quinta-feira, 29 de abril de 2021

ABRIL DE NOVO, PELA FORÇA DO POVO!

 

ABRIL DE NOVO, PELA FORÇA DO POVO!

Em Portalegre como em todo o país o 47º aniversário do 25 de Abril voltou a ser assinalado nos salões do poder e nas ruas, com a precaução necessária e o entusiasmo de quantos o reconhecem como tão bem o definiu Sofia “ esta é a madrugada que eu esperava, o dia inicial inteiro e limpo…

Em Lisboa, o Dia voltou a ser assinalado institucionalmente na Assembleia da Republica e os populares voltaram a ter a possibilidade de descer a Avenida.

Interessante e novidade o facto de, desta vez, serem mais os que queriam comemorar Abril quer na Assembleia, quer no desfile da Avenida.

Outra novidade e de acordo com as posições que tem vindo a ser assumidas pelos saudosistas da ditadura alguns, poucos, terem pela primeira vez, assumido publicamente o seu apoio ao regime que o 25 de Abril depôs: na Assembleia assumindo o luto na tribuna e à porta com meia centena a manifestarem-se claramente contra Abril.

Entretanto e porque este é um ano de eleições autárquicas os dias que antecederam este 25 de Abril foram “agitados”.

Um grupo de autarcas eleitos em candidaturas exteriores aos Partidos Políticos, promoveram diversas manifestações contra as alterações sofridas pela lei que define o processo eleitoral para as autarquias locais e em particular, sobre o que entendiam ser a discriminação a que estas os sujeitariam.

No âmbito dessa vontade reuniram-se (também em Portalegre) e enviaram “recados” à Assembleia da Republica e aos partidos políticos ali representados.

Das posições publicamente assumidas percebeu-se que entendem ser “merecedores” de tratamento igual aos partidos políticos e, presumo, assumirem-se como partidos a nível local sem assumirem “as chatices “ que se colocam aos partidos “tradicionais” e em particular o controlo politico e social que a legislação e o eleitorado impõem.

Independentemente da apreciação que cada um de nós faça da bondade ou não das candidaturas exteriores aos partidos, a visita destes autarcas ao nosso concelho e o tempo de antena que lhes foi dado colocou-nos, cidade e região, nos alinhamentos televisivos e dos jornais e impôs-nos um olhar mais atento sobre estes autarcas que gostam de auto denominar-se de independentes e que no nosso caso são governo desde 2013.

Ao que parece, os seus argumentos convenceram o Parlamento e em particular aqueles que foram os autores das alterações introduzidas e agora contestadas. Desses, só o PSD não arrepiou caminho pelo que presumo os autarcas que querem voltar a concorrer em listas propostas fora dos partidos políticos poderão e voltarão a fazê-lo. Já o seu desconhecimento, profundo, sobre o Regime Democrático saído da Revolução de Abril e os objectivos que prossegue, certamente continuará.

Isto a propósito do ultimato apresentado a partir de Portalegre e do qual a Presidente Adelaide Teixeira foi porta-voz: “Ou fazem o que achamos justo ou…formamos um Partido Politico!”

Será que não perceberam (ainda) que o 25 de Abril se fez (e a Constituição consagra-o) para que os Partidos existentes pudessem vir à luz do dia e outros partidos, muitos, todos, pudessem nascer e consolidar-se?

Ultrapassados esses percalços voltámos, todos os portalegrenses que o quisemos, a comemorar Abril no Centro de Congressos e na rua. Num e noutro local para afirmarmos que Abril não tem donos mas tem promotores e deve ter, tem que ter, quem o defenda e continue.

E a continuação de Abril voltará a fazer sentir-se em Portalegre, como em cada ano, já no primeiro de Maio.

Viva o 25 de Abril e a Liberdade!

