sexta-feira, 15 de novembro de 2024

São diferentes? São iguais?

 São diferentes? São iguais? 

São o Centrão que bem conhecemos!



Em Portugal a pobreza atinge actualmente  mais de dois milhões de pessoas, mesmo que estando a trabalhar. Um em cada 10 trabalhadores é pobre, quase 3 milhões de trabalhadores recebem menos de mil euros por mês e um milhão de reformados e pensionistas recebe menos de 510 euros.

É porque o país não pode, porque não existem recursos suficientes para nos arrancar da pobreza, dizem-nos, mas sabemos que é uma falsidade.

Para o constatarmos basta recordar que apenas no primeiro semestre deste ano os grupos económicos que mandam nos governos e decidem as politicas, obtiveram 32 milhões de euros de lucro por dia.

Em tempo de discussão de Orçamento e depois duma colossal acção de propaganda dos partidos do centrão e de chantagens dos governantes, o Orçamento de Estado (OE) foi aprovado na generalidade e com a declaração, por parte do PS, que permitiria a sua aprovação na especialidade e na votação global.

Possivelmente porque é bom, dizem-nos do governo e dos seus apoiantes. Porque não havia alternativa, argumentam do PS, enquanto a extrema direita ( a "civilizada" e a caceteira) votam contra porque o Orçamento apresentado não vai tão depressa e tão fundo à rapina total dos recursos nem à destruição total do que a Constituição consagra.

Nada mais falso! O OE recentemente discutido e aprovado na generalidade não responde antes agrava aos problemas nacionais, aprofunda as injustiças e desigualdades, ataca os direitos sociais e debilita ainda mais a nossa soberania.

Em vez de atacar o grave probema estrutural, que é o empobrecimento dos trabalhadores e das famílias, este OE oferece milhões e milhões de euros aos grupos económicos, aumente a injustiça fiscal, destina metade do orçamento da Saúde para os grupos privados que fazem da doença negócio e agrava ainda mais os problemas na habitação em benefício dos especuladores e da banca.

Este  OE que o PS decidiu viabilizar é um orçamento  que espalha a propaganda e a ilusão, que acelera e aprofunda os ataques aos direitos sociais a milhões de pessoas em vez de dar resposta às vozes que gritam, muito justamente, que é preciso um firme combate às injustiças, às desigualdades, às discriminações. Um OE que ignora a necessidade de dar combate à ausência de perspectivas e de fuuro, fruto das políticas que negam o direito ao trabalho, a um salário digno, à habitação, à educação, à saúde, à cultura, uma realidade que precisa de resposta.

Quando é cada vez mais claro que o País tem recursos, meios, forças e gente capaz de construir uma vida melhor. Quando é cada vez  mais visível  que é possível e urgente uma distribuição mais justa da riqueza, um País mais justo com melhores salários e melhores pensões, em vez dos baixos salários e das carreiras e profissões desvalorizadas. Que o País precisa do investimento público, precisa de resolver o problema do acesso à habi¬ação, da creche gratuita, do alargamento da rede do pré-escolar, do SNS e da Escola Pública. Torna-se ainda mais visível que  Portugal precisa de combater as privatizações e a corrupção que lhe está associada, assegurar a justiça fiscal, reduzir o IVA para seis por cento na electricidade, telecomunicações, gás natural e de botija. Precisa de apoiar a cultura, a agricultura, as micro, pequenas e médias empresas.

Não é nada disto que o OE nos traz! É rigorosamente o seu contrário o que o Governo PPD/CDS apresenta e o PS viabilizou.

Os trabalhadores e o seu Movimento Sindical de Classe não podem, nem vão baixar os braços. Sabem que é, sempre foi, com a sua luta que o "mundo gira e avança" e não deixarão de fazer bandeira da exigência de justiça, direitos, salários, pensões, acesso à saúde, à educação e à habitação!  

Que assim vai ser já está, hoje, bem visível no facto de vos estar a escrever estas linhas, horas antes de terem início as manifestações convocadas pela CGTP-IN para o Porto e para Lisboa, com as ruas do Porto já inundadas por um mar de gente e com as perspetivas de que também assim será em Lisboa.

É pela luta que lá vamos! Façamos Acontecer!

Diogo Júlio Serra


quinta-feira, 31 de outubro de 2024

POLICIAS (?) SIM, BANDIDOS (?) NÃO!

 

POLICIAS (?) SIM, BANDIDOS (?) NÃO!



