quinta-feira, 3 de julho de 2025

 


Fazer Guerra à Guerra, Sempre. Pela Paz!

Quatro décadas após a entrada na actual União Europeia, o país está bem longe do Portugal saído da revolução dos cravos e nos antípodas do sonho que o 25 de Abril nos trouxe.

Podemos mesmo afirmar que está (quase) cumprido o projecto dos que nos arrastaram para essa aventura. A “Europa com eles “ travou o sonho, impôs a regressão no plano interno e arrastou-nos inexoravelmente para novos e perigosos confrontos militares.

Acredito que estejam onde estiveram, se sentirão realizados. Tanto ou mais que os nascidos em democracia por falta de informação ou pela informação manipulada, confundem coveiros com progenitores da democracia que ainda resiste.

O Movimento revolucionário foi travado. Os do costume recuperaram no plano interno todo o poder e os lucros que haviam perdido e no plano externo voltaram a amarrar Portugal aos seus mesquinhos interesses.

Apenas dois exemplos:

1.      No país a repartição da riqueza produzida que em 1975 era claramente favorável aos trabalhadores (59,98 % para o trabalho e 40,02 para o capital) voltou a níveis piores que em 1973 com os actuais 63,7% para o Capital e 36,3% para o Trabalho. Nesse ultimo ano de salazarismo a taxa de distribuição da riqueza produzida era de 60% para o capital e 40% para o factor trabalho.

 

2.      Perdemos parte significativa da nossa independência e voltamos a ser arrastados para guerras que não são nossas. O grande capital nacional e internacional directamente ou através dos seus avençados preparam o acerto de contas com o 25 de Abril e com o sonho de independência, económica, politica e militar que os capitães de Abril e a aliança Povo/MFA manifestaram e conseguiram impôr.

Pior que isto, que já é suficiente mau, estamos agora prisioneiros dos beneficiários da(s) traição(ões) de quantos por ditames de classe, por vaidade, ou por ingenuidade traíram-se a si próprios, aos seus camaradas e ao povo a quem juraram servir e desarmados, até politicamente, face ao proliferar de comentadeiros e megafones pagos, disfarçados ou não de jornalistas.

É essa a situação actual de Portugal e dos portugueses num contexto internacional em que o direito internacional foi assassinado, com os poderosos a semearem a sua “autoridade” através de assassínios selectivos, a estimularem ou permitirem o genocídio do povo palestiniano às mãos dos sionistas e com todos os avençados disfarçados de jornalistas a criarem as condições que lhes permitam iniciar a terceira possivelmente a última confrontação mundial.

Enquanto a ONU (ela própria há muito desarmada e desautorizada) se cansou de olhar para o lado ao ver os seus próprios elementos a serem chacinados em Gaza e nos restantes territórios Palestinianos Ocupados, procura alertar-nos para a necessidade de parar, é a União Europeia, esse clube para onde nos arrastaram há 40 anos a propor-nos o caminho do rearmamento e da guerra.

Cá dentro os do costume chamem-se Mários, Barrosos ou Costas, procuram aliciar-nos com novas versões de “ a Europa Connosco” como se nós todos (eles também) não soubéssemos que os donos desta União dita Europeia não procuram sócios mas sim servos!

Que tenhamos a força suficiente para os travar!

Diogo Júlio Serra

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Entre Abril (25) e Maio (28) é preciso optar e decidir!

Entre Abril (25) e Maio (28) é preciso optar e decidir!


"Lambidas as feridas" e contabilizados os danos impostos pelo vendaval direitola que varreu o país, foi tempo de acomodar a informação vinda do então Primeiro-ministro indigitado e dos quartéis-generais dos partidos maioritários na Assembleia da República.

Foi interessante constatar as movimentações dos diferentes partidos, na sua maioria, muito mais interessados na distribuição dos lugares a preencher na Assembleia da República e no governo a constituir do que, no ataque necessário aos muitos problemas que afectam os portugueses e alguns deles, independentemente da força real que lhes foi atribuída, já colocando todas as fichas no acerto de contas com Abril.

Agora, no momento em que escrevo o presente texto, já com o governo empossado, conhecidos os ministérios e os seus titulares, ouvidas as intenções do governo e as posições dos diferentes partidos políticos é possível constatar que, para a esquerda social e política, as piores perspectivas faziam sentido.

