sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

No IX Congresso das CC.OO de Extremadura


Participei ontem, dia 13-12-2012, em Mérida, no IX Congresso da União Regional das CC.OO. de Extremadura e intervi, a convite do Presidente do Congresso na sessão inaugural.

Essa honra foi igualmente concedida a mais  dos inúmeros convidados presentes: Leonor Nogales do Ayuntamento de Mérida, Pedro Escobar - Coordenador Regional de Isquierda Unida, Guilhermo Vara - Secretário Geral do PSOE de Extremadura, Francisco Pinilla - Secretário Geral da UGT Extremenha, Ignácio Fernandez Toxo - Secretário Geral das CC. OO e José António Monago - Presidente do Governo Regional.




Saudação ao IX Congresso das CCOO de Extremadura
Proferida por Diogo Serra em Mérida, 2012-12-13

      Um abraço fraternal aos companheiros e companheiras que conduziram até aqui esta organização de classe, que carrega as aspirações, a determinação e a coragem de milhares de Extremenhos e Extremanas e podem hoje, aqui neste seu IX Congresso, de cabeça levantada e de olhos nos olhos, reafirmar que as CC OO de Extremadura e os seus filiados, Não se Rendem!
     Saúdo, em nome da CGTP/Alentejo os delegados e delegadas ao vosso Congresso e por vosso intermédio, todos e todas que a uma só voz se têm batido por toda a Extremadura contra os que nos governos autonómico e nacional, na Comissão Europeia ou escondidos por detrás dos chamados mercados, têm procurado retirar direitos sociais, destruído o emprego, generalizar a pobreza e fragilizar a democracia.

Caros e Caras delegados e delegadas. Estimados/as Convidados/as.
     Permitam uma breve nota sobre a situação vivida na minha região e no meu país.
     Em Portugal e em particular no Alentejo vivem-se, como aqui, dias de grande dificuldade face às politicas que nos estão a ser impostas pelos que no país se assumem como capatazes do capitalismo internacional e procuram a pretexto da crise que eles próprios provocaram proceder ao “acerto de contas” com a Revolução de Abril.
     Um ano e meio depois de terem tomado posse e após inúmeras malfeitorias o governo central e a maioria de direita que o apoia fizeram aprovar um Orçamento de Estado que está objectivamente fora da Lei.
     Um Orçamento de Estado claramente inconstitucional porque esmaga os rendimentos dos trabalhadores e dos pensionistas e deixa incólumes os rendimentos do capital.
  • Inconstitucional porque impõe uma sobretaxa aos rendimentos do trabalho, enquanto isenta da mesma outros rendimentos, nomeadamente os patrimoniais.
  • Inconstitucional porque mantém o roubo dos subsídios que o Tribunal Constitucional já declarou ser ilegal,
  • Inconstitucional porque aposta na destruição do Serviço Nacional de Saúde universal e tendencialmente gratuito, porque quer impor a destruição da Escola Pública de qualidade e acabar com o ensino publico universal e gratuito.
  •  Inconstitucional porque aposta no desmantelar do Poder Local Democrático.
  • Inconstitucional porque ataca claramente as fundações do Estado Democrático ao reduzir drasticamente as funções sociais do Estado e em alienar instrumentos fundamentais para a soberania nacional passando para o capital privado e estrangeiro empresas e serviços fundamentais.
Caras delegadas, Caros delegados, estimados convidados.
     Num tempo em que os ventos do retrocesso percorrem a Europa e com maior intensidade os países do sul, onde se inserem as nossas regiões verifica-se que a imposição de mais sacrifícios à classe trabalhadora e outras camadas desfavorecidas só pode ser travada com a luta persistente e abnegada dos trabalhadores e trabalhadoras.
     Tem sido assim ao longo de todo o ano num e noutro lado da fronteira politica que durante séculos separou extremenhos e alentejanos.
     As dezenas de manifestações e protestos que têm inundado ruas e avenidas das principais cidades da Euro Região, as Greves Gerais que cumprimos e em particular a Greve Geral de 14 de Novembro com toda a carga simbólica de ter sido a primeira de dimensão ibérica aí estão a mostrar que os trabalhadores e o seu movimento sindical não se rendem.
     No lado português tem sido a CGTP-IN a assumir a resistência às malfeitorias que os capatazes do capital internacional tem procurado impor-nos.
     Ontem mesmo, o governo avançou com mais uma malfeitoria, procurando impor a passagem das indemnizações por despedimento para apenas 12 dias por ano de trabalho e num máximo de 12 anos. Mais uma a juntar a muitas outras.
     Num ano em que os Alentejanos assinalam o centenário da primeira greve geral por solidariedade com a luta dos rurais e os cinquenta anos da conquista da jornada de oito horas nos campos o governo procura retirar direitos, aumentar a carga horária, esmagar os salários e trocar direitos por medidas caritativas.
     Todas as malfeitorias vêm embrulhadas no fatalismo da necessidade de obedecer às imposições da troika estrangeira como se Portugal e os portugueses estivessem condenados à submissão e colonização financeira do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia.
     Para a CGTP-IN a submissão não pode ser o caminho. É preciso pôr termo à política da especulação, da agiotagem e da chantagem.
     É preciso renegociar a dívida, alargar os prazos para a redução do défice e pôr o BCE a emprestar dinheiro aos Estados, para pôr termo ao fomento da especulação financeira;
      É preciso investir na produção nacional para criar riqueza e emprego, reduzir as importações e a dívida;
      É preciso taxar o capital, as transacções nos mercados financeiros, os dividendos e as mais valias e atacar a fraude e a evasão fiscal;
     É preciso por termo à cartelização dos lobbies da energia, dos combustíveis e das comunicações, que exploram as famílias e as empresas, para aumentar os lucros dos grandes accionistas.
      É preciso acabar com os benefícios e isenções fiscais aos grandes grupos económicos e financeiros e com a rapina das PPP ao erário público.
      Lá, como cá, os trabalhadores e os seus sindicatos cumprem o seu papel. Resistem e lutam, propõem alternativas e soluções.
      Lá como cá, é preciso construir alternativas a estas políticas e aos governos que as impõem.
      E para isso, lá como cá, compete às forças políticas trabalharem e lutarem para que tal seja possível no mais curto prazo.
 
     
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Há futuro?


Há futuro?

A greve geral de dia 14 de Novembro que a CGTP-in convocou e foi cumprida por muitos milhares de trabalhadores por todo o país, em todos os sectores de actividade, foi um momento alto da luta contra as políticas e o governo que a mando de interesses estrangeiros está a destruir a economia portuguesa e a impor o empobrecimento acelerado das populações e do país.

            Foi também um momento de viragem na percepção do que está em causa com as politicas e as birras que o governo vem assumido e, principalmente, de que há caminhos alternativos ao roubo organizado aos rendimentos das famílias e aos direitos dos trabalhadores e das populações.