Por detrás de uma faixa com esta “palavra de ordem” marcharam no passado dia 26 pelas ruas de Lisboa, algumas dezenas de saudosistas dum passado que morreu, alguns que reconheço como bandidos e, espero, alguns outros que o não sejam de todo.

Tratou-se de uma contra-manifestação convocada pelo partido novo formado pelos do partido velho, que procura aprisionar as forças de segurança e diariamente promove políticas de ódio e de afrontamento à democracia e à Constituição que a consagra. Pretendia confrontar uma outra manifestação anteriormente convocada pelo movimento Vida Justa para pedir justiça face à morte de um cidadão efetivada por um agente da PSP.

Sem querer entrar quer na guerra dos números das manifestações, (a comunicação social falava em muitos milhares na Avenida e em três centenas junto ao Parlamento), quer na absolvição ou condenação do agente que abateu Odair Moniz e cujo inquérito de averiguações foi anunciado, não posso deixar de me surpreender por ter sido autorizado a um grupo de arruaceiros, convocar e realizar uma manifestação para o mesmo dia, hora e local de conclusão para os quais já havia sido convocada uma outra, tanto mais que pelos objetivos de cada uma e pela “dramatização” que a comunicação social vinha anunciando era espectável a ocorrência de confrontos.

Ao que nos é dado saber foi a clarividência do movimento Vida Justa ao decidir alterar o local de termo da sua manifestação quem desmontou a previsibilidade de confrontos e tornou menos difícil o papel das forças de segurança na manutenção da da ordem pública.

Este movimento que sob a bandeira “ Sem Justiça não há paz” mobilizou milhares de pessoas podia, é a minha opinião, transportar também a faixa passeada pelos saudosistas até à escadaria do Parlamento. Na verdade quem ali estava mobilizado para exigir justiça e escrutínio sério aos acontecimentos que levaram a que um cidadão fosse abatido por um agente da PSP poderia perfeitamente ter como palavra de ordem Policias Sim, Bandidos Não!

Eu próprio não hesitaria em pegar nessa faixa tendo apenas que precisar melhor o que para mim significam cada uma das palavras ali registadas.

Vejamos:

“Policias Sim!” Claro. Agentes duma polícia democrática e respeitadora da Constituição, com preparação e meios necessários para garantir a segurança de todos, eles incluídos, sem estarem manietados por preconceitos, sejam ditados pela sua formação ou pelas práticas da instituição onde se inserem.

“Bandidos Não!” Claro que subscrevo. Todos os bandidos estejam onde estiverem, tenham a cor que tiverem, estejam nos bairros superlotados e desprezados das periferias das grandes metrópoles, em intervenções no espaço mediático a exortarem à violência e ao assassínio, ou aboletados por detrás do Pano com que alguns desfilaram entre a Praça do Município e o Parlamento.

Sabemos agora (estou a escrever mais de 24 horas depois do termo de ambas as manifestações) que estas decorreram de forma pacífica e ordeira. Ainda bem. Mas fica a mensagem deixada quer pelos organizadores das manifestações quer pelo poder politico. De responsabilidade (do movimento), de irresponsabilidade (dos organizadores da contra-manifestação) e de “desleixo”? de quem não cuidou de evitar (preventivamente) possíveis confrontos.

Agora é o tempo para que se desenvolvam os inquéritos ao que aconteceu, se apurem responsabilidades e se faça justiça e, mais importante ainda, que se tomem as medidas que permitam a todos os portugueses as condições mínimas necessárias a vivermos com dignidade.

Diogo Júlio Serra

 

 

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Travar o terrorismo é missão de todos nós.

 




Travar o terrorismo é missão de todos nós.


O Terrorismo de Estado é seguramente uma das faces mais hediondas deste método de fazer a guerra.

Ela é tanto maior quanto for a desproporção dos meios entre vítimas e opressores e deve, (deveria) merecer o repúdio e o combate de todos, pessoas, instituições e países independentemente do espaço que ocupam, dos credos e ideologias que professam, das alianças político-militares que integram ou aspiram integrar.

Quem olha para o lado para não ver, quem (pessoas e organizações) consegue medir de forma desigual atrocidades idênticas, quem é cúmplice pelo silêncio ou por ações de apoio material e moral não pode ser tratado de forma diferente dos que materialmente desenvolvem ações terroristas.

O genocídio do povo palestino e o arrasar das suas cidades, monumentos e símbolos, o atear deliberado da guerra em todo o médio oriente e o procurar generalizá-la por todos os continentes é um crime repugnante que deveria merecer uma profunda censura e geral condenação por parte da comunidade internacional.

