terça-feira, 29 de junho de 2021

PELA BOCA MORRE O PEIXE... E OS CANDIDATOS TAMBÉM!

 




PELA BOCA MORRE O PEIXE...E OS CANDIDATOS TAMBÉM!

 

Em Portalegre, cidade e distrito, o “aroma” é já de eleições.

Embora a data ainda não esteja marcada, o clima vivido já não engana ninguém. São as diferentes forças politicas que se afadigam para apresentar ou importar os rostos que, darão corpo às suas candidaturas, são os próprios candidatos a multiplicarem-se em aparições feitas de forma aberta ou escondidos por detrás de ministros e outros governantes que num repente, descobriram o Alto Alentejo, quer porque para aqui os trouxeram e aqui procuram afirmar-se, mesmo quando da região não têm outra noção que não seja o nome do concelho que lhe soletraram quando do convite/imposição, para aqui virem defender as cores com que agora se apresentam ou, quer ainda, os que aqui vêm sem outro objectivo que não seja “limpar cartões” e manter-se “vivo” até que possa retornar ao concelho de origem.

Alguns, porque mais experimentados ou avisados, evitam expressar-se para além das iniciativas que os seus aparelhos montam para mostrar os rostos e esconder as ideias (ou a falta delas) mas outros há, menos experientes ou mais emotivos, que não resistem a vir a terreiro dizerem-nos o que pensam ou pretendem e aí “a coisa complica-se”.

Um desses candidatos, (uma candidata) dos tais que vêem limpar “as faltas”, ou deu um tiro no pé, ou já prestou um importante serviço aos alentejanos. Num arrebatado discurso de campanha, afiançou ser Portalegre a única cidade capital de distrito que não é servida por uma auto-estrada e, de duas uma, ou a candidata anda muito distraída ou já conseguiu uma auto-estrada para Beja.

Outro, recentemente apresentado como candidato e por ventura entusiasmado pelo brilho mediático que nunca o tocara em anteriores desempenhos, fossem os da profissão, fossem os praticados em associações solidárias, resolveu postar o que pensava (acredito que verdades) sobre um empresário que não sabia ser próximo do partido que o candidatava. Soube-o quando recebeu a informação que já não é candidato.

Entretanto, outros mais “sabidos”, atrasam o anúncio da (re) candidatura mas intensificam a sua campanha, transformam o concelho num estaleiro de obras adiadas, multiplicam-se na vitimização e refinam as piores práticas partidárias, a coberto do falso estatuto de independentes.

A cidade e o concelho assistem a um filme várias vezes visionado: o mesmo enredo, o mesmo objectivo, os mesmos actores só que por vezes trocando entre si os papéis a desempenhar e até, em alguns casos trocando de actores com concelhos vizinhos, “usufruindo” por força das imposições eleitorais as pequenas “mordomias” que lhes foram sonegadas ao longo dos últimos anos.

A limpeza das ruas de maior visibilidade, a repavimentação de algumas crateras em que se haviam transformado estradas e caminhos, as intervenções de alindamento em que a tinta ou a roçadora procuram fazer-nos esquecer o passado recente.

Estamos na fase do fingimento. A força política que detém o poder há quase duas décadas (os últimos 8, sob a capa de grupo não partidário) afadiga-se em mascarar a sua “falta de jeito” com a estafada tese de que não os deixam fazer e algumas forças ditas de oposição mas que foram durante anos, ombro amigo que o poder autárquico concelhio sempre encontrou disponível, aparecem agora empenhadas em apagar da nossa memória a forma ziguezagueante de fazer oposição, onde poucas vezes lhe foi possível manter a unidade de acção e votação entre os seus dois únicos vereadores.

O PSD de cujo ventre saiu a maioria que há duas décadas dirige a Câmara Municipal, volta a tratar Portalegre da mesma forma que alguns clubes de futebol encaram as competições menos conceituadas: voltam a Portalegre para limpar castigos. Foi assim no passado recente em que trouxeram um autarca de Sousel que “limpas as faltas” (o nº de mandatos que o impedia de se recandidatar no seu concelho), volta ao concelho de origem tentar retomar o lugar perdido. Assim vai ser de novo, outra vez.

Até o PS cujo historial na cidade e no concelho tornava perfeitamente dispensável tal comportamento não resistiu a partilhar desse “pecado”. Parece ter percebido o erro e não irá repetir, entretanto o seu autarca, limpas as faltas prepara-se para retomar ao seu concelho, embora sob a camisola do “independentismo”.

É assim a disputa eleitoral dir-nos-ão alguns. São todos iguais gritar-nos-ão outros. E no entanto, não é verdade e nada nos obriga a aceitar que seja assim.

Portalegre, cidade e concelho não pode nem deve continuar a definhar. Não pode nem deve continuar a perder população, empregos, serviços, juventude. Não pode nem deve continuar a assobiar para o lado, enquanto encerram empresas e se destrói o tecido produtivo. Não pode nem deve fingir que não vê e não sabe que se encerram museus por inépcia de quem deles devia zelar, se abandona património de cultura e de memória, se adiam sine dia investimentos fundamentais para a cidade e região, se mantenha a cidade capital do distrito arredada dos meios de transporte ferroviários e rodoviários, se assobie para o lado quando a cidade e a região são ofensivamente afastadas dos planos de distribuição de investimentos e milhões como esta a suceder com o PRR.

