quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O Alentejo tem Futuro. O Alto Alentejo Também!

 


O Alentejo tem Futuro. O Alto Alentejo Também!

A campanha eleitoral que agora decorre, trouxe de novo aos nossos olhos o facto de o Distrito de Portalegre ser o único círculo eleitoral do país a eleger apenas 2 deputados. Mais grave ainda, elege dois deputados porque a legislação impõe que esse seja o número mínimo. Se tivesse apenas em conta o número de eleitores, previsivelmente elegeria ainda menos.

Como, também, já se tornou um hábito todas as candidaturas lamentam a perda de população e elegem a questão demográfica como o maior problema que aqui se nos coloca.

Fazem-no, quase todas as candidaturas, como se a questão da perda e envelhecimento populacional fossem obra do acaso e os culpados fossem os “transtaganos” que perderam o gosto em procriar. Daí as medidas, demagógicas e erradas: oferta de uns tostões aos pais, quando nasce uma criança, planos e “planozinhos” de apoio financeiro ao regresso de jovens que tenham emigrado, mais uns milhões para construir e inaugurar uns quantos “semilleros” de empresas mais ou menos informatizados e, quanto mais à direita sejam os seus autores, propostas de mais e mais cortes nos impostos a pagar (em particular pelas grandes empresas).

E assim, como as receitas (e os deputados eleitos) são sempre as mesmas, desajustadas e inúteis, não só não combatem como ampliam a doença que nos vai minando.

Todos sabemos, particularmente os que cá nos mantemos, que o Alto Alentejo como a restante Região não é um território pobre e muito menos condenado a viver de mão estendida. Pelo contrário tem inúmeras riquezas, começando pelo seu povo, a sua rica cultura e os seus recursos naturais e paisagísticos.

Sabemos igualmente, que a gravíssima situação demográfica com que nos debatemos, é o resultado das políticas de direita que nos têm sido sistematicamente impostas, independentemente das forças políticas que no governo central e centralista a cada momento se instalam.

Independentemente da “côr” do governo: PS e PPD sozinhos, em conjunto ou acompanhados, cada um, com apêndices ainda mais à direita, as políticas não diferem, como na difere o apoio cego dos seus representantes no terreno.

Para os que como eu se situam entre os que entendem que é à esquerda que lá vamos. O movimento Operário e Sindical e as forças políticas que representam os seus valores entendem, que a nossa região não é pobre, é sim uma região sem projeto, está perfeitamente claro que o combate à perda e envelhecimento demográfico desta região só terá êxito se for à raiz dos problemas que o originam. Desde logo a questão salarial e a estabilidade laboral.

Só com a melhoria salarial e o fim da precariedade será possível manter na região os nossos jovens, todos, e particularmente as muitas centenas que em cada ano são formados nas nossas escolas e no nosso IPP.

Só garantindo o direito à saúde, à habitação e ao ensino de qualidade, será possível atrair novos habitantes e famílias em idade ativa.

Só com horários de trabalho que permitam e estimulem a fruição da família e com rendimentos familiares minimamente dignos se estimula a vontade de trazer ao mundo mais crianças e, no curto prazo, a minimização da perda demográfica tem que passar por conseguirmos captar e manter mais imigrantes no nosso território.

Tal só possível se a quem nos procura em busca de segurança ou de melhorias económicas soubermos garantir as condições dignas de trabalho e de habitação que quem trabalha merece e que são exatamente o contrário do que a direita defende e que recentes iniciativas de extremistas da direita mais radical têm vindo a estimular e promover, inventando e filmando e afirmando manifestações de ódio e xenófobas.

Não estamos condenados à pobreza, ao despovoamento e à desertificação.

Ainda podemos dar a volta a isto se combatermos em vez de estimularmos os responsáveis pela situação a que chegámos.

Assim o queiramos!

Diogo Júlio Serra

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Continua o genocídio… e a hipocrisia!