Não é isso a que assistimos para com o Estado de Israel e os terroristas que o controlam. Não é, também, essa a postura para quantos lhe garantem o “colinho”, lhe fornecem armamento que usam no genocídio dos palestinianos, nas ações terroristas em todo o território que ocupam e no levar da guerra aos países limítrofes sejam o Líbano, a Síria ou o Irão. Bem pelo contrário. O chamado ocidente alargado (nome inventado para dizer Estados Unidos da América e seus satélites) não se limita a olhar para o lado face aos atos ilegais e desumanos de Benjamin Netanyahu e das suas gentes, incentiva, protege e arma mesmo quando face à gravidade dos crimes tem de dizer em publico coisa diferente do que faz.

E é esse “colinho” dado pelo Tio Sam que permite a Israel, ao seu governo e ao seu exército assassinar mulheres e crianças (quase 50 mil em Gaza), na Cisjordânia, no Líbano, na Síria e no Irão, ou, pasme-se atacar militarmente as forças das Nações Unidas e declarar “persona non grata” o seu Secretário-Geral, no caso o nosso conterrâneo António Guterres.

Também aqui, os sempre tão sensíveis apoiantes da “democracia” anichados numa “tal de União Europeia” não vislumbram qualquer ato censurável: quais TPIs, quais mandados de captura internacional, quais sanções ao país e aos seus mandantes? Por maiores e mais hediondos que sejam os crimes praticados não só não há censura como continuam os fornecimentos de armamento usado para o genocídio e o conforto moral nos areópagos internacionais.

Em todo este processo a postura do Estado Português é ilustrativa dos valores que o norteiam e da total subordinação a interesses e ditames que nada tem a ver com o interesse nacional.

Vejamos:

Continua a não reconhecer o Estado da Palestina, não só não condena a postura terrorista de Israel como lhe fornece armamento, continua a apoiar a ocupação da Palestina e o genocídio dos palestinianos.

O Estado português tão lesto a reconhecer os heróis que lhes impõe o imperialismo não tem coragem para levantar um dedo (ou um grito) para apoiar o Secretário-Geral da ONU, cidadão português e ex-primeiro-ministro destratado pelo governo sionista de Israel.

Seria assim se fosse um dirigente russo, ou venezuelano, ou chinês, ou cubano, ou… possivelmente não e não o seria pelas qualidades ou defeitos de cada um. Não o seria porque assim lho teriam ordenado as senhoras von der Leyen ou os Tios Sam deste mundo.

Até quando?

 

 

 

 

 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

SETEMBRO, MÊS DE TODOS OS MALES?

 



Setembro, mês de todos os males?

Quando este meu texto estiver nas mãos dos leitores do “nosso” alto Alentejo já teremos passado quer o equinócio do outono, quer o nono mês do calendário que adoptamos. Terão por isso sido ultrapassadas as muitas datas que anualmente assinalo com tristeza, umas, alegria outras e, até, algumas com um duplo sentimento de dor e alegria.

Permitam-me que exemplifique. Em cada ano setembro começa em alta, para mim e milhares de outros que habitualmente rumam para a Terra dos Sonhos a edificar ou a usufruir a Festa do Avante. Uma festa que é muito mais que uma grande manifestação politica e ideológica do partido que a promove é, como este ano voltou a mostrar, uma festa para todos, todos, todos.

Mas porque a Festa são três dias de imediato se apresentam as datas que nos recordam o que de pior o homem pode ser. Com a chegada do dia 11, dia em que a barbárie se fez sentir em vários pontos do mundo, Em 1973 com o golpe fascista de Pinochet que afogou em sangue o sonho de todo um povo que em redor de Salvador Allende acreditou ser possível construir um Chile de progresso e paz e em 2001 com o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center. Uma e outra destas “efemérides” continuariam a matar muito para além das datas citadas.

E chegou o equinócio de outono arrastando consigo recordações de má memoria para os alentejanos. A 27 de setembro de 1979, no Escoural, dois operários agrícolas, Caravela e Casquinha, eram assassinados a tiro, por uma força da GNR, quando procuravam defender o fruto do seu trabalho, Um crime brutal a mando de um ministro apostado em restabelecer o latifúndio.

Recordo que também a nossa cidade não se alheou da onda de repúdio que este duplo assassinato suscitou. Portalegre assistiu a uma das maiores manifestações aqui realizadas, manifestação em silêncio que partiu do Rossio e terminou frente ao Governo Civil e com os comerciantes a cerrarem as portas à sua passagem como se do verdadeiro funeral se tratasse.

