São rosas meu senhor…
“E haverá sempre gente de extrema-direita, haverá
sempre o ódio, haverá sempre quem tenha um poster do Hitler em casa. Haverá
sempre nostálgicos da ditadura. Haverá sempre nostálgicos da escravatura. O que
não se pode é dar espaço a essa gente.”
A frase de Teresa Villaverde que
encabeça o seu artigo de opinião publicado no jornal O Público, e a sua oportunidade,
vieram-me à memória ao analisar a “novela” protagonizada pela rapaziada do “tem
avondo” e publicitada por uma rádio local.
Na verdade será praticamente
impossível num curto espaço de tempo, fazer desaparecer os nostálgicos da
ditadura, os nostálgicos da escravatura, os que insistem em cultivar o ódio.
Constatamo-lo diariamente pelos comentários nas redes sociais, no aplauso fácil
aos discursos racistas e xenófobos, nas tentativas de mostrar igual o que é
abissalmente diferente, na tentativa de tornar os vilões em vítimas ou no
mínimo, perante verdadeiros crimes procurarem dizer-nos que criminosos e
vítimas são igualmente culpados.
Quanto a esta realidade não será
difícil concordarmos que, só com anos de instrução, informação e educação conseguiremos
extirpar o medo e o preconceito, do que entendemos como diferente e logo
perigoso. Mas tão ou mais importante que esta constatação é aceitarmos e
agirmos que, como também é dito por Teresa Villaverde, “não se pode é dar espaço a essa gente.” E aqui chegados,
retornemos à “novela”.
A “rapaziada do tem avondo”
mandou colocar em Portalegre um grande painel com a fotografia do rapaz que dá
a cara e papagueia o ódio a partir da Assembleia da República e, quando
passaram ao local para apreciar a “obra” constataram que o mesmo estava
rasgado.
Peritos na utilização do
“megafone mediático” os apoiantes locais, o “caudilho” e as centenas de perfis
inventados, lançaram de imediato uma campanha de vitimização e denúncia da
acção anti democrática dos inimigos do “avondo”, que por medo da “sua” verdade
querem calá-lo. Situação que o megafone local se apressou a garantir, não conseguirão!
Até aqui tudo normal. Como de
costume esta rapaziada costuma defender-se, gritando enquanto foge, “ agarrem
que é ladrão”! O que já poderá não ter sido tão natural assim, foi a rapidez e
a ausência de rigor com que alguma comunicação social local, uma rádio e um
blogger, deram palco à mentira!
Rapaziada do “avondo”, jornalista e blogger, acredito que
com razões diferentes, preferiram o filme da conspiração, à confirmação da “notícia
“e à ponderação necessária.
O epílogo é conhecido. Ainda uns
e outros procuravam atingir as suas audiências já a épica narrativa caía com
mais ruído com que “caíra o cartaz”. Um morador informava ter assistido ao rompimento
do cartaz devido a um golpe de vento que ocorrera. E pronto uma estória tão bem
“contada” e que permitiria chegar ao coração de mais uns quantos “crentes”,
regar democracia com gasolina, um furo jornalístico que iria consolidar o slogan
da mais ouvida, um post destinado a encher o ego de quem o publica,
transforma-os, pelo menos por algum tempo, em motivo de chacota de toda a
comunidade.
Mas seria mau, muito mau, que nos
ficássemos pelo sorriso. Esta “novela” mostrou-nos a verdade que encerra a frase
citada no início do texto:
“O que não se pode é dar espaço
a esta gente”. E dar espaço a esta gente, não é só quando se divulgam as
suas mentiras ou se branqueiam as suas acções. Dar espaço a esta gente é quando
se afirma que são todos iguais os que sabemos serem diferentes, quando se
afirma não haver (as posturas xenófobas e racistas, as manifestações e práticas
nazi-fascistas) o que todos sabemos existir. É também, não conseguir ver a
manifestação do 1º de Maio no centro da cidade e ver, no Atalaião, o que afinal
não existiu!
Diogo J. Serra
(artigo publicado no Jornal do Alto Alentejo de 26-08-2020)
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