sábado, 25 de fevereiro de 2023

 


XII CONGRESSO DA USNA/CGTP-IN

Portalegre, 24 de Fevereiro de 2023

Intervenção de Diogo Serra/Inter Reformados

 

Bom dia a todas e a todos.

Um abraço fraterno da Delegação da Inter-Reformados, a todos os convidados, à Direção da CGTP-IN e a todos os delegados presentes neste XII Congresso e por vosso intermédio a todos os trabalhadores e população do Norte Alentejano.

Volto hoje usar da palavra num Congresso da nossa União. Faço-o pela 12ª vez e em 12 congressos diferentes como antes o havia feito na 1ª Assembleia da Organização Sindical no Distrito que antecedeu os Congressos e mais atrás, desde 1978 em cada um dos Plenários Anuais em que fazíamos o balanço do trabalho feito e definíamos os caminhos para mais um ano.

Desde então e até hoje só mudou, para além do aspeto físico do orador, a condição em que o faz. Este ano e assumindo a minha condição de Reformado, como membro da delegação da Inter-Reformados que assinale-se, intervém pela primeira vez num Congresso da União.

Caras e Caros Delegados,

Estimados convidados.

Em Portugal as pensões tem vindo ao longo dos anos a perder poder de compra e entre 2010 e 2015 estiveram congeladas. Nos anos seguintes nem todas as pensões tiveram aumentos e em todas elas se se concretizou a perda do poder de compra.

Já em 2022, face a uma inflação muito acentuada e o aumento brutal dos preços dos bens essenciais o governo responde com propaganda a tentar ocultar a fuga ao cumprimento da aplicação da formula legal da atualização numa manobra que os reformados rotularem e bem de fraude.

Hoje, é sobejamente conhecida a difícil situação vivida pela esmagadora maioria dos Reformados, Pensionistas e Idosos em Portugal, com pensões de miséria que veem sistematicamente emagrecer, com acesso cada vez mais difícil às instituições de saúde e tendo, muitas vezes de optar entre o medicamento e a alimentação.

A situação vivida no Norte Alentejano só se diferencia por ser ainda mais difícil.

Como os documentos em vosso poder registam (dados de Novembro de 2022) existem no distrito perto de 30 mil reformados com pensões de velhice cujo valor médio é ainda inferior ao já baixíssima média nacional que é de 480 euros mensais.

Aqui, o valor médio das pensões de velhice é de apenas 391 euros, 18,54 % abaixo da média nacional e 17,7% abaixo do limiar da pobreza, situação que não se modificará, se nada for feito, uma vez que os salários praticados são, aqui, também eles, miseravelmente baixos.

Conforme o quadro inserto nos documentos que nos estão distribuídos e sem ter em conta o setor da Administração Publica, 60,8 % dos trabalhadores por conta de outrem recebem entre 601 e 800 euros, havendo mesmo 967 que auferem mensalmente menos de 600 euros.

É uma situação insustentável para a esmagadora maioria dos norte-alentejanos tanto mais que aos salários pequeninos de português e norte Alentejano se juntam os preços europeus (em muitos casos superiores aos praticados em países ricos) e uma inflação galopante que os senhores da guerra, a lógica capitalista e os oportunistas internos nos impõem em cada dia.

Há que travar as políticas que a originam, derrotar as logicas que as justificam e retomar os caminhos que muitos dos reformados de hoje construíram e que décadas de contra-revolução têm vindo a desmantelar.

Não é, por isso, o tempo de reformados ou não, calçarmos as pantufas.

Os trabalhadores e em particular os trabalhadores reformados temos o dever de continuar o caminho para alcançar o Portugal que merecemos. Um país e um mundo, como cantou o poeta, com pão, paz, saúde, habitação, liberdade de mudar e decidir e convenhamos, tal caminho é possível. Assim o queiramos!

Para tanto é fundamental retomar e intensificar a luta.

Luta pelo esclarecimento de todos e todas e em particular daqueles e daquelas que a destruição do sonho, as dificuldades e pancadas infligidas, os enganos e desilusões tendem a deixar-se arrastar pela desilusão e pela descrença e intensificarmos o seu chamamento à ação.

Luta com os trabalhadores do ativo pelo aumento geral dos salários, situação imprescindível para que as pensões do futuro não continuem miseráveis.

Luta com os reformados e pensionistas com todos os idosos pelo cabal cumprimento da lei da atualização em 2023 e nos anos seguintes e pela exigência da melhoria das pensões de forma a que seja reposto e melhorado o poder de compra dos idosos.

Luta com quantos continuam a bater-se por um pais livre, moderno e inclusivo que não deixe para trás pessoas e territórios, que Cumpra Abril e a sua constituição.

Camaradas

Essa compreensão do caminho que é preciso percorrer tem vindo a crescer também no distrito de Portalegre onde tem sido visível o crescimento da vontade dos trabalhadores no ativo e na reforma de fazerem da luta o caminho para travar as desigualdades e garantirmos a todos os níveis de bem-estar e desenvolvimento que merecemos e reivindicamos,

Nos últimos dois anos os trabalhadores do distrito e em particular os trabalhadores reformados voltaram a trazer à rua as suas dificuldades, as suas justas reivindicações e particularmente a sua determinação em continuarem a ser atores da sua própria vida.

A Inter-reformados acompanhada pelo MURPI e as suas comissões de reformados pensionistas e idosos e apoiados no Movimento Sindical de Classe tem vindo a desenvolver inúmeras ações de organização e combate que tiveram expressão pública em diferentes localidades:

Em Outubro de 2021 em Avis, um dos concelhos do distrito onde é mais sentido o défice de médicos de família com uma Tribuna Publica sobre cuidados de saúde primários;

Em 2022, de novo em Outubro, em Portalegre, com a realização de concentração e desfile contra o roubo das pensões, com um cordão humano entre a sede da Segurança Social e a rotunda do Navio.

Já este ano, a 24 de Janeiro, em Ponte de Sor com uma tribuna Publica de denúncia da perda do poder de compra e pelo aumento das pensões.

Foram tão só pequenos passos dum caminho que é necessário e urgente fazer.

Um caminho que defenda e garanta o Sistema de Segurança Social público e inter-geracional que potencie a solidariedade institucional e que torne natural que as gerações no ativo mantenham e ampliem os direitos que os reformados de hoje conquistaram e mantiveram, com a certeza de que serão os trabalhadores de amanhã a garantirem o sistema aos que hoje o alimentam e defendem.

Que garantam a sua sustentabilidade através do aumento do emprego e dos salários;

Que garanta a melhoria das pensões do futuro através da melhoria dos salários do presente.

Este é um combate (mais um) que é preciso travar e vencer. Um combate para o qual os reformados e pensionistas de hoje estão obrigatoriamente convocados e que não permite deserções, porque é um combate pelo futuro e pelo presente.

Lutar pela saúde e pela defesa e melhoria do Serviço Nacional de Saúde é importante para os filhos e netos mas é-o também para os reformados, pensionistas e idosos a cada dia mais necessitados desse apoio ao longo da vida;

Lutar, lado a lado com os trabalhadores do ativo, pela melhoria dos salários é acto de solidariedade mas é também a defesa da segurança social pública e solidária e da melhoria das pensões de hoje e de amanhã.

Caros delegados

Este caminho que todos reconhecemos como necessário só é possível se nos empenharmos no nosso movimento sindical de classe em dar cumprimento ao que nós próprios decidimos; organizar no seio dos nossos sindicatos os trabalhadores reformados e garantindo-lhes a capacidade de continuarem a luta.

No nosso distrito é ainda mais importante e as ações que temos desenvolvido a partir da União mostram que para além de necessário é possível garantir uma InterReformados mais forte e atuante a partir de cada um dos nossos sindicatos.

Se todos o quisermos é possível uma Inter-Reformados mais forte e mais interventiva no Norte Alentejano.

Vivam os Trabalhadores de todo Mundo e o seu Movimento Sindical de Classe!