 Mesmo em regiões como a nossa, onde a dimensão dos ataques costuma superar a nossa capacidade de reacção, foi possível colocar na opinião pública a existência de alternativas às políticas prosseguidas ao longo de décadas e agora brutalmente intensificadas.

 Digamos que também aqui, os trabalhadores e as suas organizações de classe, cumpriram com as suas responsabilidades mas, como todos verificamos isso não é suficiente.

            Em regiões como a nossa onde a ação política dos governos, deste e dos que o antecederam com políticas parecidas, tem vindo a desmantelar a nossa capacidade produtiva e a destruir empregos, a encerrar os serviços públicos e a impor-nos o mais completo isolamento, é preciso que outras camadas da população assumam a necessidade de irem, também, ao combate.

            O tempo que vivemos é um tempo de ação. Agora já não há mais tempo de fingir que não vemos, nem ouvimos e muito menos para continuarmos a eleger como inimigos os que são efectivamente os nossos aliados e a considerar amigos os que são, efetivamente, os carrascos das nossas condições de vida e de trabalho.

Hoje, no nosso distrito e na nossa cidade, ninguém pode continuar a fingir que não percebe que se continuarmos a deixar que nos roubem o salário e nos atirem para o desemprego, aos vinte e sete estabelecimentos comerciais já encerrados na rua do Comércio, juntar-se-ão muito mais.

Hoje, no nosso distrito e na nossa cidade, ninguém pode continuar a fingir que não percebe que se continuarmos a assobiar para o lado o nosso IPP encerrará nem que seja por falta de alunos, que ao Hotel de S. Mamede, ao Restaurante do Castelo, à Fabrica de Bolos do Alentejo e a tantos outros, juntar-se-ão muitos mais.

Hoje no nosso distrito e na nossa cidade, ninguém pode fingir que não percebe que é a cidade e o distrito que estão em risco de continuarem a ter vida se permitirmos que continuem a encerrar serviços como já encerraram dezenas de escolas e centros de saúde, se aceitarmos o desmantelamento do serviço de transporte ferroviários, se deixarmos que continue o ataque ao poder local democrático, começando pelas freguesias mas visando os próprios municípios.

Faço parte daqueles que acreditam que o país e o distrito têm em futuro. Mas esse futuro só será possível se outros sectores seguirem o exemplo dos trabalhadores e da sua central sindical e se disponibilizarem para passar do queixume à ação. Se todos e todas passarmos a uma posição de proposta e de combate.

Não vão faltar, infelizmente, motivos e ocasião para nos encontrarmos em novas batalhas!

Diogo Serra
(publicado no Jornal Alto Alentejo de 5/12/2012

domingo, 25 de novembro de 2012



As CC.OO de extremadura realizam nos próximos dias 13 e 14 de Dezembro o seu 9º Congresso numa unidade hoteleira em Mérida.

Neste Congresso em que o actual Secretário-Geral se apresentará para cumprir mais um mandato, estarão presentes as diferentes organizações territoriais e federais de CC.OO, uma muito ampla representação institucional, social e politica e contará com a presença do Secretário Geral das CC.OO de Espanha Ignacio Fernández Toxo.
 
A CGTP-IN Alentejo estará presente e eu próprio intervirei na sessão inaugural do Congresso conforme convite expresso por Julián Carretero -Secretário - Geral das CC.OO de Extremadura.
 
 
 

sábado, 17 de novembro de 2012


Contra a exploração e o empobrecimento
GREVE GERAL

A Greve Geral está a ser cumprida em todos os concelhos do Norte Alentejano atingindo níveis de adesão superiores aos verificados na última greve geral realizada em Março deste ano.

Os números já disponíveis apontam para uma adesão na ordem dos 72% no distrito de Portalegre atingindo números muito significativos nos diferentes sectores de actividade:
                                                        
                                                         Saúde                                     72%
                                                         Ensino                                    71%
                                                         Administração Local               82%
                                                         Recolha e Tratamento de
                                                           Resíduos                              90%
                                                         Justiça                                   77%
                                                         Aeronáutica                           38%

Em muitas empresas e serviços a taxas de adesão elevadíssimas levaram ao seu encerramento como são exemplo:
 
Estabelecimentos de ensino
     EBI/JI do Atalaião, Portalegre; Agrupamento de Escolas de Castelo de Vide; Secundária de Campo Maior; Escola BI dos Fortios, Escola Básica das Carreiras; EBI/JI da Boa Fé, Elvas; EBI/JI Alcáçovas, Elvas; EBI Cooperativa, de Campo Maior.

Recolha e tratamento de Lixo
    Não houve recolha em: Alter, Avis, Castelo de Vide, Crato, Fronteira, Gavião, Nisa, Ponte Sôr.

Tribunais com forte adesão: Elvas – 77%; Nisa – 20%; Ponte de Sôr – 85%,                           Portalegre – comarca – 50%; Portalegre MP – 25%.

A USNA/cgtp-in saúda os dirigentes, activistas e piquetes que construíram a Greve Geral. Os Trabalhadores e trabalhadoras que com grande coragem e sacrifício a cumpriram, toda a população do distrito e os que demonstraram a sua solidariedade com a luta desencadeada.

Viva a Greve Geral!

Portalegre, 2012-11-14

A Comissão Executiva da USNA/cgtp-in

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

 


SAUDAÇÃO AOS TRABALHADORES E POPULAÇÃO DO NORTE ALENTEJANO

A Direcção Regional da USNA/cgtp-in saúda calorosamente os trabalhadores e as trabalhadoras do nosso distrito e em particular os dirigentes e activistas sindicais que corajosamente souberam ultrapassar os condicionalismos económicos e sociais e as enormes pressões a que foram sujeitos e construíram, também aqui, a grandiosa greve geral convocada pela CGTP-Intersindical Nacional, mobilizando os seus companheiros, participando nos piquetes  e nas inúmeras acções nos locais de trabalho e nas ruas.

A Direcção Regional da USNA/cgtp-in saúda todos e todas que ultrapassando as enormes pressões que lhes foram colocadas em cada local de trabalho e os constrangimentos pela perda financeira que significou a sua adesão, decidiram vir ao combate e aderir à Greve Geral.

A Direcção Regional da USNA/cgtp-in apela aos trabalhadores e à população para que prossigam a luta contra esta ofensiva brutal que pretende retirar direitos, reduzir salários e pensões, piorar de forma brutal as condições de trabalho e de vida para quantos persistem em querer continuar a viver no Norte Alentejano. Uma ofensiva assente em políticas cujo objectivo principal é impor-nos um enorme retrocesso social e civilizacional bem expresso na proposta de Orçamento de Estado em discussão na Assembleia da Republica.

A Direcção Regional da USNA/cgtp-in apela aos trabalhadores e trabalhadoras do distrito que lutem pela manutenção dos direitos conquistados pela luta corajosa de gerações de trabalhadores e pelo direito que nos assiste de podermos viver e trabalhar no território que é nosso.

