domingo, 3 de dezembro de 2017

É PRECISO PASSAR DAS PALAVRAS Á ACÇÃO!*

No próximo dia 17 de Dezembro assinalar-se-ão 18 anos da Resolução 54/134, instrumento com o qual a Assembleia Geral das Nações Unidas designou o dia 25 de Novembro (dia em que no ano de1960, as três irmãs Mirabal, activistas políticas na República Dominicana foram assassinadas pelo regime ditatorial de Rafael Trujillo) como o “Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres”.

Dezoito anos após a resolução das Nações Unidas a realidade continua a ser preocupante. As estatísticas alarmam, mas o cenário é ainda mais perturbador pelo facto de quase metade dos casos nunca serem relatados.

Segundo confirmou esta semana o Instituto Europeu para a Igualdade de Género as situações de violência doméstica identificadas são «apenas uma fracção da realidade».

Os dados revelam que quase uma em cada duas mulheres (47%) que sofreu violência nunca disse a ninguém, «seja à polícia, serviços de saúde, um amigo, vizinho ou colega». Por sua vez, a directora do instituto admitiu que a violência exercida sobre as mulheres «é tanto uma causa como uma consequência da desigualdade de género».

As vítimas de violência doméstica, seja ela física, psicológica, emocional ou sexual, provêm de diferentes classes sociais e apresentam várias idades. Apesar de não existir um padrão, quer dos agressores quer das vítimas, a dificuldade em assumir e denunciar a violência está muitas vezes ligada a preconceitos sociais, ameaças à integridade física e dependência financeira.

No nosso país, assistimos hoje a várias tentativas de naturalização de expressões da violência contra as mulheres, no trabalho e na vida.

No primeiro caso, através da manutenção do elevado nível de desemprego e de novos riscos de perda de postos de trabalho, pela continuidade das discriminações salariais e desvalorização das actividades profissionais e das qualificações das mulheres.

No segundo caso, com a generalização de acórdãos impregnados de preconceitos e estereótipos que tendem a reduzir a mulher a um papel subalterno com desvalorização do drama da violência doméstica (que já vitimou dezenas de mulheres em Portugal neste ano de 2017) ou ainda pelas tentativas de legitimar a exploração, violência e mercantilização do corpo da mulher, através da legalização ou regulamentação do negócio da prostituição.

A vida já demonstrou que não se combate a violência contra as mulheres sem promover a sua emancipação e igualdade no trabalho e na vida. Não se combate a violência contra as mulheres, quando, ao mesmo tempo, se promovem a precariedade e a insegurança no emprego.

Se, como afirmou recentemente a comissária Europeia, responsável pela Justiça, Consumidores e Igualdade de Género e com que concordamos, “ a independência económica das mulheres é a sua melhor protecção contra a violência” a valorização do trabalho e dos trabalhadores e trabalhadoras, significa atribuir conteúdo concreto e dar combate, a sério, às causa e origens da violência contra as mulheres.

No momento em que vimos, ouvimos e lemos as posições de governantes e patrões a condenarem e bem a violência doméstica, é tempo de passar das palavras aos actos e garantir a mulheres e homens a valorização do seu trabalho e a atribuição de salários justos que lhes permitam viver com dignidade.

Seria, certamente, um bom contributo para a eliminação da violência contra as mulheres.


Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 29-11-2017

terça-feira, 28 de novembro de 2017




SALVEM A ROBINSON. SALVEMOS O FUTURO!*

     Os promotores Petição nº 267/XIII/2ª Salvem a Robinson têm hoje, no dia em que o Fonte Nova chega às nossas mãos, um dos seus pontos altos.
     A 28 de Novembro, pelas 15 horas, a Assembleia da Republica debaterá a petição subscrita por mais de quatro mil portalegrenses, entre os quais me incluo, e debaterá igualmente o projeto de resolução apresentado pelo PEV que recomenda ao Governo que salve e valorize o património industrial corticeiro da Fábrica Robinson em Portalegre.
      Espero que esta data marque o início dum segundo fôlego para a Robinson. Não como o baluarte operário e corticeiro de Portalegre, as mesmas águas dum rio não passam duas vezes a mesma ponte, mas como espaço de memória e alavanca de desenvolvimento da cidade e do concelho.
  Defendo há muito que o Espaço Robinson onde a fábrica se insere deve alavancar o desenvolvimento que ambicionamos, transformando a sua cultura industrial na indústria da cultura que pode e deve ser.
        Os cerca de 7 ha no centro da cidade e a ligarem a Serra ao Centro Histórico, com a presença de uma fábrica centenária mas em funcionamento até há muito pouco tempo, mantendo todas as infraestruturas físicas de pé (por quanto mais tempo?), com uma ligação profunda à cidade e tendo vivos (felizmente) um número significativo dos operários e técnicos que a mantiveram em funcionamento no início do século, fazem da velhinha Robinson um repositório de memórias e de saberes, capaz de garantir a atratividade de gente e de investimentos que este território precisa.
     Quer através da musealização da fábrica, quer pela concentração no espaço Robinson das associações culturais, da instalação de empresas criativas e de centros de saber a Robinson pode muito bem ser “o nosso Alqueva”!
         Foi com esse objetivo que, recordemos, foi criada a Fundação que herdou o seu espólio e o seu nome.
     Como todos sabemos, tal desiderato não foi atingido. A sujeição quase total às políticas municipais (ou à falta delas), a dependência económica de um município afogado em dívidas, o ter-se visto envolvida, desde as primeiras horas, em arma de arremesso nas lutas político-partidárias, impuseram que a Fundação fosse, nos primeiros tempos, instrumento de captação de financiamentos comunitários e, por fim, quando o município não conseguia sequer garantir a componente nacional desses financiamentos, assumir-se como corpo odiado condenado a servir de desculpa para “todas as maldades do reino”.
        Talvez ainda estejamos a tempo de retomar o percurso para que foi criada.
       Talvez estejamos em condições de SALVARMOS A ROBINSON e SALVARMO-NOS enquanto território e comunidade!
       Que seja Agora!

