segunda-feira, 20 de setembro de 2021

MENTIR É SEMPRE MENTIR...

 



MENTIR É SEMPRE MENTIR, MESMO QUE POR OMISSÃO!

Escrevo o presente texto enquanto assisto através das televisões às homenagens fúnebres a Jorge Sampaio. Justíssimas, diga-se. Como o foram as inúmeras intervenções noticiosas que nos foram oferecidas ao longo de todo o fim-de-semana e que só não foram mais intensas porque tiveram que ser repartidas com o assinalar dos vinte anos do ataque terrorista às torres gémeas em Nova Iorque.

Neste fim-de-semana perdemos (em particular os alentejanos e a comunidade escolar) um outro homem bom, o Professor Doutor Manuel Patrício. Este não mereceu quaisquer aberturas de Telejornais e a chamada imprensa nacional ou ainda não tomou conhecimento ou entende não justificar noticia, quem nasceu e morreu em Montargil , neste distrito afastado de tudo e que “ainda” elege dois deputados porque a legislação não permite que se percam mais, mesmo que se trate de uma personalidade que, entre as muitas intervenções foi o Magnífico Reitor da Universidade de Évora e um pedagogo brilhante.

Mas adiante, o que quero reflectir convosco é, de novo, a maneira como se fabricam ou se apagam as notícias, conforme os interesses dos donos disto tudo e também dos órgãos ditos de informação.

Vejamos, todos os grandes meios de comunicação andaram toda a passada semana a assinalar o 11 de Setembro. Foram os registos da época, as entrevistas a testemunhas e as intervenções dos “megafones do costume”.

Quem nasceu no séc. XXI ficará com a ideia de que esse dia do calendário só apareceu em 2001 e no entanto todos sabemos, eles também, e em particular o povo chileno, que em 1973 nesse dia 11 de Março um Golpe Militar fascista capitaneado por um militar indigno e preparado e apoiado pelas forças do “Tio Sam”, assassinou a democracia e os seus representantes e deu inicio a uma sanguinária ditadura fascista.

Voltemos à justíssima homenagem a Jorge Sampaio para que eu possa reafirmar o entendimento que tenho de que perdemos um combatente pela liberdade, um dos fundadores da democracia e um Homem Bom, independentemente dos cargos e responsabilidades que exerceu e que foram desde o seu empenhamento nas lutas estudantis, à defesa jurídica de combatentes pela liberdade, na direcção do PS, na Presidência da Câmara de Lisboa, na Presidência da República ou nos combates cívicos que nunca deixou de travar.

Foi, já o afirmei, uma homenagem e uma informação justamente atribuídas mesmo quando, e disso ele não tem quaisquer culpas, se omite deliberadamente os que foram desde sempre seus companheiros de combate. Nem uma palavra sobre quem eram os presos políticos que defendeu, a sua participação na batalha no próprio dia da Revolução e nos que se lhe seguiram, para que todos os presos políticos fossem libertados, a sua participação no IV Governo Provisório liderado por Vasco Gonçalves e, também, o esconder que em todos as suas vitórias eleitorais os comunistas participaram decisivamente.

Recordemos agora os silêncios que a tal comunicação e os donos dela e de tudo, impuseram com estrondo.

As omissões e esquecimentos quando perdemos muitos dos obreiros da revolução e em particular, aqueles militares que se recusaram a pactuar com os que a descaracterizaram e a deixaram capturar pelo capitalismo reinante. O silêncio revoltante que impõem a muitos heróis da resistência e fundadores da Democracia. O silenciamento votado ao antigo dirigente Comunista Carlos Costa falecido no passado dia 6, herói da resistência ao Estado Fascista, preso e torturado sem nunca abandonar o combate e que, reposta a democracia politica deu um significativo contributo ao país na implementação do poder local democrático.

Não foram merecidas e justas as horas e páginas ocupadas na comunicação falada e escrita para homenagear o ex- Presidente Jorge Sampaio e para honrar as vítimas do atentado terrorista em Nova Iorque? Claro que o foram!

As outras, as horas e páginas não utilizadas para denunciar os atores e mandantes do 11 de Setembro de 73 – no Chile de Allende ou para honrar Carlos Costa ( e os muitos outros “Carlos Costa”) é que foram não apenas  imerecidas e profundamente injustas mas fundamentalmente uma forma de nos mentirem, mesmo que por omissão!

Diogo Júlio Serra


Sem comentários: