quarta-feira, 24 de agosto de 2022

E...Viva a Festa

 


E…Viva a Festa!

Em 1976, vivíamos ainda a ‘ressaca’ do golpe militar do 25 de Novembro, realizou-se pela primeira vez.

A 23 de Setembro, a então Feira Internacional de Lisboa, concentrava nas suas instalações, todo o Portugal democrático e representações de diversos países do mundo e na sua rica programação cultural ostentava, caso único num país há pouco saído das amarras do isolamento, os maiores nomes da música mundial.

Logo essa primeira vez não foi fácil. A tenacidade e coragem dos seus organizadores foi posta à prova por diversas ‘adversidades’ a que nem faltou a tentativa bombista de cortar a energia e a sua superação marcaria a vontade que a continuou a erguer anualmente, com apenas uma interrupção. Neste caso por a direita no poder (no país e na autarquia de Lisboa) ter negado a utilização do espaço – o Alto da Ajuda – para a sua realização.

Os jornais da época deixaram registado o êxito de que se revestiu essa festa montada pelo trabalho voluntário de milhares de portugueses, animada culturalmente pelo que de melhor tinham o país e o mundo e usufruída por muitos milhares de milhares de todas as idades, condições e posicionamento político-partidário.

O seu êxito, desta e de quantas se lhe seguiram, é o ‘segredo’ de uma festa que construída por um partido político se destina a todo um povo que queira em paz desfrutar do que de melhor temos no país. Sejam os nossos artistas -cantores, pintores, escritores, poetas, gentes do teatro e do cinema - a nossa gastronomia, o nosso artesanato, as nossas tradições e também a democracia que a Constituição consagrou e o futuro que todos sonhamos e merecemos.

Esta é para mim, uma verdade inatacável. Eu, que participei na construção e usufrui dessa primeira Festa, nas que se lhe seguiram tenho sido muito mais beneficiário que ‘construtor’, continuo a ter o primeiro fim-de-semana de setembro como referência e a Atalaia como lugar onde anualmente revejo amigos, partilho sonhos, conquistas e mágoas e deleito-me vivendo em três dias o mundo com que sonho e agora já avô continuo a querer ajudar a construir. Um mundo como a Festa. Com igualdade, liberdade, fraternidade, solidariedade e paz.

Por estas razões não acredito que a cegueira, que o ódio e o preconceito alimentam, parta ou tenha apoio de pessoas que independentemente da qualidade em que o fizeram, já estiveram na Festa.

E todavia, mais uma vez, assistimos a uma campanha orquestrada e bem paga, de guerrilha mediática contra a Festa, quem a faz e quem a usufrui.

É assim desde o seu início.

Em 1976, embalados pelo golpe de estado vitorioso, os argumentos foram as bombas, em 1987 ‘as bombas’ chamavam-se Nuno Abecassis e Cavaco, há dois anos era a Covid e a necessidade de ficarmos prisioneiros, o ano passado foi, já nem me lembro o quê. Agora o argumentário centra-se no ataque aos artistas que ali vão atuar e a sua, dizem, insensibilidade em atuarem para quem, novamente são os do costume e os seus megafones quem o diz, apoia a guerra que eles e quem os maneja, trouxeram para a Europa.

Somos cada vez mais a perceber que esta bem orquestrada e paga campanha contra a Festa, nada tem a ver com ela, que diga-se com verdade tem vindo a somar exemplos de responsabilidade, defesa da saúde e da sanidade dos portugueses, defesa dos trabalhadores (todos) e particularmente dos trabalhadores do espetáculo a quem os poderes não só impediram de trabalhar como deixarem entregues à sua sorte.

A maioria dos papagaios do ódio sabem (alguns não o saberão, nem isto nem coisa nenhuma) que o problema não está, nunca esteve, na defesa da saúde, na proliferação do tal vírus, do tal IVA que dizem não ser pago, etc… etc… o problema para eles e para os donos é haver neste país quem continue a interpretar e bem os versos de Manuel Alegre magistralmente cantadas na Festa por Adriano.

O problema é o que a Festa anualmente lhes “esfrega na cara” e que foi magistralmente traduzido na intervenção de uma dirigente juvenil num comício de encerramento e que cito de cor:

“Neste tempo assim vivido/tivemos Festa outra vez/porque temos um Partido/Comunista e Portuiguês.”

É isto! Este é o problema de quantos (já lão vão mais de cem anos) não conseguem discernir que ‘o mundo pula e avança’.

Para os outros muitos que não são prisioneiros do preconceito e da intolerância uma palavra amiga: - Venham daí, porque a vida são dois dias e a Festa do Avante são três.

Encontramo-nos lá. E, boas férias!

Diogo Júlio Serra

(publicado no Jornal do Alto Alentejo de 24 de Agosto de 22)