Diogo Júlio Serra

 * publicado no Jornal Fonte Nova de 28-11-17

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

PORTALEGRE, Cidade Branca,

     

      Portalegre, cidade branca é para muitos portalegrenses, os menos moços, uma imagem de tempos idos. Os mais jovens não têm sequer a menor ideia das razões deste título.
     Os últimos tempos, a falta de civismo de muitos e o "desinteresse" da autarquia transformaram a "cidade branca" numa quase lixeira a céu aberto onde a sujidade das ruas, a decadência de muitas construções a falta de manutenção dos contentores e ilhas ecológicas, o cheiro nauseabundo sentido em algumas artérias da cidade competiam para nos colocarem em patamares terceiro-mundistas reforçados pela ausência de manutenção do mobiliário urbano, das zonas verdes e nos parques e jardins da cidade.
     Como estava distante a cidade branca que os vereadores Adriano Capote e Casimiro Menezes mantinham impecavelmente limpa. 
     Mesmo assim e apesar das manifestações de indignação que passaram a invadir as redes sociais tal situação não foi suficiente para derrotar o preconceito e, por isso, as últimas eleições autárquicas continuaram a apostar em soluções diferentes das preconizadas pela candidatura que dava continuidade à acção desses vereadores.
     Todavia, fruto dos resultados eleitorais terem negado as maiorias absolutas e ser necessário garantir a governabilidade do concelho, o vereador eleito pela CDU (a força política que permitira a eleição dos vereadores atrás lembrados), assumiu a responsabilidade (entre outras) de garantir a cada portalegrense e a quem nos visita uma cidade de cara lavada e o direito a usufruirmos os nossos parques e jardins.
     Foi há uma semana mas algumas diferenças já se fazem sentir. As ilhas ecológicas apareceram de cara lavada e com muitas das mazelas (falta de tampas) saradas, alguns espaços verdes, especialmente em algumas das rotundas da cidade começaram a ter a relva aparada e, talvez o principal, os trabalhadores do sector começaram a sentir que agora têm um vereador visível, presente, disponível, motivado e motivador.
     Isto basta? Claro que não!
     Reconstruir a cidade branca passa pela autarquia e as suas politicas ambientais mas passa também por cada um de nós.
     À autarquia compete garantir os meios materiais e as politicas incentivadoras da mudança que todos queremos: colocação e manutenção do mobiliário urbano adequado, trabalhadores suficientes e mobilizados, politicas que estimulem a participação cidadã de cada munícipe. 
     Ao portalegrenses (de nascimento ou de opção) compete que reforcemos um comportamento cívico, que em muitos casos tem andado ausente, e que nos imponha a necessidade de colocar o lixo no lixo, de impedir a destruição do mobilário urbano, de transformar as nossas praças e jardins em espaços de lazer para nós e para os nossos filhos e não, como agora, em depósito de dejectos dos cãezinhos que teimamos em ter nos apartamentos.
     Se todos assumirmos a nossa parte, Portalegre voltará a ser a Cidade Branca!

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Socialismo, um projeto de futuro!


SOCIALISMO, UM PROJECTO DE FUTURO!*
A sete de Novembro deste ano, dia em que o Jornal Alto Alentejo chega às mãos dos seus leitores, cumpre-se o primeiro centenário da Revolução de Outubro – a primeira revolução triunfante, dirigida pela classe operária e seus  aliados e que viria a mudar a face do mundo.
Neste ano de centenário, quando ainda estão bem vivos os acontecimentos que ditaram a derrota do socialismo na União Soviética e no leste da Europa e os efeitos nefastos para os trabalhadores de todo o mundo importa refletir, debater, aprender sobre os erros cometidos mas sobretudo reafirmar a validade do projeto que deu forma e vida ao sonho de libertação que animou gerações de explorados e oprimidos.
Até então o homem explorado e oprimido, quando consciente da sua situação, imaginou e sonhou a sua liberdade, construiu sonhos e revoltas, chegou a assumir a direção da sua vida na Comuna de Paris mas foi na Rússia semifeudal dominada pelo poder autocrático dos czares, com um povo faminto e pouco ilustrado que o “sonho “ se transformou numa revolução vitoriosa apostada em por fim à exploração do homem pelo homem, a Revolução de Outubro.
O seu carácter anticapitalista e antibeligerante granjearam-lhe de imediato uma profunda simpatia entre os trabalhadores de todo o mundo, mas também ódio e o medo por parte dos setores capitalistas e dos seus governos que desde a primeira hora a fustigaram com boicotes, sabotagens, agressões continuadas das potências de então e o estímulo e apoio aos inimigos internos que dariam origem a uma sangrenta guerra civil.
Simpatias e ódios que seriam acentuados quando, cinco anos mais tarde, foi fundada a União das Republicas Socialistas Soviéticas que corporizava o início da tarefa gigantesca de construir uma sociedade nova com os recursos e meios do estado colocados ao serviço do povo.
Um Estado que instaurou o verdadeiro poder popular – os sovietes e num curto espaço de tempo pôs em pratica ou desenvolveu direitos sociais fundamentais, como o foram: direito ao trabalho, proibição do trabalho infantil, jornada máxima de 8 horas de trabalho, férias pagas, igualdade de direitos de homens e mulheres na família, na vida e no trabalho para citar apenas alguns entre muitos, muitos outros. 
A segunda grande guerra e os tacticismo das principais potências que se opunham ao Nazi-fascismo impuseram à jovem Nação a necessidade de durante três anos enfrentar sozinha o monstro nazi e os seus exércitos e depois, foi de novo o heroísmo do povo soviético e do exército vermelho que determinou o curso da guerra e permitiu a derrota do nazi-fascismo.
A Revolução de Outubro não ficou acantonada nas fronteiras. O conhecimento das experiências no país dos sovietes e das medidas tomadas em defesa da classe operária e de todos os trabalhadores suscitaram em todo o mundo o impulso do movimento operário que foram arrancando dos seus governos e classes dominantes direitos até então impensáveis.
Os ventos da Revolução de Outubro chegaram também a Portugal e atingiram um enorme impacto no movimento operário e nas suas organizações e mais tarde a Pátria da Revolução de Outubro seria um apoiante seguro dos trabalhadores e do povo português na sua luta contra o fascismo em Portugal.
O desaparecimento da União Soviética e as derrotas do socialismo tiveram como resultado palpável um grande salto atrás nos direitos e conquistas dos povos, resultado bem à vista quanto, hoje, os rendimentos de 1% da população mundial são iguais à dos restantes 99% ou o imperialismo se arroga o direito de intervir militarmente em qualquer ponto do mundo.
A desagregação da União Soviética e o consequente desequilíbrio de forças a nível mundial permitiu ao capitalismo desenvolver uma intensa ofensiva, que perdura, contra os direitos dos trabalhadores e dos povos mas tal situação não desvaloriza a importância da primeira experiência, conseguida, de uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem e muito menos apaga as grandes realizações e conquistas do povo soviético.
Mais, não altera a natureza exploradora e predadora do capitalismo nem faz esmorecer o sonho e a determinação dos que em todo o mundo lutam por um mundo melhor.
Pessoalmente encontro-me entre os que estão firmemente convencidos de que os trabalhadores ao longo da história da humanidade tomaram o poder por 60 dias, no século XVIII (Comuna de Paris), por 60 anos, no século XX (URSS) haverão de tomá-lo (num tempo que espero próximo) por 60 Séculos e em todo o Planeta!
Com isso continuo a sonhar. Para isso continuarei a contribuir com o que sei e posso.

Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 8-11-2017

terça-feira, 31 de outubro de 2017

O difícil equilíbrio entre o eu e o nós!


O difícil equilíbrio entre o eu e o nós!*
As nossas gentes, ou melhor, aqueles e aquelas que têm lugar marcado nas redes sociais, voltaram a um fervilhar de entusiasmo que pensava eu, só tinha sido possível em período eleitoral.
Desta vez a propósito das licenças (ou a falta delas) para a realização de produções ruidosas na zona histórica da cidade em horário noturno, as redes sociais voltaram a ser o lugar privilegiado para trocar argumentos e, sobretudo, para alguns manterem acesa a chama da contestação ao executivo municipal em nome dum auto proclamado combate à Inércia e pelo direito ao seu conceito de modernidade e bem-estar.
Em causa o não licenciamento de atividades de animação e convívio, na via pública, até de madrugada. Mais concretamente, iniciativas de Bares situados na Praça da Republica, por ocasião da Baja e de uma Tuna do IPP que pretendia igualmente promover uma festa na mesma praça, embora em data diferente.
Para os organizadores dos eventos e para uma certa juventude aguerrida o não licenciamento dessas festas nos moldes pretendidos pelos seus promotores é a “prova provada” de que esta cidade nunca sairá do que chamam o marasmo, da sua aversão à juventude e aos estudantes.
Para a autarquia e para muitos dos moradores daquela zona que vêm de há muito exigindo da autarquia que esta lhes garanta o descanso a que tem direito, trata-se tão só de garantir os direitos dos moradores. O direito ao descanso e à tranquilidade que se deve sobrepor à vontade de quantos entendem legítimo trazer os bares e o seu convívio para fora dos espaços que lhes estão destinados.
Estes interesses já bem difíceis de conciliar tornam ainda a tarefa mais difícil quando na discussão entram com toda a força os posicionamentos político-partidários que estiveram recentemente em confronto e que os resultados eleitorais não conseguiram esbater.
Muito mais que conflito de interesses intergeracional  o que se assiste nas redes sociais é o retomar dos conflitos político-partidários entre os que entendem os resultados eleitorais do passado dia 1 como o legitimar das posições e politicas de quem voltou a vencer e dos que entendem que foi a “burrice duns quantos” um dos candidatos derrotados  apelidava-os de ” gentes da serra “ a impor-nos/lhes mais quatro anos de “Inércia”.
Como sempre a maioria das opiniões, quantas vezes as mais inflamadas, são colocadas pelo coração, sem a análise distanciada do que está em causa e quantas vezes sem sequer terem tomado conhecimento sério e completo do que está verdadeiramente em causa.
Sendo compreensível a frustração dos organizadores e dos jovens e menos jovens que habitualmente participam nesses eventos, tanto mais se já tinham assumido compromissos financeiros na perspetiva de que iriam ver satisfeitas as suas pretensões, não podemos descartar e a autarquia muito menos, a necessidade de garantir aos moradores daquelas zonas da cidade o direito ao descanso e à proteção face aos exageros que em geral acontecem a partir de tais eventos.
Então não há nada a fazer? Claro que há!
Em primeiro lugar importa agilizar o diálogo entre os organizadores e a autarquia para que os primeiros conheçam atempadamente se vão, ou não, poder realizar os eventos com as características e nos lugares para onde haviam sido pensados.
Se os prejuízos dos promotores são devidos ao terem-se adiantado à decisão da autarquia, será um problema da sua responsabilidade. Se pelo contrário só avançaram por falta de resposta atempada ou pela presunção de que iriam ser licenciados então as culpas tem que ser assacadas à autarquia. Mas independentemente destas razões, promotores ou autarquia, têm que dar o primeiro passo na definição de espaços que garantam a qualidade dos eventos e o descanso dos moradores.
Os eventos de rua devem ter lugar em espaços que não colidam com os direitos (nomeadamente ao descanso) dos portalegrenses e os seus promotores devem ter por parte da autarquia as facilidades (nomeadamente logísticas) que garantam o acesso fácil de quantos queiram neles participar.
E não me digam que não há alternativa à Praça da Republica ou outro qualquer local no centro histórico. Todos conhecemos vários espaços com condições para receberem tais eventos!


Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Fonte Nova de 31 de Outubro de 2017

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Um "fofinho" perigoso!?


UM “FOFINHO” PERIGOSO !?
Os incêndios que nos assolaram e as suas nefastas consequências estão ainda bem vivas no imaginário de todos e drasticamente gravadas no coração e na mente de quantos as sentiram no corpo e nos pertences próprios e dos que lhe são próximos.
Em dois momentos, separados por apenas quatro meses, em que às condições climatéricas adversas se aliaram mãos negligentes e/ou criminosas, o país sofreu mais de cem mortes, centenas de feridos e muitos milhares de hectares de terrenos e outros bens totalmente ardidos.
Sou dos que entendem que o Estado falhou na prevenção, no combate e no socorro às populações afectadas. Sou dos primeiros a compreender a aflição dos atingidos, os esforços titânicos de quem combatia o fogo e o desespero e a revolta dos que se sentiam sozinhos num combate tão desigual. Mas essa situação não me permite pactuar com os muitos que não hesitaram em aproveitar a dor dos que os rodeavam para intensificarem os ataques à forma governativa que os afastou do poder.
Quer um PSD à deriva, ainda liderado por personalidades incapazes de perceberem que o seu tempo acabou, quer um CDS liderado por uma “dondoca” incapaz de perceber o país onde vive e as suas próprias responsabilidades na tragédia que se estendia por todo o interior que ela tanto ostracizara, apressaram-se a cavalgar a onda do que pensaram ser o seu momento de vingança.
Com esse espirito de vingança utilizaram tudo o que tinham disponível: os escribas disfarçados de jornalistas, os comentadores que se multiplicam em tudo o que é comunicação social nacional, os correligionários que no terreno “descobriam” suicídios, aviões despenhados (mas não “descobriam” o local onde tinham colocado alguns milhões que os portugueses haviam canalizado para apoio às vitimas) e por fim os mais cândidos dos seus militantes para, escondidos por detrás dos telemóveis, convocarem manifestações silenciosas que a exemplo de outra muito famosa organizada por si em 74, tinham como objetivo último derrubar o governo ou, no mínimo, derrotar a solução que o mantém.
Nada disso, confesso, me surpreendeu.
Surpreendido fiquei com a postura assumida pelo Presidente da Republica e com a decisão tomada de antecipar-se à reunião extraordinária já agendada pelo governo para, a partir dum concelho “queimado” e rodeado de vítimas dos incêndios, disparar sob o governo com armamento pesado.
Disse inverdades ou sugeriu medidas incorretas? Claro que não!
Então porquê a minha surpresa? Simplesmente porque as medidas decididas pelo governo no passado sábado são, como o próprio o confirmou, corretas e de acordo com o que ele entende como necessárias.
Tratava-se tão só de garantir a demissão da ministra como era reclamado pela direita? Mas ele não conhecia que a sua manutenção estava a prazo?
 Era tudo o resto que o governo veio depois a decidir? Mas alguém acredita que não conhecia os documentos que iriam ser levados a Conselho de Ministros?
Eu não acredito!
Restam-me duas opções. Marcelo fez o que fez para se afirmar sozinho o único político simpático e bom e continuar o seu percurso de rei das selfies e dos beijinhos? Ou “arrumado” Passos Coelho (que recorde-se não o queria na Presidência da Republica) entende que é o tempo de se assumir como oposição ao governo e à solução politica que o garante?
Em suma, vamos ter o Marcelo “fofinho” ou um continuador do Cavaco mas muito mais inteligente e interventivo e portanto …muito “perigoso” para os caminhos alternativos que entendo se estão a construir?
Aguardemos!

Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 25-10-17

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O Fonte Nova cumpre 33 Primaveras.


Parabéns Fonte Nova!
Os jornais, como as pessoas, não escolhem o local para nascerem.
No que às pessoas diz respeito, o local onde se nasce e vive é fundamental para definir a esperança de vida. Aos jornais também.
Porque sabemos (sentimos) isso não poderemos de considerar heroico o acumular de aniversários em pessoas que vivem em regiões onde as condições de vida são paupérrimas ou, os jornais e revistas que nasceram e vivem pelo nosso interior e em particular no nosso distrito e cidade.
E tudo isto a propósito deste Jornal que nascido a 10 de Outubro de 1984 cumpre agora o seu 33º aniversário.
Três décadas não são nada quando comparado com a presença secular dum Diário de Noticias, dum Jornal de Noticiais e outros mais que ultrapassaram o centenário, dir-me-ão os mais atentos” a estas coisas dos jornais”. Mas será assim?
Será que as três décadas e tanto de um Jornal como o Fonte Nova, nascido, escrito e comprado no distrito de Portalegre podem ser medidas apenas pelo passar dos anos? Ou o facto de ter que viver (sobreviver) num território sem gente, sem empresas e, por isso, sem anunciantes e receita publicitária não leva a que cada década de vida possa/deva ser multiplicada por dez?
Sejamos sinceros. Não é a mesma coisa, para as pessoas e para os jornais, viverem em grandes centros do litoral ou (sobre)viverem no interior do país e em particular no interior do interior como é o caso.
Fazer um jornal em Portalegre impõe para além duma elevada dose de romantismo e um pé-de-meia de suporte, a capacidade para lutar contra a escassez publicitária e o “paternalismo” dos poucos que trazem publicidade e a disponibilidade para aceitar. Mas tem mais. Num meio pequeno e fechado como é Portalegre há sempre a dificuldade de aceitar a crítica por mais justa que seja e a tendência para aceitar a sua verdade como a única e inquestionável.
É contra tudo isto que quem persiste em fazer/ter um jornal em Portalegre tem que batalhar. É tudo isto que me leva a dizer que aqui, no interior do interior, um ano de publicação tem que ser multiplicado por dez. Mais, aqui, a mera presença de um órgão de informação é, mais que o acto de resistência já referido, independentemente de estarmos ou não (sempre) de acordo com o seu conteúdo, um grito de afirmação da nossa região.
Que possamos continuar a contar com esse grito!
 Diogo Júlio Serra
Publicado no Fonte Nova de 17-10-2017

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Quo Vadis?




Quo Vadis Portus Alacer?
As eleições autárquicas do passado dia 1 ditaram, para o nosso concelho, a obrigatoriedade dos eleitos mostrarem que não existem contradições entre o “verbo e a ação”. Contados os votos importa agora saber da vontade e disponibilidade de cada força politica em presença para tornar possível o governo do concelho e conduzirem-no no caminho prometido por todos: um concelho mais amigo do ambiente e das suas gentes, um território com a atratividade suficiente para fixar pessoas e trazer investimento gerador de emprego.
O eleitorado portalegrense ao atribuir novo mandato à CLIP mas retirando-lhe a maioria absoluta no Executivo e dando ao PS a maioria na Assembleia Municipal e na União das Freguesias da cidade colocou a todas as forças com representação autárquica a exigência de porem Portalegre à frente dos seus interesses de grupo, por mais legítimos que esses sejam.
Ao imporem a todos que assumam Portalegre Primeiro, os homens e mulheres que foram às urnas mostrar a sua vontade abriram também a todos os partidos e grupos políticos uma nova janela de oportunidades.
Ao negar as maiorias absolutas que cegam os dirigentes e tolhem as vontades (como o último mandato deixou claro), os portalegrenses “da cidade e da serra” impuseram-lhes a obrigatoriedade de com dialogo procurarem as soluções para os nossos problemas que são muitos e graves e conseguirem encontrar caminhos que possam ser percorridos em conjunto ou, pelo menos em maioria.
Contados os votos e conhecida a composição dos órgãos constata-se que a CLIP, no executivo municipal, não pode continuar a ostracizar os outros eleitos. Também o PS, apesar de ter recolhido o maior número de votos para a Assembleia Municipal e para a Assembleia de freguesia da cidade, não poderá copiar as práticas CLIP do anterior mandato.
Não vai ser tarefa fácil tanto mais que as “transferências” verificadas entre os “clubes”, as “elevadas temperaturas” que a disputa eleitoral por vezes atingiu e a recordação dos comportamentos havidos no decorrer do último mandato são mais atreitas a construir diques do que a estabelecer pontes. Mas não é impossível. Em política não há impossíveis!
Portalegre, cidade e concelho, debatem-se com enormes dificuldades, nem todas fruto das governações locais, independentemente dos olhares com que as vemos e cuja solução também não passa, apenas ou sobretudo, pelo poder local independentemente da vontade e capacidade dos seus eleitos.
Se é verdade que as políticas de higiene e limpeza, de animação cultural e lazer, de dar à cidade a possibilidade de usufruir dos seus tesouros arquitetónicos e naturais e aos portalegrenses os meios para dela se apropriarem podem e devem ser implementadas.
Se é certo que importa melhorar as condições de atratividade a quem aqui queira investir (quem já cá está e quem mais consigamos atrair) é importante que todos assumamos que não estamos em condições, o interior não está, de o fazer sozinhos. É fundamental que todos assumamos a necessidade de impor ao poder central um olhar diferente sobre todo o interior definindo uma política nacional de desenvolvimento para o interior que encaminhe para Portalegre investimento, conhecimento e emprego, começando por devolver-nos o muito que nos tirou particularmente serviços públicos e órgãos de decisão e garantindo as infraestruturas que há muito aqui deviam estar: vias de comunicação (IC13; ligação da A23 à A6, passando por Portalegre, transporte ferroviário modernizado e de acesso fácil; o cumprimento das cíclicas promessas de construção do Pisão e condições de acesso às novas estradas da comunicação (NET) de que a esmagadora maioria do distrito se encontra arredada.
O que se exige não é, já o afirmámos, tarefa fácil, mas é essencial para que possamos travar o caminho para o abismo, recuperar o orgulho de viver e trabalhar aqui, garantir aos nossos jovens que vale a pena regressar e, sobretudo, dar a todos e cada um de nós as condições de vida e de trabalho que aspiramos e merecemos.
Aos eleitos exige-se que saibam responder às expetativas de quem os elegeu aos eleitores (mesmo os absentistas), a obrigação de não se alhearem do nosso viver coletivo e da governação do nosso território.
Está nas nossas mãos!
Diogo Júlio Serra

