sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

GATO ESCALDADO...

 

GATO ESCALDADO…*

No passado dia 26 foi assinado na nossa cidade um protocolo de colaboração entre o nosso Município, o Instituto Politécnico de Portalegre e a Softinsa/IBM que, visa instalar no Bio Bip, um Laboratório especializado em soluções tecnológicas para as Cidades Inteligentes.

Como portalegrense (por opção) e como autarca empenhado no desenvolvimento do concelho e na melhoria das condições de vida e de trabalho de todos os portalegrenses, não deixei de reagir com agrado ao anúncio da implantação de uma importante unidade, não apenas pelos empregos a criar mas também por poder vir a transformar-se num importante factor de atracção e fixação de jovens estudantes e quadros técnicos.

Penso, que terá sido essa a reação da maioria dos portalegrenses que ainda acreditam no futuro do seu concelho. E no entanto…

No entanto, passados os primeiros momentos de euforia, não consigo deixar de recordar outros anúncios e outras unidades que, também eles se nos anunciavam como projectos de futuro e geradores de desenvolvimento e modernidade e, nunca passaram de expectativas ou que rapidamente se transformaram em enorme problema.

São campainhas que gritam GAMEINVEST - o nome da empresa de edição de jogos de computador, sedeada no antigo edifício/sede do Município e que havia mobilizado a cidade, incluindo as poupanças de alguns pequenos comerciantes locais.

Campainhas que teimam em trazer-nos à lembrança que, esta cidade que já foi capital industrial da região e viu encerrar a maioria das suas unidades industriais, vê agora multiplicarem-se, não as empresas industriais que necessita mas aquilo que nuestros hermanos intitulam de semillero de empresas e que, face à ausência de empresas ou são os semilleros ou são as semilhas que não são adequados para que a seara dê frutos.

Desta vez pode ser diferente digo-me! Quero agarrar-me a essa ideia, mas como alicerçar essa vontade?

Porque desta vez para além da Câmara Municipal estarão também uma multinacional e o nosso IPP. Pois…

Não tenho quaisquer dúvidas sobre o empenhamento, a vontade e a seriedade de nenhum dos subscritores do protocolo e no entanto, por mais que o queira vem-me à memória as ilusões e as duras realidades que nos deixaram as decisões de multinacionais como a Johnson Control´s.

A alegria de ver nascer e os custos de ver morrer uma outra Semente, a Associação ICTVR - Centro Internacional de Tecnologias de Realidade Virtual, dita então (como agora) como um instrumento fundamental para nos garantir o futuro e que resultava também de uma parceria, entre o município e o politécnico (uma das suas escolas) que sabemo-lo, dolorosamente nem um nem outro conseguiram evitar.

Que a minha memória seja apenas e só memória. Que o Laboratório a instalar no Bio Bip atinja os objectivos anunciados e esperados. Que tal infra-estrutura seja um factor de atractividade de investimentos e quadros. Que Portalegre volte a ser um território de futuro e a nossa cultura operária seja entendida com recurso. Que deixemos de estar confinados face aos ventos de reindustrialização que parecem soprar por toda a Europa.

Mas como diz o ditado popular, gato escaldado de água fria tem medo!

Diogo Júlio Serra

* publicado no Jornal Alto Alentejo de 9-12-2020

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Quando o futebol e a política se cruzam...

 


Quando o futebol e a política se cruzam…*

Os amantes do “desporto- rei” facilmente recordarão casos de futebolistas que nos escalões juvenis se mostravam como jovens talentos a quem “todos” auguravam o estatuto de estrela e, depois, chegados a séniores não ultrapassavam a mediocridade ou simplesmente desapareciam.

Todos eles, também não terão dúvidas em apontar alguns nomes de “craques” com posturas que os nossos “hermanos” designam de “peseteros”.

Felizmente, reconhecemo-lo todos, a grande maioria são profissionais sérios e competentes e são muitos os que, apesar das obrigações profissionais, continuam com “amor à camisola”.

Na política, mais concretamente na política local (dentro de partidos tradicionais e dos agrupamentos que gostam de fingir que o não são) também é comum assistirmos a manifestações de igual teor. Também por cá temos vindo a assistir a manifestações de alguns que enquanto “jótinhas” se apresentavam como craques e, chegados a sénior, apesar de estarem permanentemente em “bicos de pés”, não conseguem ultrapassar a mediocridade. Igualmente, também aqui, se têm manifestado posturas “peseteras” com a mudança de clube ao sabor dos ventos e…das perspectivas “peseteras”.

Mas também no governo da Polis, a maioria mantém uma postura de enorme respeito pela “coisa pública” e entre esses, é numeroso o grupo dos que se continuam a jogar “por amor à camisola”.

É com estes últimos (existentes em todos os grupos políticos) que os portalegrenses contam para que consigamos ultrapassar a gravíssima situação sanitária que vivemos, os seus nefastos resultados e a crise social que já se vislumbra e que tenderá a prolongar-se, mesmo depois de ultrapassada a pandemia actual.

Importa pois que, estes “jogadores“ verdadeiramente empenhados na governança deste território, com visões táticas diversificadas, consigam concordar na estratégia necessária ao futuro da cidade e do concelho. E que neste “jogo da vida” mesmo jogado sem público nos estádios possam ser apoiados por cada portalegrense.

No momento que escrevo (sábado) a informação disponível diz-nos que num distrito com 357  infectados covid, activos, 163 são conterrâneos nossos e que o nosso Hospital Distrital atingiu a ocupação total de camas covid, apetrechadas com ventilador para combater os casos mais graves. Que os trabalhadores da saúde, estão esgotados e alguns deles também infectados. Que não estamos a conseguir salvaguardar os nossos idosos, institucionalizados ou não. Que o desemprego cresce e com ele, a pobreza que entrou já em muitos lares.

E todavia, continuamos a ver quem por desconhecimento ou má formação persiste em pôr-se como centro do mundo, não acatando as orientações das autoridades de saúde, persistindo nas festarolas e nas “tampinhas de Whisky” infectando-se e infectando outros, incluindo cuidadores e técnicos de saúde, e contribuindo assim, para o encerramento de locais de trabalho, instituições de apoio a idosos e a crianças e serviços hospitalares.

Mas é, ainda, um tempo de esperança. O país e a região foram/serão dotados de meios financeiros avultadíssimos que poderão, assim os homens o queiram, ajudar na minimização das dificuldades actuais e no investimento necessário a projetar-nos para patamares diferentes daqueles,  onde as politicas centralistas dos governos centrais e a cegueira politica de diversos actores locais nos impuseram.