A Direcção Regional da USNA/cgtp-in exorta a população a integrar-se na luta que continuaremos a travar para derrotarmos as políticas e os governos responsáveis pela acelerada degradação das condições de vida de toda a população e pela destruição do tecido económico regional.

A todos e a todas o compromisso solene que, como até aqui, os norte-alentejanos continuarão a contar com o empenhamento do Movimento Sindical de Classe na defesa dos direitos dos trabalhadores e de toda a população.

"Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado!"

 Rui Barbosa

Viva a Greve Geral!

Vivam os trabalhadores/as norte-alentejanos!

Portalegre, 2012-11-15

A Direcção Regional da União dos Sindicatos do Norte Alentejano/cgtp-in

domingo, 28 de outubro de 2012

A USNA na Luta em defesa dos serviços públicos


Intervenção de Diogo Serra
 
Hoje iniciámos no Norte Alentejano um processo de participação cidadã que procura na unidade da acção, a força capaz de alterar o que a débil densidade populacional e empresarial e a pouca influência eleitoral lhe tem imposto: o alheamento e mesmo as malfeitorias por parte do Poder que à distância nos olha como coisa que não tem préstimo, nem sequer eleitoral.

A Plataforma que criámos e que hoje aqui se apresenta não é ainda a resposta a todos os nossos problemas. Ainda está longe de incluir todos e todas que podem e a nosso ver devem, vir a integrá-la. Ainda não conseguiu esbater as hesitações, as desconfianças, a descrença de muitos, cidadãos e organizações, habituadas a assobiar para o lado, a ver só o seu umbigo, a acreditarem que ligadas ao poder colherão sempre algum fruto.

Há um longo caminho a percorrer, mas é já um instrumento que adiciona vontades, junta cidadãos e organizações disponíveis para trabalharem em conjunto em defesa do Estado Social construído a partir de Abril e da defesa do direito, que todos temos, de viver e trabalhar nos nossos territórios, com os mesmos deveres e direitos de quaisquer outros cidadãos e organizações que vivem em qualquer outro ponto do território nacional.

Caros/as companheiros/as

 Todos nós conhecemos o preço que o Norte alentejano e as suas gentes tem vindo a pagar por termos permitido que nos diferentes governos eleitos desde 1976 tenham estado presentes pessoas e políticas contrárias ao espírito da Revolução do 25 de Abril e à nossa Constituição e que agora são levadas ao extremo porque, como dizia com certa graça um deputado da oposição, o actual governo toca a mesma música dos anteriores mas… mais forte e em ritmo acelerado.

 O resultado é devastador:

- Destruição do nosso sector produtivo, desde as empresas ditas tradicionais, Lanifícios, corticeiras, agro-alimentares, rochas ornamentais foram destruídas e encerraram, outras, apresentadas como do futuro, seguiram o mesmo caminho: Delphi/Inlan, Subercentro, Johnson Control’s  e mesmo as ligadas ao turismo, considerada por muitos como a salvação do distrito, nascem e morrem ao mesmo ritmo que as restantes: veja-se a situação do Hotel de S. Mamede, das Pousadas de Sta Luzia e S. Miguel para citar apenas duas delas.

- Retirada, extinção ou encerramento de serviços:

Dezenas de escolas, centros de saúde e SAPs, postos de correio, transportes públicos.

 No que respeita ao transporte ferroviário. O distrito de Portalegre deixou de ser o único distrito que não era servido por um inter-cidades para ostentar hoje o título de único distrito que não tem serviço ferroviário de passageiros.

No que respeita aos transportes rodoviários a situação não é muito melhor. Que o digam os jovens que estudam em Coimbra e que tem como “estação mais próxima” o Perdigão.

 A situação quase trágica que vivemos seria ainda agravada se os deixarmos, encerrar as Juntas de Freguesia (muitas delas a única entidade que presta os serviços que outros deixaram de prestar: cobrança da energia, posto de correios, disponibilização de medicamentos, etc…) se permitirmos o encerramento dos tribunais, se reduzirem a capacidade dos municípios, se encerrarem mais serviços de saúde.

 Não podemos permiti-lo!

 Não podemos permitir que nos levem todos os serviços como não podemos permitir que através do roubo sistemático dos nossos parcos rendimentos nos obriguem a sair daqui.

 O Programa de Agressão a que alguns nos amarraram e que o governo actual tem como bíblia tem vindo a destruir a economia do país e a empurrar para a pobreza um número crescente de famílias.

 Depois de terem arrastado o país e os portugueses para a quase indigência os governantes servem-se do programa de agressão que negociaram com a troika estrangeira como desculpa para apresentarem um orçamento que visa aumentar o roubo a todos os trabalhadores:

 Com este orçamento:

 Aumenta brutalmente os impostos sobre os rendimentos do trabalho;

 Corta na protecção social, na saúde e na educação;

 Reduz ainda mais as pensões de reforma impõe o endividamento às famílias e nega o futuro às novas gerações;

 Cria mais desemprego e aumenta a precariedade.

 Para percebermos isto não precisamos sair do distrito onde o desemprego em Setembro atingiu um novo record com 10.265 desempregados e uma taxa a aproximar-se dos 20% e crescem as situações de salários em atraso);

 Mas mais, agrava a recessão económica, aumenta a dívida do estado e projecta um destino de miséria para Portugal.

 O Governo, quer pôr os trabalhadores e o povo a pão e água. É preciso que todos nos levantemos contra o aumento da exploração e o empobrecimento generalizado das famílias e do país.

 É preciso que também aqui, afirmemos que estamos disponíveis para esse combate.

 E que ninguém se iluda. As políticas que esta gente procura aplicar não são o caminho que nos resta. Há outros caminhos que no Movimento sindical temos vindo a demonstrar e a defender:

 Agora, quando já não conseguem esconder que o dinheiro que banqueiros amigalhaços de quem está hoje no poder roubou da Banca, do BPN e de outros, é superior ao roubo que fizeram aos trabalhadores da Administração pública e aos reformados e pensionistas, tomaram medidas para os condenar?

Estão presos? Foram chamados a repor os montantes roubados? Claro que não.

Alguns deles fazem parte dos detentores das tais reformas milionárias que continuamos a pagar.

  Mas há mais.

 A CGTP-IN apresentou em sede de concertação social 7 medidas capazes gerar as receitas adicionais que o governo quer tirar aos trabalhadores e ás populações e que já integrou na sua proposta de orçamento.