A electrificação da Linha do Leste em toda a sua extensão e com a alteração do traçado que permita a sua aproximação à cidade de Portalegre e a garantia de conexão para mercadorias e passageiros com a linha Sines/CAIA, a eliminação dos pontos negros do atravessamento do concelho pelo IP2 e a concretização do atravessamento de Estremoz, a par da concretização de outros importantes investimentos como a Escola da GNR, entre dezenas de outras medidas, são fundamentais para o nosso futuro colectivo e justificarão que desta vez, consigamos substituir a inércia pelo pró actividade, o preconceito pela razão e a indiferença pelo comprometimento e possamos inverter a marcha.

Podem não existir muitas mais oportunidades.

Diogo Júlio Serra

(publicado no jornal do alto alentejo de 24-6-21)


quinta-feira, 10 de junho de 2021

Viva o Santo António...

 


Viva o Santo António, Viva o S. João

Viva o 10 de Junho e a Restauração.

 

Os tempos que se aproximam trouxeram-me à memória a “Marcha do Pião das Nicas” que o saudoso Carlos Paião imortalizou.

Falava-nos de “chico-espertismo” e das disponibilidades sempre muito presentes de nos deixarmos levar por um qualquer “bem-falante” apostado em prometer o que os nossos ouvidos querem ouvir.

No nosso território, distrito e concelho, sabemos bem tratar-se da versão “tuga” do pão e circo usados pelos grandes do império romano. Sabemos também, confirmamo-lo no dia-a-dia, da existência de conterrâneos nossos que mantêm grande disponibilidade para ouvirem os cantos de sereia e, pior, confiarem nos “encantadores” de serviço o seu e nosso futuro.

Tem sido assim ao longo das últimas décadas.

As escolhas erradas, o sentimento de que “o que vem de fora é sempre melhor que o da casa”, o medo que alimenta o preconceito e esse sentimento “tão nosso” de fingir que está bem o que sabemos e sentimos estar pior que mal, colocaram-nos e mantêm-nos (distrito e concelho) no patamar de baixo do país, ele próprio nos últimos lugares dos países europeus, no que respeita a qualidade de vida, recomposição demográfica, trabalho com direitos, igualdade de oportunidades e níveis de rendimento.

Portalegre, cidade e concelho, são exemplo elucidativo desde desdenhoso deixa andar que nos tem caracterizado.

Concelho “fronteira” entre o Alentejo e as Beiras, ele próprio ostentando essa “divisão” com as freguesias a norte caracterizadas pelo minifúndio e pela agricultura familiar características Beirãs e as freguesias a sul onde imperava o latifúndio e as formas de concentração e exploração agrícolas marcadamente alentejanas. Viveu sempre dividido entre a geografia política e a “geografia religiosa e, tal “fidalgo arruinado” carregado de dívidas mas de nariz bem empinado.

A vida de Portalegre e dos portalegrenses desenvolveu-se sob um apertado controlo social exercido por meia dúzia de famílias que entendiam o isolamento como instrumento precioso para a manutenção do seu poder quase absoluto: as indústrias não eram bem-vindas porque “roubavam” braços aos campos e subserviência aos seus donos, mais tarde as novas fábricas eram empurradas para Castelo Branco, pelas razões anteriores mas também para que os salários de miséria aqui praticados não fossem abalados.

As mesmíssimas razões que já em democracia as auto-estradas nos tocaram ao de leve (a A6 em Elvas a caminho de Espanha e a A23 a norte a caminho de Castelo Branco) e agora o propalado maior investimento de sempre em transporte ferroviário tocará Elvas a caminho “das europas”, todas tratando o distrito e o concelho como barreiras e  não pontes, ao nosso desenvolvimento.

Vai ser (também) sobre isto que iremos de novo às urnas expressar a nossa vontade. Desta vez para decidir quem queremos ao leme do nosso concelho.

Todos, os que se empenharam na gestão da coisa pública fosse no governo do concelho ou na oposição. Todos os portalegrenses que aplaudiram, protestaram, propuseram e agiram nos locais próprios ou escondidos ao teclado do computador…voltam a ter a oportunidade de fazerem-se ouvir e decidirem do seu e do nosso futuro.

Não vai ser fácil a escolha? Claro que não vai ser fácil.

O que “o povo lagóia” tem que decidir é se quer ou não alterar os caminhos (logo as politicas), que nos colocaram em 2021 como capital de um distrito que é o menos desenvolvido, o menos populoso, o menos jovem …de todos os distritos do continente.

E, tomada esta decisão, como fazer para a alterar?

Insistir no “mais do mesmo“ e validar a falta de “jeito e de tino” para governar o concelho? Apostar nos que agora com megafones renovados, são os do “antigamente: os das fogueiras para purificar os hereges, da pide para os tais “safanões”, da masmorra para o que pediam pão? Chamar os que de novo insistem em tratar-nos como campeonato para “lavar cartões” e aqui apresentam quem vindo de “campeonatos de divisão inferior” quer tempo e palco para “fintar” a lei que lhe impõe limite de mandatos?

Dar, desta vez, oportunidade a quem nunca governou a nossa cidade e concelho e cujo passado e prática podem ser selo de garantia de autenticidade e competência?

São estas algumas das interrogações com que se irão confrontar os eleitores do concelho e será a cada uma destas interrogações que as candidaturas em presença deverão procurar responder.

Importa que nestas eleições possamos ter presente o poema de um portalegrense por adoção e possamos agir em conformidade: ouvindo sem preconceito, escolhendo o que pensamos ser o melhor para Portalegre e para as suas gentes e tendo sempre presente o desejo/acção de todo um povo – Fascismo nunca mais!

Assim “armados” procuremos a escolha acertada levando como ponto de partida as palavras de Régio: …Não sei para onde vou  … sei que não vou por aí!.

 

Diogo Serra

Publicado no Jornal do Alto Alentejo de 9-6-2021