dos mesmos senhores.
Sobre essa mentira usada e abusada pela comunicação domesticada pelos mesmos interesses gastaram-se rios de tinta e ouviram-se milhares de discursos, incentivou-se o ódio, rapinaram-se recursos, arrasou-se um país e assassinou-se o seu Presidente, Saddam Hussein.
Hoje, sabemos todos quais os resultados e sabemos particularmente que o Iraque e o mundo não ficaram melhores.
Vinte anos depois o Médio Oriente volta a viver momentos dramáticos e os mesmos de então afadigam-se em inventar narrativas, outra vez, para fazerem crer à opinião pública que os horrores que todos vimos não são assim tão graves e que estão a fazer de tudo para os minorarem.
Enquanto o genocídio do Povo Palestino se mantém e se acelera através da terraplanagem bombista em Gaza e das acções terroristas dos colonos judeus na Cisjordânia, os “bem-pensantes” do mundo dito ocidental dividem-se entre, o assobiar para o lado ou o aplauso mais ou menos entusiástico.
Sempre ouvi dizer que “Tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica a vigiar” e é à luz desse ensinamento que analiso a posição das inúmeras “virgens ofendidas” sempre disponíveis para condenarem “invasões”, “crimes de guerra”, “bombardeamentos de civis” e “mortes de crianças” quando perpetrados por quem identificam por “inimigo” e que estão agora de olhos e ouvidos tapados ou, pior, se afadigam na procura de justificações para a matança que um estado terrorista desencadeou e mantém num território que, ocupa ilegalmente há décadas e contra um povo que mantém prisioneiro numa pequena parcela de terreno que lhe roubou.
Neste turbilhão de cobardia, hipocrisia e maldade inclui-se o estado português e os seus governantes. Uma postura tanto mais grave por se comportar no panorama internacional da mesmíssima maneira a que já nos habituou nos casos domésticos: leão para com os fracos, cachorrinho para com os fortes.
Já o havíamos registado quando na sua sede de agradar ao Tio Sam permitiu todas as diatribes à embaixadora da Ucrânia que não se coibiu de estimular e participar em manifestações contra partes de estado português ou manifestações de ódio desenvolvidas por cidadãos desse país que a embaixada apoiava, contra cidadãos e autarquias portuguesas.
Vemo-lo agora, de novo, quando permite que o representante sionista em Portugal ataque tudo e todos que recusem seguir a cartilha de Telavive; sejam jornalistas, partidos políticos ou, até o Secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres.
A passividade do governo português perante tais posturas de arrogância intolerável e desrespeito pelo estado que os acolhe é simplesmente chocante. Em qualquer país “a sério” tais posturas garantir-lhes-iam um bilhete só de ida, para os seus países.
Também os ataques do Estado de Israel ao Secretário-geral da ONU e à própria Organização deveriam ter originado a chamada do Embaixador de Israel em Lisboa para dar explicações das razões da suas acusações ao Secretário-geral que se limitara a constatar o óbvio: O Estado de Israel desrespeita sistematicamente as resoluções das Nações Unidas.
O mesmo ensurdecedor silêncio das “virgens ofendidas” perante as afirmações de ódio do Sr. Netanyahu, um fugitivo à justiça do seu próprio país através duma golpada judicial e que agora aposta no extermínio de todo um povo.
Sim, eu sei, que o Estado Terrorista tem o “colinho” dos Estados Unidos mas nada justifica que calemos o genocídio que decorre sob os nossos olhos.
Freedom for Palestine!
Diogo Serra


terça-feira, 31 de outubro de 2023

 TAL TÁS PORTALEGRE



Nas últimas semanas a atenção dos portalegrenses tem vindo a ser requisitada por diferentes e graves acontecimentos mundiais e por importantes momentos da vida nacional.

No primeiro caso, o ataque do Hammas e o rol de assassinatos e raptos que espalharam o terror entre os civis na zona ocupada e a brutal e desproporcionada intervenção do Estado Terrorista de Israel que já somam muitos milhares de mortos, quase todos civis, particularmente na prisão a céu aberto que Israel instalou em Gaza e que vem acrescentar horror ao que se tem vivido, e continua a viver, na Europa fruto da guerra na Ucrânia.

No segundo caso tem sido a da discussão (ou a falta dela) do Orçamento de Estado para 2024, que tem estado na agenda política.

Aqui enquanto o governo, alicerçado na sua maioria absoluta, persiste em continuar as suas políticas anti Robin dos Bosques, políticas de “roubar aos pobres para dar (cada vez mais) aos ricos, temos assistido a posições muito díspares das diferentes forças políticas com assento parlamentar:

À esquerda com apresentação de propostas visando levar todos os setores da sociedade a contribuírem para o esforço necessário a melhorar as condições do país e dos portugueses e em particular a resposta necessária e urgente no SNS, na habitação e no ensino.

À direita através de “rodriguinhos” que fingem estar contra o que eles próprios defendem e fizeram. Percebe-se que a haver diferenças seriam tão só mais duras e mais rápidas. Mesmo quando invocam os altos impostos ou a reforma fiscal esquecem ou querem que nós esqueçamos, como estiveram todos unidos para derrotarem a proposta do PCP que propunha a redução dos impostos para quem trabalha e a obrigação dos bancos e seguradoras, que têm recolhido lucros diários de onze milhões de euros contribuírem para a alivio da carga de juros da habitação ou diminuírem os custos da energia e dos combustíveis.

Têm sido razões de peso a reclamarem a nossa atenção e, infelizmente, a afastarem-nos do que se tem passado no nosso território e na nossa cidade.

Porque focados nos temas nacionais e internacionais não reparamos, ou não demos a devida atenção à vinda ao nosso distrito da Direção do Grupo Parlamentar do partido que suporta o governo que aqui veio, para entre outros locais, visitar o Hospital Doutor José Maria Grande porque, disse-nos, “é um hospital que tem dado particular atenção aos cuidados paliativos e queremos apoiar e apostas em políticas de envelhecimento digno”.