 Continua o genocídio… e a hipocrisia!



O estado terrorista de Israel continua a sua política de genocídio do Povo Palestiniano, em Gaza e no restante território ocupado, perante o silêncio cúmplice e as declarações medrosas da comunidade internacional.

São os povos do mundo inteiro, nas ruas, os que prestam solidariedade face ao terror.

Nos últimos dias, muitas manifestações de apoio à paz no Médio Oriente e à concretização dos direitos nacionais do povo palestiniano encheram praças e avenidas por todo o mundo:

Muitos milhares de pessoas empunhando bandeiras palestinianas e cartazes e faixas condenado a agressão desfilaram em cidades de vários continentes em apoio ao povo palestiniano e ao direito de terem o seu estado reconhecido pela comunidade das nações e com a segurança garantida face aos que lhe negam tal direito.

Mesmo em Paris, Londres e Washington capitais onde nasceu o problema e que agora aberta ou veladamente apoiam os genocidas, os protestos das populações fizeram-se ouvir. Protestos contra os respetivos governos que por intenção e inação apoiam o terrorismo do governo de Israel e lucram milhões com o assassínio organizado de milhares de palestinianos, na sua esmagadora maioria civis e fundamentalmente crianças. 

Portugal, como quase sempre, cumpre o que lhe está destinado pelos “amos a quem serve” e qual menino bem comportado arroga-se, máximo dos máximos a uma leve “exigência” por um cessar-fogo humanitário não esboçando “vergonhosamente” o mais pequeno gesto de apoio ao português que dirige as Nações Unidas e que tem vindo a sofrer os maiores insultos do estado terrorista. 

Um aplauso para a África do Sul, país que por sentimentos de solidariedade, por terem conhecido e sofrido os horrores do apartheid foram os primeiros a avançarem com uma queixa no TPI contra os crimes de guerra do Estado Terrorista de Israel.

E por cá? Em Portugal, como na Europa, os que “apoiam” a guerra lá fora, fomentam-na “cá dentro” contra o seu próprio povo, usando como arma as políticas de empobrecimento, de roubo dos direitos, de empurrar os mais fracos e debilitados para as fronteiras da marginalidade económica e social.

O governo, suportado por uma maioria absoluta na Assembleia da Republica, foi-se desmoronando e viu a Assembleia da Republica ser dissolvida por decisão presidencial.

Os portugueses foram obrigados a ir a votos pelo estado a que as políticas e trapalhadas do governo do PS deixaram o país mas também pela impaciência dos que defendendo as mesmíssimas políticas não aceitavam o seu afastamento do poder, As duas fases do centrão da política e das negociatas, continuam de acordo em salvaguardar os lucros dos poderosos e na adoração ao grande capital.

As eleições que se avizinham trazem-nos, aos que sofrem as consequências da sua governação classista, uma nova oportunidade de meter travão no caminhar para a “tragédia.

Não será fácil, como não o será para os menos atentos, perceber as diferenças entre os que são hábeis na palavra e no fingimento e os que deram e dão provas de honrar a palavra dada.

Para os cidadãos e eleitores não faltarão os “cantos de sereia” os processos de intenção, as condenações às politicas de desastre e à corrupção, aos aumentos brutais nos impostos e à sua pequenez nos salários, à falta de habitação, aos males que a saúde atravessa, à escola publica que atravessa enormes dificuldades, as provas fabricadas a justificarem os crimes da guerra… e a dificuldade será o separar o “trigo do joio”, não perder a memória, olhar e ver para além das promessas que nos são atiradas.

Esta necessidade tem para o nosso distrito uma maior importância. Continuamos a perder população. Só entre o último ato eleitoral e hoje o distrito perdeu mais de mil eleitores,

Na hora da escolha é importantíssimo sermos racionais. Quem tem governado o país nos últimos 40 anos? Quais as forças políticas que tem elegido deputados pelo nosso distrito? Têm cumprido? São merecedoras que voltemos a atribuir-lhes o nosso voto?