A nossa cidade e concelho podem (e devem) agora aproveitar este envelope financeiro e os ventos de reindustrialização que percorrem a Europa, para voltarem a ser a Capital Industrial que já fomos e que a nossa cultura industrial poderá potenciar.

Não nos percamos na “baixa política”, arregacemos as mangas e façamos da unidade na acção a força que a densidade populacional nos nega.

  Haverá um tempo para assacar responsabilidades pelo que cada um fez, ou não fez, mas o tempo, hoje, é de ganhar esta batalha.

Diogo Júlio Serra

*publicado no Jornal do Alto Alentejo de 18-11-2020

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

... É a hora!

 



SE É A DIFICULDADE QUE AGUÇA O ENGENHO…É A HORA!*

A tomada de posse, no passado dia 29 em Coimbra, de Ceia da Silva como Presidente da CCDR Alentejo encerra um período de propaganda e enganos com que o governo central procurou mascarar a sua dificuldade em abrir mão de quaisquer migalhas do seu poder “absolutista”.

Abre-se agora uma nova etapa para a Região Alentejo que, volta a ter na Presidência da CCDR um regionalista confesso, uma personalidade empenhada na promoção e valorização do Alentejo e de cada uma das suas sub-regiões.

Infelizmente, como bem o sabemos, de pouco serve termos um Regionalista a presidir a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento quando esta se mantém como um instrumento das políticas centralistas e ferreamente controlado pelos governos “de Lisboa”. Todavia e apesar disso, o trabalho desenvolvido pelo actual Presidente nas estruturas que presidiu e o seu apego à acção directa fora dos gabinetes, leva-nos a alimentar a esperança de que também ali, lhe seja possível, para nosso bem, “roubar” poder ao poder!

Não vai ser fácil, reconheçamo-lo. A “democracia” acabou no momento da tomada de posse porque, é a legislação que o consagra, nesse momento deixa de estar “ligado” a quem o elegeu – os autarcas do Alentejo – e responde directamente ao governo centralista e centralizador que o pode demitir se e quando o entender.

Posto isto, é tempo de nos virarmos para aquilo que depende de nós.

No nosso distrito e na nossa cidade, o tempo tem que ser agora. Um tempo de trabalharmos, todos, para garantirmos que não vamos continuar arredados do esforço de modernização e de desenvolvimento e poderemos, agora, ver minimizados alguns dos principais constrangimentos com que há muito nos debatemos e cuja parte mais visível, é a constante perda e envelhecimento da nossa população.

As propaladas políticas de desenvolvimento e os envelopes financeiros que as suportam, não podem continuar a passar-nos ao lado. As infraestruturas tantas vezes prometidas e sempre esquecidas não podem repetir-se. A escola de formação da GNR, o empreendimento de fins múltiplos do Pisão, a electrificação total da Linha do Leste e a sua vinda a Portalegre, a modernização e apetrechamento dos hospitais distritais e a construção do Hospital Central do Alentejo e as necessárias vias rodoviárias há muito reclamadas têm que ser conseguidas.

Só assim estaremos em condições de beneficiar dos ventos que apontam para a reindustrialização da Europa, voltando a ter, no distrito e no concelho, a capacidade produtiva capaz de aproveitar a cultura industrial que ainda hoje mantemos.

Para tanto, é fundamental conseguirmos unir esforços de todos os actores locais, fazer da unidade na acção a força que, a distância dos centros do poder e a escassez populacional não nos garante.

É fácil? Claro que não! Mas é possível, assim o queiramos.

Diogo Júlio Serra

* publicado no Jornal Alto Alentejo de 4-11-2020

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Erradicar a pobreza? Pois...

 



ERRADICAR A POBREZA? POIS…

No passado dia 17 assinalou-se o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, num tempo em que esta não para de aumentar.

Desta vez, fruto da pandemia que nos atinge, não vimos por cá nenhuma daquelas manifestações propagandísticas com que alguns nos procuram hipnotizar e outros entendem poder expiar a sua própria culpa.

Entretanto são diversas as instituições a denunciarem as desigualdades crescentes:

A FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura denuncia que 690 milhões de pessoas (1 em cada 10 pessoas que habitam o nosso planeta) padeciam de fome em 2019 e que este ano se lhes juntarão mais 130 milhões, estudos recentes evidenciam que a fortuna dos muitos ricos cresceu apesar da crise sanitária à escala global.

No país a construção/aprovação do Orçamento de Estado tem lugar num tempo em que a pandemia infecta e mata a cada dia que passa enquanto diminui drasticamente, fruto do desemprego, da diminuição dos salários e pensões e da destruição dos pequenos negócios, o rendimento dos trabalhadores e das famílias com as estatísticas a revelarem que 1 em cada 10 trabalhadores empobrecem a trabalhar.

A nossa região e o nosso concelho são, por características próprias, dos mais atingidos pela perda de rendimentos e pelo empobrecimento.

Conforme tem vindo a ser denunciado pelos responsáveis sindicais e de diferentes entidades de solidariedade, os números do desemprego registado não param de crescer, o trabalho precário e mal pago, as reduções de horário e de vencimento, o regresso dos salários em atraso atingem fortemente as famílias, levando a um aumento muito significativo dos pedido de ajuda de bens alimentares e de apoio para pagamento da renda e dos seus consumos.

Nesta situação de alastramento da pobreza para a maioria são ainda mais condenáveis quer os aproveitamentos dos que dela se servem para aumentar fortunas mas também as posturas dos que podendo, nada ou pouco fazem para minorar o empobrecimento.

Atendamos às posturas, diferentes, com que a pobreza (que todos dizem querer erradicar) é encarada.

