quarta-feira, 13 de março de 2024

AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU...

 

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As Portas que Abril abriu…

Na caminhada eleitoral que ontem terminou tomei partido de forma empenhada pela coligação onde se integra o Partido onde milito, o PCP. Fi-lo, como militante empenhado e como mandatário distrital da candidatura por Portalegre, na companhia de muitos outros democratas e com os companheiros e companheiras que deram rosto à candidatura, a Fátima Dias, o Manuel Coelho, a Susana Teixeira e o Pedro Reis procurámos levar a todo o distrito, concelho a concelho, porta a porta, uma mensagem que era e é de proposta, de dignidade e de confiança.

Os resultados obtidos no distrito e no país ficaram muito aquém do que entendo ser necessário para conseguirmos o país e a região que merecemos e, no que concerne ao nosso distrito, o respeito que devemos merecer dos governos centralistas e surdos às nossas reivindicações e necessidades.

Os resultados obtidos pelo bloco da direita e a subida desmesurada das forças anti-sistema democrático nestas eleições constituem um factor negativo para a resposta e solução de problemas com que os trabalhadores, o povo e o país se confrontam. Facilitam o caminho de retrocesso e de ataque a direitos e favorecem o grande capital e os interesses estrangeiros prosseguindo o percurso de sempre de PSD e CDS.

Potenciam a ofensiva contra o regime democrático, as instituições e a própria Constituição.

Os resultados agora obtidos pela AD e pela direita não democrática são inseparáveis das opções da governação que impuseram as políticas de direita, geradoras   de injustiças e que acentuaram o legítimo descontentamento face ao acumular de dificuldades por parte dos trabalhadores e do povo.

 Essa governação de dezenas de anos, agora acentuada com a maioria absoluta do PS, favoreceu o discurso demagógico, da extrema-direita e levou muitos milhares a acreditarem que estaria aí a resolução para os problemas que os afectam e a esquecerem a acção passada do PSD e do CDS e os seus projectos para a voltarem a pôr de pé.

O resultado da CDU, com a redução da sua representação parlamentar (menos dois deputados) uma percentagem e um número de votos abaixo dos resultados de há dois anos, significa um desenvolvimento negativo, que importa inverter.

Os resultados alcançados no país e também no nosso distrito, não deixando de constituir uma expressão de resistência face a um clima fabricado e caracterizado pela hostilidade e menorização, pela prolongada falsificação de posicionamentos do PCP, não serão apenas isso.

O clima fabricado para alimentar preconceitos anti-comunistas e estreitar o seu espaço de crescimento, para esconder da sua voz e as soluções e política alternativas que propõe não pode fazer esquecer-nos, à CDU e ao PCP, que importa olhar também para dentro de casa e intervir, já, naquilo que está nas nossas mãos fazer.

Importa questionar, de novo e mais profundamente, como melhorar a comunicação. Como tornar mais eficaz o combate à mentira e à calúnia que alimenta o preconceito anti-comunista, como fazer chegar a nossa mensagem e as nossas propostas, por meios alternativos comunicação social que o capital transformou em megafones das suas ideias e projetos.

No Alto Alentejo a eleição de um deputado pela extrema-direita não democrática é um ponto negro da nossa vida democrática mas não significa, estou absolutamente certo, a existência entre nós, desses milhares de cidadãos saudosistas do “estado novo”, apoiantes convictos do ódio e da xenofobia, que o programa e a vontade dessa agremiação representam.

Estou absolutamente certo que essa postura dos milhares de eleitores que engrossaram a votação desse agrupamento o fizeram empurrados pelo ostracismo que eles, os seus problemas e o nosso território, têm sido votados. Retornarão ao local de onde “fugiram” logo que sejam confrontados com o logro em que caíram. Todos, eles e elas, serão recuperados pela lucidez e pela democracia.

Mas, entretanto, no curto prazo, como vai ser? Não são poucos os que me têm feito chegar a sua inquietação encerrada na expressão, e agora?

Agora, libertos da emoção (e da dor) que ontem vivemos, a resposta é muito clara. Os trabalhadores e o povo, do distrito e do país, podem contar com a CDU com a coragem de sempre, para defender os seus direitos, enfrentar os interesses dos grupos económicos e das multinacionais, afirmar os valores de Abril e o que eles transportam de referência para a construção de um Portugal de progresso e soberano.

No nosso distrito e no que ao PCP diz respeito, a mesma clareza na resposta. Quando aqueles que elegemos se esquecerem que nós (o distrito e todo o interior) existimos seremos nós, os do costume, a estarmos com os trabalhadores e as populações, nos locais de trabalho e nas ruas, nas autarquias e nas associações, em defesa dos direitos que temos e nos avanços que desejamos.

No caso concreto do Alto Alentejo, espero estar certo, serão também aqueles outros alto-alentejanos que se candidataram e não foram eleitos, a continuarem cá e a fazerem aquilo que alguns dos que “elegemos” prometeram e esquecerão rapidamente.

E, porque Abril se cumpre sempre que se afirma a liberdade, os resultados melhores ou piores para quem os observa, só são possíveis porque houve e há Abril.

Que Viva Abril!

 

Diogo Júlio Serra