Quando vierem juntar-se a nós acusando este ou aquele pela dramática crise de habitação que coloca sem teto milhares e milhares de pessoas e leva um numero ainda maior a ter que escolher entre pagar a renda ou comer, impõe-se puxarmos atrás a fita do tempo e saber o que foi feito pelos governos da direita e pela ministra do CDS, Assunção Cristas de seu nome.

E não esqueçamos, também, que os governos que se lhe seguiram não só nada fizeram para anular tais decisões, como continuaram a apoiar o enriquecimento da banca, à custa do arrastar da população para muitas situações de sem abrigo. 

Os DDTs – donos disto tudo – têm agora ao seu serviço, aqui e por toda a Europa, os sucedâneos do nazifascismo usando gravata em vez da farda, salto alto ou sapato lustroso em vez das botifarras e falinhas mansas em vez da berraria. Também estarão entre nós, prometendo dar o que nos quiseram e querem roubar e juntando-se a nós na condenação à corrupção e a corruptos e corruptores. 

Também aqui é preciso estar alerta e sobretudo não esquecer que o nazifascismo está para a corrupção como o combustível para um incêndio.

Não nos deixemos enganar. Não deixemos que esta nova oportunidade se transforme em suicídio. Assumamos a defesa do nosso futuro!


Diogo Júlio Serra


sábado, 3 de fevereiro de 2024

O MEU CONVENTO

 

                        O MEU CONVENTO




Após um tempo em que a sua degradação me doía, o Convento da Luz, totalmente reabilitado abriu-se aos Arronchenses e a quantos o quiserem visitar.

Dia 15 de Dezembro de 2023 uma data a juntar àquela outra do século XVI em que o Convento nasceu pela mão dos Agostinhos Calçados voltei ao Convento.

Sim, voltei ao Convento e como todos maravilhei-me com os resultados da sua reabilitação. Percorri os Claustros (para mim serão sempre – a cerca) e as belas salas do primeiro andar depois de subir os 28 degraus divididos por dois lanços e retomei a minha meninice. Os meus olhos foram substituídos pelas memórias.

Ao cimo da escadaria vi o que já lá não está! À minha direita a porta de entrada da residência dos proprietários – “o menino Dioguinho”, menino como eu e meu padrinho de batizo e os pais Diogo António Pereira e Dª Aninhas Salgueiro. Em frente, sobre as copas das laranjeiras, que não estão lá, um conjunto de 6 janelas que da direita para a esquerda iluminavam o vestíbulo, a cozinha (duas), a sala dos passados e o quarto de dormir das empregadas dos proprietários. Seguia-se a que me era mais querida a que iluminava o quarto onde dormi desde os cinco aos vinte sete anos. Vinte e dois anos porque os primeiros cinco foram “vividos” os dois primeiros no quarto dos meus pais e os três restantes, após o falecimento da minha mãe, em casa dos meus avós maternos.

Passeio-me pela “varanda” a mesma em fui fotografado ao colo da minha madrinha no dia em que me batizaram, confiro cada uma das portas por onde passo. A primeira sem número - a casa da matança - a que se seguem as habitações arrendadas a famílias diversas.

No nº 2, a residência composta de cozinha e um quarto no r/c e com acesso por uma escada de madeira, um quarto no primeiro piso onde viviam a vizinha Joaquina com o marido e dois filhos – Jaulino e Davide, consigo ouvir as gargalhadas do vizinho Zé à lareira a Jantar. Passo ao nº 3 (número de policia) e frente à porta revejo décadas da minha vida. Vejo o meu avô Domingos nos últimos tempos em Arronches e vejo sobretudo a minha primeira residência de casado. A casa onde nasceu a minha filha e consigo ouvir-nos aos três.