A nível global só a voz do Papa Francisco consegue fazer-se ouvir "Persistem hoje no mundo inúmeras formas de injustiça, alimentadas por visões antropológicas redutivas e por um modelo económico fundado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e até matar o homem. Enquanto uma parte da humanidade vive na opulência, outra parte vê a própria dignidade não reconhecida, desprezada ou espezinhada e os seus direitos fundamentais ignorados ou violados". (Carta Encíclica Fratelli Tutti)

No país e quando o governo de António Costa se afadiga no convencimento aos partidos à sua esquerda da imprescindibilidade de ser aprovado o Orçamento, o que deste se conhece é que ao contrario do propalado é um orçamento de austeridade. “Um O.E. que aumenta os impostos em 2.839 milhões€, que congela pensões superiores a 659€ e que aumenta as de valor inferior apenas entre 2,6€ e 4,2€ por mês e só para entrar em vigor em 1/8/2020, que congela novamente os salários dos trabalhadores da função pública, que reduz a despesa com a educação e não reforça as transferências para o SNS, em que o investimento público é insuficiente pois é pouco superior ao consumo de capital fixo, é certamente um orçamento de austeridade. (Eugénio Rosa, economista)

Na nossa cidade e concelho, onde desta vez não foi possível o show off com árvores vestidas de malha ou quaisquer outras “invenções”, a situação é ainda mais gritante com o  aumento do desemprego, a precariedade e diminuição dos salários, a perda de rendimentos dos pequenos comerciantes e prestadores de serviços obrigados a encerrar ou que viram diminuir drasticamente as vendas e rendimento.

Uma situação que veio agravar e muito, as precárias situações de muitos portalegrenses.

Esperar-se-ia que o Governo do Concelho reagisse criando as condições de apoio necessárias ao minimizar de tão graves situações.

Não foi assim. O Executivo CLIP mais, (muitas vezes) o ombro amigo que o ampara, não só não avançaram com medidas como foram sistematicamente chumbando as propostas para alivio das famílias, ali levadas por vereadores da oposição: a suspensão da cobrança de água ou do estacionamento de superfície, a implementação de subsídios de risco para funções essenciais (como a recolha de lixo, a limpeza urbana, os transportes públicos, ou a manutenção do espaço público, entre outras...), os apoios às associações culturais e desportivas, os apoios escolares em computadores para o ensino à distância ou na aquisição de livros de fichas no regresso às salas de aula, etc...

Não há dinheiro, costuma dizer-se. Não é o caso!

Na primeira reunião de Outubro o saldo de tesouraria era de 3 milhões e, conforme tem sido amplamente denunciado a Câmara de Portalegre decidiu adquirir três imóveis por mais de 200 mil euros para “alugadar” a uma empresa da cidade a quem desde 2005 vem pagando a renda de armazéns que esta ocupa.

Para que nem sequer aceitou distribuir à população mascaras sociais ou prescindir de qualquer parcela dos impostos em benefício dos portalegrenses, apoiar em quase meio milhão de euros uma só empresa é ilustrativo de quem o faz.

Isto surpreende-me? Não. É a luta de classes!

 

Diogo Júlio Serra

* publicado no Jornal Alto Alentejo de 21-10-2020

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

OS BUFOS

 


Os Bufos – uma fauna desprezível que se mantem actuante!  

Não me refiro, é óbvio aos batráquios como o bufo Alvarius ou às aves como o Bufo Real. Refiro-me aos humanos. Esses humanos desprezíveis que durante a ditadura terrorista dos monopólios e dos agrários alimentavam a PIDE (ostentando este nome ou disfarçada de DGS), que nunca foram detidos e, como afirmou Irene Pimentel continuaram clandestinos, no seio da população e hoje, os mesmos ou os seus discípulos aí se mantem escondidos mas actuantes.

Lidei de perto com esta espécie de gente (só o soube mais tarde) quando ao serviço do Jornal a Rabeca.

Nesse tempo e nesse Jornal então a voz da oposição no distrito uma “dessas coisas” vivia infiltrado, informando a PIDE sobre o que ali se vivia e tudo, pasme-se a troco da sua incontida vaidade que o queria feito árbitro de escalão superior. Seria publicamente desmascarado quando, ostentando o estatuto que não tinha, se sentava em praça pública entre os dirigentes de uma organização politica que dirigira a luta pela democracia.

Nesse Maio de 74 pensei ser a última vez que me confrontaria com “tal gente”. Estava enganado.

Quarenta e seis anos depois sou confrontado com as suas práticas cobardes. Com a mesma rasteira atitude e também, tal como dantes, escondidos por detrás da máscara de boa gente, de democratas…

É óbvio que não quererão ser conhecidos e muito menos como “bufos” continuarão escondidos e a intitularem-se como os melhores e mais puros. Todavia, bem lá no fundo sabem como eu sei que são uns escroques. Chamemos-lhe Bufos, Delatores, Informadores ou, ainda mais “fino” whistleblowers. Serão sempre, uma vergonha de gente!


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Há muitas manchas na cidade branca.

 

Há muitas manchas na cidade branca!

Portalegre já foi a “cidade branca”, já foi uma cidade industrial, já foi um local onde era possível trabalhar e viver. Ostentou (ainda se lhe reconhece o título) a condição de cidade capital de Distrito. Foi há muitos anos mas os portalegrenses continuam a fingir que não reparam no seu definhamento.

Durante décadas seguiu o exemplo (mau) de uma nobreza arruinada que recusa dedicar-se ao trabalho e que continua a olhar para os que o fazem, como gente menor.

Ora as cidades são sempre o que os seus cidadãos querem que sejam. Portalegre também.

Cidade de casas brasonadas e de “terratenientes” que, sempre apostaram num férreo controlo social e nas “virtudes” da fortaleza fechada a novas gentes e a novas ideias, deixou-se definhar, deixou-se ultrapassar pelas cidades que a circundam e dominar pelos” xico-espertos” que aqui assentaram arraiais seja por nascimento, por opção ou por acaso.

Foi esta postura que a partir da segunda metade do século passado impôs o definhar da indústria tradicionalmente aqui instalada e levantou barreiras a outras indústrias que face às dificuldades foram optando por instala-se nas cidades vizinhas. O medo da concorrência e a ideia (errada) que industriais e “terratenientes” só resistiriam se mantivessem os salários baixos foram o cimento para tais posições.

O receio do diferente, a aversão ao pagamento justo a quem lhes vendia a força de trabalho, a desconfiança para com a escola e os seus valores, tiveram sempre presentes nas políticas municipais que foram ao longo dos anos aplicadas, quase sempre, por “estrangeiros” ou não o sendo, meros capatazes dos mandantes nacionais.

Nos últimos tempos a cidade e o concelho optaram por ter na direcção do município um grupo de cidadãos que se dizia independente e isento dos vícios de que enfermavam os partidos tradicionais e de onde a maioria saíra em rotura. Nada mudou!

Era uma vez…Uma cidade branca que tinha na Presidência um “terreteniente” com sonhos altos e baixa competência.

