Os
Embaixadores e os “donos” do Cante!
Uma polémica intensa acerca de um não assunto
1. Nas últimas semanas nas redes sociais muitos alentejanos no território ou na diáspora esgrimiram opiniões, indignações e outros “ões” quanto à legitimidade do cantor Pedro Abrunhosa para ser embaixador do cante alentejano que, afirmavam alguns, tinha para isso sido contratado e principescamente pago, subentendia-se, pela Entidade Regional de Turismo ou, pior, pelo seu Presidente.
As opiniões mais ou menos indignadas, quando não mesmo o insulto, cruzavam-se nas redes sociais à medida que mais internautas se afadigavam a comentar o comentário, que comentava o que alguém, que já não sabiam quem, havia postado.
Pelo caminho já havia réus, provas e culpados e em cada nova postagem ditavam-se as penas de quem cometera tais blasfémias.
Questionei um desses postadores, meu amigo, que me reafirmou a sua indignação por a Região de Turismo ter ido contratar para embaixador do Cante um fulano do Norte que, disse-me, nem sabia cantar. Questionado por provas que justificassem o sucedido “atirou-me” que o próprio Presidente da Entidade Regional de Turismo o havia anunciado na sua página no facebook.
2. Mesmo que tal fosse verdade, mesmo que tivesse sido convidado alguém para levar o cante a diferentes paragens ou para incorporar o cante no seu repertório, haveria algum motivo para contestação? Claro que sim, responderam-me. “Já há uns tempos um chico-esperto do norte quis abocanhar o capote alentejano”.
Não fiquei convencido e atrevo-me a colocar aqui mais uma dúvida. O Cante não foi candidatado e declarado património cultural da humanidade? E as fronteiras da humanidade cabem no nosso Alentejo ou pior, como alguns me gritaram, no Baixo Alentejo?
O
Cante Alentejano, o Fado, a Arte Chocalheira, o Figurado de Estremoz e tantas
outras manifestações do nosso Património Cultural Imaterial ao serem por nós
investidos da categoria de Património da Humanidade passaram a não ser (apenas)
dos alentejanos, dos lisboetas, dos vianenses e estremocenses passaram a ser de
TODA A HUMANIDADE.
3.
Mas há mais, muito mais. A intensa e acesa discussão tinha por base um “coisa
nenhuma” ou pelo menos um conjunto de afirmações contidas num editorial de um
jornal da Região e das quais o seu autor se viria a retratar.
Terá
sido esse Editorial que diz-se, mais motivado por “ressabiamento” do que por
tristeza, levou a que o post do Presidente da ERTAR fosse intuído em vez de
lido e a que se juntou um misto de vontade de um acerto de contas (nessa parte
eu compreendo) com quem fora das cantigas usou da sua popularidade para tomar
partido contra um partido e a sua festa levando pela frente os seus próprios
camaradas de cantigas.
Hoje,
parece, já poucos se lembrarão das diatribes e remoques, muitas vezes atingindo
o insulto e na sua maioria, das razões que os motivaram. Todavia, esse episódio,
mais um, mostra-nos quão perigoso é a prática opinativa sem o mínimo de
conhecimento sobre o que se opina ou com esse “conhecimento” baseado em débeis
capacidades de leitura e numa incapacidade não assumida de saber interpretar um
texto.
O
capacidade destes opinadores de sofá em assumirem a presunção da culpa, até
prova em contrário, só é equiparável à resistência em confirmar o que
recolheram, quase sempre, através “do diz-se por aí, ou pelas postagens dos
fabricantes de mentiras e da disseminação da boataria.´
Esperemos
que consigam/consigamos aprender com os erros!
Que
viva o Cante!
Que
saibamos afirmar o Alentejo como Um Povo, uma Cultura, uma Região.
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