 No dia a seguir no mês mas cinco anos atrás Portugal havia sentido e derrotado uma das primeiras tentativas de Spínola na Presidência da Republica, travar pela força a marcha da Revolução. Era a maioria silenciosa, principescamente paga para colocar o general do monóculo como caudilho de país autocrático que a sua desmedida ambição impunha.

O golpe, mais um, foi derrotado mas num tempo em que alguns procuram reescrever a história transformando heróis em implicados de Abril e terroristas em heróis e democratas importa que recordemos os objetivos dos golpistas encabeçados por Spínola.

·         Organizar até 31 de outubro um referendo destinado à aprovação de um projeto de Constituição provisória e adiar as eleições para novembro de 76

·         Acabar com o MFA – Movimento das Forças Armadas, ficando o Presidente, ele, com o poder supremo das forças armadas.

·         O Presidente da Republica, ele próprio, ficaria com competência de nomear e exonerar livremente o primeiro-ministro e os ministros.

Foram derrotados e a Revolução pode continuar e, também por isso, o 28 de setembro é para mim, em cada ano, assinalado com um misto de tristeza e alegria. Tristeza por não terem, os vencedores, sabido aprofundar essa vitória. Alegria por ter sido possível travar mais essa tentativa golpista e por eu próprio com muitos outros termos podido participar nas barreiras que também no nosso distrito desmontaram a golpada.

Outros golpes e outras intentonas se foram sucedendo com estes ou outros protagonistas, com maior violência e sucesso mas o importante é que apesar de tudo a Revolução aí está. Adiada é certo, mas viva e capaz de retomar o caminho que iniciou e a Constituição da Republica acolhe.

Setembro terminou. Que viva Abril!

Diogo Júlio Serra



domingo, 15 de setembro de 2024

Da Terra dos Sonhos, um até para o ano!

 

Da Terra dos Sonhos, um até para o ano!




É de dentro da Terra dos Sonhos, no espaço de Portalegre que termino o texto para o nosso Alto Alentejo e que agora está nas vossas mãos. Escrevo-o imediatamente a seguir a ter, neste mesmo local participado como orador num debate sob o lema “ Abril é mais futuro – 50 anos da Revolução” e onde abordei a “contrarrevolução, o 25 de Novembro e as tentativas de revisionismo histórico que pretendem esconder a Revolução e os seus heróis.

Em meu redor, mesas fartas de produtos regionais e de conversas, dão cor e som à construção do meu texto. Ao longe vindo do Pavilhão Central as vozes dos representantes das diferentes organizações da resistência palestinianas que participam como oradores numa conferência da solidariedade ao Povo Palestino lembra-me o genocídio atual e a necessidade imperiosa de lhe pormos fim, enquanto ao lado, no pavilhão político do Alentejo, na exposição sobre o Centenário da Casa do Alentejo, o Cante alentejano nos recorda os tempos heroicos da Reforma Agrária e os seus resultados que ainda hoje perduram.

É pois neste cenário que procurei responder a uma das perguntas que no debate em que participei me foi colocada por um jovem presente: Quais foram as razões que levaram a que a Revolução de Abril fosse derrotada?

Eu que tinha acabado de apresentar na minha comunicação que O Processo Revolucionário de Abril se tinha desenvolvido durante dois anos e, a partir daí tinha passado a uma fase de resistência. Que tinha denunciado quem e quantos, em minha opinião. Haviam estado, desde o próprio dia 25 de Abril de 1974, em conspiração e golpadas procurando travar o processo revolucionário e retornar ao “antigamente”, consciencializei-me de que não é possível, ainda, falarmos do futuro sem ter plena consciência do passado recente. Das políticas e dos seus autores. Dos que agiam de cara destapada e dos que só muito mais tarde “saíram do armário.

Não é possível, estou certo, construir o futuro, replicar a alegria, a fraternidade e o empenho que se constrói em cada ano, ali na Terra dos Sonhos se não dermos combate aos que persistem em reescrever a história, a impor a ideologia do capital e o pensamento único alinhado com as narrativas que cria como instrumento de domínio do mundo.

