quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Há muitas manchas na cidade branca.

 

Há muitas manchas na cidade branca!

Portalegre já foi a “cidade branca”, já foi uma cidade industrial, já foi um local onde era possível trabalhar e viver. Ostentou (ainda se lhe reconhece o título) a condição de cidade capital de Distrito. Foi há muitos anos mas os portalegrenses continuam a fingir que não reparam no seu definhamento.

Durante décadas seguiu o exemplo (mau) de uma nobreza arruinada que recusa dedicar-se ao trabalho e que continua a olhar para os que o fazem, como gente menor.

Ora as cidades são sempre o que os seus cidadãos querem que sejam. Portalegre também.

Cidade de casas brasonadas e de “terratenientes” que, sempre apostaram num férreo controlo social e nas “virtudes” da fortaleza fechada a novas gentes e a novas ideias, deixou-se definhar, deixou-se ultrapassar pelas cidades que a circundam e dominar pelos” xico-espertos” que aqui assentaram arraiais seja por nascimento, por opção ou por acaso.

Foi esta postura que a partir da segunda metade do século passado impôs o definhar da indústria tradicionalmente aqui instalada e levantou barreiras a outras indústrias que face às dificuldades foram optando por instala-se nas cidades vizinhas. O medo da concorrência e a ideia (errada) que industriais e “terratenientes” só resistiriam se mantivessem os salários baixos foram o cimento para tais posições.

O receio do diferente, a aversão ao pagamento justo a quem lhes vendia a força de trabalho, a desconfiança para com a escola e os seus valores, tiveram sempre presentes nas políticas municipais que foram ao longo dos anos aplicadas, quase sempre, por “estrangeiros” ou não o sendo, meros capatazes dos mandantes nacionais.

Nos últimos tempos a cidade e o concelho optaram por ter na direcção do município um grupo de cidadãos que se dizia independente e isento dos vícios de que enfermavam os partidos tradicionais e de onde a maioria saíra em rotura. Nada mudou!

Era uma vez…Uma cidade branca que tinha na Presidência um “terreteniente” com sonhos altos e baixa competência.

Sonhou com uma Câmara instalada em edifício nobre e meteu “mãos à obra”. Começou por se libertar de quem habitava o espaço escolhido sem olhar a meios e a custos.

 A Sociedade Euterpe foi para a estrada da Serra, a EMIVET foi para a rua, a Manufactura de Tapeçarias ganhou um edifício novinho em folha e à COOPOR (organização que lhe era querida) foi-lhe entregue uma “pensão vitalícia”. Tudo isto em 2005.

Entretanto o Presidente saiu de cena, deixando como herança um Protocolo que custou aos portalegrenses até aos dias de hoje 240.000 euros, a que juntou o ICTVR que nos custou mais uns milhares e a Fundação Robinson transformada em grupo de amigos e armadilhada por decisões não fundamentadas, nem assumidas pelo colectivo municipal.

Sucedeu-lhe Adelaide Teixeira que nas eleições seguintes descobriu (ao que se sabe quando foi preterida como cabeça de lista) os males que os partidos políticos encerram e constituiu um grupo de amigos para “salvar” o município.

Passaram-se quinze anos desde o tal protocolo, nove anos desde que a actual Presidente assumiu a presidência e sete desde que descobriu que iria purificar as gestões partidárias. A última assembleia municipal foi confrontada com a decisão tomada pela Câmara de Adelaide Teixeira, de adquirir (usando as mesmas razões e mecanismos do seu antecessor) 3 garagens por 226 mil euros para oferecer à COOPOR a troco de 167 euros por mês. Dito de outra maneira, para pôr mais 226 mil em cima dos 240 mil já gastos pelo Município a favor de uma única empresa da cidade.

Perceberam a diferença entre a gestão partidária de Mata Cáceres e a gestão “independente” do CLIP e Adelaide Teixeira?

Mas há diferenças. Na primeira etapa, a do protocolo assinado, a decisão foi tomada por unanimidade dos eleitos na câmara (seis do PPD e um PS).Desta vez, mantendo-se a composição da maioria que o permitiu (Dissidências do PPD renomeados de CLIP e, de novo, o PS) a unanimidade não foi possível: tiveram a oposição do PPD/PSD e da CDU.

Na Assembleia Municipal a decisão foi autorizada pela Aliança CLIP/Partido Socialista com a oposição dos eleitos do PPD/PSD e da CDU.

Moral da história: (sim, todas as histórias encerram uma moral). Um município que procura justificar a inércia por falta de receitas, que aumenta aos seus munícipes o preço da água, os penaliza com o IMI e não abdica da sua parte no IRS. Uma câmara que não limpa, não conserva, não recupera o seu património, que não é solidária com quem sofre os efeitos da grave pandemia que nos atinge, que não apoia as nossas colectividades, nem promove as atividades desportivas e culturais, entrega a uma única empresa da cidade uma “dádiva” de cerca de meio milhão de euros.

 Já não é apenas uma nódoa na cidade Branca é só uma grande nódoa!

Diogo Júlio Serra


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