Na semana da tomada de posse do “novo governo velho”, dos discursos proferidos e dos anúncios avançados pelos diferentes partidos com assento parlamentar, o país pode constatar que a diferença existente entre o governo agora empossado e o que o antecedeu é tão só na rapidez e no tom.

Este governo 2, de Montenegro, vai agir mais rápido e mais fundo contra as principais conquistas de Abril, embora disfarçando essa intenção chamando-lhe "guerra à burocracia" e ao despesismo e sob a ”bandeira” tão querida ao capital - é fundamental primeiro criar riqueza para depois se poder dividir".

Aqui nada de novo! Sempre foi esta a bandeira e a acção do grande capital e das políticas ao seu serviço. Soubemos agora que, os maiores bancos portugueses tiveram lucros (alguém criou riqueza) de milhões de euros por dia e já começaram a distribuir...pelos acionistas. O mesmíssimo sucedeu com os grandes grupos económicos. A Jerónimo Martins, a Sonae a EDP... registaram lucros de muitos milhões que já começaram a dividir...pelos acionistas.

Mas o vendaval de direita entrou também pelo interior de partidos que gostam de se auto-intitular de esquerda e aí temos o Partido Socialista a procurar limpar-se de quaisquer "pequenas nódoas de esquerda” e a anunciar as virtudes da estabilidade da direita política e social e em seu nome, a garantir o regresso aos caminhos do centrão da política e dos negócios.

Tudo isto quando nos bate à porta novo acto eleitoral, desta vez para as autarquias.

Estas muito mais próximas dos cidadãos e onde, regiões como a nossa, não são obrigadas a pagar muito mais caro que noutras regiões o custo de cada um dos seus eleitos.

Aqui, no Alto Alentejo, começam a conhecer-se as candidaturas de cada força política e os candidatos que podemos escolher. Ainda esta semana a actual Presidente da Câmara Municipal do concelho, capital do distrito anunciou a sua candidatura à reeleição num tempo em que, nenhuma outra força deu esse passo. Nas outras cidades do Alto Alentejo também já são conhecidos alguns candidatos, particularmente das forças políticas ou movimentos que detém a presidência. Em Elvas, Rondão de Almeida anunciou a sua candidatura pelo Movimento de Cidadãos “PS B” conhecendo-se igualmente os candidatos do PS A , da coligação CDS/PSD e da força politica maioritariamente votada no concelho.

Em Ponte de Sôr, o Partido Socialista anunciou a candidatura de Rogério Alves, actual vice-Presidente, tendo  a coligação PSD/CDS anunciado a sua candidatura.

A partir de agora, diariamente saberemos mais e mais candidatos, das forças que tradicionalmente concorrem e, previsivelmente das que emergiram nos últimos tempos.

Dúvidas, apenas da forma como foram geridas as autarquias e da avaliação que os eleitores farão dessa gestão.

Os resultados mostrar-nos-ão se o Poder Local Democrático copiou os defeitos do Poder Central ou, pelo contrário, não deixou espaço para o populismo anti-democrático marcar presença.

As urnas esclarecer-nos-ão!


quinta-feira, 29 de maio de 2025

Há sempre alguém que semeia canções no vento que passa...

 

"Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia canções no vento que passa"




As eleições que Luís Montenegro impôs ao país resultaram num vendaval imenso que varreu as posições socialistas e provocou rombos enormes nos partido à sua esquerda: o PCP perdeu um quarto da sua representação parlamentar, o BE perdeu dois terços e o grupo parlamentar. O Partido Socialista perdeu mais de 400 mil votos e 20 deputados e passou de segunda a terceira força política com assento parlamentar.

A esquerda parlamentar sofreu uma enorme derrota. Uma derrota com consequências imediatas como provou a demissão, em direto, do Secretário-geral do Partido Socialista.

A estratégia do Primeiro-ministro não lhe permitiu esconder as trapalhadas para as quais arrastou o seu governo e o país , mas acabou por resultar num reforço parlamentar da aliança que apoia o seu governo.

Não foi tudo favorável para o primeiro ministro. O 18 de maio trouxe-lhe alguns dissabores e muitas preocupações: continua a não dispor da tal maioria maior que reivindicou e viu ascender à segunda posição no parlamento, a extrema direita não democrática, que pretende substitui-lo e à sua maioria, apostando  no discurso do ódio e na mentira

O nosso distrito não ficou imune ao tornado que varreu o país. Também aqui o extremismo não democrático, convenceu o eleitorado que o transformou em força política maioritária do Alto Alentejo, elegendo um dos dois deputados em disputa e assumindo-se como vencedor em 7 dos 15 concelhos do distrito.

São factos que por demais perturbadores ou perigosos não podem ser escamoteados ou desvalorizados. É fundamental que os partidos políticos do arco constitucional assumam a derrota sofrida e procurem encontrar as razões para o sucedido e em particular para o crescimento desabrido do radicalismo não democrático, mas também, as suas próprias culpas.

A análise que urge fazer não pode ser encarada como se cada partido político fosse uma equipa de futebol e os seus responsáveis meros tiffosi de bancada. Se a estes é permitido encontrar sempre no outro, no arbitro, no anti desportivismo do adversário ou na qualidade do relvado a justificação para a derrota, aos partidos políticos e aos seus responsáveis tal não pode ser admitido mesmo sabendo que há muito de verdade, também na ação política, nos comportamentos desleais de quem devia garantir a igualdade de tratamento...

É consensual a ideia de que esta "viragem à direita e a subida dos seus mais radicais" não é um caso português, como igualmente o é a afirmação que os mesmos grupos e interesses que alimentam o crescimento da extrema-direita política e os arruaceiros fascistas pelo mundo fora são os mesmos que estimulam, apoiam e alimentam esses agrupamentos em Portugal.

Mas se análise ficar por aqui não só é poucochinho como impedirá que possamos ultrapassar o problema.

A ascensão da direita e particularmente da extrema direita trauliteira não é uma fatalidade. É uma consequência! É-o em qualquer parte do mundo. É-o igualmente no nosso país, na nossa região, na nossa terra.

A subida eleitoral do extremismo não democrático é a consequência da ganância de uns poucos e dos partidos que lhe dão "colinho". Hoje mesmo a comunicação social anunciava que os cinco maiores bancos "portugueses" tiveram nos primeiros meses de 2025 um lucro de 13 milhões de euros por dia, num tempo e num país onde a esmagadora maioria da população não tem capacidade para arrendar casa ou não consegue pagar ao banco a renda a que se obrigou a pagar.

É a consequência, como escreveu um querido amigo e militar de Abril, da arrogância, cegueira, surdez e totalitarismo dos DDT e é também consequência da nossa incapacidade, em particular dos que construíram e defendem o 25 de Abril e o regime que ele consagra, em constatar as mudanças e agir em conformidade.

E, não vale "chamar nomes feios" aos alunos. O que é preciso é percebermos (professores e educadores) as razões que os estão a impedir de aprenderem...e mudar. Não o programa, mas os métodos de ensino...

Talvez, ainda haja tempo!

Diogo Júlio Serra

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Apagões!

 



Apagões!

A última semana de Março foi marcada pelo apagão que durante mais de 8 horas levou os portugueses a recordarem ou descobrirem que há formas diferentes de (com) viver sem dependermos dos telemóveis e da televisão… Levaram-nos também a descobrir as imensas fragilidades que as dependências nos impõem acrescidas pela impreparação e mesmo incompetência que o estado português deu provas durante as horas que durou este apagão.

Mas este não foi, a meu ver, o pior apagão com que tivemos (temos) que lidar. O apagão de consciência, civismo e humanidade que é como o da electricidade, fruto da cegueira dos homens, tem tido ainda maiores e drásticas consequências.

Falo-vos de mortandades e em particular do genocídio dos palestinianos às mãos dos sionistas que comandam o estado terrorista de Israel, executado à vista de todos e com a maioria a fingir que não vê nem sabe.

Portugal (o estado português) é também aqui de uma leviandade aflitiva. Persiste em não reconhecer o Estado Palestiniano e aceita, neste caso, que o ocupante tenha em Portugal, voz e tempo de antena. Aceita e procura branquear o genocídio e assobia para o lado perante a arrogância do Sr.Benjamin Netanyahu condenado por crimes de guerra e os representantes do seu governo em Portugal: desde o inicio do ano o embaixador Oren Rozenblat e antes o Sr Don Shafira que conhecemos no nosso distrito em visitas a Castelo de Vide.

                Escrevo o presente texto quando comemoramos o Dia da Mãe. Um dia em que todos gostamos (e bem) de exortar e glorificar o papel das nossas mães.