 Vejamos as propostas que o Governo não quer:

1ª Taxação em 0,25% das transações financeiras (receita de 2,4 mil                                                                         milhõesde euros);

2ª Progressividade do IRC (escalão de 33,33%) para as empresas com             volume de negócios superior a 12,5 milhões ( receita de 1,1 mil

3ª Uma sobretaxa de 10% sobre dividendos distribuídos aos grandes                        accionistas (receita de 1,5 mil milhões de euros)

4º Combate à evasão fiscal (receitas de mil milhões  de euros)

5º Redução de 50% dos encargos públicos com as PPPs (poupança de                       769,2 milhões de euros,

6º Revogação de benefícios fiscais atribuídos ao sector segurador e financeiro e também às fundações privadas dos grupos económicos (poupança de 689,3 milhões de euros)

7º O banco Central europeu passar a emprestar aos Estados. À taxa de referência de 0,75% que usa para emprestar à banca privada, dinheiro que depois os Bancos usam para emprestar aos estados a 5,6,7,e mais & de juros (a poupança de 4.713,7 milhões de euros.

E aqui estão cerca de 12 mil milhões de euros.

Só que o governo não quer este caminho.

Procura conseguir os montantes que necessita nos bolsos de quem trabalha, dos reformados e pensionistas e aí está o seu Orçamento de Estado com a proposta de Lei que reduz sistematicamente os valores dos subsídios de desemprego, do rendimento social de inserção e do complemento solidário para idosos; com a suspensão do cheque dentista; com a taxação aos desempregados e aos reformados; .com a redução do salário mínimo nacional.

É absolutamente inaceitável.

É uma ofensa aos mais pobres dos pobres e um ataque sem precedentes ao Estado Social e é também uma profunda hipocrisia:

Este Governo de hipócritas diz com pompa que vai diponibilizar mais verbas para aumentar as Cantinas sociais ou seja, esta gente que rouba os salários e as pensões que atira em cada dia mais e mais famílias para a pobreza, está disponível para lhes garantir a sopa-dos-pobres como fazima alias em pleno fascismo.

O mesmo governo enche a boca com o facto de dizem irem garantir um aumento das pensões mínimas em 1,1%.

Ou seja vão aumentar em 6 a 9 centimos por dia quem tem pensões que não chegam aos duzentos euros.

Vêm agora, pela voz do CDS,  quando o Movimento Sindical em Portugal, em Espanha, na Grécia…  convocaram greve gerais para o próximo dia 14 de Novembro, defender o sonho fascista de acabar com o direito à greve e partir a espinha aos sindicatos. É um desejo antigo mas que já confirmaram de difícil concretização.

Mas quero daqui recordar-lhes  a sugestão a que o deputado Bruno Dias deu voz na Assembleia da Republica.

"Querem que as greves acabem? É simples - parem de roubar quem trabalha!

Quem luta, quem faz greve, não está a divertir-se numa festa: para além de perder o dia de salário, está a enfrentar a repressão, as ameaças, as chantagens... e também os insultos de quem desenterra bafientas diatribes de outros tempos.

E quero por fim convidar-vos a continuarem a dar os passos necessários na construção do caminho que nos há-de libertar desta tortura e anunciar-vos que também aqui iremos cumprir a greve geral e para ela contamos com todos e todas que não se rendem, todos e todas que apostam na luta para garantirmos aos nossos filhos e netos o direitos que todos temos de vivermos com dignidade.

domingo, 21 de outubro de 2012

Primeiro levaram os comunistas, não me importei!...


     Os jornalistas foram eles próprios notícia nos últimos dias.
     As greves decretadas e cumpridas pelos Jornalistas do Público e da Lusa trouxeram para a ribalta os problemas de uma classe profissional que nos traz a notícia mas que raramente a integra.
     Para os norte alentejanos estas notícias foram chegando através da comunicação social nacional e foram sendo acompanhadas com mais ou menos atenção um pouco por todos e todas os que trabalham ou são próximos da comunicação social seja ela local ou nacional.
     Para a classe não deixa de ser motivo de profunda reflexão tanto mais, que também aqui, já alguns profissionais perderam o posto de trabalho e a generalidade vive "o medo" de lhes seguir o exemplo uma vez que nesta região onde a vontade de uns poucos impõe que não tenhamos direito ao emprego, à saúde, ao ensino, a transportes dignos, a energia eléctica decente, a captações da TV... dispor de imprensa livre será sempre encarada pelos mandantes como  um luxo a que não temos direito.
     Mas o momento que atravessamos pode também (pelo menos) permitir-nos uma outra reflexão:      
     Será que vale a pena abdicarmos da missão que as democracias destinam à comunicação social e que uma citação de George Orwell agora em moda nas redes sociais, mostra com total clareza?
     Será que aquilo a que aqui, entendemos como notícia é a verdadeira notícia?
     Será que é por desconhecimento e distração que não vimos muito do que por aqui acontece?
 
Dois exemplos entre muitos que valerá a pena analisar.
  • Qual ou quais razões impuseram que apenas a LUSA tivesse reparado que, quando da visita do Ministro da Administração Interna a Portalegre, para o compromisso de honra dos militares da GNR, o aguardava uma manifestação exigindo que o Norte Alentejano não continuasse a ser discriminado?
  • Mais recentemente quando da Marcha contra o Desemprego, iniciativa que todos conheciam e noticiaram, nenhum órgão de informação regional tenha feito a cobertura da passagem da Marcha pelo Distrito e particularmente da Manifestação que às 8,30 da manhã do dia 9 de Outubro percorreu a vila de Avis?
Quando a classe luta, e faz muito bem, pelos direitos dos profissionais da comunicação social mas também pelo direito dos portugueses e da nossa democracia a disporem de informação livre, talvez valha a pena refletir do papel que deve assumir a comunicação social e os seus profissionais na resistência à extinção das condições para vivermos com dignidade em regiões como a nossa.
Diogo Serra
Outubro de 2012

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CENTENÁRIO DO 1º CONGRESSO DOS TRABALHADORES RURAIS

Intervenção proferida frente ao local onde há cem anos se realizou o 1º Congresso dos Trabalhadores Rurais e na presença do Secretário-Geral da CGTP-Itersindical Nacional.


Caras e caros amigos.

