Critério Editorial?
Tenho um enorme apreço pelo papel
desempenhado pela generalidade da comunicação social e conheço alguns dos
muitos escolhos com que se debate.
O mesmo apreço e respeito dedico aos
profissionais da comunicação social e em particular aos jornalistas.
Estes sentimentos não nasceram de “geração
espontânea”. Entre Dezembro de 73 e Outubro de 74 trabalhei num dos mais
conceituados jornais do distrito - o semanário a Rabeca – onde, entre outras
tarefas, garantia o transporte de textos e fotos à inspeção do censor.
Nas minhas idas quase diárias à sede
Distrital de Legião ou à residência do censor e nos cortes e proibições com que
voltava à Rabeca conheci quer as dificuldades levantadas a quem teimava em ser
vertical, quer o medo que os meios de comunicação sérios impunham/impõem aos
poderes estabelecidos.
Mais tarde, enquanto vereador no
município de Arronches, dirigi o Boletim Municipal que à altura se assumia como
o jornal que Arronches não tinha e que pela sua atuação recebia loas e prémios
mas, também, pressões e incompreensões que partiam do próprio executivo
municipal.
Essas experiências ajudaram-me a
consolidar os sentimentos, que mantenho, de que a comunicação social livre e
independente é fundamental para o vivenciar da cidadania.
Colocadas estas afirmações que partilho
com a generalidade dos meus concidadãos quero agora colocar-vos algumas
reflexões que, não duvido, já não deverão merecer o mesmo consenso.
Trata-se dos “critérios” utilizados por
alguns órgãos de comunicação para divulgarem ou omitirem atividades e opções de
grupos e pessoas e que teimam em esconder por detrás daquilo que chamam de
“Critério Editorial”.
Trata-se, não tenhamos medo das palavras,
de tentativas de manipulação da realidade e é prática corrente nos meios de
comunicação de grande tiragem que não de referência como gostam de se auto
titular.
Todos sabemos que esses meios de
comunicação social são hoje propriedade de grandes grupos económicos que os
veem como instrumento de controlo social e manutenção dos privilégios, que
entre o corpo de comentadores proliferam os “avençados” aos interesses da classe dominante e em
muitas redações cresce o número de estagiários e precários que diariamente são
obrigados a optarem entre a independência e o emprego.
Os jornalistas sabem-no também apesar do
corporativismo existente no sector os “obrigar”, muitas vezes sem analisarem as
razões, a reagirem em bloco a quaisquer críticas formuladas.
Nos meios de comunicação de grande tiragem
é um pouco assim. E na comunicação social regional, em particular na nossa
cidade e região é igual?
Claro que não. Aqui são quase sempre, o
proprietário, uma rede maior ou menor de colaboradores e um ou outro jornalista,
quem exerce todas as tarefas necessárias à saída do jornal. Aqui não existem
“avençados” aos grandes interesses mas, ainda assim, não estão imunes às
pressões dos diferentes “poderzinhos” em presença.
Que o tal espirito corporativo também se
faz sentir por aqui, não tenho quaisquer dúvidas: veja-se a reação que
mereceram algumas linhas de lamento/censura que publiquei no sítio que mantenho
nas redes sociais.
Que há tratamento desigual no que respeita
à divulgação ou ocultação das atividades que se desenvolvem na região ou onde
os norte-alentejanos participam também julgo não existirem dúvidas. Então, a questão é saber das razões.
Critérios jornalísticos, dizem-me! Será?
Não tenho dúvidas de que estamos numa
região onde os anunciantes são poucos e os anunciantes oficiais nacionais
fingem desconhecer e onde a baixa densidade populacional não torna apetecíveis
investimentos em publicidade. Tal situação impõe, a quem persiste em manter
essa atividade na região, que seja a sobrevivência económica a primeira das
suas preocupações.
Não duvido que essa preocupação atinja
todos os profissionais (jornalistas incluídos) e que tal preocupação imponha
algum “excesso de zelo” e a tentativa de adivinharem o que as chefias e
particularmente as empresas e poderes públicos regionais gostarão, ou não que o
seu órgão de comunicação publique ou omita.
Estou certo de que não sou só eu a pensar
assim. Possivelmente esta reflexão poderia ser assinada pela generalidade da
comunicação social só que, enquanto eu nada tenho a perder com tal sinceridade
a generalidade da nossa comunicação social sabe, com saber de experiência
feito, que a sobrevivência do “seu” órgão de informação e todos os que dele
vivem não será garantida de os poucos anunciantes (empresas e, particularmente,
gestores dos serviços desconcentrados do estado e autarcas), não gostarem do
que se publica e não publica.
Como resolver tal dilema sem lhe chamar
“nome feio”? Afirmá-lo como critério editorial!
Diogo
Júlio Serra
Deputado
Municipal
*publicado
no jornal fonte nova de 30 de maio de 2017
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