Importa dizer a cada um o que o Poeta escreveu: Vai gritar em toda a parte…

Que a grave situação que vivemos no país é o resultado da contrarrevolução. É o resultado direto das politicas de direita gizadas, aplicadas e aplaudidas pelos sucessivos governos do PPD, do CDS e do PS, sozinhos ou em grupo e sob o aplauso dos que enriquecem com o empobrecimento do país, que acumulam riqueza com a doença dos portugueses, que aplaudem as guerras que lhes alimentam o negócio da morte, que como os Bancos lucram milhões de euros por dia com o esmagamento das nossas vidas, com o aumento dos que não tem casa, dos que não tem emprego, dos que não tem futuro.

Que a Revolução de Abril não foi derrotada. Está tão-somente adiada!

Não está derrotada porque nunca desistiu de lutar, porque resiste em cada dia, porque aqui temos (e tão bem lembrados na Terra dos Sonhos) o Poder Local Democrático, inacabado é certo, mas vivo e atuante. Os direitos laborais (sob ofensiva permanente), muito debilitados mas presentes, o direito à saúde sob o escandaloso ataque dos que lucram com o negócio da doença, mas presente e sobretudo, porque continuamos a dispor como Lei Suprema a Constituição de Abril. A constituição da Republica Portuguesa que absorveu e integra todas as grandes conquistas da Revolução de Abril.

Não. A Revolução de Abril não morreu!

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Vir' ó disco e toca o mesmo!

 

Vir’ ó disco e toca o mesmo!


O período de férias aproxima-se do fim. Os partidos políticos que gostam de afirmar “a reentré” já retomaram as tradicionais festarolas onde procuram aproveitar a confluência de veraneantes para montarem as suas jornadas mediáticas no intuito de nos fazerem acreditar que “desta vez vai ser diferente”.

Algumas dessas festarolas já tiveram lugar e foram aproveitadas pelos chefes políticos para apresentarem as “propostas de mudança”... Entre estas e merecendo os favores dos grandes meios de comunicação aconteceu a festa que o PPD promove anualmente no Pontal. Desta vez, porque no poder, com discurso do Primeiro-ministro com as também habituais promessas que quem está no poder gosta de lançar e as oposições gostam de denunciar como mentiras ou obscuras intenções eleitoralistas.

Cumpriu-se a tradição! Não faltaram as inflamadas tiradas do Primeiro-ministro, o atirar-nos alguns “rebuçados” e a esconder-nos quer as responsabilidade que tem (mais o seu partido) na dificílima situação com que os trabalhadores e as populações se confrontam quer, a sinistra intenção de continuar e acelerar as politicas responsáveis por tal situação.

Também não faltaram os papagaios pagos para nos fazerem acreditar nas maravilhas da governação e propagandearem como extraordinário o discurso do “chefe” e a bondade das medidas anunciadas.

E eu, que fui premiado com uma dessas medidas (em Outubro vou ter uma benesse extraordinária de… 100 euros) não consigo compreender a bondade do discurso ou a sua novidade.

Na verdade o discurso do primeiro-ministro foi mais do mesmo. Como outros discursos de outros primeiros-ministros passou ao lado da situação dos trabalhadores e do país e não dá resposta aos graves problemas que afectam quem cá vive, quem quer cá viver e trabalhar, não responde aos anseios dos jovens e das necessidades dos idosos.

E não foi nem distracção nem desconhecimento. Ele sabe, nós sabemos que ele sabe, que o que valoriza o trabalho e os trabalhadores são salários dignos e respeito pelas carreiras e sabe muito bem que é urgente e necessário um aumento dos salários que possa dar resposta aos aumentos brutais do custo de vida.

Sabe que o que fará com que os jovens queiram viver e trabalhar em Portugal são salários dignos, vínculos de trabalho estáveis, habitação acessível, que lhes permitam perspectivar o seu futuro. Não é a redução de impostos que há boleia abre caminho para a acumulação de mais lucros pelos mesmos do costume, aprofundando desigualdades, que fará com que os jovens optem por ficar no País.

Sabe, como também o sabiam os anteriores governos, que o que garantirá condições e qualidade de vida aos reformados e pensionistas é o aumento significativo das pensões e reformas para responder às necessidades e não medidas pontuais como o anunciado “suplemento extraordinário” de 200, 150 ou 100 euros em Outubro. Esta migalha não pode servir de pretexto para que não se proceda a um aumento das reformas necessário e possível.

Ele, como os primeiros-ministros que o antecederam, sabe que a grave situação que vivemos só será travada e invertida se forem alteradas as políticas que têm sido seguidas nas últimas décadas e que impõem que 62% dos trabalhadores por conta de outrem têm um salário bruto até 1000€ e, 745 mil trabalhadores recebiam em 2023, o Salário Mínimo Nacional, cujo valor líquido é, atualmente, de 729,80€.