     Estamos aqui para assinalar o centenário do 1º Congresso dos Trabalhadores Rurais e da constituição da Federação dos Sindicatos Rurais, momento alto da luta sindical e da organização dos trabalhadores rurais que teve por palco a cidade de Évora.
     Convém recordar o contexto em que ocorreu o Congresso.
     O Movimento associativo entre as classes trabalhadoras portuguesas começou a tomar forma em 1839 com a constituição da Associação dos Artistas Lisbonenses mas, só em 1852 surge a primeira associação não mutualista – A Associação do Trabalho para os Fabricantes de Seda.
     A partir de 1870 o movimento associativo começa a ganhar forma mas somente nos maiores centros industriais: Lisboa, Porto, Setúbal e Covilhã.
     O Mundo rural – a maioria esmagadora do país – permanece distante quer do associativismo mutualista quer, do associativismo de classe.
     Em 1903 (dados fornecidos por Campos Lima- citado por A.V. em o Sindicalismo no Alentejo) existiam em Portugal  118 associações. No Alentejo 2 e entre elas a única associação de trabalhadores rurais, a Associação dos Trabalhadores Rurais de Beja[1].
     Em 1908 com a publicação do Jornal a Greve, dirigido por Alexandre Vieira e outros, são dados passos de gigante na propaganda sindicalista.
     Nesse ano, em Junho, Elias Matias – manufato de calçado ( cuja memória saudamos através dos seus familiares aqui presentes), Sertório Fragoso – operário tipográfico e outros fundam em Évora o Grupo Anarquista Avante! E iniciam uma intensa ação difusora e propagandista da ação sindical.
     Em 1909 realizou-se o Congresso Sindical e Cooperativista e a partir dele até à implantação da República somaram-se as lutas e greves envolvendo já (embora em número reduzido) os trabalhadores rurais. Mas é com a implantação da República que a luta dos trabalhadores se intensifica.
     No ano de 1910 realizaram-se atá ao 5 de Outubro 35 greves e só uma delas, de trabalhadores rurais. De 5 de Outubro e até final do ano realizaram-se 79 greves, 4 das quais de trabalhadores rurais: rurais de Portel, Moura, Setúbal e Cabeço de Vide.
     Em 1911 reúne o 2º Congresso Sindical e decide enviar uma comissão do Congresso como propagandistas do Sindicalismo nos campos.
     No dia 1 de Janeiro de 1911 é inaugurado na Rua do Raimundo, o Sindicato dos Rurais de Évora, com 490 associados e no final de Abril estavam criados 52 sindicatos rurais.
     A 18 de Maio realiza-se em Évora uma reunião magna dos sindicatos rurais que apresenta um conjunto de reivindicações aos proprietários. Estes respondem com a recusa a todas elas o que origina nova reunião magna a 28 de Maio, de novo em Évora.
     Os  55 sindicatos presentes  proclamam a greve geral para dia 31 de Maio de 1911e elegem um Comité de Greve composto por: Joaquim Candieira, José Cebola, Vital José e Tiago Varela – rurais, pelo Pastor Monzes – de Évora e pelos membros do Grupo Anarquista Avante – Sertório Fragoso, António Nicolau e Elias Matias .
     A greve paralisa os campos e junta milhares de trabalhadores em Évora. Ao 4º dia de Greve os proprietários cedem em toda a linha.
     A primeira greve geral dos rurais fora ganha.
    Em Dezembro os lavradores negam-se a cumprir o que acordaram em Junho e os trabalhadores voltam à greve a 1 de Janeiro de 1911.
     Agora a repressão foi brutal, O poder republicano manda encerrar as sedes sindicais, espancar, prender e espingardear os grevistas: um trabalhador foi morto e centenas de outros foram feridos, no Largo Severim de Faria.
     A greve geral alastra a todo o Alentejo e a Lisboa e Setúbal. Em Portalegre são presos 12 trabalhadores que se manifestavam contra a repressão sobre os grevistas e em Lisboa é encerrada a Casa Sindical e presos mais de 500 trabalhadores. Na Moita os populares lincharam o Administrador do Concelho.
     A Greve é derrotada, persistem as prisões e os sindicatos continuam encerrados. Os trabalhadores das várias classes profissionais resolvem arrendar uma casa na Rua da Freiria de cima, nº 21 e aí instalar todos os sindicatos.
     Estava criada Casa Sindical de Évora e a União Local dos Sindicatos.
    A casa sindical de Évora, diz o relatório da Comissão de propaganda na província do Alentejo, é uma espaçosa habitação, co jardim e aula. Nela estão instalados os Sindicatos dos rurais, co 1800 sindicados, o dos carpinteiros civis com 70, o dos manufatores de calçado com 150, o da construção civil e artes auxiliares com 120, o dos corticeiros com 500. Os sindicatos dos caixeiros com 80 e o dos pedreiros com 90 são igualmente aderentes da União Local e é provável que venham a habitar na Casa Sindical[2].
     Foi neste contexto que a 25 e 26 de agosto se reúne neste local na cidade de Évora o Congresso Corporativo dos Trabalhadores Rurais.
     O Congresso teve lugar na sede da União Local de Évora sedeada no nº 21 da Rua da Freiria de Cima, onde nos encontramos, tendo como principal objetivo a constituição da Federação Nacional dos Trabalhadores Rurais.
     No Congresso participaram 39 sindicatos representando 12525 trabalhadores rurais de Alcáçovas, Alpiarça, Amieira, Arraiolos, Aviz, Azaruja, Beja, Campo Grande, Castelo de Vide, Coruche, Cuba, Egrejinha, Évora, Évora-monte, Ferreira do Alentejo, Monte de Trigo, Machede, Montoito, Odemira, Portalegre, Portel, S. Manços, S. Miguel de Machede, S. Tiago do Escoural, Terrugem, Torrão, Torre de Coelheiros, Val Pereiro, Vendinha, e Vil’Alva.
     Às 16,30 horas do dia 25 de agosto de 1912  tiveram início os trabalhos do Congresso que nesse primeiro dia foram presididos por Manuel Ferreira Quartel – delegado da Associação dos Rurais de Coruche, secretariado por Carlos Rates – delegado da Comissão Executiva do Congresso Sindicalista e João Bernardo Alcalena – delegado da União dos Sindicatos de Évora.
     Estava aberto o caminho. Os rurais entravam definitivamente na luta sindical.
     Hoje aqui e agora cumpre-nos reafirmar que a luta de ontem, de hoje e de amanhã continuará até conseguirmos os objetivos sonhados pelos que aqui estiveram há cem anos: uma terra sem amos, A Internacional!



[1] Campos Lima – citado por A.V. em o Sindicalismo no Alentejo.
[2] Relatório da Comissão de propaganda na província do Alentejo, assinado Por Carlos Rates.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Será que o tacticismo compensa?


O tacticismo político não pode sobrepor-se ao bem comum.


O Partido Socialista de Portalegre tem vindo a colocar-se, cada vez mais, à margem das responsabilidades de um grande partido democrático que aspira a voltar a governar o concelho.

Assumindo-se como campeão do tacticismo coloca-se na defesa do quanto pior melhor, no uso e abuso da mais ostensiva demagogia para procurar convencer os portalegrenses de que tudo o que é mau é culpa dos outros, que ele PS, sempre se pautou por trazer o concelho e a sua governação para o “bom caminho”. E nesse objectivo não hesita em faltar à verdade, não assumir as responsabilidades pelas suas decisões e/ou omissões, em arriscar o fim de todos os seus sonhos se, como poderá suceder, os portalegrenses não tiverem esquecido as suas participações na vida publica do concelho, da região e do país.

Alguns dirigentes e eleitos do PS/Portalegre continuam a pensar que uma mentira mil vezes repetida se transforma em verdade. É falso! Mesmo que se utilizem fórmulas denunciadas por Aleixo “ pr’a mentira ser segura/ e atingir profundidade/tem que trazer à mistura/qualquer coisa de verdade.” a mentira por acção ou por omissão é sempre mentira.

