Faz das
injustiças a força para lutar!
A frase que serve de título a este texto é a transcrição da
palavra de ordem do PCP dirigida a quantos sofrem as mais diversas e abjetas
injustiças, num país que aspira e merece um caminho diferente do que lhe vem
sendo imposto percorrer.
Trata-se de alimentar a resiliência de um povo, de combater a
desilusão e não permitir que se assuma como inevitável o que é tão só fruto da
vontade de uma minoria de pessoas, para servirem menos pessoas ainda.
É uma palavra de ordem totalmente adaptada ao Alto Alentejo e
à sua população e que deveria ser por nós (todos) apropriada e assumida, tão
grave é a situação para onde nos têm empurrado.
Num distrito sistematicamente empurrado para os últimos patamares
do desenvolvimento e de bem-estar e, por isso mesmo, em acelerado processo de
desertificação humana e envelhecimento da população.
O índice de envelhecimento é de 242 quando o distrito perdeu
na última década 13.517 habitantes. Uma perda que atingiu cada um dos 15
concelhos e colocou Portalegre como a capital de distrito que mais população
perdeu e também a que mantem o menor numero de habitantes.
Não será preciso procurar outros exemplos para ilustrar a
situação que vivemos, tanto mais que esta é uma verdade em que todos os
quadrantes da sociedade se reconhecem.
Se existe unanimidade no diagnóstico o mesmo não acontece no
apontar das causas e na terapêutica a usar. Lembremos. É fácil o consenso na
definição do problema demográfico como uma das mais graves situações que nos
afligem, mas este já não é possível na identificação das razões que a originam
e muito menos nas medidas necessárias para travar e inverter tal situação.
Para alguns a perda demográfica e envelhecimento tem causas “
sobrenaturais” cujo combate só pode travar-se através “de intervenção divina”;
para outros, a culpa é dos que aqui nasceram e teimam em viver: não querem
filhos, não querem ficar por cá, pelo que a solução, dizem, passa por estimular
essa vontade, seja com subsídios aos recém-nascidos ou com “suplementos
vitamínicos” para os jovens casais. Uns e outros recusam-se a reconhecer aquilo
que durante um dia inteiro no Pavilhão Multiusos de Monforte dezenas de
trabalhadores, delegados à Assembleia de Organização da Direção Regional de
Portalegre do PCP, não se cansaram de mostrar.
A culpa é, disseram-nos, das políticas de direita que apostam
nos interesses do Capital que engorda, (também no distrito), pela rapina de
recursos e da riqueza produzida.
A solução passa pela valorização do território, do distrito e
de todo o Interior com políticas nacionais de desenvolvimento regional; por políticas
de coesão territorial no terreno, por forma a travar esta situação no imediato
e inverte-la no futuro.
Como se reafirmou no Multiusos de Monforte a situação
demográfica não se altera com pequenos subsídios de nascimento aos jovens pais.
Alterar-se-á, sim, se a precariedade dos jovens for eficazmente combatida, se
aos pais, atuais e futuros, forem garantidos salários dignos, se a todas as
crianças for garantido o direito a creche gratuita, ensino de qualidade e sem
custos, se para eles e para as famílias for garantido o direito à saúde.
O doloroso índice de envelhecimento (duzentos e quarenta e
dois idosos por cada 100 trabalhadores ativos) só poderá ser travado quando for
garantido aos jovens na região trabalho com direitos e salários dignos.
O doloroso caminhar para o não futuro só será travado e
invertido se, e quando, o distrito puder contar com investimento publico (em
vez de meras promessas) que nos garanta acessibilidades; um serviço nacional de
saúde de acordo com as nossas necessidades e a excelência dos trabalhadores do sector,
uma escola pública inclusiva e de qualidade, de acordo com o que necessitamos e
os trabalhadores do sector reclamam e podem garantir.
Tudo isto desfilou, domingo em Monforte, no decorrer da
Assembleia de Organização do PCP.
Eu e muitos outros estando presentes, fomos parte do empenho
na denúncia e na proposta, propostas que acreditamos serem necessárias e
inadiáveis; perante este quadro importa transformar decisivamente as injustiças
em força pra lutar!
Diogo Júlio Serra
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