UM “FOFINHO” PERIGOSO !?
Os incêndios que nos assolaram e as suas
nefastas consequências estão ainda bem vivas no imaginário de todos e
drasticamente gravadas no coração e na mente de quantos as sentiram no corpo e
nos pertences próprios e dos que lhe são próximos.
Em dois momentos, separados por apenas
quatro meses, em que às condições climatéricas adversas se aliaram mãos
negligentes e/ou criminosas, o país sofreu mais de cem mortes, centenas de
feridos e muitos milhares de hectares de terrenos e outros bens totalmente
ardidos.
Sou dos que entendem que o Estado falhou
na prevenção, no combate e no socorro às populações afectadas. Sou dos
primeiros a compreender a aflição dos atingidos, os esforços titânicos de quem combatia
o fogo e o desespero e a revolta dos que se sentiam sozinhos num combate tão
desigual. Mas essa situação não me permite pactuar com os muitos que não
hesitaram em aproveitar a dor dos que os rodeavam para intensificarem os
ataques à forma governativa que os afastou do poder.
Quer um PSD à deriva, ainda liderado por
personalidades incapazes de perceberem que o seu tempo acabou, quer um CDS
liderado por uma “dondoca” incapaz de perceber o país onde vive e as suas
próprias responsabilidades na tragédia que se estendia por todo o interior que
ela tanto ostracizara, apressaram-se a cavalgar a onda do que pensaram ser o
seu momento de vingança.
Com esse espirito de vingança utilizaram
tudo o que tinham disponível: os escribas disfarçados de jornalistas, os
comentadores que se multiplicam em tudo o que é comunicação social nacional, os
correligionários que no terreno “descobriam” suicídios, aviões despenhados (mas
não “descobriam” o local onde tinham colocado alguns milhões que os portugueses
haviam canalizado para apoio às vitimas) e por fim os mais cândidos dos seus
militantes para, escondidos por detrás dos telemóveis, convocarem manifestações
silenciosas que a exemplo de outra muito famosa organizada por si em 74, tinham
como objetivo último derrubar o governo ou, no mínimo, derrotar a solução que o
mantém.
Nada disso, confesso, me surpreendeu.
Surpreendido fiquei com a postura
assumida pelo Presidente da Republica e com a decisão tomada de antecipar-se à
reunião extraordinária já agendada pelo governo para, a partir dum concelho
“queimado” e rodeado de vítimas dos incêndios, disparar sob o governo com
armamento pesado.
Disse inverdades ou sugeriu medidas
incorretas? Claro que não!
Então porquê a minha surpresa?
Simplesmente porque as medidas decididas pelo governo no passado sábado são,
como o próprio o confirmou, corretas e de acordo com o que ele entende como
necessárias.
Tratava-se tão só de garantir a demissão
da ministra como era reclamado pela direita? Mas ele não conhecia que a sua
manutenção estava a prazo?
Era tudo o resto que o governo veio depois a
decidir? Mas alguém acredita que não conhecia os documentos que iriam ser
levados a Conselho de Ministros?
Eu não acredito!
Restam-me duas opções. Marcelo fez o que
fez para se afirmar sozinho o único político simpático e bom e continuar o seu
percurso de rei das selfies e dos beijinhos? Ou “arrumado” Passos Coelho (que
recorde-se não o queria na Presidência da Republica) entende que é o tempo de se
assumir como oposição ao governo e à solução politica que o garante?
Em suma, vamos ter o Marcelo “fofinho”
ou um continuador do Cavaco mas muito mais inteligente e interventivo e
portanto …muito “perigoso” para os caminhos alternativos que entendo se estão a
construir?
Aguardemos!
Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 25-10-17
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