Vem isto a propósito da cruzada dos eleitos e dirigentes socialistas contra a Fundação Robinson e aquilo que dizem ser a gestão despesista da sua Administração.

O PS/Portalegre que esteve desde a primeira hora nos diferentes órgãos de direcção da Fundação, que assobiava para o lado quando outras forças politicas se batiam contra “o secretismo “ da gestão da Fundação, contra a destruição dos conceitos que nortearam os que a sonharam e a adulteração da missão para que fora criada, apresenta-se agora como paladino dos valores que quando no poder sempre espezinhou.

Recordemos:

Desde a primeira hora da existência da Fundação o Partido Socialista integra os órgãos dirigentes.

Na primeira fase da Fundação, quando esta correspondia, ainda, ao desenho das funções sonhadas pelos que a arquitectaram, O PS estava representado no Conselho de Curadores e no Conselho Fiscal. Nesses primeiros dias, também a CDU estava representada embora apenas no Conselho de Curadores.

Delineada a nova linha estratégica para a Fundação, a CDU deixou de participar no Conselho de Curadores (apenas um elemento) mas o PS, continuou como até aí a partilhar os órgãos da Fundação, situação que ainda hoje se mantém.

Só em Fevereiro de 2010 a CDU voltou a ter representação nos órgãos da Fundação. Desta vez no Conselho de Administração que repartia com o PSD e o PS, mantendo PS e PSD a partilha dos restantes órgãos (Conselho de Curadores e Conselho Fiscal).

Durante todo este tempo (2004 a 2012) o PS não viu, nada que lhe merecesse reparo. Mais, podemos mesmo presumir que a gestão lhes mereceu a mais ampla concordância. A não ser assim como entender a disponibilidade dos hoje vereadores municipais em aceitarem secundar a lista encabeçada por uma personalidade que até ali integrava o Conselho Fiscal da Fundação, órgão que sempre aprovou os relatórios de actividades e contas da Fundação?

Entretanto e como refiro atrás, o PS indicou um membro para o Conselho de Administração. Um em três; e assim esteve desde Fevereiro de 2010 até ao dia que se seguiu à decisão dos vereadores PS chumbarem, com a CDU, uma proposta de alteração orçamental destinada a garantir a decisão de “municipalizar” a Fundação Robinson.

Será que só agora se aperceberam de que a gestão era má? Claro que não. Só que o tacticismo não é só de agora. Já estava presente quando em conluio com Mata Cáceres retiraram ao vereador da CDU a condução da politica cultural do concelho para a entregarem, pasme-se, ao Doutor Camões Gouveia e à Há cultura que agora demonizam…

Nessa altura a composição do executivo era como agora, 3+3+1 e o tacticismo do PS levou à maioria esmagadora de Mata Cáceres, à perda do vereador da CDU e à passagem do Partido Socialista de 3 para 1 vereadores.

Será que o tacticismo compensa?

Diogo Serra
Administrador (não executivo) da Fundação Robinson

sábado, 14 de julho de 2012

Virou moda bater na Fundação!


De há uns tempos a esta parte, “dar pancada” na Fundação Robinson virou moda.

Não se passa um dia sem que um político local, um órgão de comunicação ou um qualquer “opinador” da praça, não venha a público dizer-nos que “nada vai bem no reino da FR”.

A insistência é tal que eu próprio, que durante anos assumi o combate à Fundação e ao seu “secretismo”, consigo surpreender-me com tais ações.

É certo que nessa panóplia de opiniões e tomadas de posição encontrarmos desde a crítica fundamentada ao puro desconhecimento, desde a mais séria das preocupações ao chorrilho de disparates só possíveis a quem não sabe, não pensa ou age de má-fé.

E no meio de tudo isto as tentativas “perigosas” de utilização ilegítima da Fundação como arma de ataque na, legítima” luta político-partidária.

Nos últimos dias a Fundação voltou à ribalta devido à discussão, e chumbo, da proposta de alteração do orçamento municipal. Do que veio a público, nos órgãos de informação e no “ diz que diz” tão comum à comunidade lagóia, ficamos a saber que a oposição derrotou uma proposta de alteração orçamental que apontava para transferir verbas das rubricas destinadas às associações do concelho para reforçar as verbas destinadas a custear o funcionamento da Fundação Robinson.

Nas declarações proferidas pelos eleitos, dos que o propuseram e dos que o chumbaram, retirava-se a ideia que o que estava em jogo era o subsidiar uma instituição à custa de outras instituições; era tirar às coletividades para que a Fundação continuasse a viver “à tripa-forra” e ninguém, governo municipal ou oposição quis trazer para a opinião pública o que todos sabem e que é a verdade dos factos: o Município de Portalegre está numa situação de pré-falência e está a arrastar consigo a vida da cidade, incluindo as organizações que lhe tem servido para manter um mínimo de atividades nos campos culturais e de defesa e recuperações patrimoniais.

Ninguém saiu a terreiro dizer que o que estava e está em jogo é o cumprimento da deliberação que o Município tomou de chamar a si o pagamento das despesas de funcionamento da FR, mais o pagamento da componente nacional dos projetos em desenvolvimento e que são, todos eles, para concretizar políticas e atividades que são da responsabilidade do Município, mais os milhares de euros que lhe são devidos por esta se ter substituído à própria câmara no pagamento de dívidas a terceiros ou, por o Município ter recebido verbas, muitas, que são propriedade da Fundação.

Algumas vozes fizeram-se ouvir para demonstrarem a sua indignação pelo facto dos técnicos e trabalhadores da Fundação (que é uma instituição privada) não terem sido espoliados de parte do vencimento e dos subsídios de férias e 13º mês (como o foram, ou vão ser os funcionários públicos e os detentores de cargos públicos) ou, para denunciarem os contratos “principescos” que dizem existir.

Poderão ter razão quanto às possibilidades que temos de continuar a manter algumas prestações de serviços que eles próprios, não a atual administração, viabilizaram anos atrás. Já quanto à indignação por os técnicos e trabalhadores da Fundação não terem sido espoliados do subsídio de férias só posso classificá-la de lamentável.

Não consigo compreender que pessoas com responsabilidade política que enquanto trabalhadores (funcionários públicos) apelidem de roubo o que o governo central, seu patrão, lhes retirou e queiram agora, quando são eles a decidirem fazer o mesmo a outros trabalhadores.

Acredito que o que os move seja o reconhecimento das dificuldades vividas pelo Município que governam mas a ser essa a preocupação desafio-os a todos, que enquanto eleitos passem a receber (de senhas de presença, transporte e ajudas de custo) os mesmos montantes que são auferidos pelos administradores da Fundação.

