terça-feira, 31 de outubro de 2017

O difícil equilíbrio entre o eu e o nós!


O difícil equilíbrio entre o eu e o nós!*
As nossas gentes, ou melhor, aqueles e aquelas que têm lugar marcado nas redes sociais, voltaram a um fervilhar de entusiasmo que pensava eu, só tinha sido possível em período eleitoral.
Desta vez a propósito das licenças (ou a falta delas) para a realização de produções ruidosas na zona histórica da cidade em horário noturno, as redes sociais voltaram a ser o lugar privilegiado para trocar argumentos e, sobretudo, para alguns manterem acesa a chama da contestação ao executivo municipal em nome dum auto proclamado combate à Inércia e pelo direito ao seu conceito de modernidade e bem-estar.
Em causa o não licenciamento de atividades de animação e convívio, na via pública, até de madrugada. Mais concretamente, iniciativas de Bares situados na Praça da Republica, por ocasião da Baja e de uma Tuna do IPP que pretendia igualmente promover uma festa na mesma praça, embora em data diferente.
Para os organizadores dos eventos e para uma certa juventude aguerrida o não licenciamento dessas festas nos moldes pretendidos pelos seus promotores é a “prova provada” de que esta cidade nunca sairá do que chamam o marasmo, da sua aversão à juventude e aos estudantes.
Para a autarquia e para muitos dos moradores daquela zona que vêm de há muito exigindo da autarquia que esta lhes garanta o descanso a que tem direito, trata-se tão só de garantir os direitos dos moradores. O direito ao descanso e à tranquilidade que se deve sobrepor à vontade de quantos entendem legítimo trazer os bares e o seu convívio para fora dos espaços que lhes estão destinados.
Estes interesses já bem difíceis de conciliar tornam ainda a tarefa mais difícil quando na discussão entram com toda a força os posicionamentos político-partidários que estiveram recentemente em confronto e que os resultados eleitorais não conseguiram esbater.
Muito mais que conflito de interesses intergeracional  o que se assiste nas redes sociais é o retomar dos conflitos político-partidários entre os que entendem os resultados eleitorais do passado dia 1 como o legitimar das posições e politicas de quem voltou a vencer e dos que entendem que foi a “burrice duns quantos” um dos candidatos derrotados  apelidava-os de ” gentes da serra “ a impor-nos/lhes mais quatro anos de “Inércia”.
Como sempre a maioria das opiniões, quantas vezes as mais inflamadas, são colocadas pelo coração, sem a análise distanciada do que está em causa e quantas vezes sem sequer terem tomado conhecimento sério e completo do que está verdadeiramente em causa.
Sendo compreensível a frustração dos organizadores e dos jovens e menos jovens que habitualmente participam nesses eventos, tanto mais se já tinham assumido compromissos financeiros na perspetiva de que iriam ver satisfeitas as suas pretensões, não podemos descartar e a autarquia muito menos, a necessidade de garantir aos moradores daquelas zonas da cidade o direito ao descanso e à proteção face aos exageros que em geral acontecem a partir de tais eventos.
Então não há nada a fazer? Claro que há!
Em primeiro lugar importa agilizar o diálogo entre os organizadores e a autarquia para que os primeiros conheçam atempadamente se vão, ou não, poder realizar os eventos com as características e nos lugares para onde haviam sido pensados.
Se os prejuízos dos promotores são devidos ao terem-se adiantado à decisão da autarquia, será um problema da sua responsabilidade. Se pelo contrário só avançaram por falta de resposta atempada ou pela presunção de que iriam ser licenciados então as culpas tem que ser assacadas à autarquia. Mas independentemente destas razões, promotores ou autarquia, têm que dar o primeiro passo na definição de espaços que garantam a qualidade dos eventos e o descanso dos moradores.
Os eventos de rua devem ter lugar em espaços que não colidam com os direitos (nomeadamente ao descanso) dos portalegrenses e os seus promotores devem ter por parte da autarquia as facilidades (nomeadamente logísticas) que garantam o acesso fácil de quantos queiram neles participar.
E não me digam que não há alternativa à Praça da Republica ou outro qualquer local no centro histórico. Todos conhecemos vários espaços com condições para receberem tais eventos!


Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Fonte Nova de 31 de Outubro de 2017

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