quinta-feira, 26 de maio de 2016

Consenso não é Rendição!



Consenso não é, não pode ser, rendição!

A Senhora Presidente da Câmara usando da palavra na sessão solene do Dia da Cidade chamou a atenção para a necessidade de consensualizarmos posições em defesa do concelho e da região.

Chamou a atenção para a inexistência de consensos na Assembleia Municipal para que possa ser aprovado o Orçamento Municipal que, disse, já foi por duas vezes à Assembleia Municipal e tem sido "chumbado".

Sendo uma afirmação verdadeira, duvido que corresponda a uma preocupação verdadeira.

É um facto que o Orçamento Municipal de 2016 já foi presente para aprovação, em duas ocasiões distintas, na Assembleia Municipal mas em nenhuma delas o documento apresentado e aprovado pela Câmara Municipal, correspondia  ao mais ligeiro consenso entre as diferentes sensibilidades politicas presentes quer na Assembleia Municipal quer no Executivo Municipal.

Uma e outra vez o documento apresentado havia sido aprovado na Câmara Municipal não por consenso mas por imposição da vontade da força dominante - o CLIP e particularmente o colectivo de vereadores a tempo inteiro. Os restantes vereadores haviam votado contra, utilizando em ambos os casos o mesmo argumentário: não só não estavam de acordo com o documento como na prática o desconheciam porque nunca haviam sido chamados a contribuir na sua elaboração. 

Na Assembleia Municipal cuja composição inclui quatro forças políticas diferentes e um deputado dissidente do CLIP e onde não há ao contrário do que sucede no Executivo Municipal uma força maioritária o Orçamento, assim elaborado, não passou.

Todavia logo na primeira votação a bancada da CDU deixou dito que se houvesse disponibilidade do executivo (da maioria que impôs aquela versão) para ouvir e consensualizar propostas das outras bancadas rapidamente poderíamos ter o Orçamento aprovado.

Não foi esse o entendimento da maioria que a Senhora Presidente lidera. Alguns meses depois o Orçamento chumbado, sim o mesmíssimo documento que havia sido rejeitado, voltou à Assembleia para, como seria de esperar, ter o mesmo resultado. 

O discurso da Senhora Presidente parece indiciar a vontade de fazer diferente. Se assim for, se houver disponibilidade para sentar à mesa e seriamente proceder á elaboração do orçamento possível, as diferentes forças políticas, a inexistência de orçamento será rapidamente suprida.

Vai uma aposta? 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Escola Privada? Sim. Claro! Mas têm que pagá-la, certo?


O Ministério da Educação anunciou recentemente que está a decorrer um estudo para evitar o pagamento desnecessário a escolas privadas.

Pretende-se, diz o Ministério, deixar de contratualizar com uma série de estabelecimentos de ensino privados, serviços que a Escola Pública pode e deve garantir.

Este anúncio levantou de imediato uma onda de “indignação” entre os donos dessas escolas e originou a “saída da toca” da direita trauliteira e da “Igreja dos negócios” uns e outros colocando no terreno todo o vasto manancial de meios de que dispõe. Do púlpito à comunicação social, do seio das famílias beneficiadas aos proprietários dos colégios as campainhas tocaram a rebate e eles aí estão de novo no combate em defesa dos seus mesquinhos interesses.

Para quem assiste a partir do Alto Alentejo à infernal barulheira que a direita trauliteira e os megafones e ”paineleiros” que mantem na comunicação social, a que se junta a parte da igreja católica que não entendeu ainda o pensamento do Papa Francisco, todo este frenesim é motivo de apreensão e desilusão.

Para quem, como nós, persiste em viver e trabalhar no distrito de Portalegre e não desiste de lutar para que as populações do interior e as deste distrito em particular tenham tratamento igual aos restantes portugueses, não consegue deixar de notar o cinismo de quem vem agora mostrar preocupação com os direitos das crianças, com o perigo de professores caírem no desemprego ou, pasme-se, com os direitos adquiridos pelos colégios que foram vivendo à custa dos dinheiros públicos.

Onde estavam esses sentimentos e preocupações quando os próprios ou o governo que os representava encerraram no nosso distrito 65 estabelecimentos de ensino: 14 do pré-primário, 42 do primeiro ciclo, 8 do segundo ciclo e 1 do secundário?

Onde pairavam as preocupações agora tão extremadas quando o primeiro-ministro de então, o mesmo politico que agora tão preocupado está, aconselhava os professores a saírem do país?