Viva a CGTP-Intersindical Nacional!

Viva a União dos Sindicatos do Norte Alentejano!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

FAZ DAS INJUSTIÇAS A FORÇA PARA LUTAR

 



Faz das injustiças a força para lutar!

A frase que serve de título a este texto é a transcrição da palavra de ordem do PCP dirigida a quantos sofrem as mais diversas e abjetas injustiças, num país que aspira e merece um caminho diferente do que lhe vem sendo imposto percorrer.

Trata-se de alimentar a resiliência de um povo, de combater a desilusão e não permitir que se assuma como inevitável o que é tão só fruto da vontade de uma minoria de pessoas, para servirem menos pessoas ainda.

É uma palavra de ordem totalmente adaptada ao Alto Alentejo e à sua população e que deveria ser por nós (todos) apropriada e assumida, tão grave é a situação para onde nos têm empurrado.

Num distrito sistematicamente empurrado para os últimos patamares do desenvolvimento e de bem-estar e, por isso mesmo, em acelerado processo de desertificação humana e envelhecimento da população.

O índice de envelhecimento é de 242 quando o distrito perdeu na última década 13.517 habitantes. Uma perda que atingiu cada um dos 15 concelhos e colocou Portalegre como a capital de distrito que mais população perdeu e também a que mantem o menor numero de habitantes.

Não será preciso procurar outros exemplos para ilustrar a situação que vivemos, tanto mais que esta é uma verdade em que todos os quadrantes da sociedade se reconhecem.

Se existe unanimidade no diagnóstico o mesmo não acontece no apontar das causas e na terapêutica a usar. Lembremos. É fácil o consenso na definição do problema demográfico como uma das mais graves situações que nos afligem, mas este já não é possível na identificação das razões que a originam e muito menos nas medidas necessárias para travar e inverter tal situação.

Para alguns a perda demográfica e envelhecimento tem causas “ sobrenaturais” cujo combate só pode travar-se através “de intervenção divina”; para outros, a culpa é dos que aqui nasceram e teimam em viver: não querem filhos, não querem ficar por cá, pelo que a solução, dizem, passa por estimular essa vontade, seja com subsídios aos recém-nascidos ou com “suplementos vitamínicos” para os jovens casais. Uns e outros recusam-se a reconhecer aquilo que durante um dia inteiro no Pavilhão Multiusos de Monforte dezenas de trabalhadores, delegados à Assembleia de Organização da Direção Regional de Portalegre do PCP, não se cansaram de mostrar.

A culpa é, disseram-nos, das políticas de direita que apostam nos interesses do Capital que engorda, (também no distrito), pela rapina de recursos e da riqueza produzida.

A solução passa pela valorização do território, do distrito e de todo o Interior com políticas nacionais de desenvolvimento regional; por políticas de coesão territorial no terreno, por forma a travar esta situação no imediato e inverte-la no futuro.

Como se reafirmou no Multiusos de Monforte a situação demográfica não se altera com pequenos subsídios de nascimento aos jovens pais. Alterar-se-á, sim, se a precariedade dos jovens for eficazmente combatida, se aos pais, atuais e futuros, forem garantidos salários dignos, se a todas as crianças for garantido o direito a creche gratuita, ensino de qualidade e sem custos, se para eles e para as famílias for garantido o direito à saúde.

O doloroso índice de envelhecimento (duzentos e quarenta e dois idosos por cada 100 trabalhadores ativos) só poderá ser travado quando for garantido aos jovens na região trabalho com direitos e salários dignos.

O doloroso caminhar para o não futuro só será travado e invertido se, e quando, o distrito puder contar com investimento publico (em vez de meras promessas) que nos garanta acessibilidades; um serviço nacional de saúde de acordo com as nossas necessidades e a excelência dos trabalhadores do sector, uma escola pública inclusiva e de qualidade, de acordo com o que necessitamos e os trabalhadores do sector reclamam e podem garantir.

Tudo isto desfilou, domingo em Monforte, no decorrer da Assembleia de Organização do PCP.

