quarta-feira, 20 de outubro de 2021

NÃO, NÃO VOU POR AÍ…

 

NÃO VOU POR AÍ…



As eleições autárquicas são já, por mais alterações e surpresas que tenham imposto, apenas passado.

O que se nos coloca agora, no país e também no nosso território, é a necessidade de encontrarmos respostas para os problemas que recaem sobre o país e cada um de nós. Problemas que são o resultado de décadas de políticas de direita e que o surto pandémico veio mostrar com maior nitidez.

São os velhos e importantes défices estruturais que afectam particularmente o nosso território, o agravamento da exploração, de injustiças e de desigualdades que as troikas (internacional e local) agravaram para além do limite do suportável.

Foi na procurar de fazer regredir as medidas mais gravosas que essas políticas impuseram que se desenhou a fórmula politica que permitiu ao PS formar governo e manter-se no poder desde então.

No momento em que se volta a pôr à prova a validade dessa formula e se procura aferir da validade dessa construção, para o país e em particular para os setores da sociedade em nome dos quais foi criada, vale a pena relembrar a “construção politica” que alguns apelidaram, jocosamente, de geringonça e medir os resultados atingidos.

A aprovação (ou não) de mais um Orçamento de Estado pelas forças de esquerda do espectro eleitoral só se justifica, a meu ver, se esse orçamento consagrar as políticas necessárias a manter os objectivos iniciais: desarmadilhar as políticas neo liberais impulsionadas pela troika interna – Direita politica, Patronato, Presidente da República, repor os direitos entretanto roubados.

Relembremos:

Quando naquela noite de Outubro de 2015, perante o “atirar da toalha ao chão” do Partido Socialista, que não conseguira uma votação que lhe permitisse suplantar o PSD de Passos Coelho, o Secretário-Geral do PCP lançou o repto de que o PS só não governaria se o não quisesse porque a esquerda ficara maioritária na nova composição parlamentar, trazia implícita a vontade de travar as politicas mais agressivas da direita politíca e a recuperação dos direitos que essa direita e o seu governo nos haviam roubado: os direitos sociais e laborais, os feriados extintos, os salários e pensões congelados, o aumento da carga horária para os trabalhadores da Administração Pública, o empurrar da juventude para fora do país…

Os direitos roubados foram recuperados? Todos os objectivos foram conseguidos? Colocam-se hoje, e o orçamento consagra, novos direitos?

Sim e não.

Sim, foi travada a dinâmica de destruição do aparelho produtivo e particularmente do desmantelamento do sector público, veja-se a questão da saúde, da TAP, da estrutura ferroviária.

Sim, foi travada a política de empobrecimento acelerado dos trabalhadores e pensionistas e invertida a postura de corte sistemático nos salários e nas pensões. Atente-se à reposição dos subsídios de férias e de Natal, ao aumento anual do SMN e a implementação de aumentos extraordinários para as pensões mais baixas.

Sim foram repostos os feriados que haviam sido “roubados” e recuperadas pela função pública as 35 horas que haviam sido retiradas.

Mas subsistiram muitos (demasiados) nãos.

Não foram repostos (O PS e o governo não o permitiram) os direitos laborais em particular a reposição do Direito do Trabalho e da visão de que este é fundamental no equilíbrio entre o capital e o trabalho.

E quanto ao território que é o nosso?

Como estamos quanto às nossas aspirações e necessidades para além do (re)anúncio do Pisão?

Está garantida, e para quando, a electrificação e modernização da Linha do Leste, a modernização do material circulante e a atribuição de novos horários para mercadorias e passageiros e a sua aproximação à cidade de Portalegre?

Está garantido e para quando a ligação em via rápida entre a A6 e a A23 com passagem por Portalegre?

Está garantido e em que medida que o nosso distrito será um “alvo” da tão propalada bazuca?

Parece que o não estão e a ser assim, o que interessa e a quem interessa, fazer pagar à esquerda os custos políticos de novas políticas da direita?