Assim, não questionámos ou sequer soubemos se dessa visita foram dadas as garantias para tornar mais célere a aquisição do colégio para a necessária ampliação do hospital, para garantir dotar o hospital com os recursos humanos em falta ou, tendo em conta a vontade, legítima, de apoiar e apostar em políticas de envelhecimento digno, sabermos o que estão a fazer para minorar os efeitos dos despedimentos na Misericórdia de Portalegre ou para garantir o financiamento adequado às IPSS da nossa região a quem trata da mesma maneira que as situadas em Oeiras ou Cascais.

Igualmente não demos a devida atenção às visitas das Senhoras Ministras da Justiça e da Coesão. Pelos motivos apontados não aplaudimos o anúncio da primeira de que o Tribunal encerrado há dez anos vai agora (em Novembro) ver a obra colocada a concurso e da segunda o pagamento da parte do governo nas obras que os municípios tiveram que fazer face às destruições ocasionadas pelo temporal do ano passado.

Houve mais. Na nossa cidade e com a responsabilidade a nível local, continuamos a testemunhar a paralisia da Fundação Robinson e a degradação do seu património imposta pela inércia de uns e a incompetência de muitos outros.

A realização de uma Assembleia Municipal extraordinária, acordada por todos os grupos nela representada, que à incompetência e insensibilidade de quem nos trouxe até aqui, se junta agora a arrogância dos que legitimamente eleitos para assumirem os destinos do concelho, dois anos passados não conseguiram sequer entender as responsabilidades do município que dirigem.

Nem todos se demitem das suas responsabilidades. A Assembleia Municipal de Portalegre, com a oposição da Mesa que a Preside e do Grupo que suporta o Executivo, decidiu o fim da paralisia – apontando para que sejam nomeados os órgãos sociais da Fundação Robinson e que se possa saber a situação real da Fundação e do Espaço à sua guarda.

Diogo Serra


quarta-feira, 4 de outubro de 2023

A IDEIA NUNCA ABALA

 



Robinson – “a ideia nunca abala”!

No próximo dia 13 de Outubro realizar-se-á uma sessão da Assembleia Municipal dedicada à Robinson. Para análise da situação do projecto Robinson e, espero eu, para definir o início de um futuro para aquele emblemático espaço no coração da cidade.

Será aconselhável que desta vez possamos encontrar, quer as soluções para o espaço Robinson e para o património que ele detém, (uma fábrica Corticeira ainda operacional, um tesouro de memórias e de património industrial, um núcleo museológico deixado ao abandono durante anos, etc…) mas também, conhecer como funcionou a Fundação com o seu nome, as suas contas ou a falta delas, o desleixo que todos testemunhámos, com roubos e vandalização do património, com derrocadas sofridas e provocadas e, sobretudo que futuro existe para o espaço Robinson.

Sabermos se existe ou não espaço para retomar o sonho de quantos entendiam que a velhinha Robinson mesmo depois de “assassinada” poderia continuar a ser motor de desenvolvimento da cidade e da região.

A decisão da Assembleia Municipal só terá utilidade se a discussão se desenvolver visando dois objetivos:

a)     Analisar, sem tabus, o caminho percorrido desde o início do projeto até aos dias de hoje. Os sucessos e os erros, os custos e os benefícios, as dívidas e os proveitos.

b)     Não deixar “lixo” debaixo dos tapetes e assumir que o instrumento idealizado na altura para concretizar o projeto Robinson - a Fundação com o seu nome - morreu e não é sequer necessária.

A Fundação foi a ferramenta então criada para garantir a gestão de um património entregue a entidades públicas e privadas, situação que foi alterada imediatamente a seguir à sua constituição.

Desde os primeiros momentos a única entidade em presença foi e é a Câmara Municipal de Portalegre. É esta entidade, como sempre foi, a responsável pelo bom e pelo mau da gestão do processo Robinson, pelo que, quaisquer caminhos de futuro só podem passar pela extinção da Fundação, e a sua internalização no Município.

A decisão da Assembleia Municipal de trazer ao debate político a questão Robinson só terá validade se conseguir ter presente que a Robinson e a Fundação com o seu nome não podem continuar a ser instrumentos de arremesso na luta político-partidária, desligados da importância económica e social que o espaço Robinson, sete hectares no coração da cidade, a marca Robinson, a sua fábrica da cortiça e as memórias que encerram são parte do riquíssimo património cultural de Portalegre e dos portalegrenses.

Os efeitos deste retomar da discussão do que se queria e ou quer para o Espaço Robinson tem o mérito de arrancar a Robinson do esquecimento para que tem vindo a ser arrastada e pode (e deve) trazer à luz do dia os custos que a cidade (todos nós) paga pelo desleixo de alguns.

Por fim, uma sugestão. Porque não aproveitar esta vontade serôdia de discutir a nossa cidade e trazer à discussão essa outra nódoa que se mantém escondida: O ICTVR - Internacional Center for Technology in Virtual Reality, e os milhões que custou ao erário público e, esclareça-se, à Fundação Robinson.

Porque o primeiro passo para a cura é assumir-se a doença… Que o consigamos fazer agora!

Que possamos, ainda, aproveitar o enorme potencial que a Robinson encerra.

 

 

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Olhar com olhos de ver!

 

Olhar com olhos de ver!

 


Os “Olhares sobre o Norte Alentejano” levaram-me (e a dezenas de outros interessados) a Castelo de Vide. No Cine-teatro local, IDECI e os seus convidados, brindaram-nos com uma interessante conferência que, pela temática em análise e pela qualidade dos conferencistas deixou-nos mais conscientes dos nossos recursos enquanto região e população, das nossas fragilidades e desafios mas, igualmente, reforçou a esperança de que, ainda é possível.