Onde estava a igreja (a parte dela que não compreende o pensamento do Papa Francisco) quando eram os pais, os professores e as autarquias a denunciarem que o encerramento das escolas obrigava crianças de 6 anos a levantarem-se de madrugada e só regressarem a casa já noite?

Onde estavam os megafones e opinadores quando a direita no governo rasgava os direitos adquiridos pelas crianças e lhes roubava o subsídio, os direitos adquiridos pelos pais e os colocava no desemprego, os direitos adquiridos pelos avós e os obrigava a trabalharem mais tempo e lhes retirava partes da reforma para a qual contribuíram ao longo de uma vida?

Falemos verdade! O que dói à direita trauliteira e ao coro de opinadores que a servem, é o estar provado que, ao contrário do que afirmavam, há outros caminhos para Portugal. O que não conseguem ultrapassar é a derrota que lhe foi infligida e a perda do poder e das benesses que tal poder lhes permitia.

Quanto à igreja (a parte que não quer aprender com os ensinamentos do seu/nosso Papa), a sua integração no “coro dos vencidos” é menos por não perceber a justiça da medida, mas por colocar o seu papel de proprietária à frente das suas obrigações pastorais.

A uns e outros, que Deus lhe perdoe porque eu não sou capaz!

*  Publicado no Jornal Alto Alentejo de dia 18-05-16

    

118 anos depois, o sonho mantêm-se vivo!

118 anos depois, o sonho mantêm-se vivo!


A Cooperativa Operária Portalegrense, fundada em 1898 para dar resposta às cíclicas faltas e carestia de pão, mantém-se ininterruptamente em atividade ao longo dos seus 118 anos.
Constituída pela vontade de 41 trabalhadores da Robinson, só um, Manuel Ceia, não era operário, cedo se afirmou como uma instituição indispensável à cidade e ao movimento associativo local.
Sete anos depois da sua fundação, inaugurava a sua sede, um imponente edifício onde se mantém até hoje e que ocupa todo um quarteirão da rua com o seu nome.
Foi ali, na sua sede, que 118 anos depois a sua direção reuniu os corpos sociais, os associados e os amigos, para festejarem o aniversário e reafirmar o sonho que moveu os seus quarenta e um fundadores.
Ao longo da sua longa existência a Cooperativa Operária Portalegrense passou por momentos bons e menos bons, por períodos de maior o menor dificuldade mas soube sempre afirmar-se como baluarte do associativismo operário e popular. Atravessou vários períodos da nossa história e contribuiu para a construção, em cada momento, dos caminhos do futuro. Fê-lo sabendo estar sempre do lado certo da história.
Fundada nos últimos anos da monarquia foi centro difusor dos ideais republicanos e local de discussão e organização operária. Nas suas instalações fez-se história.
No salão da cooperativa ocorreram as reuniões constituintes dos primeiros sindicatos, digladiaram-se os ideais do republicanismo, do socialismo e do anarco-sindicalismo. Afinaram-se estratégias e organizaram-se solidariedades enquanto as vendas da loja da cooperativa, durante décadas o maior “estabelecimento comercial” da cidade, garantiam o financiamento necessário às suas muitas atividades que incluíam, a partir de 1912, uma escola para os filhos dos operários da cidade.
O aparecimento dos super e hipermercados e os novos hábitos de consumo que ditaram o fim da Cooperativa de Consumo a par do desuso em que caíram as bodas organizadas pelas próprias famílias e os avultados custos de manutenção do seu património imobiliário, impuseram inúmeras dificuldades aos que ao longo dos últimos 30 anos persistiram em manter viva a cooperativa operária.
A vontade e o sonho que levou à sua constituição foram os mesmos que permitiram a sua manutenção até aos dias de hoje e estimulam a equipa que agora lhe pegou no leme a continuar o caminho iniciado nos finais do século XIX.
Hoje, quando já desapareceram muitas das instituições que nasceram no mesmo século e não conseguimos sequer preservar o património edificado onde funcionaram: a fábrica Robinson, a Sociedade União Operária, o Teatro de Portalegre. Quando algumas outras como a Associação Comercial atravessam enormes dificuldades de sobrevivência, é motivo de orgulho para os portalegrenses continuar a comemorar aniversários de quantas, também centenárias, apesar das dificuldades, mantem acesa a chama da solidariedade e do desenvolvimento de Portalegre.
A Cooperativa Operária Portalegrense, a Sociedade Euterpe, a Associação dos Bombeiros de Portalegre e também a Associação Comercial que durante mais de um século resistiram a todas as adversidades e trouxeram até nós o seu importante legado são, todas elas, merecedoras do nosso respeito.

 *Publicado no Jornal Fonte Nova de 16-05-16