Na televisão passa a noticia da iniciativa tomada por algumas mães na rua de Santa Catarina, no Porto, para chamarem a atenção para o assassínio de muitos milhares de palestinianos na sua grande maioria mulheres e crianças e aqui em casa, os meus netos entregam á mãe a prenda que construíram na escola e que lhe é destinada. Será assim na maioria das casas portuguesas. Pergunto-me! Será que as nossas mães, os nossos pais e os nossos filhos, todos nós, teremos a mais pequena noção do sofrimento das mulheres da Palestina, mães a quem diariamente roubam os filhos, a esperança e a vida?

                Não se pode fazer nada dizem-me alguns e o mesmo dizem os governantes portugueses e da União Europeia ou dizem outros, face à situação imposta aos Palestinianos em Gaza ou na Cisjordânia é inútil tudo o que possamos fazer!

É mais uma hipocrisia!

No que respeita ao estado Português e ao seu governo pode (já devia ter acontecido) reconhecer o Estado da Palestina ao invés de ficar amarrado à decisão do directório da União Europeia. Quanto a esta, conforme a proposta apresentada por diferentes deputados do parlamento europeu, o mínimo que se lhe exige é denunciar o acordo de comércio livre com Israel, que permite a este, isenções aduaneiras para os seus produtos e a estipular sanções económicas e politicas contra o agressor, como faz por exemplo para a Federação Russa.

Não o fazendo, continuando a branquear os crimes e a canina vassalagem ao sionismo e aos senhores da guerra U.E, e o estado Português são cúmplices e apoiantes dos criminosos, têm as mãos e o coração manchados pelo sangue das crianças e das mães de Gaza.

E, tudo o que façamos para denunciar o crime e exigir que parem a matança não é acertado e útil, pois como o meu camarada João Oliveira titula o seu artigo no avante e eu concordo: Gaza – inútil é a inacção!

 

Diogo Júlio Serra

quinta-feira, 10 de abril de 2025

 

Março, marçagão

Manhãs de Inverno, tardes de verão!

 



Este ano o adágio popular com que titulo este texto não acertou. Manhãs e tardes de Março foram quase sempre de inverno rigoroso.

Todavia o passado mês foi tempo de comemorações:  50º aniversário da derrota do 7 de Março em Setúbal (tentativa dos nostálgicos do fascismo anteciparem o 11 de Março) ; 50º aniversário da intentona spinolistas de abater pela força armada o 25 de Abril e a sua derrota pelo aliança Povo/MFA ; Cinquentenário da publicação das leis das nacionalizações e da Reforma Agrária que significou um passo em frente da Revolução face à derrota do push militar tentado pelos spinolistas.

A estas efemérides juntou-se, como sucede em cada março, o aniversário do PCP, o 104º aniversário do partido politico que pela sua acção ininterrupta alcançou o direito de ser (re) conhecido tão só por O Partido.

Mas o Março deste ano trouxe-nos mais uma prenda. Oferta do Primeiro-ministro (quem diria…) que optou por mergulhar o país em mais uma crise para não nos explicar a “trapalhada” em que se meteu e para a qual arrastou todo o governo. Abriu-nos assim a possibilidade real de inverter o caminho para onde a vontade de uns poucos persiste em atirar-nos em marcha acelerada: para o empobrecimento dos trabalhadores e do país face às políticas de rapina a favor dos “poderosos” e mais recentemente o empurrar-nos para uma guerra que até poderá ser a última.

Até agora o custo que nos foi exigido pelas loucuras belicistas do centrão da subserviência e dos interesses que alterna a presença no poder foi-o pelo aumento brutal dos preços, pelo emagrecimento dos direitos sociais, pelo afastamento dos direitos constitucionais à saúde e à habitação, mas a loucura está em crescendo e preparam-se já para subirem a parada e fazerem pagar, aos mesmos, agora com o sangue e a vida dos nossos filhos e netos.

É a possibilidade real de travar esta loucura e fazer o país regressar aos caminhos que a Constituição de Abril consagra, que a crise politica que Março nos trouxe como presente e que não podemos desaproveitar.

As eleições já agendadas para dia 18 de Maio são a possibilidade real de retirar espaço de manobra aos saudosistas do nazi-fascismo e de opormos à vontade da direita política e ao Centrão dos interesses e das negociatas, a Constituição de Abril e a obrigação que ela nos coloca de a defender e aplicar.

