Há muitas
manchas na cidade branca!
Portalegre já foi a “cidade
branca”, já foi uma cidade industrial, já foi um local onde era possível
trabalhar e viver. Ostentou (ainda se lhe reconhece o título) a condição de
cidade capital de Distrito. Foi há muitos anos mas os portalegrenses continuam
a fingir que não reparam no seu definhamento.
Durante décadas seguiu o exemplo
(mau) de uma nobreza arruinada que recusa dedicar-se ao trabalho e que continua
a olhar para os que o fazem, como gente menor.
Ora as cidades são sempre o que
os seus cidadãos querem que sejam. Portalegre também.
Cidade de casas brasonadas e de
“terratenientes” que, sempre apostaram num férreo controlo social e nas
“virtudes” da fortaleza fechada a novas gentes e a novas ideias, deixou-se definhar,
deixou-se ultrapassar pelas cidades que a circundam e dominar pelos”
xico-espertos” que aqui assentaram arraiais seja por nascimento, por opção ou
por acaso.
Foi esta postura que a partir da
segunda metade do século passado impôs o definhar da indústria tradicionalmente
aqui instalada e levantou barreiras a outras indústrias que face às
dificuldades foram optando por instala-se nas cidades vizinhas. O medo da
concorrência e a ideia (errada) que industriais e “terratenientes” só
resistiriam se mantivessem os salários baixos foram o cimento para tais
posições.
O receio do diferente, a aversão
ao pagamento justo a quem lhes vendia a força de trabalho, a desconfiança para
com a escola e os seus valores, tiveram sempre presentes nas políticas
municipais que foram ao longo dos anos aplicadas, quase sempre, por
“estrangeiros” ou não o sendo, meros capatazes dos mandantes nacionais.
Nos últimos tempos a cidade e o
concelho optaram por ter na direcção do município um grupo de cidadãos que se
dizia independente e isento dos vícios de que enfermavam os partidos
tradicionais e de onde a maioria saíra em rotura. Nada mudou!
Era uma vez…Uma cidade branca que
tinha na Presidência um “terreteniente” com sonhos altos e baixa competência.
Sonhou com uma Câmara instalada em
edifício nobre e meteu “mãos à obra”. Começou por se libertar de quem habitava
o espaço escolhido sem olhar a meios e a custos.
A Sociedade Euterpe foi para a estrada da
Serra, a EMIVET foi para a rua, a Manufactura de Tapeçarias ganhou um edifício
novinho em folha e à COOPOR (organização que lhe era querida) foi-lhe entregue
uma “pensão vitalícia”. Tudo isto em 2005.
Entretanto o Presidente saiu de
cena, deixando como herança um Protocolo que custou aos portalegrenses até aos
dias de hoje 240.000 euros, a que juntou o ICTVR que nos custou mais uns
milhares e a Fundação Robinson transformada em grupo de amigos e armadilhada
por decisões não fundamentadas, nem assumidas pelo colectivo municipal.
Sucedeu-lhe Adelaide Teixeira que
nas eleições seguintes descobriu (ao que se sabe quando foi preterida como
cabeça de lista) os males que os partidos políticos encerram e constituiu um
grupo de amigos para “salvar” o município.
Passaram-se quinze anos desde o
tal protocolo, nove anos desde que a actual Presidente assumiu a presidência e
sete desde que descobriu que iria purificar as gestões partidárias. A última
assembleia municipal foi confrontada com a decisão tomada pela Câmara de
Adelaide Teixeira, de adquirir (usando as mesmas razões e mecanismos do seu antecessor)
3 garagens por 226 mil euros para oferecer à COOPOR a troco de 167 euros por
mês. Dito de outra maneira, para pôr mais 226 mil em cima dos 240 mil já gastos
pelo Município a favor de uma única empresa da cidade.
Perceberam a diferença entre a
gestão partidária de Mata Cáceres e a gestão “independente” do CLIP e Adelaide
Teixeira?
Mas há diferenças. Na primeira
etapa, a do protocolo assinado, a decisão foi tomada por unanimidade dos
eleitos na câmara (seis do PPD e um PS).Desta vez, mantendo-se a composição da
maioria que o permitiu (Dissidências do PPD renomeados de CLIP e, de novo, o
PS) a unanimidade não foi possível: tiveram a oposição do PPD/PSD e da CDU.
Na Assembleia Municipal a decisão
foi autorizada pela Aliança CLIP/Partido Socialista com a oposição dos eleitos
do PPD/PSD e da CDU.
Moral da história: (sim, todas as
histórias encerram uma moral). Um município que procura justificar a inércia
por falta de receitas, que aumenta aos seus munícipes o preço da água, os
penaliza com o IMI e não abdica da sua parte no IRS. Uma câmara que não limpa,
não conserva, não recupera o seu património, que não é solidária com quem sofre
os efeitos da grave pandemia que nos atinge, que não apoia as nossas
colectividades, nem promove as atividades desportivas e culturais, entrega a
uma única empresa da cidade uma “dádiva” de cerca de meio milhão de euros.
Já não é apenas uma nódoa na cidade Branca é
só uma grande nódoa!
Diogo Júlio Serra
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