 * publicado no Jornal Alto Alentejo de 11-10-2017

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Vinha em sentido contrário...


A formiga no carreiro vinha em sentido contrário…*

As forças políticas que gostam de se assumir como “principais” andam cada vez mais nervosas.
Quer a CLIP quer o Partido Socialista têm vindo a tornar publicas as suas principais competências: A CLIP, a sua extraordinária capacidade em transformar maiorias absolutas em absolutas minorias e o PS local a sua notável habilidade para transformar vitórias “quase certas” em humilhantes derrotas.
A última demonstração foi-nos dada nas páginas do Alto Alentejo nas duas últimas edições.
Primeiro foi um ex-presidente da Assembleia Municipal eleito pelo PSD, marido da atual Presidente de Câmara a vir a terreiro, utilizando uma metáfora que já um anterior ministro das suas cores utilizara para tentar convencer-nos (baseada nas mesmas “verdades” e com os mesmos resultados de agora) que eles no poder são as formiguinhas e a oposição as cigarras madraças e, no caso de Portalegre este é um concelho maravilha que mais ninguém senão eles, conseguem ver.
Na última semana foi a vez do responsável máximo pelo PS de Portalegre, reclamar a condição de formiguinha e contar-nos a sua versão do Pinóquio do Grilo falante num concelho bem diferente do que a CLIP apregoa.
Fez o que lhe competia fazer enquanto Presidente da Concelhia de Portalegre do Partido que gosta de se afirmar como alternativa para governar Portalegre. Reconheço-lhe, como não podia deixar de ser, toda a legitimidade para o fazer, apesar de constatar que não teve a mesma firmeza (ou será lucidez?), para encontrar entre os socialistas de Portalegre alguém com competências e vontade para se bater pela Presidência do nosso concelho.
Compreendo até a necessidade que teve em incluir no último parágrafo do seu escrito uma afirmação que sabe ser mentira mas que a necessidade lhe impõe: tentar colar a CDU à política desastrosa da maioria (agora minoria) CLIP e que colocou a cidade e o concelho nos patamares atuais, mas não deixarei de lhe lembrar utilizando uma canção do Zeca, que a ser formiguinha, está em sentido contrário e lembrar-lhe que a formiguinha da canção caiu ao Tejo, caiu ao Tejo ao pé de um septuagenário!
É público que integro a candidatura CDU e todos compreenderão que é com o olhar de quem se posiciona nesta área que vejo quer as diferentes propostas e equipas em “competição” quer a obra que realizaram ao longo das mais de quatro décadas de vivência democrática na cidade e no concelho, mas é na certeza que são os cada vez mais portalegrenses que comungam deste olhar que estão a pôr tão nervosos os outros intervenientes nestas eleições.
E deixem que vos diga. Têm muitas razões para tal nervosismo.
Até dia dois de outubro! Nós, os da CDU e alguns outros candidatos (poucos) continuaremos cá a afirmar os nossos desejos e vontades. Os outros…possivelmente já terão regressado às suas “casas”!
Diogo Júlio Serra

 * publicado no Jornal do Alto Alentejo de 26-09-17

domingo, 23 de julho de 2017

Um território sem projecto é um território sem futuro.

Um território sem projecto
É um território sem futuro!


     Os lagóias vão ser chamados, de novo, a escolherem as equipas que deverão "tratar" da coisa pública nos próximos quatro anos.
     Pelo "estado a que isto chegou" constata-se facilmente que não têm sido muito competentes. Vejamos se desta vez vai ser diferente.
     Quatro décadas de governação dos partidos que integram o "centrão de interesses", (PS/PPD/CDS) e nos últimos quatro anos por um Movimento onde estavam todos, colocaram-nos na actual situação: um concelho em acelerado processo de despovoamento, uma cidade que agoniza sem actividade económica, sem gente, sem emprego e sem projecto.
     Desta vez vai ser diferente? Esperemos que sim mas os sinais deixados pelas forças politicas que nos têm empurrado para a situação em que estamos, não o fazem prever.
     Não se compreende que num concelho paralisado com o argumento  de penúria financeira, PS e PPD, os principais responsáveis pelo estado a que isto chegou, nos agridam agora com campanhas propagandisticas tão agressivas e caras que nem a reconhecida necessidade de nos "venderem" os presidentes em exercício noutros concelhos" pode justificar.
     O Movimento que há quatro anos conseguiu unir a uns quantos independentes os desavindos dos partidos do centrão e que ao longo do mandato foi desunindo, aparece agora, num esforço final para travar o inevitável, agitar-nos uns "trocados" necessários ao "encher o olho" aos mais incautos.
     As restantes candidaturas por necessidade ou por opção optaram por campanhas menos despesistas mas ainda assim, porque são diferentes os objectivos pretendidos, com posicionamentos bem diferentes. Bloco e CDS apresentam-se para preencher espaço, O primeiro para afirmar que ainda existe e o segundo para reduzir espaço ao seu ainda parceiro de coligação em Portalegre.
     A CDU, que nas eleições anteriores foi uma das três forças politicas a eleger vereadores e foi de facto, a única força de oposição aos desvarios da CLIP, apresenta-se agora como alternativa de poder.
Apesar de não entrar em desvarios despesistas, aposta no trabalhos desenvolvido pelos seus autarcas, no facto de todos eles e elas serem Portalegrenses, porque aqui nasceram, porque aqui trabalham e residem há muitos anos, na certeza de que querem e podem fazer melhor.
     Os dados estão lançados. Falta saber se a comunidade lagóia consegue, desta vez, esquecer o preconceito, escolher com competência colocando Portalegre Primeiro.