Sonhou com uma Câmara instalada em edifício nobre e meteu “mãos à obra”. Começou por se libertar de quem habitava o espaço escolhido sem olhar a meios e a custos.

 A Sociedade Euterpe foi para a estrada da Serra, a EMIVET foi para a rua, a Manufactura de Tapeçarias ganhou um edifício novinho em folha e à COOPOR (organização que lhe era querida) foi-lhe entregue uma “pensão vitalícia”. Tudo isto em 2005.

Entretanto o Presidente saiu de cena, deixando como herança um Protocolo que custou aos portalegrenses até aos dias de hoje 240.000 euros, a que juntou o ICTVR que nos custou mais uns milhares e a Fundação Robinson transformada em grupo de amigos e armadilhada por decisões não fundamentadas, nem assumidas pelo colectivo municipal.

Sucedeu-lhe Adelaide Teixeira que nas eleições seguintes descobriu (ao que se sabe quando foi preterida como cabeça de lista) os males que os partidos políticos encerram e constituiu um grupo de amigos para “salvar” o município.

Passaram-se quinze anos desde o tal protocolo, nove anos desde que a actual Presidente assumiu a presidência e sete desde que descobriu que iria purificar as gestões partidárias. A última assembleia municipal foi confrontada com a decisão tomada pela Câmara de Adelaide Teixeira, de adquirir (usando as mesmas razões e mecanismos do seu antecessor) 3 garagens por 226 mil euros para oferecer à COOPOR a troco de 167 euros por mês. Dito de outra maneira, para pôr mais 226 mil em cima dos 240 mil já gastos pelo Município a favor de uma única empresa da cidade.

Perceberam a diferença entre a gestão partidária de Mata Cáceres e a gestão “independente” do CLIP e Adelaide Teixeira?

Mas há diferenças. Na primeira etapa, a do protocolo assinado, a decisão foi tomada por unanimidade dos eleitos na câmara (seis do PPD e um PS).Desta vez, mantendo-se a composição da maioria que o permitiu (Dissidências do PPD renomeados de CLIP e, de novo, o PS) a unanimidade não foi possível: tiveram a oposição do PPD/PSD e da CDU.

Na Assembleia Municipal a decisão foi autorizada pela Aliança CLIP/Partido Socialista com a oposição dos eleitos do PPD/PSD e da CDU.

Moral da história: (sim, todas as histórias encerram uma moral). Um município que procura justificar a inércia por falta de receitas, que aumenta aos seus munícipes o preço da água, os penaliza com o IMI e não abdica da sua parte no IRS. Uma câmara que não limpa, não conserva, não recupera o seu património, que não é solidária com quem sofre os efeitos da grave pandemia que nos atinge, que não apoia as nossas colectividades, nem promove as atividades desportivas e culturais, entrega a uma única empresa da cidade uma “dádiva” de cerca de meio milhão de euros.

 Já não é apenas uma nódoa na cidade Branca é só uma grande nódoa!

Diogo Júlio Serra


domingo, 27 de setembro de 2020

UMA QUINZENA ATRIBULADA!

 

Uma quinzena atribulada!

 


Prá mentira ser segura,

E atingir profundidade,

Tem que trazer à mistura,

Qualquer coisa de verdade...

(António Aleixo)

 

 

No distrito e na região sucederam-se os acontecimentos. Inquietantes, uns, portadores de esperança, outros, mas todos eles a permitirem-nos aprendizagens diversificadas mas intensas.

 

Do ponto de vista social o distrito e a cidade viram-se atingidos por um surto epidémico com cerca de 3 dezenas de infetados e com centenas de portalegrenses em confinamento e sobressalto enquanto persistem e se intensificam os outros efeitos da pandemia: o desemprego, que em Julho atingia já 6.093 norte-alentejanos, a perda de rendimentos, o medo e as formas de intolerância e de egoísmo que este potencia.

 

No plano politico, cidade, distrito e região foram palco de diferentes iniciativas político-partidárias, que trouxeram à luz do dia o que de melhor e pior nos podem oferecer. Que potenciaram a esperança, que estimularam (umas) e combateram (outras) o medo e a desesperança com que alguns teimam em prendermos.

Ainda neste plano, o constatar da vontade de uns quantos em procurar enredar-nos com “papas e bolos”, com propaganda e mentiras.

 

Entre as ocorrências de âmbito social na nossa cidade o “palco principal” foi ocupado com a pandemia que tem virado do avesso a nossa forma de vida. Um foco detectado num restaurante da cidade, colocou na ordem do dia para além da paralisação de uma empresa que, dava os primeiros passos no caminho da recuperação e dos problemas colocados aos infectados, seus familiares e clientes e trouxe à tona o que de pior existe em cada um de nós com o “diz que diz” a inundar conversas e redes sociais com a mais abjecta campanha de acusação contra quem necessitava e necessita de solidariedade e compreensão.

No distrito e na região o palco foi ocupado pelo regresso do vírus a lares e residências de idosos e, de novo, com o medo a cegar a inteligência e a permitir e estimular o dedo acusador no lugar da solidariedade e compreensão e como por todo o país,  a reabertura das escolas a exigir-nos uma considerável coragem e, ao mesmo tempo, a confirmarem-se as inúmeras insuficiências de há muito detectadas e a justificarem a maior angustia por parte de pais e professores.

No plano político registaram-se iniciativas que nos trouxeram alguma esperança de que é possível, cumprindo as regras sanitárias, voltar a viver. A realização e a forma como decorreram algumas das iniciativas de massas na Atalaia, (festa do Avante), em Fátima (peregrinos no santuário), em Lisboa e Porto (feiras do livro) umas mais “cumpridoras que outras” até pela enorme discussão que geraram permitiram mostrar-nos que não estamos condenados “à prisão”.

Infelizmente foram em maior número as que nos deixam apreensivos, sendo a primeira delas a insistência do governo em fingir que é regionalização a negociata feita entre o PS e o PPD para dividirem entre si, os capatazes para em seu nome nos imporem as suas politicas centralizadoras e de divisão do país entre o litoral e o interior.

No plano do distrito as diferentes forças político-partidárias voltaram ao terreno destacando-se o partido do governo que, volta a gritar-nos a partir do seu congresso ou, pela voz dos deputados que participaram num conclave ibérico “que agora é que é, agora é que é”: as obras há anos reivindicadas e mil vezes prometidas vão finalmente avançar e contabilizam em 400 milhões o envelope financeiro que dizem ter disponível e, na cidade, na nossa cidade persistem as politicas do “quero, posso e mando” do alheamento dos problemas e do cumprimento das leis, da destruição do património cultural e da manutenção do não pagamento dos salários a trabalhadores de empresas do perímetro municipal.