 Imediatamente ao lado, a primeira residência (grande) que ocupava toda a fundura do Convento, a casa dos vizinhos Aurélio e Constança e do Manuel Dias (sobrinho) Eles mestres pedreiros e ela doméstica. Continuo a percorrer a varanda e paro no nº 5 a casa do vizinho Barradas e dos seus filhos, o João, a Clarisse e o Estevão e recordo quando lhes batia à porta e aberto o postigo a primeira imagem que tínhamos era a luz da grande janela da cozinha virada para o Páteo.

Segue-se o nº 6. Agora é preciso respirar fundo. Olho em redor: ao canto, encostado ao muro decorado por dezenas de craveiros com flores (alguns com ervas de cheiros), o que foi piscina privada: minha, da minha irmã e dos outros meninos da vizinhança, o tanque para lavar a roupa que todas as vizinhas utilizavam e a piscina privada da garotada em tardes de verão. Pelo ar filas de arame onde se pendurava a roupa para secar.

Ganha a coragem necessária, abrimos a porta e entramos na divisão da casa que foi primeiro a minha sala de jantar mas que depois o meu pai com uma divisória de madeira transformou em duas divisões: na primeira a torneira da água que abastecia a casa, o grande espelho quadrado onde o meu pai gostava de ajeitar o chapéu e a máquina de costura “singer” onde a minha madrinha costurava. Na outra, com a independência que a parede de madeira garantia, o meu quarto.

Seguia-se a cozinha enorme, com a chaminé onde o fogão de lenha permitiu a água quente e a confeção dos alimentos. Ao fundo, à esquerda o poial dos cântaros decorado com inúmeros utensílios de barro e janela que não só iluminava toda a casa mas também me ligava aos vizinhos do Páteo exterior, os Carêtos e os filhos Augusto, Manuel, Antónia Rita, Maria Antónia e a Célia. Do lado direito a entrada para dois outros espaços: o quarto dos meus pais e da minha irmã e a casa de jantar, ambos com amplas janelas viradas para a muralha.

Sim, esta é a minha casa. Está bem bonita. Ostenta agora, esta e as restantes, pinturas, altares e pormenores antes tapados pela cal branca que desconhecíamos.

Regresso à varanda (não á realidade) e consigo ver/ver-me com a Clarisse e o “Dioguinho” em brincadeiras com jogos inventados ou com os brinquedos do único dos três que os possuía e partilhava. Vejo o Manuel Dias e o João Barradas já homens a saírem depois do trabalho para a coletividade ou o cinema, vejo-me na casa da vizinha Constança a escolher os livros de banda desenhada (os livros de “cobóis”) que o Manuel Dias me emprestava.

Vejo e ouço os diferentes vizinhos sentados em cadeiras de bunho a cavaquear uns com os outros na noites quentes de verão enquanto nós, os mais pequenos transformávamos a varanda em território de disputas entre “ indíos e cóbois” ou em interessantes partidas de futebol em que não poucas vezes a bola “voava” para a cerca e era preciso esperar pelo dia seguinte para que o Sr. Matias, responsável pelos carreiras ou a Maria Jacinta – a cozinheira dos proprietários, abrissem o portão e nos permitissem a recolha.

E vejo ainda (tão nítido) uma mesa estendida por toda a varanda com muitos amigos à volta a celebrarem o meu casamento, nessa altura com mais uma família a morar ali e por isso na minha boda, a família Casaca, ele médico veterinário e ela professora.

Volto à realidade. Quatro décadas depois, é lindo voltar a pisar aquele chão e, mais lindo ainda, viver o Convento da Luz, reabilitado, lindo, e pronto para iniciar um novo ciclo, com novas funções, novas cores, novos espaços e novos “moradores”.

Como a generalidade dos arronchenses orgulho-me do que Arronches é. Esta obra redobra o meu orgulho. É a minha casa!

Diogo Júlio Serra