Eu e muitos outros estando presentes, fomos parte do empenho na denúncia e na proposta, propostas que acreditamos serem necessárias e inadiáveis; perante este quadro importa transformar decisivamente as injustiças em força pra lutar!

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

OS EMBAIXADORES E OS "DONOS" DO CANTE"

 


Os Embaixadores e os “donos” do Cante!

Uma polémica intensa acerca de um não assunto

1. Nas últimas semanas nas redes sociais muitos alentejanos no território ou na diáspora esgrimiram opiniões, indignações e outros “ões” quanto à legitimidade do cantor Pedro Abrunhosa para ser embaixador do cante alentejano que, afirmavam alguns, tinha para isso sido contratado e principescamente pago, subentendia-se, pela Entidade Regional de Turismo ou, pior, pelo seu Presidente.

As opiniões mais ou menos indignadas, quando não mesmo o insulto, cruzavam-se nas redes sociais à medida que mais internautas se afadigavam a comentar o comentário, que comentava o que alguém, que já não sabiam quem, havia postado.

Pelo caminho já havia réus, provas e culpados e em cada nova postagem ditavam-se as penas de quem cometera tais blasfémias.

Questionei um desses postadores, meu amigo, que me reafirmou a sua indignação por a Região de Turismo ter ido contratar para embaixador do Cante um fulano do Norte que, disse-me, nem sabia cantar. Questionado por provas que justificassem o sucedido “atirou-me” que o próprio Presidente da Entidade Regional de Turismo o havia anunciado na sua página no facebook.

2. Mesmo que tal fosse verdade, mesmo que tivesse sido convidado alguém para levar o cante a diferentes paragens ou para incorporar o cante no seu repertório, haveria algum motivo para contestação? Claro que sim, responderam-me. “Já há uns tempos um chico-esperto do norte quis abocanhar o capote alentejano”.

Não fiquei convencido e atrevo-me a colocar aqui mais uma dúvida. O Cante não foi candidatado e declarado património cultural da humanidade? E as fronteiras da humanidade cabem no nosso Alentejo ou pior, como alguns me gritaram, no Baixo Alentejo?

O Cante Alentejano, o Fado, a Arte Chocalheira, o Figurado de Estremoz e tantas outras manifestações do nosso Património Cultural Imaterial ao serem por nós investidos da categoria de Património da Humanidade passaram a não ser (apenas) dos alentejanos, dos lisboetas, dos vianenses e estremocenses passaram a ser de TODA A HUMANIDADE.

3. Mas há mais, muito mais. A intensa e acesa discussão tinha por base um “coisa nenhuma” ou pelo menos um conjunto de afirmações contidas num editorial de um jornal da Região e das quais o seu autor se viria a retratar.

Terá sido esse Editorial que diz-se, mais motivado por “ressabiamento” do que por tristeza, levou a que o post do Presidente da ERTAR fosse intuído em vez de lido e a que se juntou um misto de vontade de um acerto de contas (nessa parte eu compreendo) com quem fora das cantigas usou da sua popularidade para tomar partido contra um partido e a sua festa levando pela frente os seus próprios camaradas de cantigas.

Hoje, parece, já poucos se lembrarão das diatribes e remoques, muitas vezes atingindo o insulto e na sua maioria, das razões que os motivaram. Todavia, esse episódio, mais um, mostra-nos quão perigoso é a prática opinativa sem o mínimo de conhecimento sobre o que se opina ou com esse “conhecimento” baseado em débeis capacidades de leitura e numa incapacidade não assumida de saber interpretar um texto.

O capacidade destes opinadores de sofá em assumirem a presunção da culpa, até prova em contrário, só é equiparável à resistência em confirmar o que recolheram, quase sempre, através “do diz-se por aí, ou pelas postagens dos fabricantes de mentiras e da disseminação da boataria.´

Esperemos que consigam/consigamos aprender com os erros!

Que viva o Cante!

Que saibamos afirmar o Alentejo como Um Povo, uma Cultura, uma Região.