 

Mas persistem os sinais de esperança! Quando os promotores do discurso e das políticas da xenofobia, do racismo e do ódio procuram e anunciam “a tomada do Alentejo”, a juventude alentejana concentrada na Praça do Giraldo sem Pavor, ao som da Grândola Vila Morena e armada com cravos de papel, deu-lhes a resposta necessária.

Que este sinal possa replicar-se na região e no país.

 

Diogo Júlio Serra

* Artigo publicado no Jornal do Alto Alentejo em 23-9-2020

sábado, 12 de setembro de 2020

Entre o Decreto burla (?) e a gestão de expectativas!


 

Entre o decreto burla(?) e a gestão de expectativas!*

No passado dia 17 de Junho em opinião aqui publicada interrogava-me sobre a “bondade” da acção legislativa do governo para a denominada (mal) democratização das CCDR’s ou como outros preferem dizer, do primeiro passo da regionalização.

Passados quase três meses vamos conhecendo quer as “negociatas” dos partidos do centrão para dividirem entre si, as presidências e no que à nossa região diz respeito, ao aparecimento formal ou insinuado dos candidatos que se perfilam, quer os muitos milhões (por enquanto virtuais) que o país e as regiões irão ter para investir.

Uma e outra das situações descritas não podem deixar-nos adormecidos.

Quanto à eleição das CCDRs  confirma-se a nossa preocupação relativa a um novo “Decreto-burla”. O facto de antecipadamente os diretórios do PS e do PSD terem dividido entre si as presidências das CCDRs é motivo suficiente, mas há pior. Estas estruturas continuarão a ser, como até aqui, meros departamentos dos governos centralistas.

Não importa que esteja ou vá para a Presidência um adepto do centralismo ou um regionalista confesso, o que importa  é que cada CCDR continuará a ser como até agora, um órgão da administração desconcentrada do Estado, mantendo –se sob a dependência total do governo.  Este terá o direito de nomear diretamente um dos dois vice-presidentes e, se o entender necessário, (leia-se se o Presidente “se esquecer de atender o telefone ou não perceber o que lhe é dito”) demitir o Presidente eleito.

Em Portalegre, cidade e sub-região, conhecemos bem o que significam tais “direitos” dos governos. Não esquecemos as posições tão assustadoramente desiguais dos Srs. Juan Carlos Ibarra e Carmelo Aires quando da inauguração da nova Ponte da Ajuda ou mais recentemente, as barreiras e boicotes que esteve sujeita a candidatura e presidência do “nosso” João Transmontano na CCDR Alentejo e da mudança da lei para impedir que mais “transmontanos” fossem possíveis.

A segunda, a sementeira de expectativas, com os muitos milhões que “se aproximam”.

Num momento em que parece estar tudo em questionamento. Quando o governo de António Costa incumbiu um outro António para elaborar uma proposta estratégica para a recuperação económica de Portugal 2020-2030, já apresentada e em discussão, quando se anunciam todos os dias obras, investimentos e chuva de euros… é hora de arregaçar as mangas, aguçar o engenho e não ficarmos a ver passar comboios.

É importante que se reconheça (e corrija) “que o modelo de desenvolvimento económico e social actual , baseado no consumo exponencial de recursos, na concentração da riqueza, no aumento galopante das desigualdades e na crescente destruição ambiental, não é sustentável e deve ser mudado.”[i] Mais, “as visões liberais extremistas que prevaleceram no passado conduziram o país à perda de grande parte da sua indústria e a um certo culto de desprezo pelos recursos nacionais.[ii] .

É importante mas não é suficiente. O distrito de Portalegre tem que ver garantida a resolução dos problemas criados e mantidos pelas opções erradas dos governos centrais e centralistas e ver garantidos investimentos públicos e políticas que potenciem os nossos recursos e capacidades e nos permitam romper as fronteiras que nos mantém isolados de outras regiões e comunidades, do desenvolvimento e do futuro.

Importa que se concretizem os projectos tantas vezes anunciados e adiados e desde logo a construção do empreendimento de fins múltiplos do Pisão e a electrificação e modernização da Linha Ferroviária do Leste, entre Abrantes e o Caia, com a alteração do traçado que a aproxime da cidade de Portalegre e com a garantia de ligação à linha rápida em construção entre Sines e Caia.

Que se termine de vez o IC 13 e se garantam eixos de ligação em perfil de auto-estrada entre a A6 (Elvas/Campo Maior) e A23 (Portalegre/Nisa e Gavião e a ligação rodoviária Estremoz/Avis/Ponte Sor/Abrantes. Que a aspiração e necessidade de toda a região numa ligação Nisa/Cedillo, através de uma ponte sobre o Tejo ou o Sever seja concretizada e, também, que se aposte na reindustrialização do distrito, potenciando quer os recursos endógenos, quer a existência de cultura operária bem sedimentada na cidade de Portalegre.

O Presidente do NERPOR veio na passada semana, nas páginas deste jornal, desafiar o distrito a envolver-se na discussão deste e outros problemas para que a sua voz possa fazer-se ouvir.

Concordo! Como ele defendo desde há muito, que só podemos minimizar a falta de peso económico e político que nos caracteriza se conseguimos fazer da unidade de acção a força que nos falta.

É a hora. Vamos ao trabalho!

Diogo Júlio Serra

* publicado no Jornal Alto Alentejo de 9-9-2020

[i]                       Documento de autoria de António Costa Silva, pág. 24

[ii]                      Documento citado, pág. 91.


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

São Rosas...

 





São rosas meu senhor…

 


“E haverá sempre gente de extrema-direita, haverá sempre o ódio, haverá sempre quem tenha um poster do Hitler em casa. Haverá sempre nostálgicos da ditadura. Haverá sempre nostálgicos da escravatura. O que não se pode é dar espaço a essa gente.”

 

A frase de Teresa Villaverde que encabeça o seu artigo de opinião publicado no jornal O Público, e a sua oportunidade, vieram-me à memória ao analisar a “novela” protagonizada pela rapaziada do “tem avondo” e publicitada por uma rádio local.