Ali foi reafirmada a necessidade do território resolver ou minimizar a grave situação demográfica que nos afecta, a necessidade absoluta de atrairmos gente e sobretudo garantir condições de trabalho e de rendimentos que estimulem a fixação dos nossos jovens. Falou-se, e bem, da necessidade de garantir-lhes trabalho, rendimentos, segurança, tempos de convívio e de lazer, condições que permitam e estimulem a compatibilidade do trabalho e da vida familiar.

Na conferência houve até espaço, para um “departamento do governo central” nos tentar vender a bondade das políticas que todos encaramos como corresponsáveis pela situação que vivemos. A medida que nos veio vender já distribuiu milhares de euros e conseguiu trazer para o distrito de Portalegre desde 2020, através do seu programa regressar, 59 (cinquenta e nove) ex-emigrantes… 

Entretanto os grandes meios da comunicação social descobriram agora uma realidade sentida e denunciada desde há muito, pelos trabalhadores e as suas estruturas representativas: a precariedade no trabalho e os baixos salários são os principais factores que empurram os jovens trabalhadores para as grandes metrópoles e aceleram o despovoamento de cada vez maiores faixas do território nacional.

Como também em Castelo de Vide nos foi lembrado, o salário médio em Portugal é baixíssimo mas ainda assim, o salário médio no Alto Alentejo é significativa-mente inferior.

Aqui, como no todo nacional, aos baixos salários junta-se a enorme precariedade que se abate sobre quem trabalha mas, especialmente sobre os jovens trabalhadores.

 Portugal é um dos países da União Europeia com mais trabalhadores com vínculos precários. O terceiro no Pódio diz-nos agora o Eurostat e, sabemo-lo nós, no último ano, 80% dos contratos de trabalho celebrados foram contratos a termo e/ou com outros graves factores de precariedade.

No primeiro trimestre deste ano,17,2% dos contratos de trabalho por conta de outrém eram precários. E, isto a comunicação social não nos traz, Portugal é também dos que mais beneficia o capital e prejudica salários com impostos.

Pois bem, detectadas as razões que mais influenciam a nossa situação demográfica seria fácil, penso eu, eliminá-las ou minimizá-las e iniciarmos a inversão do caminho que temos vindo a percorrer.

Fácil? Sim e não!

Fácil se existisse vontade politica alicerçada numa estratégia de desenvolvimento harmonioso e sustentável para o país, que valorizasse as regiões mais debilitadas pela visão centralista e de pilhagem dos recursos e da esperança das populações mais afastadas dos centros de decisão.

Não porque se mantém no poder a mesma vontade de viver e nos impor, não a democracia/liberdade cantada por Sérgio Godinho e sonhada por milhões de portugueses mas a democracia/liberdade de que Mário Soares foi “pai”.

Já agora, importa recordar que foi o Primeiro Governo Constitucional que criou a possibilidade legal de precarizar o trabalho. É desse governo, liderado por Mário Soares, a “imposição” do decreto/lei 781/76 que recuperava uma medida do fascismo e permitia a contratação a prazo.

Disseram-nos que era uma medida temporária mas hoje, sabemo-lo dolorosamente, foi a abertura de uma porta que nunca mais se fechou…

 

Diogo Júlio Serra

domingo, 10 de setembro de 2023

 REALIDADE VERSUS FICÇÃO


     Terminadas as férias, para aqueles que as puderam ter, voltemos ao trabalho. Um
regresso que a classe política e a comunicação social gostam de apelidar de “
REENTRÉ”.
     É um regresso à realidade que uns observam à distância e outros teimam em
ignorar.
     Para os trabalhadores por conta de outrem, para os desempregados, os
reformados e pensionistas e também para o pequeno comércio tradicional não se trata de
qualquer regresso ou “reentré”, uma vez que, nunca saíram (nunca lhes permitiram sair)
dos problemas com que estão desde há muito confrontados. Problemas agora
brutalmente agravados pela perspectiva de desaceleração do crescimento (2,4% em
2023 e ainda mais em 2024), situação que não pode ser desligada da guerra na Ucrânia e
das sanções à Rússia, mas também das políticas das contas certas, do “aluno bem
comportado” que o governo teima em assumir à custa do crescimento económico, da
compressão do investimento público, da degradação da qualidade dos serviços públicos
e da desvalorização dos seus trabalhadores.
     Os resultados já não podem ser escondidos. De acordo com os dados divulgados
pelo INE da evolução do emprego e desemprego no 2º trimestre destaca-se o aumento
do desemprego, o forte aumento da precariedade e a continuação da perda de poder de
compra dos salários.
     O desemprego regista uma descida trimestral de carácter sazonal, mas cresce
perto de 9% em relação ao trimestre homólogo, com mais 25,7 mil desempregados, num
total de 324,5 mil.
     A taxa de desemprego tem a mesma evolução, sendo agora de 6,1%, tendo
subido também entre os jovens menores de 25 anos para 17,2%, uma das mais elevadas
da União Europeia.
     Acrescem os trabalhadores sub-empregados a tempo parcial, os inactivos
disponíveis e indisponíveis, num total de 300 mil. Em conjunto, a subutilização da força
de trabalho abrange 625,3 mil trabalhadores representando 11,5% da população activa e
também tendo aumentado face ao 2º trimestre de 2022.
     Perto de dois terços do número real de desempregados não tem qualquer
prestação de desemprego ou, quando tem, o valor médio fica-se pelos 575 euros, e com
metade dos desempregados a receber até 500, abaixo do limiar de pobreza.
     O crescimento do emprego registado este trimestre foi conseguido à custa de um
forte aumento da precariedade, que representa 80% desse aumento.
     No espaço de um ano o número de trabalhadores com vínculos precários
aumentou em 88 milhares (+13%), verificando-se também um aumento face ao
trimestre anterior. De acordo com estes dados, há 756 mil trabalhadores com vínculos
de trabalho precários, correspondendo a 17,8% do total, mas entre os trabalhadores com
menores de 25 anos chega aos 57%.
     Outro aspecto preocupante é a destruição de emprego entre os trabalhadores
licenciados que, no espaço de um ano reduzem-se em 128 milhares.
     Os salários continuam a perder poder de compra. O rendimento salarial médio
mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem foi de 1.044 euros no 2º trimestre,
tendo crescido 0,5% em termos nominais, mas descido 3,7% em termos reais.
     Os números mostram que para os que estão agora de “Reentré” é preciso arrepiar
caminho. Para os outros, para os que não reentram porque nunca saíram o caminho,
como bem sabem, é a luta. Luta em que não é necessário reentrar porque, tal qual os
problemas, nunca se saiu dela.
     É preciso responder aos problemas que persistem e que causam a degradação das
condições de vida de quem trabalha. É preciso romper com o modelo de precariedade e
baixos salários vigente no nosso país e valorizar o trabalho e os trabalhadores.
     Sim, é necessário e é possível. Assim o queiramos!