Portalegre, 2012-07-14


Diogo J. Serra
Administrador (não executivo) da Fundação Robinson






Denúncia da decadência


Publicado às 00.31

, no Jornal Notícias

Assisti no passado dia 11 de julho, na Assembleia da República (AR), à "Conferência conjunta da Comissão Parlamentar da Segurança Social e Trabalho e da OIT-Lisboa", em que se evocou os 10 anos de existência do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Lisboa.
Antes de mais, não posso deixar de expressar o meu apreço pelo excelente trabalho deste escritório que, ao longo do tempo, tem sabido agir com eficácia na sociedade portuguesa, na divulgação dos princípios, objetivos e ação geral da OIT.
A conferência foi bem estruturada, dando espaço a intervenções (de qualidade) de altos quadros da organização e, como se impõe em qualquer iniciativa da OIT, teve painéis com participação do Governo, dos partidos, das confederações sindicais e patronais.
O presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional, intervindo em substituição do ministro da Economia, fez um discurso de circunstância, completado com a sugestão retrógrada de se reduzir os custos do trabalho e calibrar os direitos dos trabalhadores a partir daí.
No painel reservado aos parceiros sociais as intervenções foram, salvo uma ou outra exceção - em particular o conteúdo de denúncia expresso pela CGTP-IN -, um repositório de lugares comuns, distanciados dos grandes problemas e desafios do presente, do sofrimento das pessoas e dos bloqueios que as empresas vivem.
No painel dos partidos políticos o vazio não foi menor, ressalvados os esforços do PCP e do BE na exposição de contradições entre as orientações da OIT e as políticas seguidas no país. A deputada do Partido Socialista enunciou alguns tópicos contra a maré neoliberal, mas não fez o necessário confronto, nem propostas ofensivas. Os deputados da Direita expressaram banalidades e repetiram a cassete das inevitabilidades e do sofrimento redentor, sustentados em credos que negam o futuro.
Em suma, assistimos a expressões de decadência do nível de intervenção social e política que vamos tendo.
Nesse dia a OIT divulgou, em Genebra, um importante Relatório intitulado "Crise do Emprego na Zona Euro: Tendências e Repostas Políticas", onde abertamente denuncia as políticas que vêm sendo impostas, alertando que "a janela de oportunidade se está fechando".
Na apresentação pública do relatório, Juan Somavia, diretor-geral, afirmou que "a menos que medidas concretas sejam tomadas para aumentar os investimentos na economia real, a crise económica vai aprofundar-se e a recuperação do emprego não vai iniciar-se".
O relatório diz-nos que: o desemprego pode passar dos atuais 17,4 milhões para 22 milhões dentro de quatro anos; o desemprego de longa duração está a criar um exército de excluídos; temos na Zona Euro 31,5% da população em idade ativa que está desempregada ou inativa. Tudo isto faz baixar os salários e o nível de proteção social.
O relatório denuncia as políticas de austeridade, observa que "facilitar os despedimentos é suscetível de aumentar o desemprego sem ganhos para a economia" e que "o sistema financeiro (foi e) é o epicentro da crise".
O relatório confirma que a riqueza gerada continua a não ser canalizada para o investimento que recupere a economia e crie emprego, mas sim para alimentar o sistema especulativo e de agiotagem.
É inquietante a observação de que os jovens estão "presos em empregos precários" e "cada vez mais em risco de sofrerem experiências cicatrizantes" no seu "primeiro contacto com o mundo do trabalho", e que isso os pode marcar de forma terrível para toda a vida.
Contra estas decadências e para evitar o desastre, são reclamados investimentos sustentados, criação de emprego com particular preocupação em gerar emprego estável para os jovens. É proposto que se coloquem metas do défice no médio prazo, para permitir folga aos orçamentos e, designadamente, que se "amplie a base de imposto sobre a propriedade ou certos tipos de transações financeiras, que se "reoriente os Fundos Estruturais Europeus para a criação de postos de trabalho" e se "mobilize o Banco Europeu de Investimento para apoiar projetos de investimento".
O futuro não tem de ser decadente!

domingo, 24 de junho de 2012

Jogo de Janelas um livro a não perder.


Apresentação do Livro Jogo de Janelas, de Francisco Ceia.


Arronches - Centro Cultural

O passado dia 22 de Junho foi um dia de grande carga emotiva.

O voltar a Arronches para participar numa iniciativa cultural, a responsabilidade que me foi atribuída pelo autor, de apresentar o seu livro, o voltar a estar presente como actor (modesto e de "fugida") nas festas de S.João.

Eu que participei activamente no seu relançamento, que, com outros e outras, nos batemos para que o Feriado Municipal e o S. João de Arronches tivessem a dignidade que a data a celebrar justificava e impunha, senti-me muito bem por estar de volta aos lugares e aos amigos com os quais havíamos vivido muitas aventuras e ganho muitos desafios.

Na mesa, rodeado pelo autor do livro, Francisco Ceia, pelo seu editor, Fernando Mão de Ferro, pelo Vice-Presidente, José Bigares, companheiro de tantas "batalhas" e que ali substituía a sua Presidente que tivera que se ausentar, senti-me retornar aos tempos em que a acção cultural desenvolvida a partir do Município era uma batalha diária, persistemente travada.

Falar do autor e do livro, razões que justificavam a nossa presença ali, ouvir emociano as palavras de alguns dos presentes, assistir a um espéctáculo de rara beleza e duma intensidade que chegava a doer, quando o autor e cantor Francisco Ceia, e o grupo das Pedrinhas de Arronches em palco davam largas à sua magia foram somatórios de momentos duma enorme felicidade.

As breves notas sobre o Autor e a Obra que tive oportunidade de partilhar com os presentes e que aqui vos deixo, foram tão só uma pequeníssima parte do que foi essa tarde de magia.




Breves notas sobre o Autor e a Obra.

Francisco Ceia cantor, actor, músico, escritor, é um cidadão empenhado, um alentejano do mundo e um portalegrense que há muito rompeu as barreiras que limitam a sua cidade, a sua região e o seu país, sem nunca deixar que esse estilhaçar de fronteiras afrouxassem a sua ligação às suas/nossas raízes.

Conhecemo-lo pela convivência diária, pela sua participação empenhada (alguns chamarão loucura) na criação de uma companhia profissional de Teatro numa pequena cidade do interior (a sua nossa Portalegre), pela sua carreira como cantor que manteve na música a sua postura cidadã: empenho, verdade, trabalho, cantando Régio, a sua cidade e a sua gente e não cedendo nunca às tentações do facilitismo e/ou do vedetismo balofos.

Francisco Ceia exibe sempre com orgulho e amor a sua condição de Portalegrense com meninice brincada nos campos de Portalegre à sombra protectora da Fabrica Robinson (mãe e madrasta de várias gerações de meninos/homens).

Filho de operários corticeiros nunca esqueceu o chão, os amigos, os valores que o rodearam desde o berço, até ter conquistado o seu próprio caminho.

