sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O Luto, a Luta e a Esperança!

O Luto, a Luta e a Esperança! (*)



     O 25 de Novembro deste ano não me trouxe apenas luto.
     Este ano e a par das comemorações do 25º aniversário do Instituto Politécnico de Portalegre, recebemos em Portalegre o IV Fórum do Interior e, com estes dois acontecimentos a presença da Coordenadora da Unidade de Missão e de Valorização do Interior.
     Ter a possibilidade de, em Portalegre, pensar e debater estratégias de desenvolvimento para o interior é só por si uma novidade merecedora de aplauso, tanto maior se tal “novidade” trouxer consigo a vontade de olhar de forma diferente o interior e os problemas que se nos colocam e se refletem no todo nacional.
     Como todos sabemos, e os portalegrenses melhor que ninguém, Portugal é hoje um país profundamente desequilibrado territorialmente, e nunca como hoje, as desigualdades entre a estreita franja do litoral e todo o resto do território nacional foram tão acentuadas.
     As dificuldades decorrentes da interioridade deixaram de ser exclusivos dos distritos do interior, para chegarem a praticamente todos os municípios que não pertencem à orla costeira, mesmo que pertençam a distritos do litoral.
     Após mais de 25 anos e 74 mil milhões de euros de Quadros Comunitários de Apoio, a coesão territorial não é mais do que uma miragem. Não só se mantém as enormes desigualdades como serão ampliadas, face à tendência de crescimento da concentração em alguns poucos concelhos do litoral, da população, do emprego, do tecido produtivo e da criação de riqueza.
     Por outro lado os últimos quatro anos, de profunda depressão económica e social, vieram agravar os problemas crónicos com que a maior parte das regiões do país já se deparavam e que no norte alentejano eram e são particularmente gravosas: mais baixos salários e menor poder de compra, reduzidos níveis de emprego e pouco qualificado, elevado desemprego, dificuldades no acesso aos serviços públicos, a cuidados de saúde e à rede de escola pública, difíceis acessibilidades, envelhecimento da população, êxodo das camadas mais jovens quer para as grandes cidades do litoral, quer para o estrangeiro, crescente desertificação.
     Os municípios de regiões como a nossa têm não só uma menor capacidade de arrecadar receita própria, mas sofrem também de forma mais dolorosa os impactes das políticas traçadas para acelerar o empobrecimento das pessoas e dos territórios, o que também influencia a qualidade de vida dos munícipes, a decisão sobre onde residir e a capacidade de atracão de outros, pessoas e investimentos.
     A resposta a estes problemas requer uma estratégia integrada e alargada – procurando responder às dificuldades nos planos económico e social –, ao mesmo tempo que atende às especificidades concretas de cada região. Têm de ser envolvidos todos os órgãos do poder central e local, e consideradas a análise e as propostas dos actores locais.
     Uma estratégia de real combate às desigualdades territoriais não pode, porém, estar desligada de uma mudança profunda de políticas, no sentido de atrair e consolidar investimento produtivo, de promover mais emprego e emprego de qualidade, de aumentar salários e pensões, de reforço das funções sociais do Estado e de realização de investimentos públicos necessários ao país, não só em infra-estruturas de transportes e mobilidade, mas também de reabilitação e valorização urbanas, e de melhoria da resposta dos serviços públicos (nomeadamente nos sectores da saúde e da educação).
     É ainda fundamental, a meu ver, que se retome a discussão em torno da Regionalização e, no caso concreto do Alentejo se possam encontrar formas intermédias entre as condições políticas existentes e as necessidades efectivas e a vontade expressa pelos alentejanos.

Diogo Júlio Serra


(*) publicado no Jornal Fonte Nova de 6/12/16

sábado, 3 de dezembro de 2016

Vê(s) moinhos, são moinhos!

Vê(s) moinhos, são moinhos
Vê(s) gigantes, são gigantes!