Na verdade será praticamente impossível num curto espaço de tempo, fazer desaparecer os nostálgicos da ditadura, os nostálgicos da escravatura, os que insistem em cultivar o ódio. Constatamo-lo diariamente pelos comentários nas redes sociais, no aplauso fácil aos discursos racistas e xenófobos, nas tentativas de mostrar igual o que é abissalmente diferente, na tentativa de tornar os vilões em vítimas ou no mínimo, perante verdadeiros crimes procurarem dizer-nos que criminosos e vítimas são igualmente culpados.

Quanto a esta realidade não será difícil concordarmos que, só com anos de instrução, informação e educação conseguiremos extirpar o medo e o preconceito, do que entendemos como diferente e logo perigoso. Mas tão ou mais importante que esta constatação é aceitarmos e agirmos que, como também é dito por Teresa Villaverde, “não se pode é dar espaço a essa gente.” E aqui chegados, retornemos à “novela”.

A “rapaziada do tem avondo” mandou colocar em Portalegre um grande painel com a fotografia do rapaz que dá a cara e papagueia o ódio a partir da Assembleia da República e, quando passaram ao local para apreciar a “obra” constataram que o mesmo estava rasgado.

Peritos na utilização do “megafone mediático” os apoiantes locais, o “caudilho” e as centenas de perfis inventados, lançaram de imediato uma campanha de vitimização e denúncia da acção anti democrática dos inimigos do “avondo”, que por medo da “sua” verdade querem calá-lo. Situação que o megafone local se apressou a garantir, não conseguirão!

Até aqui tudo normal. Como de costume esta rapaziada costuma defender-se, gritando enquanto foge, “ agarrem que é ladrão”! O que já poderá não ter sido tão natural assim, foi a rapidez e a ausência de rigor com que alguma comunicação social local, uma rádio e um blogger, deram palco à mentira!

Rapaziada do “avondo”, jornalista e blogger, acredito que com razões diferentes, preferiram o filme da conspiração, à confirmação da “notícia “e à ponderação necessária.

O epílogo é conhecido. Ainda uns e outros procuravam atingir as suas audiências já a épica narrativa caía com mais ruído com que “caíra o cartaz”. Um morador informava ter assistido ao rompimento do cartaz devido a um golpe de vento que ocorrera. E pronto uma estória tão bem “contada” e que permitiria chegar ao coração de mais uns quantos “crentes”, regar democracia com gasolina, um furo jornalístico que iria consolidar o slogan da mais ouvida, um post destinado a encher o ego de quem o publica, transforma-os, pelo menos por algum tempo, em motivo de chacota de toda a comunidade.

Mas seria mau, muito mau, que nos ficássemos pelo sorriso. Esta “novela” mostrou-nos a verdade que encerra a frase citada no início do texto:

 “O que não se pode é dar espaço a esta gente”. E dar espaço a esta gente, não é só quando se divulgam as suas mentiras ou se branqueiam as suas acções. Dar espaço a esta gente é quando se afirma que são todos iguais os que sabemos serem diferentes, quando se afirma não haver (as posturas xenófobas e racistas, as manifestações e práticas nazi-fascistas) o que todos sabemos existir. É também, não conseguir ver a manifestação do 1º de Maio no centro da cidade e ver, no Atalaião, o que afinal não existiu!

Diogo J. Serra

(artigo publicado no Jornal do Alto Alentejo de 26-08-2020)

quarta-feira, 29 de julho de 2020

E nós a vê-los passar?





E nós a vê-los passar?*

O Corona vírus e a pandemia que originou tornaram o “nosso” mundo mais incerto e perigoso e puseram a nu, o que de errado temos vindo a fazer ou a permitir e os seus maléficos resultados.
Atingidos nas “nossas certezas” e com medo do desconhecido, deixámo-nos confinar, abdicámos de direitos, demos (alguns) rédea solta aos que procuram concentrar em si, sobretudo e sobre todos, toda a riqueza produzida.
Anestesiados pelo medo e pela força de uma comunicação orquestrada e paga pelos senhores do dinheiro. (Sim, eu sei que não é toda assim orquestrada e paga. Alguns são só idiotas úteis, armados em modernaços e, muito poucos, continuam a remar contra a maré). Fomos achando natural, tudo quanto é anti-natural. Abdicámos da liberdade em troca de uma ideia de segurança, abdicámos de rendimentos por medo do desemprego, aceitámos por medo e desconhecimento continuar a pagar a nossa perda de liberdade, a redução dos salários, de emprego e de felicidade.
Entretanto os senhores do dinheiro e os capatazes que têm espalhado pelos centros de decisão e pelos “fazedores” de opinião aceleraram o seu “trabalho”, para tornarem ainda mais eficientes as suas actividades predadoras.
Olhemos para a situação vivida no nosso território.
Milhares de famílias viram reduzidos significativamente os seus já parcos rendimentos, seja por perda do emprego, pelo encerramento dos seus pequenos negócios (encerramento obrigatório ou por perda de clientes) ou pela imposição do Lay-off que lhes foi imposto – uma forma de reduzir o rendimento dos trabalhadores e passar diretamente para os donos do capital, quer a parte tirada aos trabalhadores, quer os subsídios, também dinheiro dos trabalhadores, que lhes são doados através da Segurança Social.
Apesar das “dádivas” ao patronato serem feitas, dizem, para garantir a continuidade dos postos de trabalho, o desemprego no distrito, é agora (dados de Junho) superior em mais de 23% ao desemprego registado em Junho do ano passado.
As grandes empresas sugaram a esmagadora maioria dos dinheiros disponibilizados e aproveitaram para despedir mais umas centenas largas de trabalhadores, substituíram a palavra “despedir” pela expressão “não renovar”, diferente na semântica mas de igual resultado. Aproveitaram para reduzir rendimentos, obrigarem “ilegalmente” os seus trabalhadores a gozarem férias antecipadas e aumentarem a jornada de trabalho.
Foi assim nas grandes cadeias de supermercados, nas multinacionais do sector automóvel, nas empresas que monopolizam o serviço de cantinas e bares em inúmeros serviços públicos, foi e é assim, nas empresas de transportes colectivos, como a Rodoviária do Alentejo, a quem todos nós e os seus trabalhadores, pagamos o serviço que esta não faz e assim, mantendo os lucros e deixando os norte-alentejanos ainda mais isolados.
Do ponto de vista social o retrato é igualmente aterrador.
As nossas crianças afastadas das escolas e dos amigos tornaram-se prisioneiras nas suas próprias casas. Muitos trabalhadores “obrigados” ao tele-trabalho aprenderam dolorosamente como esse sistema de trabalho (que alguns pensaram ser um benefício) é afinal uma nova e mais intensa arma de exploração dos trabalhadores que viram aumentados os tempos de trabalho e passaram eles a suportar um número significativo dos custos das empresas: Net, energia, higiene e limpeza, etc…
Os pais, obrigados a gozar as férias em Março e Abril enfrentam agora Julho e Agosto, sem férias e sem local onde deixarem os filhos e estes, com as escolas encerradas perderam em muitos casos, o direito à única refeição completa que lhes era proporcionada.
Os idosos, em particular os institucionalizados são, talvez, as principais vítimas desta situação. Impedidos de serem visitados pelos seus familiares e confinados em instituições impreparadas para fazerem face a esta situação sanitária.
A pandemia veio dar maior visibilidade às consequências de mantermos uma forma “esclerosada” de organização política, de um estado centralizador e que sistematicamente abandona as regiões mais afastadas dos centros de decisão.
A situação de isolamento a que estamos sujeitos sem transportes públicos rodoviários entre os concelhos do distrito e entre este e o restante território e sem o transporte ferroviário que queremos e merecemos é exemplo desse abandono.
O governo, (é cada vez mais perceptível) faz parte do problema e não da solução, ao apoiar as decisões das empresas concessionárias e subsidiadas, a não prestarem os serviços a que estão comprometidas, como na passada sexta - feira, foi denunciado pelo Movimento Sindical, ou a insistirem em afastar Portalegre e o distrito dos benefícios do transporte ferroviário de passageiros e mercadorias.
E se dúvidas houvesse aí estão o encerramento e desativação de linhas e ramais, a não modernização da Linha do Leste e da sua aproximação à cidade de Portalegre. Aí está o traçado da linha de alta velocidade entre Sines e Caia que, ao não parar em Elvas, apenas se serve do nosso território como corredor de passagem e na melhor das hipóteses, como miradouro privilegiado para vermos passar os comboios.
Só há um caminho. O que obrigou governo e CP a voltarem a ter serviço de passageiros na linha do leste: a luta das populações!
Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal do Alto Alentejo de 28-7-2020

