Está tudo louco!
Titulei o presente escrito com
uma rábula popularizada nos anos 80 do século passado num popular programa
televisivo com os atores Ivone Silva e Camilo de Oliveira.
Era assim que terminava uma
rábula revisteira dos “Agostinho e Agostinha” que denunciava a situação vivida
em Portugal, quando o país “sofria” a governação da direita protagonizada pela
AD (PPD+CDS+PPM).
Quarenta e três anos depois, no
mesmo país, uma qualquer resposta ou comentário de um treinador de futebol a um
jornalista desportivo, durante uma conferência de imprensa, transforma-se em
motivo de acesas discussões e levanta entre os comentadores do futebol uma onda
de protestos e análises e levou mesmo a associação que representa os
jornalistas desportivos a exigir desse treinador e da sua entidade patronal um
pedido de desculpas.
Eu, como certamente a maioria dos
portugueses e até dos que se sentiram ofendidos. Não ouvi tais afirmações e não
tenho nenhum interesse em ouvi-las, compreendo a agitação.
Até aqui “tudo bem”. Sei, embora
tal me desgoste, que uma parte significativa dos portugueses tem maior
facilidade em indignar-se com um pontapé mal dado, com o livre não marcado ou
com uma resposta de um qualquer agente do futebol do que a indignar-se com a
abertura (por encomenda?) de mais uma crise politica em Portugal, com os
horrores das guerras, com o genocídio do povo palestiniano que o Estado
Terrorista de Israel leva a cabo em Gaza e nos territórios ocupados da
Cisjordânia.
Contesto mas percebo! Já tenho
uma grande dificuldade em perceber e aceitar, certamente por estar muito
marcado por uma vida inteira dedicada à acção sindical, que uma associação
sindical portadora de um passado de luta contra a censura e o cerceamento das
liberdades que o fascismo lhes/nos impunha, se sinta “obrigada” a vir a
terreiro tomar posição sobre este incidente.
Trata-se de defender um seu
associado (o jornalista desportivo) dir-me-ão. E eu estaria “obrigado” a
perceber tal posição. Só que essa associação sindical tem vindo, nos últimos
anos, a fingir que não vê, não ouve, nem lê os ataques soezes, as perseguições
e a violência exercida sobre jornalistas, também portugueses, só porque estes
não se deixam corromper e não são megafones dos poderosos.
Refiro-me como facilmente já
perceberam da mesma associação sindical que não levantou um “pio” quando
camaradas seus eram vilipendiados e presos por persistirem em serem jornalistas
no lado “dito errado” das guerras. Não tiveram uma palavra de censura perante
uma “comentadeira” portuguesa que quase apelava a que assassinassem o
jornalista Bruno Carvalho que cobria a guerra da Ucrânia a partir das Repúblicas
do Donbass. Uma associação que mantém o mesmo silêncio ensurdecedor, face às intervenções
policiais nas escolas e universidades que nos trazem à memória as incursões do
famigerado capitão Maltez nos tempos do fascismo.
“Arrumado” este assunto do
pontapé na bola, dois pequenos apontamentos esses sim, a meu ver, passíveis do
nosso enérgico protesto.
Primeiro os olhares diferentes
que a auto intitulado “Mundo Ocidental” lança sobre a guerra da Ucrânia e o
genocídio do Povo Palestiniano e sobretudo a ligeireza com que cataloga de
terroristas uns ou outros, não pelas suas praticas mas pelos ideais e sobretudo
pelas “ordens” que lhes chegam dos centros de decisão que os/nos controlam
sejam os sedeados no Vaticano ou na Casa Branca.
Por último, a campanha de
destabilização interna visando alinhar o nosso país nas cartilhas da U.E. e dos
USA que endeusam o capital e usam as políticas de ódio e as guerras como
instrumento de garantia para os seus mandantes, de que continuarão a acumular
riqueza, independentemente de qual seja o preço a pagar pelos povos.
Que não cometamos os erros do
passado! Que saibamos semear e manter a PAZ!
Diogo Júlio Serra
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