quarta-feira, 21 de junho de 2023

Entre a realidade vivida e a realidade “fabricada”!

Entre a realidade vivida e a realidade “fabricada”!


Os casos e casinhos que preenchem a atenção dos nossos “media” são tão só um novo instrumento para nos distrair dos verdadeiros problemas que nos afectam.

A sucessão de casos e debates em torno deles tem como objectivo descentrar a discussão dos conteúdos políticos e alimentar a ladainha do “são todos iguais” e as agendas reaccionárias que aí estão.

Nos últimos dias a somar à realidade mediática marcada pelos grandes meios também a comunicação social regional tem tentado manter na agenda, a partir de declarações proferidas pelo presidente da CCDRA, o perigo “dos atrasos nas obras de diversos equipamentos de saúde” e das preocupações sobre a perda de parte significativa dos fundos alocados para tais construções e na procura de culpados para essas situações. E tudo “contado” como se o que estivesse em causa não fosse a incompetência ou desleixo do poder central no garantir de tais tarefas.

O mesmo e com a mesma fonte, o que se refere à situação “vergonhosa” como é tratada a nossa região no que respeita às acessibilidades.

De novo a realidade mediática a tentar fazer-nos acreditar que o Poder Central, responsável pela situação para onde nos atiraram, vai agora “presentear-nos” com as acessibilidades ferroviárias que nos “roubou”, com as rodovias que nos são necessárias mas não construiu e com o tratamento politico que sempre nos negou.

Pela voz do Presidente da CCDRA sistematicamente ampliada e repetida pela comunicação social local, ficámos a saber do esforço “enorme” que a CCDRA vem fazendo para trazer o caminho de ferro à cidade ou para que a Linha do Leste não continue parada “no tempo dos comboios a vapor”. E até, pasme-se, o que de bom tem para nós, no caso para os portalegrenses, termos sido brindados com mais uma rotunda, não para nos impedir de morrer no entroncamento “ilegal” do IP2 na entrada sul da cidade mas, na estrada que nos liga a Arronches, a 200 metros do outro que já lá existia mas agora, destinado a levar-nos para a nova escola da GNR.

Que a tal estação só chegue à cidade lá para 2030, data em que se prevê a linha do leste ficar toda electrificada, ou que Portalegre “ganhou” uma rotunda (200 mil euros) pelas mesmíssimas politicas que outros (Campo Maior p.ex) “ganharam novas áreas de parqueamento industrial, (15 milhões de euros).

Que a descoberta da necessidade de aproximação da ferrovia à cidade é uma reivindicação antiga, que dos milhões do PRR só se prevê que aqui possam chegar migalhas ou que os que agora fazem tais anúncios são os mesmíssimos que têm impedido ou esquecido as nossas (do território) reivindicações, são verdades que não estão “na agenda”.

Casos, casinhos e a ampla “animação” mediática procuram esconder as manobras de chantagem sobre os municípios relativamente à linha de desresponsabilização do Estado por via chamada descentralização de competências e, também, a inércia e desinteresse em garantir no território a mobilidade drasticamente reduzida e que foi imposta por vários meses de estradas cortadas e pontes destruídas pelo mau tempo de Dezembro último.

As infra-estruturas, quer pelo seu valor intrínseco, quer pelo contributo que podem dar para o desenvolvimento das regiões, são determinantes se inseridas numa política de desenvolvimento integrado e sustentado, que partindo do aproveitamento dos recursos existentes, os potenciem, os afirmem e contribuam para combater as assimetrias e as desigualdades. A mobilidade em melhores condições é um anseio e aspiração das populações e uma condição indispensável para a actividade económica.

O transporte de passageiros e mercadorias, além de depender do nível dos serviços disponibilizados, deve estar ancorado numa rede de infra-estruturas que assuma uma perspectiva intermodal, complementar entre as suas diversas formas, valendo cada uma delas por si (aérea, rodovia e ferrovia), mas que interligadas assumem uma relevância maior.

Esta a discussão que devemos ter.

O aproveitamento das infraestruturas e as condições naturais e de corredores aéreos de Ponte de Sor, a existência de uma rodovia qualificada, garantindo a ligação rápida e segura entre as três cidades do Alto Alentejo e o acesso aos principais centros urbanos e com uma rede ferroviária modernizada e electrificada.

Estes sim são os casos reais que importa discutir.

E não basta continuar a agitar a proximidade da inauguração da Linha Sines/Caia que a U.E. paga e impôs. Para o Alto Alentejo o fundamental é a eletrificação da Linha do Leste e a sua conexão com essa linha de Alta Velocidade que possa escoar os bens aqui produzidos e permitir aos cidadãos reduzir significativamente os tempos de viagem, entre Portalegre, Lisboa ou o Norte do País e fazendo-o com padrões de qualidade consentâneos com o nosso tempo.

No que à rodovia diz respeito é fundamental a conclusão do IP2 e do IC 13, a ligação em perfil de auto-estrada da A6 com a A23 unindo Elvas/Campo Maior, Portalegre, Castelo Branco e um novo itinerário que ligando Estremoz a Abrantes quebre o isolamento a que Ponte de Sor/Avis/Sousel foram votados.

É esta realidade, a nossa realidade e não as realidades mediáticas, fabricadas para nos entreter, que o Alto Alentejo precisa ver debatida e, sobretudo, alterada.

Que seja agora!

Diogo Júlio Serra


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