terça-feira, 20 de junho de 2017


“Viv’o Santo António,
Viv’o S.João,
Viv’o 10 de junho
E a Restauração…”(*)

Portalegre está uma festa!
É assim em cada ano. Os Santos Populares atiçam apetites e trazem à rua muitos e muitas que só amiúde arriscam a saída.
O calor próprio da época impõe também a necessidade de procurar à noite e pelas ruas e largos da cidade a brisa que se escondeu ao longo de cada dia.
Bom, mas este ano há uma razão adicional para nos tirar de casa e nem sequer é só à noite. Este é ano de eleições.
Por essa razão os arraiais populares ganham novos frequentadores. As sardinhas, as bebidas e as mesas mais “expostas”, têm agora clientes (que não fregueses) em maior número e com maior empenho.
As várias candidaturas, já no terreno, afadigam-se para publicitarem o que fizeram ao longo do mandato, para se mostrarem e algumas delas por necessidade acrescida para darem a conhecer os rostos dos/as que entendem ser o melhor que podem oferecer à cidade, ao concelho e às suas gentes.
Ainda bem que assim é!  Portalegre precisa hoje, mais que nunca, do contributo de todos.
A nossa cidade e concelho estão carentes de ideias, de projeto e de ação.
A cidade branca é agora uma quase lixeira a céu aberto fruto da ação (vergonhosa) de muitos dos nossos concidadãos e da inação dos governantes;
A cidade operária é agora uma miragem com o setor corticeiro a persistir nos salários em atraso e na destruição de empregos e os postos de trabalho criados nas outras unidades industriais persistem em manterem-se conhecidos pela precariedade e pelos baixos salários;
A cidade do comércio de proximidade está totalmente destruída arrastando consigo o despovoar do centro histórico e colocando dentro das chamadas grandes superfícies comerciais as sementes da destruição do trabalho valorizado e das relações próximas entre os que compram e os que vendem.
A cidade jardim, das zonas verdes e dos lençóis de água foi sendo assassinada pelos “Pólis” e os seus mentores, executantes e zeladores.
A cidade património, em particular o centro histórico, esboroa-se de forma acelerada fruto da incapacidade económica dos proprietários particulares e da ausência de políticas de recuperação e valorização do património construído. A própria autarquia é proprietária de inúmeros edifícios abandonados e em ruínas.
Estas são razões suficientes para aplaudirmos todos o todas, personalidades e instituições, que se disponibilizam para intervir na “coisa pública”. Mas as necessidades que registamos não devem tolher-nos a razão.
Uma coisa é a disponibilização de saberes e de vontades para administrar a “coisa pública” outra, bem diferente é o “chico-espertismo dos “valentins” e “isaltinos” que também por aqui existem e esperam prosperar.
Que estamos a ser invadidos por para-quedistas, gritam alguns. E onde é que está o mal? Pergunto eu que até defendo que ninguém deveria poder candidatar-se a um cargo do poder local se não residisse há pelo menos um ano no concelho em que se candidata.
O mal não está no local onde os candidatos nasceram, exerceram a sua atividade e residem. O mal está em alguns quererem vir fazer de nós, os que aqui nascemos, construirmos a nossa família, trabalhamos e resi(sti)dimos, parvos, cegos e mudos.
E se é verdade que  algumas forças politicas (por não descobrirem no seu seio portalegrenses com capacidade, disponibilidade e vontade de defenderem o seu projeto politico?) nos apresentam como candidatos, autarcas eleitos (ainda em funções) em concelhos limítrofes, é um problema dessas instituições.
Problema nosso é quando algum candidato utiliza o cargo que ainda ostenta para propagandear as suas virtudes. Esse sim já é problema nosso, porque se trata de publicidade enganosa, de concorrência desleal entre as partes e sobretudo, de utilização indevida de fundos públicos.

Entretanto que a continue(m) a(s) festa(s)e que independentemente de cada olhar coloquemos sempre, Portalegre primeiro|

Diogo Serra
Deputado Municipal.
(*) publicado no Jornal Fonte Nova de 
20-06-17