Que saibamos continuar Abril!

quarta-feira, 14 de abril de 2021

“DA PORTUS ALACER “ AO CAMPEONATO DOS PEQUENINOS

 “DA PORTUS ALACER “ AO CAMPEONATO DOS PEQUENINOS.

Não há cidades pobres. Há cidades sem projecto!

Esta verdade vem-me sempre à memória de cada vez que ouço ou leio afirmações que procuram justificar o “estado a que chegámos” por sermos um território pobre.

Território pobre? Portalegre? Desde quando?

Ouçamos o Padre Diogo de Sotto Maior e atentemos nas razões que justificaram a instalação em Portalegre da Real Fábrica de Panos.

Relembremos a Portalegre Operária com a corticeira, os lanifícios, as sedas, os sabões, as salsicharias, a finicisa e as tapeçarias, rodeada por intensa atividade agrícola característica do minifúndio nas freguesias do norte e a sul, a intensa actividade agro - pastorícia e silvícola, característica do latifúndio.

Chamemos à memória a cidade atravessada por um enorme centro comercial a céu aberto que se abria desde o Alentejano ao Rossio. Atentemos nos cafés repletos de gente e de ideias, as tertúlias do Central e do Facha, o bulício nervoso dos estudantes no Alentejano.

Recordemos a pujança do seu associativismo, os inúmeros jornais aqui sedeados, a intensa atividade artística e cultural, onde o teatro tinha papel de relevo.

Foi a pobreza de ideias e não do território que nos aprisionou nesta tristeza.

Foi o não termos sabido construir (e brigar por ele) um projecto para nós e para o concelho.

Foi por não termos tida a coragem de dizer não, ao controlo social absurdo que nos prendeu e que fechou portas a todas as oportunidades que se nos foram apresentando: As fábricas que não se instalavam para não porem em causa primeiro os “terratenientes” e depois as famílias “industriais” que faziam dos salários de miséria a garantia da sua riqueza e mais recentemente o deixarmos assassinar as perspetivas de um continuar da indústria corticeira, por vassalagem aos novos monopólios que entretanto se instalaram.

Foi essa permanente disposição para sermos heróis à mesa do café (actualmente frente ao teclado do computador) e “gatinhos” frente aos poderes instalados, que aliada ao tradicional entendimento que “o de fora é sempre melhor” e ao preconceito que nos continua a impedir de escolher o que se nos apresenta como mais capaz, que nos aprisionou nos nossos medos e nos empurrou para o “Estado a que isto chegou”.

Medos, ausência de capacidade e vontade de experimentar diferente, que volta a expressar-se de novo, agora que nos encontramos a poucos meses de voltarmos a poder decidir o futuro de Portalegre e dos portalegrenses.

De novo, quando voltamos a poder decidir sobre o governo do nosso território, cidade e concelho, quando com as eleições autárquicas podemos operacionalizar um Projecto para Portalegre e em conjunto construir e levantar a nossa bandeira, o que se perspetiva é mantermos a inércia.

Por medo ou comodismo, aceitarmos repetir o voto em personalidades que já provaram a sua “falta de jeito” para gerirem o concelho ou nas que se perfilam, não por Portalegre mas por não aceitarem que esgotaram o tempo legal para serem autarcas.

Foi assim nas eleições últimas quando aceitámos ter como candidatos autarcas cuja motivação era manterem-se visíveis pelos eleitores dos concelhos a que tinham presidido.

Passado o período de nojo, eles aí estão, já posicionados na linha de partida dos concelhos de onde saíram com a mesma ou com outra camisola.

Entretanto já estão oficialmente anunciadas novas/velhas repetições.

Cidade Pobre? Não!

Pobre cidade que passou a ser “campeonato” onde alguns só vêm jogar para limpar os “castigos”.

Até quando?

Diogo Serra

* Publicado no Jornal do Alto Alentejo de 14-4-21

Postal

Portalegre - Praça do Municipio
Edição de Bartholomeu da Guerra Conde
(Colecção com 13 clichés)