Diogo Serra

domingo, 23 de julho de 2023

 


Falar de Turismo em tempos de férias!

Em época estival e numa das “Catedrais do turismo de “Sun and Sea“ despeço-me do caminhar que ao longo dos últimos cinco anos percorri com outos companheiros na Direção do Turismo Regional.

Ao longo desse tempo procurei dar o meu modesto contributo para conseguirmos que o sector atingisse os patamares de excelência por todos reconhecidos e que destaca a indústria turística, em crescimento sustentado, como o maior contribuinte para o PIB regional colocando-o este ano, números dos primeiros quatro meses, a superar em mais de 40% as receitas registadas em 2019, o melhor ano do turismo Regional antes da pandemia.

A partir de 19 de Julho uma nova equipa com “Nova Ambição” dirige a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo e pela sua composição e competência dos seus membros garante que os próximos cinco anos serão de consolidação e crescimento da atividade turística no Alentejo e no Ribatejo.

A equipa liderada por José Santos e Pedro Beato e que inclui a “nossa” São Grilo, diretora da Escola de Turismo e Hotelaria de Portalegre, contém a " genica”, a competência e a experiência que garantem mais cinco anos de êxitos e justificam a esmagadora maioria dos votos que a assembleia eleitoral lhe conferiu. Assembleia que inclui os representantes das autarquias das empresas e trabalhadores do sector.

Entretanto também no nosso distrito e cidade a época é de intensa actividade turística e cultural.

Por todo o distrito sucedem-se os festivais, as feiras, as exposições e os congressos visando atrair e fixar visitantes nacionais e estrangeiros e colocar o distrito no roteiro dos festivaleiros atraídos pelos nomes sonantes incluídos nos cartazes anunciados.

De Alter do Chão a Sousel multiplicam-se os eventos e estimula-se a atractividade de novas gentes para os seus territórios:

Em alter do Chão com o Horse Summit, em Arronches com a FAE – Feira das Actividades Económicas, em Avis com a Feira Franca. Em Campo Maior reedita-se a Festa das Flores, em Castelo de Vide inaugurou-se a Casa da Inquisição e no Crato está anunciada a nova edição do seu conceituado Festival.

Em Elvas a aposta principal foi no Festival Medieval, enquanto Fronteira aposta no Todo o Terreno e Gavião tem em Belver e no seu castelo pontos fortes na atração de turistas.

Monforte mostra-nos o seu belíssimo património religioso enquanto Marvão volta a proporcionar-nos momentos sublimes com o seu Festival Internacional de Música e Nisa usa o Tejo, os bordados e a olaria pedrada para nos deslumbrar.

Ponte de Sor presenteou-nos com as Festas da cidade e uma sua freguesia, Galveias, prepara-se para inaugurar o Centro de Interpretação José Luís Peixoto e a Rota Literária Galveias enquanto Sousel aposta no título de Capital do Borrego para garantir pela gastronomia os trunfos que necessita.

Portalegre cidade e concelho acompanham o distrito nesta intensa actividade turística-cultural. Foram as Festas da Cidade, as inúmeras e importantes exposições no Museu da Tapeçaria e nas Galerias de S. Sebastião e Sta Clara e foram-no, igualmente, os diversos debates e conferências organizadas por diferentes entidades a que importa juntar os passos dados na organização de um Roteiro Turístico concelhio.

Mas toda essa intensa actividade não consegue esbater o desperdício que teima em manter.

Falo-vos do Núcleo Museológico da S. Francisco que se mantem teimosamente encerrado e do Espaço Robinson, uma joia no meio da cidade e que, ao que parece, já nem para as garraiadas serve; estas aburguesaram-se e passaram-se para a zona do mercado municipal.

Num tempo em que a Industria do Turismo “descobriu” o Turismo Industrial desperdiçar uma marca que incorpora a cultura industrial da cidade capital industrial do Alentejo, uma fábrica corticeira do século XIX ainda intacta e pronta a funcionar e uma outra que nos podia contar a história da Industria “laneira” em Portalegre é, mais que uma profunda insensibilidade, um quase crime.

Que saibamos inverter a marcha é, mais que um desejo uma necessidade.

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Tal tás Alentejo?

 

Tal Tás Alentejo?

O movimento cívico que se propôs dar voz aos alentejanos tem em curso um conjunto de incitativas que sob o Lema Tal Tás Alentejo? Pretende discutir a situação em que continuamos “afundados” apesar dos significativos montantes que aqui têm sido “despejados”.

Esta iniciativa irá levar a cada uma das quatro sub-regiões: Alentejo Central; Alentejo Litoral, Alto Alentejo e Baixo Alentejo a análise destas e de outras situações, com que nos debatemos, procurando que em cada uma dessas sub-regiões o debate, a análise e a procura de soluções envolva os atores locais e se centre nas temáticas que aí se fazem sentir.

O arranque do Tal Tás Alentejo? Ocorreu no Litoral no passado dia 22 de Junho em Santiago do Cacém e o próximo ocorrerá no Alto Alentejo.