quarta-feira, 15 de julho de 2020


Mais vale um ganhão
todo roto e remendado
que um “salta pocinhas”
de chapéu ao lado!



Em tempos de branqueamento do fascismo e das garras que o caracterizaram na ditadura e também na chamada consolidação da “democracia” muitos dos que por necessidade se “converteram” à democracia começam a perder o medo de “sair do armário “e assistimos, também no nosso distrito, a atitudes e acções que corporizam a vontade de branquear “os negros anos” e reescrever a história recente.
O “plano em marcha” passa pela “recuperação da bondade do salazarismo” utilizando a mentira para procurarem opor o que chamam de moral salazarista à corrupção existente, procurando tomar por dentro o aparelho de estado, utilizando comandos fascistas, agora chamados de nacionalistas, para controlarem as forças militares e para militares e um partido politico nascido com trafulhices a partir das organizações nazi-fascistas e alimentado com os dinheiros da corrupção que dizem querer combater.
Passa ainda pelo aproveitamento das posições que detém na comunicação social dita nacional e dos idiotas úteis que um por pouco por todo o lado por interesse material ou por vaidade replicam os ideais, as mentiras e as campanhas enganadoras com que visam o regresso ao passado.
São os aproveitamentos de descontentamentos (justíssimo) de sectores da nossa sociedade e em particular nas forças de segurança (GNR, PSP, Guardas Profissionais e outros) onde os zeros actuam e recrutam.
São as campanhas mediáticas que se aproveitam do preconceito, da desinformação e de focos reais de insegurança, para disseminarem a propaganda do ódio através do discurso xenófobo e racista.
São as diárias demonstrações, escondidas por detrás duma contemporaneidade bacoca,  menorização da nossa cultura e abastardamento da nossa língua.
São ainda as campanhas de aliciamento da direita politica, particularmente a direita democrática, para posições que ditas de combate ao que apelidam de “cultura marxista” procuram regredir direitos conquistados com o 25 de Abril, ancorados na Constituição da Republica e na Carta dos Direitos Humanos.
É inserido nesta estratégia de branqueamento que temos vindo a assistir ao recrudescer da propaganda disfarçada de literatura da reedição dum livro escrito por um salta-pocinhas da política e empregado devoto do grande capital. Saudosistas militantes da ditadura terrorista dos agrários, idiotas úteis por estes utilizados ou cidadãos que ainda não conseguiram ultrapassar os traumas “vividos” afadigam-se agora a replicar a verdade dos que por ganância e por ódio maltrataram, destruíram e mataram esta terra e este povo.
Todos conhecemos a velha táctica de defender atacando mas que não se iludam. Por mais noticias que comprem, por mais alto que gritem nunca conseguirão apagar os crimes e as mortes que originaram e entre as mais dolorosas a que cometerem no Escoural e que motivou, também em Portalegre, a 28 de Setembro de 1979 a maior manifestação indignação e dor que esta cidade já viveu.



Não há mal que sempre dure…Nem fome que não dê em fartura!




Não há mal que sempre dure…Nem fome que não dê em fartura!*

Estas “sentenças populares” com que convivi desde os meus tempos de menino, em Arronches e em contacto directo com os homens do campo, vieram-me agora à lembrança ao tomar conhecimento da decisão tomada pelo nosso município de iniciar um processo de classificação de algumas dezenas de edifícios do concelho como Monumentos de interesse Municipal.

Decisão acertada, que só peca por tardia.

Na verdade alguns dos edifícios agora incluídos na lista divulgada já estavam propostos para classificação no PDM de 2011 e outros já se encontram em acelerado processo de degradação e, por isso, a necessitarem de intervenção urgente. São os casos do antigo Mosteiro de S. Mamede e da Capela de S. Pedro, ambos em ruínas. Decisão igualmente tardia para o Bairro da Vilanova, o Clube de Ténis e o antigo Sanatório, também eles a precisarem de cuidados urgentes.

Apesar de a lista ser extensa e incluir alguns de duvidosa “qualidade” outros continuam a ficar de fora apesar de reconhecidamente deverem estar incluídos. Recordo-vos só a título de exemplo o edifício sede da Cooperativa Operária e a antiga sede da Sociedade União Operária, propriedade do município e que este deixou degradar e que vai agora ser ocupado por um “semillero de empresas” mais um, numa cidade que apesar dos viveiros (muitos) teima em não ter actividade empresarial significante.

