segunda-feira, 24 de abril de 2017

MEMÓRIAS DE/EM ABRIL.


Memórias de/em Abril*

Em 2017 comemoraremos de novo Abril e afirmaremos Maio.

Para muitos comemorar e afirmar estas datas é tão natural como viver. Uns porque viveram os tempos anteriores e se empenharam, uns mais que outros, em construir a mudança. Outros, felizmente já a maioria, porque nasceram em liberdade e as datas são naturalmente evocadas, porque já era assim que faziam os seus pais e avós.

Todavia ainda há, pasme-se, quem se sinta “roubado” por Abril e pelos caminhos que abriu.

Será com esta multiplicidade de sentimentos como pano de fundo que comemorarei Abril tendo como objectivo final, agora como desde 1974, que Abril se cumpra!
Continuo a acreditar no poeta da “revolução” que não desistia de proclamar:
“ e se Abril ficar distante
desta terra e deste povo
nós temos força bastante
pra fazer um Abril novo,

Sem a força do povo em armas, sim! Sem a unidade na acção que derrubou barreiras e preconceitos, sim! Mas com a força da razão, o poder do saber e o querer da juventude!

São já muitos os que me murmuram não ser possível. Cresce o número dos que entendem que já não há nada a fazer.

Questionam-me companheiros de jornada e outros mais jovens se valeu a pena? Se valeu a pena a resistência de muitos e muitas durante a longa noite? Se valeu a pena abdicarmos ( os que o fizeram) de legitimas aspirações individuais, do sucesso fácil e, tantas vezes da própria família, para colocar em primeiro lugar a consolidação da democracia , a afirmação e defesa da Constituição de Abril com  tudo o que oferece e obriga?

E usam, uns e outros, argumentos de peso a susterem as suas dúvidas, o seu cansaço e por vezes, infelizmente, a sua traição, que nos impõem o discernimento necessário para não esquecermos que Abril, e Maio foram tão só o materializar do sonho que “alimentou” as gerações que impuseram e alimentaram e defenderam a primeira republica, que resistiram à mais longa ditadura fascista, que construíram um país novo que queriam e queremos de prosperidade e de paz.

Compreendo as hesitações e interrogações de quantos viveram o PREC, assim mesmo o PREC que alguns gritam como se fosse um insulto mas que são, tão só as iniciais de um tempo extraordinário que alguns tivemos o privilégio de viver.

O PREC – Processo Revolucionário em Curso que levou os soldados a porem fim à guerra colonial, os trabalhadores a retomarem para si os seus sindicatos e a imporem a negociação colectiva dos seus contratos de trabalho, as mulheres a assumirem-se como cidadãs de corpo inteiro e, neste território que é o nosso e os fora apelidaram de Alem Tejo, os escravos da gleba a assumirem a gestão da terra que durante algum (pouco tempo) deixou de ser instrumento de opressão e assumiu o seu papel social.

Para mim que tive o privilégio de experienciar Abril e continuo a acreditar que é possível, que valeu e vale a pena, Abril é em cada ano e durante todo o ano, um bem que importa preservar!

 Se outras razões não existissem, e há mil outras, tinha valido bem a pena o ter-mos “ouvido “ a criança que dizia, dizia…quando for grande não vou combater!


Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Fonte Nova de 24 de Abril de  2007

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Passo a passo...

Passo a passo construímos o caminho!*


No passado dia 2 de Abril Campo Maior foi a capital do Povo Alentejano. No Centro da Ciência e do Café, prova viva da capacidade dos alentejanos, o 1º Fórum do AMAlentejo fazia um ponto de situação do trabalho desenvolvido desde que, em Abril de 2015 se constituiu como um movimento democrático e plural pelo desenvolvimento do Alentejo e pelo bem-estar de todos os que o amam e nele querem viver.

A Comissão Promotora então constituída era e é o espelho dessa vontade.

A 2 de Abril de 2016 o AMAlentejo reuniu em Troia o seu primeiro Congresso e ali, decidiu meter ombros à tarefa, difícil mas aliciante, de travar o caminho que tem levado o Alentejo e todo o interior a envelhecer e a desertificar-se, com a sua economia estagnada, os serviços públicos cada vez mais concentrados sem que daí resultem quaisquer benefícios para os que vivem no Alentejo.

Os mais de 400 congressistas de Troia assumiram ser imperativo mudar de rumo e proclamaram a necessidade de dar mais força ao Poder Local, no quadro da organização administrativa do Estado, ao invés de se persistir em pôr em causa a sua autonomia e independência.

Como ali se afirmou, é tempo da Região ser administrada pelos que amam e vivem no Alentejo.

Para tanto foi decidida a criação da Comunidade Regional do Alentejo e desenhada uma iniciativa cidadã capaz de levar a Assembleia da Republica a discutir o projeto de lei para a sua constituição.

A necessidade de recolher dezenas de milhares de assinaturas de cidadãos eleitores não só não amedrontou os congressistas como estimulou a sua vontade.