No nosso território começam a ser conhecidas as personalidades candidatas enquanto as forças político-partidárias se afadigam na procura de “argumentário” capaz de nos convencer e algumas delas, as do costume, persistem em consumir-se em trapalhadas, casos e casinhos que vão do uso abusivo de siglas, ao uso e abuso da utilização dos chamados paraquedistas, do total desrespeito pelas decisões das suas estruturas regionais ou, da dificuldade em convencer-nos que vão agora fazer o que sempre nos negaram.

Ou seja, o dito normal que nos trouxe até aqui. Importa (também por isso) que saibamos aproveitar a oportunidade para nos afirmarmos como território que tem direitos e capacidades que importa serem respeitados.

Importa, é fundamental, que não nos deixemos prender pela paixão tipo clubista, que não esqueçamos as práticas de cada candidatura e dos seus eleitos.

Impõe-se que em vez de nos alhearmos da decisão ou de persistir em curar a ferida com a arma que a fez, sejamos capazes de pedir responsabilidades a quem, mesmo dizendo o contrário, nos tem vindo a roubar o sonho e a impedir-nos o futuro.

É a hora. Assumamo-lo!

 

Diogo Júlio Serra

quarta-feira, 19 de março de 2025

“A Europa contra os EUA e contra a paz! Quem diria?!”





                           “A Europa contra os EUA e contra a paz! Quem diria?!”


A frase com que titulei este texto não é da minha autoria, foi “pedida de empréstimo” da página de um ilustre jornalista alentejano que conhece bem a Europa e o mundo e com o qual me identifico na apreciação que faz sobre o papel da EU na guerra que se instalou no velho continente.

Também eu, que sempre assumi publicamente que importa fazer guerra à guerra, e contesto quer as posições incendiárias dos dirigentes da União Europeia, quer o seguidismo quase doentio das autoridades portuguesas, fico surpreendido com a sua incapacidade de acompanharem o pragmatismo de quem até há poucos dias seguiam sem pestanejar.

Essa incapacidade é notória quando persistem no estado de negação da realidade face às mudanças ocorridas nos EUA e à sua própria importância no jogo dos poderosos.

Em Portugal essa situação chega a ser confrangedora. Desde as principais figuras do estado aos partidos políticos da direita (os que o assumem e os outros) à comunicação social dita de referência… passaram da maior das subserviências aos interesses e ordens do Tio Sam para uma arrogância parola de encher o peito e debitar slogans contra o “patrão” de ontem e de incentivos à guerra até ao último dos ucranianos ou dos filhos e netos dos outros.

O desvario é tal, também por cá, que é normal termos opinadores a defenderem a guerra a todo o custo, com ou sem o chapéu onde sempre se abrigaram todos os europeus ditos democratas e para onde sempre, sem pestanejar, canalizaram o produto do trabalho das suas populações.

O próprio Presidente da República, há muito desaparecido de cena, não se coibiu de tratar publicamente o até há pouco “rei sol” como antigo aliado.

E a questão é, como sempre foi, mais do que travar a luta fratricida entre Rússia e EUA pela conquista dos comandos da ordem mundial imposta pelos vencedores da segunda grande guerra e que foi substancialmente alterada pelos vencedores da chamada guerra fria, refrear os sonhos de grandeza das extremas-direitas no poder em ambos os Estados: O partido republicano de Trump nos EUA e o Partido da Nova Rússia de Putin, na Federação Russa.

Mais, garantir como gostam de dizer, uma paz justa e duradoura o que se consegue não ameaçando a sobrevivência de um dos lados, cercando-os de base militares, plantando-lhe inimigos à porta.

O resto, os discursos da afirmação dos princípios ou a “defesa das liberdades e das democracias pouco mais são que propaganda para os papalvos. Ou alguém acredita que a Ucrânia corrupta e totalitária que ninguém queria sequer a bater à porta da U.E. passou a ser “séria” só porque lhe passaram a enviar carregamentos de dólares, e os seus dirigentes permitem a matança dos seus jovens para fazerem uma guerra que não é sua? Ou passou a ser uma democracia só porque ilegalizou partidos políticos e prendeu os seus dirigentes?