quinta-feira, 13 de julho de 2017

Empobrecer a trabalhar


Empobrecer a trabalhar!*
Os números do desemprego têm vindo a descer significativamente nos últimos meses, também no nosso distrito.
Tal fica a dever-se à conjugação de dois fatores distintos: a perda acelerada de residentes, na sua maioria em idade ativa e a criação de algum emprego nas cidades do distrito, fruto das melhorias verificadas na nossa economia.
A presidente do nosso município afirmava recentemente ser Portalegre o concelho do distrito onde o emprego mais cresceu.
Será assim! O problema é que o emprego criado, no concelho e no distrito, é no fundamental precário, de curto prazo e muito mal pago.
Nas unidades industriais onde esse crescimento se tem feito sentir, o recrutamento é feito através de empresas alugadoras de mão-de-obra e como é de calcular, uma parte significativa dos custos do trabalho são absorvidos não pelos trabalhadores mas pela empresa que ali os coloca.
No setor dos serviços, em particular no turismo, o emprego criado não só não acompanha o crescimento verificado no setor como se usa e abusa do recurso ao trabalho a prazo, precário e muito mal pago e o mesmo se passa em setores onde se verificam manifestas carências de emprego mas essas carências são supridas por contratação a conta-gotas ou pelo recurso à contratação a prazo e à mão de obra desempregada.
No nosso distrito, profundamente envelhecido, à situação dos trabalhadores em idade ativa acresce a dramática condição de quem está reformado e estes são a maioria da nossa população.
Estas situações, apesar das tímidas baixas verificada no desemprego registado, obrigam a generalidade das famílias a sobreviverem com rendimentos baixíssimos que estimam-se com uma média que não ultrapassa os 300 euros per capita.
Tal significa que uma franja muito significativa da população trabalhadora empobrece mesmo a trabalhar, ou tendo trabalhado toda uma vida. Uma situação que não pode deixar-nos indiferentes. Uma “vergonha” que nos impõe não apenas que a reconheçamos, mas possamos agir para a alterar.
Porque continuamos assim?
O barómetro recentemente divulgado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas (CES/UC) confirma o que os dados do Instituto Nacional de Estatística e outras fontes já vinham apontando: a recuperação do emprego está a ser feita com uma maior generalização da precariedade.
Do universo de contratos em vigor e que foram assinados depois de Novembro de 2013, mais de metade são precários – a termo certo (45%) ou a termo incerto (18,4%). O trabalho temporário representa 7,1% dos 1,146 milhões de contratos em vigor analisados. O restante corresponde a vários tipos de contratos precários e, uma parcela marginal, a trabalhadores contratados sem termo a tempo parcial.
Os dados sobre as remunerações mostram ainda que os salários dos trabalhadores com contratos precários são, em média, de 600 euros – um valor que se aproxima ainda mais do salário mínimo nacional quando se trata de trabalho temporário e que denuncia a tendência para que o salário mínimo se torne a norma em vez da exceção. Isto é tanto mais grave na nossa região onde a quase totalidade da contratação efetuada o foi através dos contratos a termo e no fundamental com recurso às empresas alugadoras de mão-de-obra.
O bloqueio da contratação coletiva tornado realidade pela ação conjugada do patronato, do governo e das entidades criadas para os assessorarem, tem imposto no país e em particular na nossa região o empobrecimento contínuo de quem trabalha, o envelhecimento e despovoamento acelerados.
Por tudo isto a razão das ações e lutas dos trabalhadores e em particular as manifestações de 3 de Junho promovidas pela CGTP-IN e que tiveram uma significativa participação dos trabalhadores do distrito mas que a opinião pública local ostensivamente ignorou ou, pior, quis transformar numa polémica a forma como as estruturas sindicais locais promoveram a sua divulgação.
Neste caso houve gente que viu a árvore e não viu a floresta enquanto “outros com melhor vista” viam a floresta mas quiseram ocultá-la.
Critérios…
Diogo Júlio Serra

 * publicado no Jornal Alto Alentejo de 12-07-2017

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Pelo direito de viver e trabalhar no Norte Alentejano. 42 anos depois, a luta continua!

Pelo direito de viver e trabalhar no Norte Alentejano.
42 anos depois, a luta continua!*

Quarenta e dois anos após o seu nascimento (cumprem-se no dia em que este número do Fonte Nova chega às bancas), a maior e mais representativa organização social do distrito, continua viva, forte e atuante para alegria dos trabalhadores que representa e desespero de quantos desde há muito sonham com o seu desaparecimento.
A União dos Sindicatos nascida “formalmente” a 4 de Julho de 1975 era desde 25 de Abril de 74, a coordenadora da ação sindical no distrito, responsável pela reconquista dos sindicatos e expulsão dos serventuários do corporativismo que desde os anos 30/40 do século XX haviam tomada de assalto as associações de classe.
Havia sido assim com a reconquista do Sindicato dos Caixeiros e Empregados do Comércio; do Sindicato dos Motoristas e do Sindicato dos Corticeiros e tinha sido também, fruto dessa ação de coordenação que haviam renascido sindicatos em setores que o fascismo não permitia a intervenção dos seus próprios serventuários e, estiveram por isso, desde 1933, proibidos de criar sindicatos: os trabalhadores rurais, os professores, a função pública, central e local.
A partir do seu “nascimento” na praceta, na delegação do Sindicato dos Bancários, a União dos Sindicatos do Distrito de Portalegre assumiu o seu papel de coordenação e direção sindical, estimulando a ação reivindicativa nas empresas e nas ruas, organizando os trabalhadores, apoiando as populações nas suas reivindicações e participando na concretização das principais conquistas da Revolução.
Nos “anos da brasa”, a União procurou dar organização às reivindicações e conquistas laborais e sociais dos trabalhadores: fossem a luta pelos salários, pela saúde, educação e outras e empenhou-se de forma muito ativa na construção de uma Reforma Agrária, primeiro, e depois na resistência às politicas que haveriam de levar à sua destruição.
Quarenta e dois anos passados a União (agora denominada União dos Sindicatos do Norte Alentejano) continua a assumir-se como  “sindicato de proposta e de ação”, como instrumento da luta dos trabalhadores que representa mas também como porta-voz de toda a população no seu legítimo anseio de poder continuar a Viver e Trabalhar no Norte Alentejano.
Independentemente dos olhares com que cada um de nós a vê e em particular como é vista a sua ação a partir dos grupos de interesses em presença (os olhares são diferentes porque diferentes são os interesses dos grupos e, ao contrário do que alguns teimam em afirmar, a luta de classes não morreu) a União dos Sindicatos do Norte Alentejano pode, e deve, comemorar o seu 42º aniversário, orgulhosa do seu percurso e do seu papel nos dias de hoje.
Quarenta e dois anos depois daquela noite em que o António Milheiro, bancário, o António José Ceia dos Reis, corticeiro e o António Mendes Serrano, agrícola, deram por encerrados os trabalhos do plenário extraordinário que discutiu e aprovou os Estatutos da União, esta continua a afirmar-se como instituição indispensável na construção do futuro que queremos e merecemos e orgulha quantos a criaram, a fizeram crescer e a sustentam.
Que continue a ser como é: independente de tudo e de todos exceto dos trabalhadores do distrito, pelo tempo que os trabalhadores e a população do norte alentejano dela precisem!
Portalegre 4 de Julho de 2017

Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Fonte Nova de 4 de Julho de 2017

terça-feira, 20 de junho de 2017


“Viv’o Santo António,
Viv’o S.João,
Viv’o 10 de junho
E a Restauração…”(*)

Portalegre está uma festa!
É assim em cada ano. Os Santos Populares atiçam apetites e trazem à rua muitos e muitas que só amiúde arriscam a saída.
O calor próprio da época impõe também a necessidade de procurar à noite e pelas ruas e largos da cidade a brisa que se escondeu ao longo de cada dia.
Bom, mas este ano há uma razão adicional para nos tirar de casa e nem sequer é só à noite. Este é ano de eleições.
Por essa razão os arraiais populares ganham novos frequentadores. As sardinhas, as bebidas e as mesas mais “expostas”, têm agora clientes (que não fregueses) em maior número e com maior empenho.
As várias candidaturas, já no terreno, afadigam-se para publicitarem o que fizeram ao longo do mandato, para se mostrarem e algumas delas por necessidade acrescida para darem a conhecer os rostos dos/as que entendem ser o melhor que podem oferecer à cidade, ao concelho e às suas gentes.
Ainda bem que assim é!  Portalegre precisa hoje, mais que nunca, do contributo de todos.
A nossa cidade e concelho estão carentes de ideias, de projeto e de ação.
A cidade branca é agora uma quase lixeira a céu aberto fruto da ação (vergonhosa) de muitos dos nossos concidadãos e da inação dos governantes;
A cidade operária é agora uma miragem com o setor corticeiro a persistir nos salários em atraso e na destruição de empregos e os postos de trabalho criados nas outras unidades industriais persistem em manterem-se conhecidos pela precariedade e pelos baixos salários;
A cidade do comércio de proximidade está totalmente destruída arrastando consigo o despovoar do centro histórico e colocando dentro das chamadas grandes superfícies comerciais as sementes da destruição do trabalho valorizado e das relações próximas entre os que compram e os que vendem.
A cidade jardim, das zonas verdes e dos lençóis de água foi sendo assassinada pelos “Pólis” e os seus mentores, executantes e zeladores.
A cidade património, em particular o centro histórico, esboroa-se de forma acelerada fruto da incapacidade económica dos proprietários particulares e da ausência de políticas de recuperação e valorização do património construído. A própria autarquia é proprietária de inúmeros edifícios abandonados e em ruínas.
Estas são razões suficientes para aplaudirmos todos o todas, personalidades e instituições, que se disponibilizam para intervir na “coisa pública”. Mas as necessidades que registamos não devem tolher-nos a razão.
Uma coisa é a disponibilização de saberes e de vontades para administrar a “coisa pública” outra, bem diferente é o “chico-espertismo dos “valentins” e “isaltinos” que também por aqui existem e esperam prosperar.
Que estamos a ser invadidos por para-quedistas, gritam alguns. E onde é que está o mal? Pergunto eu que até defendo que ninguém deveria poder candidatar-se a um cargo do poder local se não residisse há pelo menos um ano no concelho em que se candidata.
O mal não está no local onde os candidatos nasceram, exerceram a sua atividade e residem. O mal está em alguns quererem vir fazer de nós, os que aqui nascemos, construirmos a nossa família, trabalhamos e resi(sti)dimos, parvos, cegos e mudos.
E se é verdade que  algumas forças politicas (por não descobrirem no seu seio portalegrenses com capacidade, disponibilidade e vontade de defenderem o seu projeto politico?) nos apresentam como candidatos, autarcas eleitos (ainda em funções) em concelhos limítrofes, é um problema dessas instituições.
Problema nosso é quando algum candidato utiliza o cargo que ainda ostenta para propagandear as suas virtudes. Esse sim já é problema nosso, porque se trata de publicidade enganosa, de concorrência desleal entre as partes e sobretudo, de utilização indevida de fundos públicos.

Entretanto que a continue(m) a(s) festa(s)e que independentemente de cada olhar coloquemos sempre, Portalegre primeiro|

Diogo Serra
Deputado Municipal.
(*) publicado no Jornal Fonte Nova de 
20-06-17


quarta-feira, 31 de maio de 2017

A Justiça não se agradece mas...regista-se!





