quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Não gostam? Temos Pena!


NÂO GOSTAM? TEMOS PENA!
Numa acção bem orquestrada os diversos “opinadores” da direita politica e dos negócios afadigam-se em fazer-nos acreditar que os trabalhadores e os seus sindicatos estão rendidos ao que apelidam de “geringonça” e, por isso, acabaram as greves e outras acções de luta!
Fazem-no, não para valorar as políticas de travagem do esbulho e roubo aos trabalhadores e ao país mas para nos “venderem a ideia de que os sindicatos são feudos dos partidos de esquerda, particularmente o PCP, e são estes quem define a agenda política dos sindicatos e dos trabalhadores.
A seu reboque, por deliberada intenção ou por falta de cuidado, são vários os meios de comunicação e jornalistas que publicam estas estórias como se de verdades se tratassem.
A nossa região não fica de fora dessa cabala e, nos órgãos de informação ou nas redes sociais são vários os jornalistas que embarcam nessa “cantiga”.
Todavia, trata-se de uma posição não apenas mentirosa mas de um cinismo sem vergonha.
É mentirosa, como bem sabem os “opinadores” e os seus mandantes, porque o movimento sindical de classe nunca foi nem é “pau-mandado” de ninguém. É mentirosa porque como, os mesmos, bem sabem, nos últimos tempos foi necessário dar continuidade à luta para garantir e conquistar direitos.
Por todo o país, e também no nosso distrito, os trabalhadores reconhecem e saúdam que o governo saído da vontade expressa nas urnas e corporizada na Assembleia da Republica, tem vindo a travar e inverter as políticas de empobrecimento e roubo definidas e aplicadas pelas diferentes troicas.  
Todavia nunca deixaram de afirmar que é necessário ir mais longe na reposição de salários e de direitos e no desmantelar das negociatas e das intenções com que o governo PPD/CDS colocou nas mãos do capital empresas e sectores importantes para a recuperação económica do país e preparava o desmantelamento de serviços públicos fundamentais para darmos corpo à democracia que conquistámos.
Não se ficaram pela retórica. No país e no distrito os trabalhadores têm estado empenhados em vastas e importantes lutas. Os trabalhadores não deixaram de lutar, também no nosso distrito, mesmo quando os órgãos de informação não veem, não ouvem, não publicam!
Só nos dois últimos meses estiveram em luta, cumprindo greves ou vindo à rua, os trabalhadores dos refeitórios e bares nos hospitais Distritais de Portalegre e Elvas (greve), os enfermeiros (greve), os professores (ações em tribunal ), os dirigentes a ativistas da USNA em defesa do transporte ferroviário, (manifestações na estação da CP em Portalegre) e estão convocadas greves dos trabalhadores da Valnorte , dia 31, dos trabalhadores da EUREST nos Hospitais de Portalegre e Elvas, dia 1 de Novembro e, dia  18 de Novembro, Manifestação Nacional da Função Publica.

Mas estas posições são igualmente dum enorme cinismo porque partem dos sectores que até há pouco acusavam os sindicatos de procurarem destruir o país com as suas lutas, apelidavam de não patriotas cada um e cada uma que usava reclamar os seus direitos, acusavam a  FENPROF de mandar no Ministério da Educação e juravam serem impossíveis quaisquer politicas que divergissem das que impunham o esbulho aos trabalhadores e ao país.
Infelizmente para eles (escrevinhadores e particularmente os seus mandantes) a verdade é bem diferente dos sonhos que teimam em manter: são os trabalhadores e o seu movimento sindical quem define a sua agenda politica: as exigências e reivindicações, os aplausos e as críticas e, as formas como estas revestirão.
Não gostam? Temos pena!


Diogo Júlio Serra

sábado, 12 de novembro de 2016

Pão e Circo?







Na Roma Imperial calavam-se as bocas com pão e circo.
Em Portugal, no século XXI, basta o circo!

“O pão que sobra à riqueza
Distribuído pela razão                                          
Matava a pobre à pobreza
e ainda sobrava pão!”
(António Aleixo)

O país, a nossa cidade também, viveu mais um dia que os “ricos” decidiram dedicar à erradicação da pobreza.Um pouco por todo o lado foi visível a azáfama com que pessoas e instituições pretendiam assinalar a data.

Na nossa cidade foi possível ver com gente dentro, algumas das ruas que já foram movimentadas mas que agora são espelho da agonia que também a cidade vive.

Ruas e praças enfeitadas com corações e bandeiras, discursos e passeios coletivos centraram a atenção dos transeuntes e dos muitos, crianças, jovens, idosos institucionalizados ou altamente fragilizados que voluntariamente ou por indicação de quem “manda” estiveram, naquele dia, na rua.

Todos e todas, personalidades e instituições aproveitaram a data para repudiarem a situação de pobreza que se abate sobre um número crescente de famílias em Portalegre, no País e no mundo e para reafirmarem o seu empenho em combater tais situações.

Todos estavam sinceramente empenhados em tão nobre objectivo?

De entre os que discursaram (Presidente da Câmara, Presidente da Rede Anti pobreza, Diretor Distrital da Segurança Social) todos trabalhadores por conta de outrem, quais percebem “de verdade” o que é a pobreza de que falam?

Têm a noção do que é (sobre) viver com uma pensão de 245 euros, com o RSI (80 euros/mês), com o salário mínimo Nacional (485 euros mês) tantas vezes repartido por todo o agregado familiar?

Têm a noção do que é o estigma do estar desempregado e estar diariamente submetido à invisibilidade e/ou à humilhação?
Têm a noção da violência que sofrem os milhares de trabalhadores que também aqui sobrevivem com o salário mínimo ou veem em cada ano o seu salário contratual ser absorvido pelo salário mínimo?

Estão disponíveis para apoiar as justas reivindicações de quem trabalha no sentido de ser garantida a contratação coletiva e cumprida a decisão (antiga) de passar para 600 euros o Salário Mínimo Nacional?

Conseguem dormir sabendo que nas instituições que dirigem os trabalhadores auferem um salário que em média não ultrapassa os 500 euros (caso das IPSS) e muitos deles são desempregados “obrigados a trabalhar” pelo subsídio de desemprego mais umas moedas e o almoço? ou, no caso dos funcionários  públicos, terão este ano, de novo, um salário inferior ao que receberam em 2010?


Será que todos queremos mesmo erradicar a pobreza? Ou para alguns ela deve ser mantida e aumentada por ser ela (a pobreza) a garantir a continuação do seu Bem – estar?

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Dez anos. Uma fração ou uma eternidade?*






Dez anos. Uma fração ou uma eternidade?*

     Dez anos é muito tempo? Sim e não!
   Sim, se estivermos a falar da idade de espécies cuja esperança de vida é muito curta. Não, se estivermos a falar do ser humano e da sua história.
   E, se estivermos a falar de organizações e em particular de órgãos de comunicação? Igualmente, Sim e Não.
   Se estivermos a falar de Comunicação Social de âmbito nacional, ou de âmbito regional e local mas situadas nos grandes centros populacionais ou, como é o caso, se nos referimos a um jornal local que nasceu, cresceu e vive no concelho de Portalegre, dez anos medem “tempos” diferentes. No primeiro caso diremos que só agora está a atingir a velocidade de cruzeiro enquanto no segundo, sabemos que já merece ver “medalhado” o esforço desenvolvido para chegar à década.
   Viver em Portalegre, pessoas e organizações, é sempre um ato de resistência. São a baixa densidade populacional, o pouco hábito de ler e sobretudo comprar, o peso quase residual da atividade empresarial a postura recuada dos vários poderes, públicos e privados, que aqui se exercem.
   Pois bem, quando com tudo isto, apesar de tudo isto, um jornal teima em manter-se de pé e atuante, assumindo-se “também” como projeto empresarial mas não abdicando do seu estatuto editorial.            Quando assume que deve ser voz dos que menos se conseguem fazer ouvir e em primeiro lugar da cidade e da região e opta por dar voz a todas as verdades existentes no território (com os custos que a “independência” sempre implica) então, uma década é sempre muito mais que o somatório dos 10 anos que medeiam entre o primeiro número e os dias de hoje.
   Poderemos então classificar o Jornal do Alto Alentejo, porque é dele que temos vindo a falar, como coisa velha apesar dos seus apenas 10 anos? E se estivesse sediado num grande centro no Litoral, seria a criança que a década pressupõe? Claro que não. O Jornal do Alto Alentejo é, como quaisquer outros com a mesma idade, uma criança com muita vida pela frente. A diferença é que este, porque teima em sobreviver em território difícil, já foi chamado a tarefas que num outro lugar e com condições diferentes só conheceria em “idade adulta”.
   Nas organizações como nas pessoas há, continua a haver, “homens (e mulheres) que nunca foram meninos”.
   É pois, esta década grande, que comemoramos. O Jornal do Alto Alentejo tem vindo, contra ventos e marés, a impor-se como instrumento de defesa do direito que todos temos de viver e trabalhar no distrito de Portalegre. Fruto da vontade, capacidade e… teimosia de quantos, semana a semana, o colocam nas bancas afirma-se como espaço de reflexão, debate e denuncia do que somos e queremos.
   Que assim continue por muitas décadas.

Diogo Serra
* Publicado no Jornal do Alto Alentejo por ocasião do seu 10º aniversário.