MENTIR É SEMPRE MENTIR, MESMO QUE
POR OMISSÃO!
Escrevo o presente texto enquanto
assisto através das televisões às homenagens fúnebres a Jorge Sampaio.
Justíssimas, diga-se. Como o foram as inúmeras intervenções noticiosas que nos
foram oferecidas ao longo de todo o fim-de-semana e que só não foram mais
intensas porque tiveram que ser repartidas com o assinalar dos vinte anos do
ataque terrorista às torres gémeas em Nova Iorque.
Neste fim-de-semana perdemos (em
particular os alentejanos e a comunidade escolar) um outro homem bom, o
Professor Doutor Manuel Patrício. Este não mereceu quaisquer aberturas de
Telejornais e a chamada imprensa nacional ou ainda não tomou conhecimento ou
entende não justificar noticia, quem nasceu e morreu em Montargil , neste
distrito afastado de tudo e que “ainda” elege dois deputados porque a
legislação não permite que se percam mais, mesmo que se trate de uma
personalidade que, entre as muitas intervenções foi o Magnífico Reitor da
Universidade de Évora e um pedagogo brilhante.
Mas adiante, o que quero reflectir
convosco é, de novo, a maneira como se fabricam ou se apagam as notícias,
conforme os interesses dos donos disto tudo e também dos órgãos ditos de informação.
Vejamos, todos os grandes meios
de comunicação andaram toda a passada semana a assinalar o 11 de Setembro.
Foram os registos da época, as entrevistas a testemunhas e as intervenções dos
“megafones do costume”.
Quem nasceu no séc. XXI ficará
com a ideia de que esse dia do calendário só apareceu em 2001 e no entanto
todos sabemos, eles também, e em particular o povo chileno, que em 1973 nesse
dia 11 de Março um Golpe Militar fascista capitaneado por um militar indigno e
preparado e apoiado pelas forças do “Tio Sam”, assassinou a democracia e os
seus representantes e deu inicio a uma sanguinária ditadura fascista.
Voltemos à justíssima homenagem a
Jorge Sampaio para que eu possa reafirmar o entendimento que tenho de que
perdemos um combatente pela liberdade, um dos fundadores da democracia e um
Homem Bom, independentemente dos cargos e responsabilidades que exerceu e que
foram desde o seu empenhamento nas lutas estudantis, à defesa jurídica de
combatentes pela liberdade, na direcção do PS, na Presidência da Câmara de
Lisboa, na Presidência da República ou nos combates cívicos que nunca deixou de
travar.
Foi, já o afirmei, uma homenagem
e uma informação justamente atribuídas mesmo quando, e disso ele não tem
quaisquer culpas, se omite deliberadamente os que foram desde sempre seus
companheiros de combate. Nem uma palavra sobre quem eram os presos políticos
que defendeu, a sua participação na batalha no próprio dia da Revolução e nos
que se lhe seguiram, para que todos os presos políticos fossem libertados, a
sua participação no IV Governo Provisório liderado por Vasco Gonçalves e,
também, o esconder que em todos as suas vitórias eleitorais os comunistas
participaram decisivamente.
Recordemos agora os silêncios que
a tal comunicação e os donos dela e de tudo, impuseram com estrondo.
As omissões e esquecimentos
quando perdemos muitos dos obreiros da revolução e em particular, aqueles
militares que se recusaram a pactuar com os que a descaracterizaram e a
deixaram capturar pelo capitalismo reinante. O silêncio revoltante que impõem a
muitos heróis da resistência e fundadores da Democracia. O silenciamento votado
ao antigo dirigente Comunista Carlos Costa falecido no passado dia 6, herói da
resistência ao Estado Fascista, preso e torturado sem nunca abandonar o combate
e que, reposta a democracia politica deu um significativo contributo ao país na
implementação do poder local democrático.
Não foram merecidas e justas as
horas e páginas ocupadas na comunicação falada e escrita para homenagear o ex-
Presidente Jorge Sampaio e para honrar as vítimas do atentado terrorista em
Nova Iorque? Claro que o foram!
As outras, as horas e páginas não
utilizadas para denunciar os atores e mandantes do 11 de Setembro de 73 – no
Chile de Allende ou para honrar Carlos Costa ( e os muitos outros “Carlos
Costa”) é que foram não apenas
imerecidas e profundamente injustas mas fundamentalmente uma forma de
nos mentirem, mesmo que por omissão!
Diogo Júlio Serra
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