GATO ESCALDADO…*
No passado dia 26
foi assinado na nossa cidade um protocolo de
colaboração entre o nosso Município, o Instituto Politécnico de Portalegre e a
Softinsa/IBM que, visa instalar no Bio Bip, um Laboratório especializado em
soluções tecnológicas para as Cidades Inteligentes.
Como portalegrense (por opção) e como autarca empenhado
no desenvolvimento do concelho e na melhoria das condições de vida e de
trabalho de todos os portalegrenses, não deixei de reagir com agrado ao anúncio
da implantação de uma importante unidade, não apenas pelos empregos a criar mas
também por poder vir a transformar-se num importante factor de atracção e
fixação de jovens estudantes e quadros técnicos.
Penso, que terá sido essa a reação da maioria dos
portalegrenses que ainda acreditam no futuro do seu concelho. E no entanto…
No entanto, passados os primeiros momentos de euforia,
não consigo deixar de recordar outros anúncios e outras unidades que, também
eles se nos anunciavam como projectos de futuro e geradores de desenvolvimento
e modernidade e, nunca passaram de expectativas ou que rapidamente se
transformaram em enorme problema.
São campainhas que gritam GAMEINVEST - o nome da empresa
de edição de jogos de computador, sedeada no antigo edifício/sede do Município
e que havia mobilizado a cidade, incluindo as poupanças de alguns pequenos
comerciantes locais.
Campainhas que teimam em trazer-nos à lembrança que, esta
cidade que já foi capital industrial da região e viu encerrar a maioria das
suas unidades industriais, vê agora multiplicarem-se, não as empresas
industriais que necessita mas aquilo que nuestros
hermanos intitulam de semillero
de empresas e que, face à ausência de empresas ou são os semilleros ou são as semilhas
que não são adequados para que a seara dê frutos.
Desta vez pode ser diferente digo-me! Quero agarrar-me a
essa ideia, mas como alicerçar essa vontade?
Porque desta vez para além da Câmara Municipal estarão
também uma multinacional e o nosso IPP. Pois…
Não tenho quaisquer dúvidas sobre o empenhamento, a
vontade e a seriedade de nenhum dos subscritores do protocolo e no entanto, por
mais que o queira vem-me à memória as ilusões e as duras realidades que nos
deixaram as decisões de multinacionais como a Johnson Control´s.
A alegria de ver nascer e os custos de ver morrer uma
outra Semente, a Associação ICTVR - Centro
Internacional de Tecnologias de Realidade Virtual, dita então (como agora) como um instrumento fundamental
para nos garantir o futuro e que resultava também de uma
parceria, entre o município e o politécnico (uma das suas escolas) que
sabemo-lo, dolorosamente nem um nem outro conseguiram evitar.
Que
a minha memória seja apenas e só memória. Que o Laboratório a instalar no Bio
Bip atinja os objectivos anunciados e esperados. Que tal infra-estrutura seja
um factor de atractividade de investimentos e quadros. Que Portalegre volte a
ser um território de futuro e a nossa cultura operária seja entendida com
recurso. Que deixemos de estar confinados face aos ventos de reindustrialização
que parecem soprar por toda a Europa.
Mas
como diz o ditado popular, gato escaldado de água fria tem medo!
Diogo
Júlio Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 9-12-2020
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