quarta-feira, 26 de agosto de 2020

São Rosas...

 





São rosas meu senhor…

 


“E haverá sempre gente de extrema-direita, haverá sempre o ódio, haverá sempre quem tenha um poster do Hitler em casa. Haverá sempre nostálgicos da ditadura. Haverá sempre nostálgicos da escravatura. O que não se pode é dar espaço a essa gente.”

 

A frase de Teresa Villaverde que encabeça o seu artigo de opinião publicado no jornal O Público, e a sua oportunidade, vieram-me à memória ao analisar a “novela” protagonizada pela rapaziada do “tem avondo” e publicitada por uma rádio local.

Na verdade será praticamente impossível num curto espaço de tempo, fazer desaparecer os nostálgicos da ditadura, os nostálgicos da escravatura, os que insistem em cultivar o ódio. Constatamo-lo diariamente pelos comentários nas redes sociais, no aplauso fácil aos discursos racistas e xenófobos, nas tentativas de mostrar igual o que é abissalmente diferente, na tentativa de tornar os vilões em vítimas ou no mínimo, perante verdadeiros crimes procurarem dizer-nos que criminosos e vítimas são igualmente culpados.

Quanto a esta realidade não será difícil concordarmos que, só com anos de instrução, informação e educação conseguiremos extirpar o medo e o preconceito, do que entendemos como diferente e logo perigoso. Mas tão ou mais importante que esta constatação é aceitarmos e agirmos que, como também é dito por Teresa Villaverde, “não se pode é dar espaço a essa gente.” E aqui chegados, retornemos à “novela”.

A “rapaziada do tem avondo” mandou colocar em Portalegre um grande painel com a fotografia do rapaz que dá a cara e papagueia o ódio a partir da Assembleia da República e, quando passaram ao local para apreciar a “obra” constataram que o mesmo estava rasgado.

Peritos na utilização do “megafone mediático” os apoiantes locais, o “caudilho” e as centenas de perfis inventados, lançaram de imediato uma campanha de vitimização e denúncia da acção anti democrática dos inimigos do “avondo”, que por medo da “sua” verdade querem calá-lo. Situação que o megafone local se apressou a garantir, não conseguirão!

Até aqui tudo normal. Como de costume esta rapaziada costuma defender-se, gritando enquanto foge, “ agarrem que é ladrão”! O que já poderá não ter sido tão natural assim, foi a rapidez e a ausência de rigor com que alguma comunicação social local, uma rádio e um blogger, deram palco à mentira!

Rapaziada do “avondo”, jornalista e blogger, acredito que com razões diferentes, preferiram o filme da conspiração, à confirmação da “notícia “e à ponderação necessária.

O epílogo é conhecido. Ainda uns e outros procuravam atingir as suas audiências já a épica narrativa caía com mais ruído com que “caíra o cartaz”. Um morador informava ter assistido ao rompimento do cartaz devido a um golpe de vento que ocorrera. E pronto uma estória tão bem “contada” e que permitiria chegar ao coração de mais uns quantos “crentes”, regar democracia com gasolina, um furo jornalístico que iria consolidar o slogan da mais ouvida, um post destinado a encher o ego de quem o publica, transforma-os, pelo menos por algum tempo, em motivo de chacota de toda a comunidade.

Mas seria mau, muito mau, que nos ficássemos pelo sorriso. Esta “novela” mostrou-nos a verdade que encerra a frase citada no início do texto:

 “O que não se pode é dar espaço a esta gente”. E dar espaço a esta gente, não é só quando se divulgam as suas mentiras ou se branqueiam as suas acções. Dar espaço a esta gente é quando se afirma que são todos iguais os que sabemos serem diferentes, quando se afirma não haver (as posturas xenófobas e racistas, as manifestações e práticas nazi-fascistas) o que todos sabemos existir. É também, não conseguir ver a manifestação do 1º de Maio no centro da cidade e ver, no Atalaião, o que afinal não existiu!

Diogo J. Serra

(artigo publicado no Jornal do Alto Alentejo de 26-08-2020)