quarta-feira, 26 de outubro de 2016

TODA A GENTE SABE QUE OS... SÃO BRUTOS!





Toda a gente sabe que os… são brutos! *



“Os taxistas são mal-educados, os professores eram preguiçosos, os médicos ricos e os estivadores brutos. A cada campanha negra nos media contra um sector profissional que se quer precarizar há uma claque que segue o rasto, brandindo de punho em riste contra os sectores «corporativos», que só «se protegem a eles». Isto referindo sectores profissionais que mal ou bem tiveram a coragem de lutar…”
Raquel Varela in O Porte do Animal.


Não podia estar mais de acordo.

É isto que se passa sempre que alguns se dispõem a lutar pelos direitos deles e, quase sempre, pelos de todos nós!

Os opinadores de serviço (ao serviço da mera boçalidade ou dos grupos que são, de facto, os Donos Disto Tudo) multiplicam-se nos ataques e na catalogação suficientemente apelativa para levar atrás de si os muitos e muitas que ainda não descobriram a função atribuída a essa “máquina brilhante” com que fomos dotados – o cérebro.

A nossa região não fica de fora.

Foi/é assim com a luta dos enfermeiros, dos professores, dos funcionários públicos, dos trabalhadores das empresas públicas de transportes e nos últimos dias, dos taxistas.

Também por aqui, em particular nas redes sociais, era “vê-los/as” a tentarem fabricar falsas razões, a preocuparem-se com a vida particular e/ou “a fortuna” dos dirigentes associativos, a generalizarem quaisquer atitudes que à partida pudessem ser condenáveis.

Passada uma semana sobre a ação desenvolvida pelos taxistas é interessante reler o que foi dito e escrito por quantos e quantas generalizaram comportamentos sem pensar sequer nos efeitos que traria para a (sua ) classe a generalização das suas afirmações.

Vejamos! Uma afirmação “fascistoide” de um jornalista permite-nos insinuar que os jornalistas são fascistas? Claro que não!

A precipitação de um disparo (mesmo que com bala de borracha) e a “distribuição” de gás pimenta pelos taxistas, permite-nos julgar todas as forças repressivas ali instaladas como mal preparadas ou amantes da violência? Claro que não!

Alguma experiência menos boa vivida ou recolhida, sobre uma qualquer viagem num qualquer táxi ou a boçalidade das alegações de um taxista bastam para apelidarmos toda a classe de gatunos ou boçais? Claro que não!

Mas, foi essa a posição de muitos e muitas com “tempo de antena” e espaço nos meios de comunicação, depois intensamente replicados nas chamadas redes sociais, numa postura que no mínimo acabava por ocultar o que verdadeiramente estava em causa: a intervenção das multinacionais no abocanhar dos negócios e dos lucros à custa da desregulamentação do fator trabalho.

Quantos e quantas dos que escreveram e replicaram as graçolas sob a inevitabilidade da destruição do emprego regulado e a sua substituição pelas “novas” formas de espoliação de quem trabalha pararam para pensar se há modernidade no regresso à exploração vivida por trabalhadores e povos e a que se convencionou apelidar de escravatura?

E no entanto é isso que está cada vez mais presente nestes rasgos ditos de pós-modernidade.


Diogo Serra

* publicado no jornal Fonte Nova de 25 de Outubro de 2016

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Que sejamos nós a desenhar o futuro do Alentejo! *


Somos dos que entendem que a constituição do AMALENTEJO e a realização do Congresso no passado 2 de Abril e Troia foram tão só o (re) iniciar de uma caminhada só completa quando for cumprido o preceito constitucional que define o Poder Local assente em três distintos (e complementares) pilares: as freguesias, os municípios, as regiões administrativas.

A falta de vontade política e alguma inabilidade levaram a que o cumprimento dessa obrigação constitucional continue por cumprir e, depois das armadilhas legais que foram sendo construídas, se torne difícil, no momento, aspirar à sua concretização.

Mas o Alentejo, recordemo-lo, sempre reafirmou a sua vontade e necessidade de dispor de uma estrutura regional democrática e participada que permita à região e aos alentejanos participarem nos diferentes processos de decisão sobre o seu futuro e, por isso, porque essa é uma aspiração e uma necessidade por todos assumida, o Congresso de Troia avançou com a necessidade da criação da Comunidade Regional do Alentejo – uma nova estrutura de poder regional, para colmatar a falta da região administrativa do Alentejo enquanto a regionalização definida na Constituição da Republica não avançar.

Para concretizar esta ideia os congressistas avançaram com o lançamento de uma petição pública, para recolher as assinaturas necessárias à apresentação na Assembleia da Republica, de um projeto lei de iniciativa popular que crie a Comunidade Regional do Alentejo (CRA). A criação da CRA será um passo importante no aprofundamento da democracia participativa, um avanço no princípio da subsidiariedade e um instrumento para a promoção do desenvolvimento harmonioso de mais de um terço do território nacional continental.

A Comunidade Regional do Alentejo, na forma como foi desenhada, combina descentralização com desconcentração, assumindo competências da atual CCDRA, de algumas estruturas descentralizadas e outras que possam ser contratualizadas com o Governo central e, para evitar a duplicação de funções e de custos, toda a estrutura da CCDRA deve ser transferida para a nova CRA.

Conforme decisão dos congressistas e inscrição na petição já em distribuição, a CRA deverá ser um poder local de base regional, legitimado pelo voto dos mais próximos representantes do povo, ter personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira e, órgãos com poder efetivo para representar e dirigir o Alentejo.

Ultrapassado o período das férias, é necessário arregaçar as mangas e levar a discussão e recolha das assinaturas a todos os lugares onde estejam alentejanos e alentejanas:  no território transtagano e na diáspora.

O Distrito de Portalegre participou ativamente na criação do AMALENTEJO, na realização do Congresso de Troia e nas suas decisões. Envolveram-se nesse trabalho um número significativo de homens e mulheres, diferentes organizações e associações representativos das várias correntes de opinião presentes no território. Agora, é tempo de concretizar as decisões.

É agora o tempo de recolher as 35 mil assinaturas necessárias para fazer chegar este projeto à Assembleia da Republica. Ninguém pode ser dispensado (ou demitir-se) desta tarefa. Não queiramos que sejam outros a fazer o que é da nossa responsabilidade!



Portalegre, 2016-10


Diogo J. Serra
Animador Educativo e Sociocultural
Membro da Comissão Promotora do AMALENTEJO

* Publicado no Jornal Fonte Nova em 11-10-16