quarta-feira, 31 de maio de 2017

A Justiça não se agradece mas...regista-se!





A JUSTIÇA NÃO SE AGRADECE MAS...REGISTA-SE!*

O Município de Portalegre atribuiu este ano a Medalha de Mérito Municipal, grau ouro, a uma das mais emblemáticas instituições do nosso concelho, a Cooperativa Operária Portalegrense, reconhecendo assim o papel daquela “casa” na construção da “Portalegre Operária” e do papel que desempenhou ao longo dos seus 119 anos de vida.
Tratou-se de uma decisão que reconhece o trabalho desenvolvido desde os finais da monarquia até aos dias de hoje e a importância politica, económica e social que assumiu em diferentes períodos da nossa história e, também por isso, é uma decisão que enobrece quem a propôs e aprovou.
A atribuição desta distinção é a homenagem devida aos 41 trabalhadores da Corticeira Robinson que a fundaram e aos milhares de outros que ao longo da sua secular existência a mantiveram nos lugares cimeiros da intervenção cívica na cidade e no concelho.
A Cooperativa Operária Portalegrense mantém a sua matriz mas, como a cidade e o concelho, foi alterando a sua intervenção.
Criada como resposta à cíclica e grave escassez e carestia do pão, rapidamente se afirmou no plano económico e, sobretudo, como instrumento de intervenção politico-sindical e baluarte do republicanismo emergente.
Numa altura em que Portalegre era um importante baluarte operário a Cooperativa Operária, a sua loja, a sua escola e os seus salões eram o porto seguro da acção político-social e em particular do republicanismo e do sindicalismo.
Hoje a situação da Cooperativa é diferente, como diferentes são a situação do concelho e da cidade.
A Portalegre operária é apenas uma recordação e as principais “ofertas” da Cooperativa em espaços e serviços perderam a importância de outros tempos. O aparecimento das grandes superfícies comerciais e os novos hábitos de consumo impuseram o fim da “Loja da Cooperativa” e tornaram desnecessários os serviços de cozinha e salão de festas então fundamentais para a realização dos casamentos e baptizados dos operários da cidade.
A Cooperativa evoluiu como a cidade. Hoje está diferente quanto aos objectivos e à sua intervenção. Hoje a aposta é na cultura e na solidariedade.
Tive a honra de integrar a delegação que em nome da Cooperativa recebeu a distinção perante a aprovação de uma sala apinhada de portalegrenses mas é da mais elementar justiça reconhecermos que ali, eramos apenas os representantes legais dos operários que a fundaram, dos muitos e muitas que a fizeram crescer e perdurar e, no que aos tempos mais próximos diz respeito, dos que a mantiveram de pé quando as enormes carências económicas e humanas ameaçavam seriamente a sua continuidade.
Ali, perante a sala de festas dos portalegrenses a abarrotar, eu e Alexandra Janeiro éramos apenas a imagem e a voz  dos muitos outros que contra ventos e marés impediram o seu encerramento.
Ali, connosco, estavam também o Fausto Janeiro, o Júlio Pires, O Hélio Pereira, o Manuel Braga, o Constantino Cortes, o Josué Damião.
Que consigamos, cooperantes e cidade, a mantê-la viva e actuante!
Diogo Serra 
*Publicado no Jornal Alto Alentejo de 31-05-2017

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