quarta-feira, 29 de setembro de 2021

45 ANOS DEPOIS...

 


As Primeiras Eleições Livres para as Autarquias Locais*

               Cumprem-se agora, no próximo dia 12 de Dezembro, quarenta e cinco anos das eleições autárquicas de 1976, as segundas eleições livres depois do esmagamento da 1ª Republica. Foram, também em Arronches, o verdadeiro teste à vontade dos cidadãos se envolverem na gestão da coisa publica e também, uma grande afirmação de convivência democrática e de procura de soluções a nível local.

               Com as estruturas salazaristas desmanteladas ou paralisadas pelo medo, sem contar com a presença das antigas organizações republicanas e com as organizações partidárias recentemente formadas e sem experiência político-partidária e as já existentes acabadas de sair da clandestinidade foram os cidadãos e em particular os jovens quem, no nosso concelho e a exemplo do que já fora feito para garantir o recenseamento, meteram mãos à obra e assumiram o esclarecimento indispensável e, quantas vezes, o trabalho burocrático necessário a garantir a apresentação das candidaturas.

As figuras reconhecidamente opositoras ao regime derrubado, na sua maior parte organizadas à volta do Centro Republicano Arronchense e que imediatamente ao 25 de Abril deram corpo à organização concelhia do MDP/CDE já haviam tomado as suas opções partidárias e dividiam-se agora, pelo MDP, pelo PPD e pelo CDS entretanto criados, pelo Partido Socialista, fundado em 1973 e pelo Partido Comunista Português que atravessara a ditadura e recuperava agora muitos dos seus quadros que haviam permanecido no MDP/CDE e nas organizações associativas.

Apresentaram-se a escrutínio 3 forças políticas: A FEPU – Frente Eleitoral Povo Unido, constituída pelo Partido Comunista Português o MDP/CDE e a Frente Socialista Popular, O PS - Partido Socialista Português e o CDS – Centro Democrático e Social. [1]

Estavam inscritos nos cadernos eleitorais 3.440 cidadãos e exerceram o seu direito de voto 2.323 eleitores, (67,55 %). As eleições foram ganhas pelo Partido Socialista que ficou em primeiro lugar para todos os órgãos.

Dos resultados eleitorais sairia o primeiro executivo municipal eleito livremente pelos seus concidadãos cuja composição correspondia aos votos expressos pelos eleitores do concelho:

Miguel Joaquim Lagarto, Pedreiro/Mestre-de-obras, (PS) – Presidente e como vereadores, António Branco Pereira Marouço, Industrial de Moagem (FEPU); Gil da Conceição Palmeiro Romão, Funcionário da Segurança Social (PS); Joaquim Teodoro Carvão Patacas, Comerciante. (CDS) e José Henrique Goucho Marouço, Comerciante (FEPU).

Para a Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia os resultados não foram diferentes pelo que a composição ficou assim ordenada: restantes órgãos a votação e composição foram as seguintes:

Assembleia Municipal

José Francisco Dias, sapateiro (PS), Presidente, António Luís Palmeiro Bigares, comerciante (PS) 1º Secretário, Júlio Fernandes, comerciante (PS), 2º Secretário e os deputados municipais: Artur Américo da Conceição Bastos, funcionário público (FEPU),Manuel Joaquim Charrua Santos, gerente comercial, (FEPU), António Mendes Mota, Eng.º técnico – aposentado (CDS), Arménio José Vieira Grilo, comerciante (CDS) e João Augusto Venâncio Gravito, serralheiro, (PS).

As três Juntas de freguesia do concelho passaram a ser presididas por cidadãos eleitos pelo Partido Socialista e foram constituídas alianças (as primeiras) PS/CDS destinadas a afastarem dos órgãos executivos e de direção os eleitos da FEPU dando os resultados seguintes:

Junta de Freguesia de Assunção

               Luís Dâmaso – Comerciante, PS – Presidente

               José Augusto Germano da Silva – Carpinteiro, CDS – Secretário

               José Francisco Trabuco – Funcionário Corporativo, PS – Tesoureiro.

 

Junta de Freguesia de Esperança                               

António Sena Manuelito – Agricultor, PS – Presidente

João Baptista Duarte – Comerciante, PS – Secretário

Vítor Bengala Nunes – Mecânico, PS - Tesoureiro

 

Junta de Freguesia de Mosteiros

               Manuel Joaquim Caldeira Palma – Padeiro, PS – Presidente

               João António Pereira, Comerciante, PS – Secretário

               João António Rodrigues Marques, PS – Tesoureiro.

 

Quarenta e cinco anos depois já não são muitos os que de entre eles ainda estão entre nós: O Gil Romão, que integrou o primeiro executivo municipal, Charrua Santos e João Gravito eleitos na Assembleia Municipal. O Vitor Nunes e o Manuel Palma que integraram os executivos das suas freguesias estão connosco e são testemunhas do que então vivemos e que importa manter vivo: a enorme capacidade e vontade de eleitores e eleitos em ultrapassaram as inúmeras barreiras que a inexperiência e a debilidade dos meios ao dispor impunham a todos.

Os “papéis” eram na sua maioria policopiados e só alguns, os essenciais eram feito em papel baratinho e apenas a uma cor, na tipografia mais próxima.

Os cartazes eram colados por todo o concelho usando o pincel da caiação e com cola feita a partir da água, da soda caustica e da farinha. As paredes, as de maior visibilidade e facilidade de acesso eram duramente disputadas ma escadas, escadotes e muitas vezes a própria cola eram partilhados por todas as candidaturas.

O “som”- as cornetas transportadas no tejadilho dos carros (quando os havia) distribuíam “berraria” disfarçada de música ou de slogans de campanha e os comícios e sessões de esclarecimento multiplicavam-se por todo os concelho e garantiam, então era assim, sempre casas cheias.

O espirito de ”festa” foi até às urnas de voto. Em cada uma das secções de voto existentes no concelho, escrutinadores e delegados das listas concorrentes, todos voluntários pró-bono, eram mimados com petiscos e bebidas, levados pelos eleitores e que transformavam as salas mais reservadas de cada secção em local de peregrinação para quem garantia as mesas de voto e os que aí iam votar.

Conhecidos os resultados eleitorais, quer a euforia dos vencedores quer a tristeza dos vencidos cedo deu lugar à festa e à celebração de, pela primeira vez, os dirigentes de cada uma das autarquias do concelho serem aqueles que os seus pares livremente haviam escolhidos.

Foi assim, que também aqui, se deitaram as sementes à terra. Sementes que germinaram e que permitiram que este ano, quarenta e cinco anos depois, voltássemos a decidir quem irá dirigir por mais um mandato os órgãos do município.

Diogo Serra
* publicado no Noticias de Arronches

[1] O PPD não apresentou listas mas integrou filiados seus nas listas CDS


Sem comentários: