quarta-feira, 2 de novembro de 2022

ERA UMA VEZ UM PAÍS...


 

Era uma vez um país…

Um país, comigo dentro, que sonhou poder um dia acabar com a miséria, com a guerra, com a tirania e os tiranetes. Acabar com um país enfeudado aos interesses de meia dúzia de famílias que arrecadavam a totalidade das rendas e dos lucros e construir um novo com paz, solidariedade e justiça.

E pôs mãos – à-obra!

Transformou um golpe de estado numa revolução. Pôs fim à guerra colonial e restaurou a democracia politica, pôs a economia ao serviço dos portugueses, nacionalizou a banca, desenhou e aprovou a mais progressista das Constituições da Europa, promoveu eleições livres para todos níveis do poder, abriu as portas das prisões políticas, os estabelecimentos de ensino, a criatividade de cada um, cortou grilhetas e mordaças.

E fê-lo em, tão só, quinhentos e setenta e nove dias. Tempo em que pôde construir futuro. Tempo em que durou a sua/nossa ingenuidade que viria a ser brutalmente “desmentida” com a saída dos armários daqueles que só por mera tática ou por ocultos medos fingiam aceitar o Portugal Novo.

Foi um sonho lindo que findou…

Hoje, nesse país à beira mar plantado, depois de contínuas operações de branqueamento da ditadura terrorista de Salazar e Caetano, já é no Parlamento Nacional que se homenageiam alguns dos que morreram com as mãos sujas de sangue e dor de milhares de democratas. O mesmo parlamento onde se esquecem e escondem os que fizeram Abril.

Hoje quase meio século depois voltamos a um tempo em que governantes de faz de conta voltaram a ser meros “manajeiros” à ordem dos “DDT” que voltaram a decidir da vida e da morte dos governados.

E por isso, fundamentalmente por isso, neste país que ousou sonhar, empobrece-se e morre-se a trabalhar enquanto um conjunto de famílias (as do antigamente e outras entretanto nascidas) voltam a enriquecer na proporção em que cresce a pobreza e diminuem as condições de vida da população e dos trabalhadores.

O Estado (como com Salazar) volta a “enriquecer” à custa da miséria do país e do portugueses e também como com Salazar voltamos a ser arrastados para guerras com as quais nada temos a ver.

No passado dia 27 (quinta-feira) a maioria absoluta do PS aprovou na especialidade o Orçamento de Estado que o governo desenhou e que garante aos mais ricos continuarem a enriquecer e condena os trabalhadores e os reformados a continuarem o seu empobrecimento. É um OE que não corresponde aos problemas do país. Está amarrado aos compromissos com a União Europeia e as suas imposições, negligenciando as respostas que os trabalhadores e todos os que vivem do seu trabalho ou pensão precisam.

Um OE que tem na redução da dívida e contenção do défice o elemento que justifica a opção pelo capital, que falha na resposta à defesa e salvaguarda dos serviços públicos, à valorização dos seus trabalhadores e ao papel que cabe ao Estado na dinamização da economia e na promoção da coesão social e territorial.

Muitos, demasiados penso eu, afadigam-se em fazer-nos crer que governo e maioria não fazem o que devem por falta de meios. Outros porque perfeitamente enfeudados aos interesses de “quem manda” vão mais longe e subscrevem acordos cuja finalidade é tão só branquear o “saque”. E nós, os que sonhámos, construímos e defendemos o sonho e assistimos agora à instrumentalização da pobreza e da fome pelos que a provocam e às feiras de vaidades exibidas em festarolas e discursatas para “pobrezinho” ver, vamos continuar a esperar?

 Até quando?

Diogo Júlio Serra

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