O primeiro, o edifício sede da Cooperativa Operária, inaugurado em 1905, sete anos depois da fundação da Cooperativa, foi ao longo de décadas suporte de todo o movimento associativo e operário. O segundo, o edifício inaugurado também em 1905, para sede da Sociedade União Operária – a primeira Associação não mutualista fundada em Portalegre.

Todavia esta decisão do Executivo Municipal que mereceu a unanimidade dos seus membros e o aplauso generalizado da população, em particular dos que se interessam pelas questões do património e da nossa cultura, é apenas uma etapa, a primeira dum processo que por si só não garante que o nosso património seja salvo da degradação.

É um caminho que a ser percorrido com a lentidão habitual pode não chegar em tempo útil ou transformar-se em desculpa para não serem efectuadas as intervenções de conservação e recuperação que a sua importância e os portalegrenses merecem.

Para muitos dos que estão em situação mais estável importa que a classificação não fique só pelas paredes e inclua o recheio e a função. São os casos do Café Alentejano e do Crisfal onde ao edificado deve juntar-se quer o seu recheio quer a sua função.

O Alentejano é muito mais que o edifício onde está instalado. Os painéis com as ceifeiras, o mobiliário usado e o vermelho forte na sala de entrada. O revestimento negro dos painéis de madeira no salão dos bilhares e a sua função social e cultural fazem dele, como muito bem o definiu o Professor Martinó, “não apenas um café mas um museu. O Alentejano é um museu vivo, que recupera memórias de gentes e de acontecimentos”.

O mesmo se pode afirmar do Crisfal. Este edifício ilustrativo da arquitectura do salazarismo, foi inaugurado em 1956. Único cine-teatro na cidade está intimamente ligado a várias gerações de portalegrenses.

Tendo em conta o anunciado pela Câmara Municipal de que o objectivo da actual decisão é a protecção e valorização dos imóveis agora seleccionados ficamos a “torcer” para que desta vez, nos gabinetes municipais existam a vontade e os meios para travar o desmoronamento da cidade e a destruição da sua e nossa memória.

Diogo Júlio Serra
* publicado no jornal do Alto Alentejo de 15-7-2020

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Parabéns União



…Pr’ a União dos Sindicatos, uma salva de Palmas!*

A 4 de Julho próximo cumprem-se quarenta e cinco anos do nascimento (oficial) da União dos Sindicatos do Norte Alentejano.
Nasceu da vontade dos trabalhadores, na Praceta dos Lusíadas onde então funcionava a delegação distrital do Sindicato dos Bancários de Lisboa e que é hoje a sede distrital do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas. Num Plenário Distrital de Sindicatos presidido por António Milheiros – Bancário, António Serrano – Operário Agrícola e António Ceia dos Reis – Operário Corticeiro era dado cumprimento ao estabelecido na “lei sindical” e aprovados os estatutos da União dos Sindicato do Distrito, conforme a convocatória enviada a 19 de Junho.
Eram então apenas 4 sindicatos mas que representavam, como a legislação dispunha, mais de 50 % dos trabalhadores sindicalizados no distrito: os sindicatos dos corticeiros e dos operários agrícolas do distrito de Portalegre, o sindicato dos químicos de Setúbal e o Sindicato dos Bancários de Lisboa.
Nos quarenta e cinco anos já cumpridos, foram muitos os dirigentes e activistas que lhe deram vida e voz. Foram inúmeras as alegrias e tristezas vivenciadas. Muitos sonhos, aspirações e alguns fracassos alicerçaram o seu caminho que, felizmente, continua a ser testemunhado por dois dos seus fundadores: o António Milheiro que presidiu e o António José que secretariou o Plenário fundador.
Organização de trabalhadores tem sido e continuará a ser aquilo que os trabalhadores do distrito e em particular os que a “alimentam” quiserem que ela seja.
Estrutura integrada no Movimento Sindical de Classe foi e é a voz e o querer dos trabalhadores deste Alentejo do Norte e um dos actores locais mais actuantes na defesa da sua população e dos seus anseios e direitos. Assume como tarefa primordial a defesa e representação de todos os trabalhadores assalariados do distrito sem abdicar da intervenção politico-social em todas as frentes onde se discuta e decida o futuro do território e dos seus habitantes e onde, no seu entender, se possam construir pontes capazes de unir vontades e acções que permitam alcançar o desenvolvimento e o bem-estar que o distrito ambiciona e merece.
A luta pela Regionalização que o Alentejo reclama e a Constituição da Republica consagra tem sido, também, objecto da sua intervenção como o comprovam a sua adesão e participação em todos os fóruns e organizações que a reclamam. Participou em todos os Congressos do Alentejo que têm percorrido toda a Região, integrou todos os movimentos pela Região Alentejo, participou de forma empenhada “Pelo Sim à Regionalização” e à Região Alentejo e integra, o Movimento AMALENTEJO e a sua “luta” pela institucionalização da CRA-Comunidade Regional do Alentejo um instrumento que permita experienciar no Alentejo, as vantagens da Região Administrativa.
É esta organização de trabalhadores, jovem de 45 anos, que se prepara para disponibilizar à região e ao país as memórias da cidade operária que Portalegre já foi.
Previsivelmente até final do ano, recuperado o edifício que foi até há pouco a sede dos Corticeiros mas que foi desde 1912 a casa sindical de corticeiros, sapateiros, rurais e outros, abrir-se-á ao público o CDAMOS-Centro Documental e Arquivo do Movimento Operário e Sindical do Norte Alentejano.
A USNA/cgtp assinalará o seu 45º aniversário um dia antes, a 3 de Julho, na Zona Industrial de Portalegre com uma concentração em defesa dos direitos dos trabalhadores, direitos que têm sido fortemente atacados no tempo que atravessamos.
Comemorar o 45º aniversário em luta, na rua, simbolicamente frente a uma das empresas que é campeã na precariedade e nos despedimentos (mesmo que “embrulhados” com designação diferente) mostra que os 45 anos não lhes retiraram a juventude e que irá continuar o combate iniciado em julho de 1975.
Tenho disso absoluta certeza. Uma certeza alicerçada no conhecimento profundo que dela tem que ter quem, como eu, a acompanhou por dentro ao longo de 42 dos seus 45 anos de vida, 37 dos quais participando na sua direcção.
Parabéns à União dos Sindicatos, aos seus fundadores, a quem a mantém e dirige e aos trabalhadores do Distrito de Portalegre.
Diogo Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 1 de Julho 2020