O Francisco é, para além de tudo isto e muito mais, meu amigo.

Conhecemo-nos quando do seu regresso a Portalegre, já homem da cultura, numa qualquer noite de delicioso frenesim cultural que diariamente se vivia naquele lugar mágico em que o 25 de Abril e a vontade de jovens e menos jovens, transformara em fábrica de cultura - o Convento de Santa Clara.

Estivemos juntos em muitos e belos momentos que vivi e o Francisco fez sempre questão de marcar presença independentemente do preço que era preciso pagar. Foi assim quando, viola e canto, animava as sessões da minha candidatura à Câmara de Arronches ou quando colocava a voz e a sua capacidade de músico, de letrista e de organizador ao serviço da campanha pelo Sim à  Regionalização e o Sim à Região Alentejo.

Como escritor só o descobri há muito pouco tempo.

Soube do seu livro no dia 27 de Abril.  Em Portalegre, no Convento de S. Francisco, onde outro amigo, o António Murteira, me honrara com o convite para apresentar o seu “sabores com poemas”.

Descobri-o pela palavra do Professor Martinó, a 19 de Maio, no auditório do Museu da Tapeçaria num dia em que o Francisco nos brindou com outra maravilhosa surpresa: a música extraordinária que, também é, a sua filha mais nova.

Nesse dia em que ouvi o Prof. Martinó a procurar decifrar as histórias contidas num livro escrito como um poema mas que o não era bem. Quando desafiava o Francisco a abrir o seu livro e a entregar outras chaves que lhe permitissem entrar mais facilmente nos sonhos vividos pelo autor, estava longe de adivinhar que estaria hoje convosco a falar desse mesmo livro que o apresentador dizia precisar de chaves para abrir os labirintos que o autor se deliciava em fazer-nos percorrer.

Mas o Francisco requisitou-me e só havia uma resposta: Sim!

Um sim e um agradecimento por me proporcionar voltar à nossa terra e voltar a fruir de um momento cultural na companhia de amigos e amigas que se bateram e batem para que Arronches seja, também, uma terra de cultura.

Agora uma palavra sobre o livro que foi para isso que o Francisco me convidou.

Porque esta minha tarefa foi antecedida de muitas outras onde ilustres figuras fizeram a apresentação deste “Jogo de Janelas”, ela estará facilitada.

Se o tivesse que fazer em breves linhas bastar-me-ia tomar de empréstimo o que foi dito anteriormente:

Pelo Prof. Doutor Jorge de Oliveira cujo trabalho e amizade que dedica a esta terra é por todos os arronchenses reconhecida:

 “Não é um livro do momento é um livro de muitos momentos. Não é um livro da moda, é um livro intemporal. Tão real, ou irreal é hoje como o será daqui a muitos, muitos séculos. Não é um livro para esta, ou para aquela geração, ele é intemporal”

Ou o que escreveu  António Murteira, outro amigo, ele próprio com ligações a Arronches quando por aqui andou em acção revolucionária.

“Imaginem um teatro que dá a volta ao mundo. Se quiserem podem prolongá-lo até à lua, até onde a imaginação de cada um for capaz de alcançar. É nesse imenso palco que se desenrolam os acontecimentos que Francisco Ceia nos conta em Jogo de Janelas. São 22 Janelas abertas para mar e terra. 22 Janelas que nos convidam a observar o que pudermos e soubermos alcançar.”.

Mas deixemos os empréstimos e falemos do que eu vi.

O Francisco escreve com a beleza com que canta e a alma que põe na representação. Tendo como cúmplices o Pêpo e o computador a que Orat dá voz, conta-nos histórias olhadas do lado de cá do medo, com os olhos e o coração de quem combate a opressão, a ignomínia e a traição com armas tão eficazes como o amor, a paz e a igualdade.

Fazendo-se chegar numa qualquer caravela quinhentista coloca-nos através de Frei Avelindo perante o outro lado da nossa epopeia marítima e pela voz de Ti Bambulo ou pela fuga de Arcéu Milhano mostra-nos a face do “Santo Ofício”.

Mostra-nos a crueza da guerra e a violência dos danos colaterais colocando-nos na mesma rua onde uma bala assassina tira a vida à criança que o pai procura proteger com o seu próprio corpo, ou a acção “evangelizadora” dos descobrimentos colocando-nos na aldeia de Kimbo e Murumbi.

Desembarca na Raia, na terra onde o Francisco nasceu e bem conhece. E não é pelo facto desta distar mais de 200 km do mar que história tropeça.

Aqui nesta serra de São Mamede ou S. Mamed que é a nossa, num Castelo de uma vila que pode ser Alegrete, Marvão ou qualquer outra, mostra-nos um mundo recheado de personagens do nosso imaginário e um conjunto de acontecimentos que pela sua humanidade nos comovem ou pela sua canalhice nos levam a repudiar.

Pelos mandantes da época e pelos lacaios que os servem somos transportados para os dias de hoje e para os casos vividos pela arraia-miúda, revemo-nos num viver de dificuldades mas também na nossa capacidade de resistir e lutar, na solidariedade e na ternura com que então e agora enfrentamos as agruras e as traições.

Ao longo da história o autor mostra-nos um conjunto de personagens em que vislumbro muita da nossa gente de hoje e daqui. O ferreiro Manuel Tição e a sua combatividade e capacidade de trabalho, a disponibilidade da esposa Rosa Florinda, a coragem do filho José Cotovia - pastor e guerreiro, a solidariedade entre os pés-descalços, a unidade que opõe à razão da força a força da razão.

Recorda-nos a força do amor, capaz de opor as alianças de sangue às disputas de fronteira, quando nos dá a conhecer a filha de Maria de La Felicidad, espanhola e de José Cotovia, pastor português travestido de soldado.

E deixa-nos esperança num mundo melhor.

Podemos transportar-nos para aqui e agora.

Porque também aqui e agora …de todo o lado se ouve de novo o uivo dos chacais e de novo quem empurra fria e inexplicavelmente, os seus filhos para outras paragens …” os do costume…e mais, a molusca meia dúzia de acólitos, e pajens.
Esses vermes, sim… carcomem as vontades… vedam à vida, o arejo, Receiam o novo, o diferente, chafurdam no lodo, sem pingo de pejo!

Porque também aqui e agora é urgente “Abrir a terra de mel prometida, a derradeira,
Onde reinam nobres, a pomba e o ramo de oliveira"

Porque como disse o professor Jorge Oliveira “Não é um livro para esta, ou para aquela geração, ele é intemporal”

Para ti querido amigo, para aquelas a quem dedicas este livro: Adelina, Adriana e Carolina o desejo que possam ver como resultado do teu labor e coragem, essa terra de mel, sonhada e pela qual lutamos.

Diogo J. Serra

Arronches, 2012-06-22
(a foto de Emílio Moitas foi tomada de empréstimo do seu Blog)