Alguém pode acreditar que a guerra é pela defesa de valores e da democracia quando quem se opõe ao “totalitarismo” de Putin é a França de um Macron que perdeu as eleições e recusou passar o poder aos vencedores? É a União Europeia que impôs a anulação das eleições da Roménia porque o seu candidato foi derrotado? Que alimentou e financiou o golpe de estado que depôs o Presidente Eleito da Ucrânia e que tornou constitucional a classificação de ucranianos em “puros e impuros”?

A situação com que nos deparamos na Europa e no Mundo é grave. Os tambores da guerra fazem-se ouvir, também no nosso país e temo que os nossos governantes não consigam já afastar-se do discurso inflamado tipo clubismo que nos tem proporcionado nos últimos dias e continuem a arrastar-nos para a guerra. Uma guerra que já nos custa qualidade de vida e desafogo económico e que se não for travada pode também custar-nos filhos e netos.

A situação é muito muito perigosa mas, apesar disso, permitam-me o desabafo: dá um certo gozo ver os “direitolas” do meu país de dedo esticado contra os EUA!

 

Diogo Júlio Serra




sábado, 22 de fevereiro de 2025

NUM TEMPO (e num país) DO FAZ DE CONTA !

 

NUM TEMPO (e num país) DO FAZ DE CONTA !

“Portugal caiu nove lugares no Índice de Percepção da Corrupção 2024: ocupava a 34ª posição e está agora na 43ª, num total de 180 países analisados, com 57 pontos, o valor mais baixo de sempre.”

Esta a “notícia” que na passada semana abriu telejornais, fez machetes em jornais ditos de referência, ocupou políticos e opinadores e sobretudo, foi motivo avançado para abrir caminho ao intensificar do discurso alarmista e as portas aos sonhos da direita em normalizar o lobismo.

Só muito poucos se preocuparam em descodificar a bombástica noticia e rapidamente esta era “vendida” como se a corrupção em Portugal tivesse atirado o país para patamares só comparáveis a países do considerado terceiro mundo.

Mesmos na classe política e nos profissionais da comunicação social não se fizeram ouvir palavras e textos que colocassem a “notícia” no seu devido lugar. Ninguém ousou dizer-nos que afinal não tínhamos mais corrupção (a que existe realmente já é suficiente para nos deixar envergonhados) tínhamos isso sim, gente mais mal informada ou menos capaz de pensar pela sua própria cabeça. Que tinha aumentado, isso sim, a circulação de mentiras, a capacidade de uns quantos, chamemos-lhes “influencers” ou pantomineiros em semearem as notícias falsas e os “achismos”, em espalharem lama e ódio por vastos setores da sociedade.

Na verdade, tanto na corrupção como na segurança e insegurança ou nas questões de refugiados ou imigração, o que aumentou foi percepção que se constrói a partir das narrativas construídas sobre determinado tema, mesmo que, (quase sempre) baseada na repetição de mentiras e na ampliação desmedida de situações verdadeiramente existentes.

Em Portugal já devíamos estar imunes às narrativas e práticas de quantos usam e abusam das narrativas pensadas para enganar os incautos, para transformar cenários em realidade aceite, para nos levar a assumir as suas e dos seus mandantes verdades e vontades. E fazem-no desde há muito, mesmo muito antes de terem ao seu dispor, como hoje têm, as ferramentas que transforma em (quase) verdade a mais abjecta mentira.

Foi assim com a encenação da “matança da Páscoa” que justificou o golpe militar de Spínola, derrotado pela aliança Povo-MFA mas que provocou a morte de um militar no Ralis, voltou a sê-lo no verão de 75 e pelo ano de 76, para justificar a ação das redes terroristas e bombistas com que a direita trauliteira pôs Portugal a arder e semeou violência e morte de norte a sul do país.

Foram também as percepções semeadas que se apresentaram como suporte da destruição por Barretos, Portas e quejandos, da Revolução Social e agrária nos campos do Alentejo e Ribatejo e os espancamentos e assassínios de trabalhadores. Foi-o mais recentemente quando as percepções construídas permitiram as campanhas de ódio contra a Festa do Avante e alimentam hoje as campanhas de ódio contra imigrantes e minorias étnicas e religiosas.

Todas elas com objetivos e autores facilmente identificáveis. Todas elas a anos-luz da verdade. Todas elas servindo como lebre, às aspirações de quantos não conseguem adaptar-se às regras da democracia e à Constituição que as garante.

Diogo Júlio Serra