Aqui, com um qualificado painel de oradores, procuraremos identificar quais as causas que de forma continua e acentuada nos provocam a enorme perda de população sofrida em toda a região apesar dos investimentos realizados na região e do elevado montante de dinheiro disponibilizado pelos fundos comunitários. De referir que só no Portugal 2020 o Alentejo tinha disponíveis um total de 1.083 milhões de euros.

Na sub-região que mais população perdeu (entre 1950 e 2021 a perda foi superior a 47% dos residentes), o debate centrar-se-á nos desafios que a demografia nos coloca.

Quantos somos, como estamos, quais as perspectivas que se nos colocam num futuro próximo, se nada fizermos para alterar o caminho seguido e, sobretudo, que politicas públicas e privadas devem ser alteradas ou implementadas para travar e inverter esta tendência. Estes são os desafios que se colocam aos oradores convidados: Professor Doutor Luís Loures, Presidente do Politécnico, Professor Doutor Marcos Olímpio, da Universidade de Évora, Dr. Heitor Gomes, geógrafo e Dr. Manuel Coelho, Presidente da Assembleia Municipal de Avis, mas sobretudo aos alentejanos estejam ou não presentes no auditório dos serviços centrais do nosso Politécnico.

Integro, como é conhecido, o grupo fundador de AMALENTEJO e estarei, como moderador, no debate anunciado e, também por isso não deixarei de colocar-vos a ideia que defendo desde há muito de que não será, não pode ser, atribuindo pequeninos prémios aos pais que se estimulará o aumento dos nascimentos e muito menos, que será essa a via capaz de travar e inverter a tendência de acelerada diminuição e envelhecimento da nossa população.

O cheque/oferta que algumas autarquias têm vindo a atribuir aos recém-nascidos é não apenas insuficiente como totalmente ineficaz. O que pode e deve estimular os nascimentos são as políticas nacionais de estímulo ao emprego digno, o aumento dos salários, o fim da precariedade a que são submetidos os trabalhadores e em particular os jovens trabalhadores.

Igualmente me integro entre os que defendem que a criação das regiões administrativas, tal qual a Constituição da República Portuguesa as consagra, permitiria à Região desenhar e aplicar políticas capazes de contribuírem para a fixação e atração de pessoas e em particular dos milhares de jovens aqui formados.

Independentemente de quantos estivermos presentes nos diferentes debates que se irão desenvolver por toda a Região e particularmente no que irá decorrer no Instituto Politécnico de Portalegre o que importa é que estes consigam mobilizar-nos para a procura de soluções e para a determinação de lutar por elas.

Porque é o amor ao Alentejo que nos une e motiva. Continuemos o caminho!

Diogo Júlio Serra

 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Entre a realidade vivida e a realidade “fabricada”!

Entre a realidade vivida e a realidade “fabricada”!


Os casos e casinhos que preenchem a atenção dos nossos “media” são tão só um novo instrumento para nos distrair dos verdadeiros problemas que nos afectam.

A sucessão de casos e debates em torno deles tem como objectivo descentrar a discussão dos conteúdos políticos e alimentar a ladainha do “são todos iguais” e as agendas reaccionárias que aí estão.

Nos últimos dias a somar à realidade mediática marcada pelos grandes meios também a comunicação social regional tem tentado manter na agenda, a partir de declarações proferidas pelo presidente da CCDRA, o perigo “dos atrasos nas obras de diversos equipamentos de saúde” e das preocupações sobre a perda de parte significativa dos fundos alocados para tais construções e na procura de culpados para essas situações. E tudo “contado” como se o que estivesse em causa não fosse a incompetência ou desleixo do poder central no garantir de tais tarefas.

O mesmo e com a mesma fonte, o que se refere à situação “vergonhosa” como é tratada a nossa região no que respeita às acessibilidades.

De novo a realidade mediática a tentar fazer-nos acreditar que o Poder Central, responsável pela situação para onde nos atiraram, vai agora “presentear-nos” com as acessibilidades ferroviárias que nos “roubou”, com as rodovias que nos são necessárias mas não construiu e com o tratamento politico que sempre nos negou.

Pela voz do Presidente da CCDRA sistematicamente ampliada e repetida pela comunicação social local, ficámos a saber do esforço “enorme” que a CCDRA vem fazendo para trazer o caminho de ferro à cidade ou para que a Linha do Leste não continue parada “no tempo dos comboios a vapor”. E até, pasme-se, o que de bom tem para nós, no caso para os portalegrenses, termos sido brindados com mais uma rotunda, não para nos impedir de morrer no entroncamento “ilegal” do IP2 na entrada sul da cidade mas, na estrada que nos liga a Arronches, a 200 metros do outro que já lá existia mas agora, destinado a levar-nos para a nova escola da GNR.

Que a tal estação só chegue à cidade lá para 2030, data em que se prevê a linha do leste ficar toda electrificada, ou que Portalegre “ganhou” uma rotunda (200 mil euros) pelas mesmíssimas politicas que outros (Campo Maior p.ex) “ganharam novas áreas de parqueamento industrial, (15 milhões de euros).

Que a descoberta da necessidade de aproximação da ferrovia à cidade é uma reivindicação antiga, que dos milhões do PRR só se prevê que aqui possam chegar migalhas ou que os que agora fazem tais anúncios são os mesmíssimos que têm impedido ou esquecido as nossas (do território) reivindicações, são verdades que não estão “na agenda”.

Casos, casinhos e a ampla “animação” mediática procuram esconder as manobras de chantagem sobre os municípios relativamente à linha de desresponsabilização do Estado por via chamada descentralização de competências e, também, a inércia e desinteresse em garantir no território a mobilidade drasticamente reduzida e que foi imposta por vários meses de estradas cortadas e pontes destruídas pelo mau tempo de Dezembro último.

As infra-estruturas, quer pelo seu valor intrínseco, quer pelo contributo que podem dar para o desenvolvimento das regiões, são determinantes se inseridas numa política de desenvolvimento integrado e sustentado, que partindo do aproveitamento dos recursos existentes, os potenciem, os afirmem e contribuam para combater as assimetrias e as desigualdades. A mobilidade em melhores condições é um anseio e aspiração das populações e uma condição indispensável para a actividade económica.