A JUSTIÇA NÃO SE AGRADECE MAS...REGISTA-SE!*

O Município de Portalegre atribuiu este ano a Medalha de Mérito Municipal, grau ouro, a uma das mais emblemáticas instituições do nosso concelho, a Cooperativa Operária Portalegrense, reconhecendo assim o papel daquela “casa” na construção da “Portalegre Operária” e do papel que desempenhou ao longo dos seus 119 anos de vida.
Tratou-se de uma decisão que reconhece o trabalho desenvolvido desde os finais da monarquia até aos dias de hoje e a importância politica, económica e social que assumiu em diferentes períodos da nossa história e, também por isso, é uma decisão que enobrece quem a propôs e aprovou.
A atribuição desta distinção é a homenagem devida aos 41 trabalhadores da Corticeira Robinson que a fundaram e aos milhares de outros que ao longo da sua secular existência a mantiveram nos lugares cimeiros da intervenção cívica na cidade e no concelho.
A Cooperativa Operária Portalegrense mantém a sua matriz mas, como a cidade e o concelho, foi alterando a sua intervenção.
Criada como resposta à cíclica e grave escassez e carestia do pão, rapidamente se afirmou no plano económico e, sobretudo, como instrumento de intervenção politico-sindical e baluarte do republicanismo emergente.
Numa altura em que Portalegre era um importante baluarte operário a Cooperativa Operária, a sua loja, a sua escola e os seus salões eram o porto seguro da acção político-social e em particular do republicanismo e do sindicalismo.
Hoje a situação da Cooperativa é diferente, como diferentes são a situação do concelho e da cidade.
A Portalegre operária é apenas uma recordação e as principais “ofertas” da Cooperativa em espaços e serviços perderam a importância de outros tempos. O aparecimento das grandes superfícies comerciais e os novos hábitos de consumo impuseram o fim da “Loja da Cooperativa” e tornaram desnecessários os serviços de cozinha e salão de festas então fundamentais para a realização dos casamentos e baptizados dos operários da cidade.
A Cooperativa evoluiu como a cidade. Hoje está diferente quanto aos objectivos e à sua intervenção. Hoje a aposta é na cultura e na solidariedade.
Tive a honra de integrar a delegação que em nome da Cooperativa recebeu a distinção perante a aprovação de uma sala apinhada de portalegrenses mas é da mais elementar justiça reconhecermos que ali, eramos apenas os representantes legais dos operários que a fundaram, dos muitos e muitas que a fizeram crescer e perdurar e, no que aos tempos mais próximos diz respeito, dos que a mantiveram de pé quando as enormes carências económicas e humanas ameaçavam seriamente a sua continuidade.
Ali, perante a sala de festas dos portalegrenses a abarrotar, eu e Alexandra Janeiro éramos apenas a imagem e a voz  dos muitos outros que contra ventos e marés impediram o seu encerramento.
Ali, connosco, estavam também o Fausto Janeiro, o Júlio Pires, O Hélio Pereira, o Manuel Braga, o Constantino Cortes, o Josué Damião.
Que consigamos, cooperantes e cidade, a mantê-la viva e actuante!
Diogo Serra 
*Publicado no Jornal Alto Alentejo de 31-05-2017

terça-feira, 30 de maio de 2017

Critério Editorial?



Critério Editorial?

     Tenho um enorme apreço pelo papel desempenhado pela generalidade da comunicação social e conheço alguns dos muitos escolhos com que se debate.
     O mesmo apreço e respeito dedico aos profissionais da comunicação social e em particular aos jornalistas.
     Estes sentimentos não nasceram de “geração espontânea”. Entre Dezembro de 73 e Outubro de 74 trabalhei num dos mais conceituados jornais do distrito - o semanário a Rabeca – onde, entre outras tarefas, garantia o transporte de textos e fotos à inspeção do censor.
     Nas minhas idas quase diárias à sede Distrital de Legião ou à residência do censor e nos cortes e proibições com que voltava à Rabeca conheci quer as dificuldades levantadas a quem teimava em ser vertical, quer o medo que os meios de comunicação sérios impunham/impõem aos poderes estabelecidos.
      Mais tarde, enquanto vereador no município de Arronches, dirigi o Boletim Municipal que à altura se assumia como o jornal que Arronches não tinha e que pela sua atuação recebia loas e prémios mas, também, pressões e incompreensões que partiam do próprio executivo municipal.
     Essas experiências ajudaram-me a consolidar os sentimentos, que mantenho, de que a comunicação social livre e independente é fundamental para o vivenciar da cidadania.
     Colocadas estas afirmações que partilho com a generalidade dos meus concidadãos quero agora colocar-vos algumas reflexões que, não duvido, já não deverão merecer o mesmo consenso.
     Trata-se dos “critérios” utilizados por alguns órgãos de comunicação para divulgarem ou omitirem atividades e opções de grupos e pessoas e que teimam em esconder por detrás daquilo que chamam de “Critério Editorial”.
     Trata-se, não tenhamos medo das palavras, de tentativas de manipulação da realidade e é prática corrente nos meios de comunicação de grande tiragem que não de referência como gostam de se auto titular.
     Todos sabemos que esses meios de comunicação social são hoje propriedade de grandes grupos económicos que os veem como instrumento de controlo social e manutenção dos privilégios, que entre o corpo de comentadores proliferam os “avençados”  aos interesses da classe dominante e em muitas redações cresce o número de estagiários e precários que diariamente são obrigados a optarem entre a independência e o emprego.
     Os jornalistas sabem-no também apesar do corporativismo existente no sector os “obrigar”, muitas vezes sem analisarem as razões, a reagirem em bloco a quaisquer críticas formuladas.
     Nos meios de comunicação de grande tiragem é um pouco assim. E na comunicação social regional, em particular na nossa cidade e região é igual?
     Claro que não. Aqui são quase sempre, o proprietário, uma rede maior ou menor de colaboradores e um ou outro jornalista, quem exerce todas as tarefas necessárias à saída do jornal. Aqui não existem “avençados” aos grandes interesses mas, ainda assim, não estão imunes às pressões dos diferentes “poderzinhos” em presença.
      Que o tal espirito corporativo também se faz sentir por aqui, não tenho quaisquer dúvidas: veja-se a reação que mereceram algumas linhas de lamento/censura que publiquei no sítio que mantenho nas redes sociais.
     Que há tratamento desigual no que respeita à divulgação ou ocultação das atividades que se desenvolvem na região ou onde os norte-alentejanos participam também julgo não existirem dúvidas.  Então, a questão é saber das razões.
     Critérios jornalísticos, dizem-me! Será?
     Não tenho dúvidas de que estamos numa região onde os anunciantes são poucos e os anunciantes oficiais nacionais fingem desconhecer e onde a baixa densidade populacional não torna apetecíveis investimentos em publicidade. Tal situação impõe, a quem persiste em manter essa atividade na região, que seja a sobrevivência económica a primeira das suas preocupações.
     Não duvido que essa preocupação atinja todos os profissionais (jornalistas incluídos) e que tal preocupação imponha algum “excesso de zelo” e a tentativa de adivinharem o que as chefias e particularmente as empresas e poderes públicos regionais gostarão, ou não que o seu órgão de comunicação publique ou omita.
     Estou certo de que não sou só eu a pensar assim. Possivelmente esta reflexão poderia ser assinada pela generalidade da comunicação social só que, enquanto eu nada tenho a perder com tal sinceridade a generalidade da nossa comunicação social sabe, com saber de experiência feito, que a sobrevivência do “seu” órgão de informação e todos os que dele vivem não será garantida de os poucos anunciantes (empresas e, particularmente, gestores dos serviços desconcentrados do estado e autarcas), não gostarem do que se publica e não publica.
     Como resolver tal dilema sem lhe chamar “nome feio”? Afirmá-lo como critério editorial!


Diogo Júlio Serra
Deputado Municipal

*publicado no jornal fonte nova de 30 de maio de 2017