A morte de Fidel Castro, ocorrida 60 anos depois do dia em que com outros 81 valentes saiu do porto mexicano de Tuxpan, com o objetivo de derrubarem o ditador Fulgêncio Baptista, desencadeou, como era expectável, uma onda de comentários sobre El Comandante, mais favoráveis ou mais críticos, conforme o posicionamento politico-ideológico ou o conhecimento de quem os formulava.

Para uns, onde eu me incluo, partiu o símbolo último do romantismo revolucionário e sobretudo o dirigente que assumiu a hercúlea tarefa de garantir a um pequeno país conquistar e manter a sua independência e ter conseguido enfrentar e vencer o poderoso vizinho do norte.

Para outros, prisioneiros do seu posicionamento politico-ideológico ou incapazes de se demarcarem dos que os media do sistema lhes servem, alguém que manteve um poder não legitimado por eleições ditas livres, que impunha ao seu povo uma pobreza confrangedora, que prendia os seus opositores, etc…etc…

Depois nas franjas os que o endeusavam e recusavam aceitar que não teria só virtudes e do lado oposto a “brigada fascista” que repetindo os argumentos fabricados no Estados Unidos e repetidos até à exaustão na “little cuba” inventam, fantasiam e mentem tendo como objetivo supremo branquear o fascismo e exaltar o seu supremo marco em Portugal, um tal António de Santa Comba Dão. Estes, de facto, não contam.

É entre os que veem diferente porque estão em posições diferentes mas querem com seriedade ver “ a verdade” que vale a pena “conversarmos”.

Nos últimos dias, pessoalmente ou através das redes sociais, tenho trocado argumentos com alguns dos meus amigos: amigos de verdade não das redes sociais. Procurei retirá-los das trincheiras para onde o preconceito ideológico ou tão só a propaganda do sistema capitalista que nos tolhe, os tem empurrado.

Falam-me que em Cuba não existem muitos dos bem de consumo que “temos” no Ocidente e é verdade, mas esquecem os cinquenta anos de bloqueio imposto pelos Estados Unidos de forma ilegal e condenada pela maioria dos países.

Contam-me que Fidel, e agora Raul, são Chefes de Estado sem serem eleitos pelo voto direto dos seus concidadãos, esquecendo ou fingindo não saberem que o Chefe de Estado Cubano, como o Chefe de Estado dos Estados Unidos e muitos outros, é eleito não por sufrágio direto mas por um colégio eleitoral. Esquecem inclusivamente que aqui ao lado os últimos três Chefes de Estado chegaram ao poder não por voto (direto ou indireto) mas pela vontade de “alguém”: o primeiro pela Gracia de Deus, o segundo pela Gracia de Franco e o terceiro e atual, pela Gracia do pai.

Persistem em elencar carências enquanto escamoteiam (porque não desconhecem) que Cuba consegue hoje, e apesar do bloqueio, ser reconhecida pelos seus enormes êxitos:
a)      Único país da América Latina sem desnutrição infantil; (UNICEF)
b)      Único país Latino-americano sem problemas com drogas; (ONU)
c)      Taxa de Escolarização:
Primária – 100%
Secundária – 99,7%
(UNESCO)
d)     É o país latino que menos viola os direitos humanos; (Amnistia Internacional)
e)      É o único país do mundo com desenvolvimento sustentável; (WWF)
f)       Tem um sistema de saúde melhor que o dos países mais ricos/”desenvolvidos do Mundo”.

Por fim, esgotados os argumentos restam os factos e, contra factos não há argumentos. Afinal há sempre mais um. Pois, conseguiram tudo isso, mas a que preço. Não são livres…

E dizem-no assim, como se eles/nós o fossemos.

Livres como nós? Bem, de facto, alguns de nós (poucos) têm tudo. Os outros (a maioria) têm tudo menos a possibilidade de o adquirir.


Diogo Serra