quinta-feira, 8 de junho de 2023

A Situação de Seca no Alentejo

 


A Situação de Seca no Alentejo

Mais que propaganda importam soluções!

 Nos últimos anos tem sido recorrente a existência de períodos de seca, com maior ou menor incidência em situações de escassez hídrica dependendo dos recursos hídricos existentes. Uma situação cuja gravidade é reconhecida por todos os quadrantes políticos mas que tem merecido importância diferente dos diferentes atores políticos com intervenção no Alentejo.

O Governo parece acordar periodicamente para este problema repetindo diversas promessas que nunca cumpre, colocando a ênfase na questão do valor da água, apelando ao aumento do seu preço a nível do consumo doméstico, mas sem colocar o mesmo tipo de argumentação a nível da utilização da água para a agricultura que representa cerca de 90% do uso total da água e onde o preço praticado é muito inferior ao preço de custo. À boleia deste problema o governo insiste em criar o caldo de argumentação para retirar a competência municipal na gestão das águas e do saneamento, começando por impor a sua agregação, avançando no caminho que visa desaguar no aprofundamento da lógica do negócio da água e da sua privatização, a exemplo do que já iniciou na área dos resíduos.

Esta não é, como a vida nos mostra, a solução para tão grave problema. Este tem de ser enfrentado em todas as suas múltiplas dimensões desde a definição da política da gestão global dos recursos hídricos, iniciando-se na questão das massas de água, da sua disponibilização, da definição sobre quais devem ser os seus usos prioritários, e pressupondo também uma adequada política de gestão de solos e de ordenamento do território, que minimize os efeitos da progressiva desertificação que se tem verificado.

A gestão pública deve afirmar-se como o princípio de assegurar uma clara perspectiva de eficiência hídrica inseparável da aplicação do conceito de rede de infra-estruturas hidráulicas, aumentando-se assim a capacidade de armazenamento para fazer face a períodos de seca e de eventual escassez.

É fundamental a aprovação e o financiamento da execução do Plano de Eficiência Hídrica do Alentejo e ter em consideração a Iniciativa Territorial sobre a água que envolve o Alentejo e o Algarve cujos contornos se desconhecem e que pode representar riscos para a gestão da água na região e também para o destino dos recursos financeiros.

Esta questão da água é inseparável da questão agrícola e uso da terra, e também dos perímetros de rega que foram alvo de decisões recentes relativamente ao Alqueva e é tão mais importante para o nosso distrito agora que se perspectiva (finalmente) a construção do Pisão.

Um dos grandes problemas é que parte muito significativa do consumo de água, nomeadamente a água armazenada no Alqueva, é direccionada para as culturas super-intensivas, designadamente olival e amendoal. O mesmo se passa nas albufeiras do litoral alentejano e os frutos vermelhos. Tendo em conta as quantidades e o preço podemos dizer que a gestão dos recursos hídricos está na prática a financiar grupos económicos que usam o solo e a água do Alentejo como um activo financeiro.

É uma situação que não nos é desconhecida tal qual a intensificação das culturas intensivas e a inundação de pesticidas nos concelhos de Campo Maior, Elvas e Avis.

As visitas do Deputado João Dias ao distrito e a intervenção política que originaram na Assembleia da Republica e no Parlamento Europeu ajudaram a dar visibilidade à grave situação que se vive na região mas é necessário ir mais longe. É fundamental o envolvimento dos actores locais, reclamando medidas compensatórias para os pequenos e médios agricultores atingidos pelos efeitos da seca e da escassez hídrica e exigindo das autarquias uma postura de intervenção que dê centralidade à gestão da água, tomando as melhores opções para garantir a eficiência hídrica, a gestão pública e a exigência da disponibilização de fundos para os investimentos a realizar.

Construamos o Futuro!

Diogo Júlio Serra

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