quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

OS EMBAIXADORES E OS "DONOS" DO CANTE"

 


Os Embaixadores e os “donos” do Cante!

Uma polémica intensa acerca de um não assunto

1. Nas últimas semanas nas redes sociais muitos alentejanos no território ou na diáspora esgrimiram opiniões, indignações e outros “ões” quanto à legitimidade do cantor Pedro Abrunhosa para ser embaixador do cante alentejano que, afirmavam alguns, tinha para isso sido contratado e principescamente pago, subentendia-se, pela Entidade Regional de Turismo ou, pior, pelo seu Presidente.

As opiniões mais ou menos indignadas, quando não mesmo o insulto, cruzavam-se nas redes sociais à medida que mais internautas se afadigavam a comentar o comentário, que comentava o que alguém, que já não sabiam quem, havia postado.

Pelo caminho já havia réus, provas e culpados e em cada nova postagem ditavam-se as penas de quem cometera tais blasfémias.

Questionei um desses postadores, meu amigo, que me reafirmou a sua indignação por a Região de Turismo ter ido contratar para embaixador do Cante um fulano do Norte que, disse-me, nem sabia cantar. Questionado por provas que justificassem o sucedido “atirou-me” que o próprio Presidente da Entidade Regional de Turismo o havia anunciado na sua página no facebook.

2. Mesmo que tal fosse verdade, mesmo que tivesse sido convidado alguém para levar o cante a diferentes paragens ou para incorporar o cante no seu repertório, haveria algum motivo para contestação? Claro que sim, responderam-me. “Já há uns tempos um chico-esperto do norte quis abocanhar o capote alentejano”.

Não fiquei convencido e atrevo-me a colocar aqui mais uma dúvida. O Cante não foi candidatado e declarado património cultural da humanidade? E as fronteiras da humanidade cabem no nosso Alentejo ou pior, como alguns me gritaram, no Baixo Alentejo?

O Cante Alentejano, o Fado, a Arte Chocalheira, o Figurado de Estremoz e tantas outras manifestações do nosso Património Cultural Imaterial ao serem por nós investidos da categoria de Património da Humanidade passaram a não ser (apenas) dos alentejanos, dos lisboetas, dos vianenses e estremocenses passaram a ser de TODA A HUMANIDADE.

3. Mas há mais, muito mais. A intensa e acesa discussão tinha por base um “coisa nenhuma” ou pelo menos um conjunto de afirmações contidas num editorial de um jornal da Região e das quais o seu autor se viria a retratar.

Terá sido esse Editorial que diz-se, mais motivado por “ressabiamento” do que por tristeza, levou a que o post do Presidente da ERTAR fosse intuído em vez de lido e a que se juntou um misto de vontade de um acerto de contas (nessa parte eu compreendo) com quem fora das cantigas usou da sua popularidade para tomar partido contra um partido e a sua festa levando pela frente os seus próprios camaradas de cantigas.

Hoje, parece, já poucos se lembrarão das diatribes e remoques, muitas vezes atingindo o insulto e na sua maioria, das razões que os motivaram. Todavia, esse episódio, mais um, mostra-nos quão perigoso é a prática opinativa sem o mínimo de conhecimento sobre o que se opina ou com esse “conhecimento” baseado em débeis capacidades de leitura e numa incapacidade não assumida de saber interpretar um texto.

O capacidade destes opinadores de sofá em assumirem a presunção da culpa, até prova em contrário, só é equiparável à resistência em confirmar o que recolheram, quase sempre, através “do diz-se por aí, ou pelas postagens dos fabricantes de mentiras e da disseminação da boataria.´

Esperemos que consigam/consigamos aprender com os erros!

Que viva o Cante!

Que saibamos afirmar o Alentejo como Um Povo, uma Cultura, uma Região.

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