E não nos venham dizer que não há dinheiro. Todos sabemos dos avultados milhões desviados para alimentar a guerra.

Também o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, está em marcha, com o argumento que não há dinheiro para contratar e pagar justamente aos profissionais de saúde, enquanto se transferem milhões para as empresas do negócio da doença.

Não é falta de dinheiro. É a política de classe da direita no poder que impede uma outra distribuição da riqueza. É a política de classe da direita no poder, agora e antes, que nos leva a que um em cada dez trabalhadores encontra-se numa situação de pobreza enquanto os lucros dos grandes grupos económicos no nosso País atingiram no primeiro semestre 32,5 mil milhões de euros por dia.

Até quando o permitiremos?

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 24 de julho de 2024

A IDEIA NUNCA ABALA!

 


A ideia nunca acaba!*

Portalegre cidade e região estão a comemorar o 23º aniversário do Museu da Tapeçaria Guy Fino, museu que preserva e expõe os saberes e a arte da Tapeçaria de Portalegre.

O Museu mantém viva a ousadia de três homens, Guy Fino, Manuel Celestino e Manuel do Carmo Peixeiro, que nos anos 50 do século passado impuseram Portalegre num mundo até então exclusivo de França e da Flandres e da competência e arte das tapeceiras de Portalegre consideradas por Jean Lurçat como as melhores tapeceiras do mundo.

Uma semana antes os portalegrenses e quantos nos visitaram puderam viver um “Mercadinho das Artes que transformou a Av. da Liberdade num oásis de cor, arte e salutar convivência inter-geracional.

Uma e outra iniciativas a provarem que é possível encontrar caminhos novos capazes de suprirem ou, no mínimo amenizarem, a apatia que nos tem tolhido e, quantas vezes, nos impede de reagir às malfeitorias de quem lá longe ou entre nós teima em condenar-nos a uma cidadania de escalão inferior.

Sim, eu sei que os golpes tem sido profundos.

Sei, todos sabemos, a situação comatosa vivida pela Manufatura que produziu e distribuiu por “todo o mundo” as tapeçarias de Portalegre. Que a FINO´s , sua prima-irmã e onde eram tingidas as lãs com as mil e uma cores necessária às tapeceiras já há muito encerrou. Que a velhinha Robinson onde chegaram a laborar cerca de dois mil operários, está encerrada e, até o seu riquíssimo património industrial está não apenas inaproveitado como em risco de ruir.

Sim. Sabemos que o Núcleo Museológico da Igreja de S. Francisco, onde foram investidos muitos milhares de euros, está não só encerrado como tem em risco todo o acervo nele depositado.

Sei, sabemos todos, que a Fundação Robinson foi assassinada como já o havia sido a empresa que lhe deu o nome e não se consegue sequer potenciar o valoroso património (sete hectares no centro da cidade) e uma fábrica típica do seculo XIX ainda capaz de demonstrar as técnicas de fabrico da rolha e aglomerados de cortiça.

Sabemos que está fechado e abandonado o antigo Sanatório enquanto se vão desfazendo os projetos anunciados de aproveitamento turístico. E sim, acompanhamos as preocupações dos que antecipam o mesmo fim para solares e conventos, quando deixarem de ser quartéis militares e militarizados e passarem a ter que ser mantidos pelos seus proprietários.

O café alentejano, o cine teatro Crisfal, o bairro da Vila Nova aí estão para nos recordar.

Sabemos também que o poder central nos trata como “enteados” só porque a nossa dimensão geográfica e politica não nos torna apetecíveis e por isso as estradas que não temos, o caminho-de-ferro que se mantem “quase” como na data em que foi implantado, os serviços de saúde e de ensino, o próprio tribunal, também eles a pagarem o preço de estarem aqui instalados.

Sabemos tudo isso mas conhecemos também (sentimo-lo) o sentimento expresso por um antigo operário corticeiro e que Jorge Murteira utilizou para titularizar o brilhante documentário que fez sobre os últimos dias da fábrica. Sim acreditamos que a “ideia nunca acaba” e por essa razão acreditamos que é (ainda é) possível reerguer Portalegre.

Assim o queiramos!

Diogo Júlio Serra

* O título deste texto e o nome do documentário sobre a Robinson da autoria de Jorge Murteira saíram, por culpa minha, com um erro. O título do documentário é " A ideia nunca abala! deveria ter sido, também o título do artigo. O erro foi detetado por um amigo. Obrigado Luís Nogueiro!