O transporte de passageiros e mercadorias, além de depender do nível dos serviços disponibilizados, deve estar ancorado numa rede de infra-estruturas que assuma uma perspectiva intermodal, complementar entre as suas diversas formas, valendo cada uma delas por si (aérea, rodovia e ferrovia), mas que interligadas assumem uma relevância maior.

Esta a discussão que devemos ter.

O aproveitamento das infraestruturas e as condições naturais e de corredores aéreos de Ponte de Sor, a existência de uma rodovia qualificada, garantindo a ligação rápida e segura entre as três cidades do Alto Alentejo e o acesso aos principais centros urbanos e com uma rede ferroviária modernizada e electrificada.

Estes sim são os casos reais que importa discutir.

E não basta continuar a agitar a proximidade da inauguração da Linha Sines/Caia que a U.E. paga e impôs. Para o Alto Alentejo o fundamental é a eletrificação da Linha do Leste e a sua conexão com essa linha de Alta Velocidade que possa escoar os bens aqui produzidos e permitir aos cidadãos reduzir significativamente os tempos de viagem, entre Portalegre, Lisboa ou o Norte do País e fazendo-o com padrões de qualidade consentâneos com o nosso tempo.

No que à rodovia diz respeito é fundamental a conclusão do IP2 e do IC 13, a ligação em perfil de auto-estrada da A6 com a A23 unindo Elvas/Campo Maior, Portalegre, Castelo Branco e um novo itinerário que ligando Estremoz a Abrantes quebre o isolamento a que Ponte de Sor/Avis/Sousel foram votados.

É esta realidade, a nossa realidade e não as realidades mediáticas, fabricadas para nos entreter, que o Alto Alentejo precisa ver debatida e, sobretudo, alterada.

Que seja agora!

Diogo Júlio Serra


quinta-feira, 8 de junho de 2023

A Situação de Seca no Alentejo

 


A Situação de Seca no Alentejo

Mais que propaganda importam soluções!

 Nos últimos anos tem sido recorrente a existência de períodos de seca, com maior ou menor incidência em situações de escassez hídrica dependendo dos recursos hídricos existentes. Uma situação cuja gravidade é reconhecida por todos os quadrantes políticos mas que tem merecido importância diferente dos diferentes atores políticos com intervenção no Alentejo.

O Governo parece acordar periodicamente para este problema repetindo diversas promessas que nunca cumpre, colocando a ênfase na questão do valor da água, apelando ao aumento do seu preço a nível do consumo doméstico, mas sem colocar o mesmo tipo de argumentação a nível da utilização da água para a agricultura que representa cerca de 90% do uso total da água e onde o preço praticado é muito inferior ao preço de custo. À boleia deste problema o governo insiste em criar o caldo de argumentação para retirar a competência municipal na gestão das águas e do saneamento, começando por impor a sua agregação, avançando no caminho que visa desaguar no aprofundamento da lógica do negócio da água e da sua privatização, a exemplo do que já iniciou na área dos resíduos.

Esta não é, como a vida nos mostra, a solução para tão grave problema. Este tem de ser enfrentado em todas as suas múltiplas dimensões desde a definição da política da gestão global dos recursos hídricos, iniciando-se na questão das massas de água, da sua disponibilização, da definição sobre quais devem ser os seus usos prioritários, e pressupondo também uma adequada política de gestão de solos e de ordenamento do território, que minimize os efeitos da progressiva desertificação que se tem verificado.

A gestão pública deve afirmar-se como o princípio de assegurar uma clara perspectiva de eficiência hídrica inseparável da aplicação do conceito de rede de infra-estruturas hidráulicas, aumentando-se assim a capacidade de armazenamento para fazer face a períodos de seca e de eventual escassez.

É fundamental a aprovação e o financiamento da execução do Plano de Eficiência Hídrica do Alentejo e ter em consideração a Iniciativa Territorial sobre a água que envolve o Alentejo e o Algarve cujos contornos se desconhecem e que pode representar riscos para a gestão da água na região e também para o destino dos recursos financeiros.

Esta questão da água é inseparável da questão agrícola e uso da terra, e também dos perímetros de rega que foram alvo de decisões recentes relativamente ao Alqueva e é tão mais importante para o nosso distrito agora que se perspectiva (finalmente) a construção do Pisão.

Um dos grandes problemas é que parte muito significativa do consumo de água, nomeadamente a água armazenada no Alqueva, é direccionada para as culturas super-intensivas, designadamente olival e amendoal. O mesmo se passa nas albufeiras do litoral alentejano e os frutos vermelhos. Tendo em conta as quantidades e o preço podemos dizer que a gestão dos recursos hídricos está na prática a financiar grupos económicos que usam o solo e a água do Alentejo como um activo financeiro.

É uma situação que não nos é desconhecida tal qual a intensificação das culturas intensivas e a inundação de pesticidas nos concelhos de Campo Maior, Elvas e Avis.

As visitas do Deputado João Dias ao distrito e a intervenção política que originaram na Assembleia da Republica e no Parlamento Europeu ajudaram a dar visibilidade à grave situação que se vive na região mas é necessário ir mais longe. É fundamental o envolvimento dos actores locais, reclamando medidas compensatórias para os pequenos e médios agricultores atingidos pelos efeitos da seca e da escassez hídrica e exigindo das autarquias uma postura de intervenção que dê centralidade à gestão da água, tomando as melhores opções para garantir a eficiência hídrica, a gestão pública e a exigência da disponibilização de fundos para os investimentos a realizar.

Construamos o Futuro!

Diogo Júlio Serra

MAIO, MADURO MAIO

 



Maio maduro Maio

Sim, Maio é um mês que sempre me encantou. Ainda criança por ser o “mês de Maria” com toda a agitação que impunha na criançada das famílias mais familiarizadas com os ritos da religiosidade cristã e sobretudo por ser o mês da mais importante e divertida feira da vila onde nasci e cresci: a Feira de Maio de Arronches.

Estrear roupa nova, poder ir ao circo (na noite em que as empresas Cardinali ou Mariani decidiam fazer “dama e cavalheiro” – cobrarem um bilhete com entrada para duas pessoas, banquetear-me com o “brinhol” (massa frita) da menina Judite ou os quadrados de torrão branco vendidos na barraca do Araújo eram então motivo mais que suficiente para eleger Maio como o melhor dos doze meses.

Perdida a inocência do menino de escola, “matriculado” na oficina da família, primeiro, e mais tarde como empregado de mesa ou escriturário numa editorial, mantinha-se a catalogação de Maio ou não fosse ele o único a iniciar-se com o dia dedicado aos trabalhadores de todo o mundo. Incluindo o mundo, onde Portugal então se integrava, em que Maio só por impossibilidade mantinha o seu dia primeiro.

E chegou o tal dia “inicial inteiro e limpo” e com ele a explosão de Maio. E, juntou-se-lhe o 23, dia de festa da cidade para onde “me transferi”. E continuei a ter em Maio o melhor e mais simpáticos dos meses.

Certo que este Maio tinha um tal nº 28 de má memória mas esse, era olimpicamente esquecido.

E assim chegamos ao ano de 2023 da era cristã. Estamos a terminar a sua vigência e de novo, Maio continua como o Mês primeiro das minhas preferências e vivências.

               Vejamos.

Como sucede em Portalegre, a cada ano desde a decisão tomada pelo Congresso da Internacional Socialista reunido em Paria no ano de 1889, com o interregno imposto pelo salazarismo, voltamos a comemorar o dia Internacional do Trabalhador. Depois a 3, no Páteo da Casa, apresentei o Livro Salgueiro Maia do escritor Moisés Rosado e três dias depois no CAEP, Jerónimo de Sousa colocava-nos a importância de defender a Constituição de Abril.


Na semana em que voltámos a viver as Festas da cidade a 23, na Sessão Solene que assinalava os 473 anos da elevação de Portalegre a cidade, o seu executivo entregou a medalha de ouro da cidade a uma instituição da cidade cujo merecimento é por todos reconhecido: o Grupo  de Apoio de Portalegre da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

A 26 a Companhia de Instrução de Praças da GNR assinalou os 50 cursos de guarda ministrados em Portalegre e no dia seguinte o “meu Benfica” conquistava o seu 38º título de Campeão de Portugal. E pasme-se, até o 28 em que, normalmente procuro nem reparar, este ano marcou muito positivamente a minha vida. Não, claro que não tem nada a ver com o golpe que derrubou a Primeira Republica e abriu caminho ao fascismo salazarista. A razão é bem diferente; O meu neto mais novo, “arrastou-me” ao campus do Benfica no Seixal onde ele mais umas dezenas de miúdos foram mostrar os seus dotes de guarda-redes.

No momento em que escrevo o presento texto (na noite de 28) poderia garantir-vos que foi um mês excelente mas já sei que não vai ficar por aqui.

Maio vai fechar com o brilhantismo como se iniciou e a 31, em Beja, verá iniciar-se o Congresso do Turismo do Alentejo.

E sim, de novo, Maio Maduro Maio, de novo a encantar-me!

 

Diogo Serra

quarta-feira, 17 de maio de 2023

ALIMENTAR A ESPERANÇA, FAZER GUERRA À GUERRA!

 





Alimentar a Esperança

Fazer Guerra à Guerra

O belo lema que o Banco Alimentar contra a Fome escolheu para a campanha que tem em curso, ilustra na perfeição uma das maiores necessidades com que nos debatemos, também na nossa cidade e região.

Faltar-lhe-á, talvez, incorporar a segunda frase que coloquei no presente título para tornar mais perceptíveis as razões que nos têm vindo a roubar a esperança e levado muitos à desistência… dos sonhos e dos valores que nos devem nortear mas, diz o nosso povo, “para bom entendedor meia palavra basta”.

As diferenças existirão (ainda bem que existem) na perspectiva de cada um face aos caminhos para alimentarmos a esperança, num tempo e num território em que para a maioria de nós, cada vez mais, sobra mês e faltam rendimentos para garantirmos uma vida minimamente confortável.

Para alguns, geralmente os que não são afectados pelo “crescer do mês e diminuição do rendimento” ou sendo-o não conseguem libertar-se da cegueira imposta pelo preconceito ou das amarras com que a comunicação dita de referência os vão enredando, a culpa é da guerra, do “socialismo” (encarado como o governo do partido socialista) ou para os mais “contaminados” do 25 de Abril. Como se a Guerra nascesse de forma espontânea, o partido do governo aplicasse políticas de esquerda ou os caminhos de Abril não tivessem sido bloqueados pelos que saíram da gaveta, porventura a mesma onde Mário Soares colocou o “socialismo”.

Para os que conseguem resistir à formatação do pensamento e da acção que os papagaios do capital persistem em impor-nos, a “desesperança” que se está a apoderar da nossa sociedade tem razões e responsáveis que urge combatermos. Só assim estaremos a Alimentar a Esperança, a garantirmos-lhe a sobrevivência.

E a hora é de agir!

Até porque são cada vez mais (no Alto Alentejo e na nossa cidade, também) os que não conseguem pôr comida na mesa, os que não conseguem pagar a casa, seja a renda ou a prestação. Os que apesar de trabalharem (particularmente os jovens a quem se aplica a mais feroz precariedade) não conseguem o empréstimo bancário para a compra de casa ou tão só a garantia que o senhorio exige para proceder ao arrendamento. Os que apesar de trabalharem todos os dias do mês, são abrangidos pelo RSI porque o salário que auferem não lhes permite garantir o sustento da família.

Se a culpa é da guerra que as potências capitalistas impuseram, de novo em solo europeu, combata-se a guerra em vez de alimentá-la.

Se a culpa é da falta de meios para gizar e aplicar politicas que combatam as dificuldades que atormentam as famílias e criam a desesperança, que se distribua a riqueza produzida, que se combata a concentração das benesses e da riqueza não mãos de muito poucos e se apliquem no reforço do Serviço Nacional de Saúde, na Educação, nas acessibilidades, na melhoria dos salários e das pensões.

Que se trave e inverta a vergonhosa política de nacionalizar falências e privatizar lucros e, já agora, que se trave a vergonhosa decisão de reprivatizar a TAP onde foram injectados milhões saídos diretamente dos impostos dos portugueses e dos salários dos seus trabalhadores.

E não, a culpa não é do Socialismo porque uma palavra não tem qualquer culpa ou mérito pelas políticas aplicadas em cada território. Ninguém é lindo só porque se chama Belo!

Muito menos a desesperança pode ser atribuída ao 25 de Abril como os mais saudosistas proclamam. É precisamente o contrário! É o incumprimento dos valores que o 25 de Abril nos trouxe e a Constituição, mesmo amputada, consagra, que nos tem conduzido à situação que hoje vivemos.

Importa por isso exigir de quem tem a responsabilidade (porque o jurou) de cumprir e fazer cumprir a Constituição, que cumpra o seu dever. Importa, também, exigir de quem solicitou e obteve uma maioria absoluta para governar, que governe!

A hora é de exigência e acção!

Não podemos permitir que as guerras de Alecrim e Manjerona se substituam à obrigação de garantir ao país e aos portugueses as condições e os direitos que merecemos e de que não podemos/queremos abdicar.

É tempo de exigir dos governantes -Presidente da Republica, Governo, Assembleia da Republica- que deixem de “olhar para o seu umbigo” e cumpram as obrigações que os cargos lhes impõem.

É tempo de exigir da Comunicação Social que se liberte das amarras de quem lhes paga, deixe de ser megafone dos poderes e cumpra o seu papel imprescindível de dar voz aos desejos e necessidades do povo e do país.

É tempo de exigir alto e bom som que em vez de se amputar, se cumpra a Constituição da Republica Portuguesa, se CUMPRA ABRIL!

 

Diogo Júlio Serra

quinta-feira, 27 de abril de 2023

EM ABRIL, FALAR DE ABRIL!

Em Abril, Falar de Abril!

 



Quarenta e nove anos depois, o país ainda encontra razões para Comemorar Abril. E tem razão!

Apesar dos inúmeros golpes que o mutilaram, dos atropelos e dos desrespeitos continuados, Abril e os sonhos que nos permitiu, continua vivo no coração e no dia-a-dia das pessoas.

Também por isso a razão de se multiplicarem festejos e comemorações. Tantos a afadigarem-se para garantirem a pose na foto do dia e muitos outros, os que nunca lhe perdoaram, a intensificarem as manifestações de ódio, mesmo que escondidas por detrás de mil diferentes justificações.

De registar ainda haverem entre os que o comemoram, quem não se cansa de concentrar elogios nos que designam (agora) como heróis quando, tantas vezes, ofenderam e maltrataram esses mesmos que agora dizem venerar.

Entre as sinceras manifestações de apreço e a histeria de colagem a um dia que passadas 24 horas irão esquecer, registe-se a voz de um dos mais prestimosos membros do MFA a colocar a verdade que alguns teimam em esquecer:

“Movimento Coletivo…é a essência do MFA. Nada mais. Há militares com coragem e força de aço…Todos cumpriram…menos um tal JN…E o grande herói é o Povo Português”.

Tão verdade! Antes, durante e depois de Abril.

Antes quando com a sua resistência e luta manteve acesa a chama da liberdade e quantos dos seus filhos pagaram com a vida a manutenção dessa chama.

Durante o próprio dia quando souberam desobedecer aos comunicados do próprio Movimento que aconselhavam a ficar em casa e inundaram praças e avenidas colando-se aos militares, apoiando-os e desafiando-os a passarem da golpe militar à Revolução.

Depois, dia a dia, ano a ano, até hoje. Conquistando direitos, resistindo a cada golpe, defendendo Abril e a Constituição que o consagra, semeando e consolidando a democracia conquistada.

Que não tem sido tarefa fácil todos o reconhecemos.

Hoje, quarenta e nove anos depois, com as suas principais conquistas vertidas na Constituição da Republica e apesar do empenho popular e das necessidades do país, muitos dos direitos conquistados continuam sem serem efetivados e alguns foram mesmo “arrumados em gavetas” ou eliminados.

Ao arrepio da Lei Fundamental e dos valores de Abril, as politicas de direita recolocaram as regras do capitalismo, ou “do mercado” como gostam de dizer e foram mutilando os direitos até os “saudosistas” se sentirem, como agora, com o à vontade necessário para saírem da “clandestinidade” onde se moviam e virem abertamente exigir a destruição dos direitos e conquistas e a própria democracia conquistada com Abril.

Se dúvidas ainda houvessem bastar-nos-ia recordar os ataques movidos às próprias Comemorações de Abril na casa da Democracia.

Num ano a desculpa foi a pandemia, no seguinte foi a designação do Presidente da Comissão Organizadora do Cinquentenário, agora o convite a um Chefe de Estado. Tudo lhes justifica o combate porque o motivo é tão só o 25 de Abril e o que ele trouxe a Portugal e aos Portugueses.

Os valores que cabendo numa única frase preenchem a vida e os sonhos de todo um povo: O Pão, a Paz, Educação, Saúde, Habitação, a Liberdade de Mudar e Decidir e o sonho de que um dia seja dado ao povo o que o povo produzir!

Não lho permitamos. Comecemos hoje as celebrações do cinquentenário da forma como o vivemos no seu dia primeiro, com mil sonhos… e a capacidade de lutar por eles.

VIVA O 25 DE ABRIL!

 

Diogo Júlio Serra