Penso ser tempo de na região e no país relermos e citarmos José Régio.

Não sei para onde vou… sei que não vou por aí!”


Diogo Júlio Serra 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

PORTALEGRE FICOU (quase) SEM SOLUÇÃO!

 

Portalegre ficou (quase) sem SOLUÇÃO!(*)

No futebol quando as coisas “correm mal” muda-se o treinador, nunca a equipa. Assim terá que ser, por acrescidas razões com plataformas eleitorais e os projectos que defendem.

No primeiro caso, no futebol, por uma questão de custos…na política por uma das mais elementares regras da Democracia e por uma impossibilidade real: não se pode (um democrata nem o poderá conceber) mudar de povo (os eleitores) logo, o que há a fazer é mudar de estratégia e,quando muito, de treinador.

E tudo isto a propósito das eleições autárquicas do passado dia 26 e dos seus resultados, por todo o país e particularmente, porque aqui estive e estou envolvido nos, concelho e distrito de Portalegre.

No distrito as candidaturas em que me revejo triunfaram e perderam, ganharam e perderam eleitorado e no fim, apesar da perda de votos e de mandatos é possível continuar a sorrir embora que de forma (muito) moderada.

No concelho de Portalegre a “coisa” foi bem mais “dolorosa” e nem o alcançar do objetivo há muito traçado - mudar de políticas e de protagonistas para Portalegre, consegue “adoçar” a acidez dos resultados: Perda de 1325 votos, do vereador municipal, de três dos quatro deputados municipais e de dois dos três lugares na Assembleia de Freguesia da Sé e S.Lourenço, ficando agora a voz da CDU a ser assegurada por um eleito na assembleia municipal e um eleito na assembleia de freguesia da cidade.

A hecatombe aconteceu quando as expectativas estavam, justamente, num patamar elevado. A composição das listas e a competência reconhecida aos que as integravam, a aceitação e entusiasmo ao longo da campanha, o termos “ganho” todos os debates realizados e a pertinência do compromisso/solução assim o faziam prever…

Não foi assim. Um vendaval laranja, tão forte quanto inesperado varreu o concelho colocando na presidência da Câmara, da Assembleia Municipal e de duas das maiores Juntas de Freguesia, o partido que oito anos atrás “quase desaparecera” e que nos últimos tempos lutava pela manutenção dos lugares que conseguira no último acto eleitoral.

Há explicação? Claro que há, mesmo que ainda não tenha sido encontrada por todos ou alguns dos protagonistas.

No que à CDU diz respeito registo a lúcida análise que o meu camarada Pedro Tadeu publicou no Jornal Público do passado dia 22. Trata-se de uma reflexão focada no todo nacional mas que, a meu ver, se aplica bem a Portalegre embora sem os ganhos que a postura nacional garantiu.

Todavia em Portalegre, cidade e concelho, é fundamental que consigamos ir mais fundo. Importa compreender até que ponto “pesa” o “medo de perder o médico” e a forma como esse medo é disseminado pelos especialistas da boataria que em Portalegre sabemos serem de grande eficácia.

Importa “medir” o peso do preconceito anti-comunista e as razões porque se mantem quando, ali ao lado já não se coloca. Importa analisar e medir os impactos da acção politica nos vários órgãos e, apesar da sua justeza, como foram compreendidos e aceites pela população.

Importa analisar quem é o nosso eleitorado na cidade e no concelho e adaptarmos a comunicação aos seus interesses e posturas.

Temos agora (o voto popular assim o impôs) um tempo e um espaço para a reflexão, a análise e o construir de respostas. Façamo-lo mantendo e reforçando a nossa acção cívica e politica em todo o concelho e em todo o espaço de intervenção ao nosso dispor.

É este o tempo. Só reconhecendo as debilidades e com disponibilidade para as suprir poderemos ser/continuaremos a ser a Solução!

Diogo Serra

(*) publicado no Jornal do Alto Alentejo de 6 de Outubro de 2021