quinta-feira, 27 de abril de 2023

EM ABRIL, FALAR DE ABRIL!

Em Abril, Falar de Abril!

 



Quarenta e nove anos depois, o país ainda encontra razões para Comemorar Abril. E tem razão!

Apesar dos inúmeros golpes que o mutilaram, dos atropelos e dos desrespeitos continuados, Abril e os sonhos que nos permitiu, continua vivo no coração e no dia-a-dia das pessoas.

Também por isso a razão de se multiplicarem festejos e comemorações. Tantos a afadigarem-se para garantirem a pose na foto do dia e muitos outros, os que nunca lhe perdoaram, a intensificarem as manifestações de ódio, mesmo que escondidas por detrás de mil diferentes justificações.

De registar ainda haverem entre os que o comemoram, quem não se cansa de concentrar elogios nos que designam (agora) como heróis quando, tantas vezes, ofenderam e maltrataram esses mesmos que agora dizem venerar.

Entre as sinceras manifestações de apreço e a histeria de colagem a um dia que passadas 24 horas irão esquecer, registe-se a voz de um dos mais prestimosos membros do MFA a colocar a verdade que alguns teimam em esquecer:

“Movimento Coletivo…é a essência do MFA. Nada mais. Há militares com coragem e força de aço…Todos cumpriram…menos um tal JN…E o grande herói é o Povo Português”.

Tão verdade! Antes, durante e depois de Abril.

Antes quando com a sua resistência e luta manteve acesa a chama da liberdade e quantos dos seus filhos pagaram com a vida a manutenção dessa chama.

Durante o próprio dia quando souberam desobedecer aos comunicados do próprio Movimento que aconselhavam a ficar em casa e inundaram praças e avenidas colando-se aos militares, apoiando-os e desafiando-os a passarem da golpe militar à Revolução.

Depois, dia a dia, ano a ano, até hoje. Conquistando direitos, resistindo a cada golpe, defendendo Abril e a Constituição que o consagra, semeando e consolidando a democracia conquistada.

Que não tem sido tarefa fácil todos o reconhecemos.

Hoje, quarenta e nove anos depois, com as suas principais conquistas vertidas na Constituição da Republica e apesar do empenho popular e das necessidades do país, muitos dos direitos conquistados continuam sem serem efetivados e alguns foram mesmo “arrumados em gavetas” ou eliminados.

Ao arrepio da Lei Fundamental e dos valores de Abril, as politicas de direita recolocaram as regras do capitalismo, ou “do mercado” como gostam de dizer e foram mutilando os direitos até os “saudosistas” se sentirem, como agora, com o à vontade necessário para saírem da “clandestinidade” onde se moviam e virem abertamente exigir a destruição dos direitos e conquistas e a própria democracia conquistada com Abril.

Se dúvidas ainda houvessem bastar-nos-ia recordar os ataques movidos às próprias Comemorações de Abril na casa da Democracia.

Num ano a desculpa foi a pandemia, no seguinte foi a designação do Presidente da Comissão Organizadora do Cinquentenário, agora o convite a um Chefe de Estado. Tudo lhes justifica o combate porque o motivo é tão só o 25 de Abril e o que ele trouxe a Portugal e aos Portugueses.

Os valores que cabendo numa única frase preenchem a vida e os sonhos de todo um povo: O Pão, a Paz, Educação, Saúde, Habitação, a Liberdade de Mudar e Decidir e o sonho de que um dia seja dado ao povo o que o povo produzir!

Não lho permitamos. Comecemos hoje as celebrações do cinquentenário da forma como o vivemos no seu dia primeiro, com mil sonhos… e a capacidade de lutar por eles.

VIVA O 25 DE ABRIL!

 

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 12 de abril de 2023

SEMEAR ABRIL

 




SEMEAR ABRIL

Mais que o bonito título que o Grupo de Cantares de Portalegre escolheu para o espectáculo com que nos acolherá no CAEP no Dia da Liberdade para na companhia de João Santos, celebrarmos o 49º aniversário do 25 de Abril é uma necessidade.

Semear, tratar e colher são tarefas bem conhecidas de quantos como nós alentejanos, nascemos e crescemos neste território, bebemos e vivemos a sua ruralidade, brincámos junto aos campos semeados, partilhámos alegrias e cansaços de quantos se afadigavam em trocar a secura das terras em fartas e loiras searas e depois, garantiam a passagem de cada grão de trigo ao pão que alimentou e alimenta as nossas gentes.

É por conhecermos tão bem esse processo e por termos vivido a profunda transformação que Abril permitiu que estamos certos da necessidade, mas também da possibilidade de semear, tratar, colher e distribuir os seus valores e as suas conquistas.

E não vos falo da Revolução e dos sonhos que nos permitiu, nem dos ataques de que foi alvo desde a primeira hora. Muito menos de actos e pessoas que desde a primeira hora conspiraram, boicotaram e mataram para que não pudesse vingar. Não, falo-vos tão só desse dia “ inteiro e limpo” que abriu as portas das prisões, rompeu as mordaças da censura e do medo, trocou as chapeladas pelo voto directo secreto e livre, permitiu a livre associação de pessoas e organizações, descriminalizou o direito à greve e permitiu o início da emancipação da mulher.

Para que entendamos a necessidade de Semear Abril, falar-vos-ei tão só dos direitos, liberdades e garantias vertidas e mantidas na Constituição da Republica Portuguesa. A mesma que ciclicamente os cidadãos investidos no cargo de Presidente da Republica juram defender, cumprir e fazer cumprir… juramento que ciclicamente esquecem no imediato.

E, por isso mesmo, importa Semear Abril.

Semear, colher e disseminar os valores de Abril. Criar e formar cidadãos que intervenham e garantam que se cumpra Abril e a Constituição:

  • Que o direito a habitação, ao trabalho com direitos, à educação, à saúde, à paz não sejam apenas slogans mas sejam efectivados.
  • Que a Regionalização seja cumprida em vez dos “arremedos” anunciados como descentralização mas que de facto apenas descentralizam problemas enquanto centralizam o poder de decidir e os meios para agir.
  • Que o desenvolvimento harmonioso do país se concretize em vez do contínuo acentuar de diferenças entre territórios e populações.

Sejamos capazes de garantir essa seara. Consigamos provar a razão do poeta revolucionário quando escreveu no seu poema “As Portas que Abril Abriu”.

“… e se Abril ficar distante

desta Terra e deste Povo

nós temos força bastante

p’ra fazer um Abril Novo.”

Que viva Abril!

Diogo Serra