Passado um ano o Fórum de Campo Maior reconhecia o acerto da decisão e anunciava que já estavam recolhidas mais de 10 mil assinaturas das 35 mil necessárias para levar esta importante iniciativa à Assembleia da República.

Mas os alentejanos e alentejanas reunidos em Campo Maior não se ficaram pela constatação do trabalho realizado. A Proclamação aprovada por unanimidade pelos participantes do Fórum reafirma o AMAlentejo como espaço de reflexão e ação sobre as grandes questões do Alentejo e um instrumento de afirmação da vontade e querer de todas e todos os que amam o Alentejo e aspiram ao seu desenvolvimento económico, social, cultural e à sua preservação ambiental.

Afirmando-se de todas e todos os que valorizam, defendem e desejam aprofundar e reforçar o Poder Local que já temos- Municípios e Freguesias - e ambicionam UM PODER REGIONAL DEMOCRÁTICO, PARTICIPADO, REPRESENTATIVO, PLURAL, TRANSPARENTE, CONSENSUA-LIZADOR E CONGREGADOR, apresenta entre outras propostas a realização do 2º Congresso, em 2018, em Castelo de Vide e a continuação da luta por um Poder Regional onde o Poder Local tenha um efetivo poder de representação e decisão, até à criação e instituição das Regiões Administrativas, com os seus órgãos eleitos democraticamente pelo voto direto das populações, como determina a Constituição da República.

É insuficiente face aos grandes problemas com que a região se debate? É! Mas foi mais um passo e como diz o poeta “o caminho faz-se caminhando”.

Diogo Serra

Publicado no Jornal Alto Alentejo de 12/4/2017

terça-feira, 11 de abril de 2017

A ver passar comboios...

Portalegre continua … a ver passar os comboios!*

 Na passada semana “Meia Ibéria  política” marcou presença na cidade de Elvas para com “pompa e circunstância” proceder ao lançamento da empreitada de modernização do troço da Linha do Leste que visa  ligar Elvas à Fronteira.
A nossa comunicação social (também a local) encheu  páginas e muitos minutos com fotos e números. As fotos e declarações dos senhores ministros, dos senhores autarcas e dos senhores empresários de um e outro lado da “fronteira” eram complementadas com números que nos falavam dos muitos milhões que hão-de vir:  “A empreitada contará com um investimento na ordem dos 38 milhões de euros, dos quais cerca de 23 milhões de euros advém do Orçamento de Estado e perto de 15 milhões de euros são comparticipados pela União Europeia”… “A obra integra-se no futuro Corredor Internacional Sul… A criação do Corredor Internacional Sul representa um investimento previsto em mais de 626 milhões de euros, dos quais, estima-se que cerca de 356,7 milhões de euros possam ser comparticipados pela União Europeia… blá,blá, blá.
Os menos atentos poderiam pensar, justamente, que chegara a hora da modernização da Linha do Leste ( a mais antiga linha de caminho de ferro portuguesa ) e que, finalmente o transporte ferroviário de passageiros seria de novo disponibilizado aos norte-alentejanos e aqueles que aqui residem, trabalham, estudam ou querem visitar.
Puro engano! Afinal, poderíamos recuperar a célebre frase do imperador quando perante a grandiosidade do tumulo de Jorge de Melo não resistiu ao desabafo “ tão grande gaiola para tão pequeno pássaro”, porque só onze quilómetros de linha irão ser intervencionados e tudo isto devido não à afirmação dos direitos de quem aqui vive e trabalha mas, porque não é possível ao governo central e aos mandantes da europa, ligar por terra, o litoral português a Espanha (Badajoz) rumo aos restantes membros da União Europeia sem tocar no distrito de Portalegre uma vez que Elvas se lhes atravessa sempre no caminho.
Mas será que eu sou contra este investimento, questionarão alguns? Claro que não. Entendo que qualquer investimento é bem-vindo e é sempre bom que diminuamos as distâncias que nos separam dos que nos rodeiam e hoje, sabemo-lo bem as distâncias medem-se em tempo.
Mas, para quem aqui vive e trabalha, para os norte alentejanos vitimas do acantonamento entre a A6 e a A23,  que os governos centralistas sempre nos impuseram já não chega esmagarem-nos com as tiradas demagógicas dos milhões que hão-de vir.
Para quem aqui vive e trabalha, para os que foram obrigados a partir mas não renegam as raízes, para os cidadãos e as empresas do nosso distrito e, particularmente para os portalegrenses o que importava mesmo era sabermos se vamos continuar a ir de carro apanhar o comboio a Abrantes, a Évora ou a Elvas e, sobretudo se vamos ter a Plataforma Logística do CAIA ou se, tal como aos comboios vamos vê-la passar para “o lado de lá”.
Será que o Senhor Ministro do Planeamento das Infraestruturas, que até foi deputado eleito por este círculo, nos pode dar essa garantia?  Ou teme que se nos fizer um agrado, possa ter o mesmo destino que o governo de que faz parte impôs ao Comandante da Escola Prática da GNR?

Diogo Júlio Serra

Membro da Assembleia Municipal de Portalegre
* publicado no Jornal Fonte Nova nº 2049 de 11 de Abril de 2017