Era uma vez
um país…
Um país, comigo dentro, que
sonhou poder um dia acabar com a miséria, com a guerra, com a tirania e os tiranetes.
Acabar com um país enfeudado aos interesses de meia dúzia de famílias que
arrecadavam a totalidade das rendas e dos lucros e construir um novo com paz,
solidariedade e justiça.
E pôs mãos – à-obra!
Transformou um golpe de estado
numa revolução. Pôs fim à guerra colonial e restaurou a democracia politica,
pôs a economia ao serviço dos portugueses, nacionalizou a banca, desenhou e
aprovou a mais progressista das Constituições da Europa, promoveu eleições
livres para todos níveis do poder, abriu as portas das prisões políticas, os
estabelecimentos de ensino, a criatividade de cada um, cortou grilhetas e
mordaças.
E fê-lo em, tão só, quinhentos e
setenta e nove dias. Tempo em que pôde construir futuro. Tempo em que durou a
sua/nossa ingenuidade que viria a ser brutalmente “desmentida” com a saída dos
armários daqueles que só por mera tática ou por ocultos medos fingiam aceitar o
Portugal Novo.
Foi um sonho lindo que findou…
Hoje, nesse país à beira mar
plantado, depois de contínuas operações de branqueamento da ditadura terrorista
de Salazar e Caetano, já é no Parlamento Nacional que se homenageiam alguns dos
que morreram com as mãos sujas de sangue e dor de milhares de democratas. O
mesmo parlamento onde se esquecem e escondem os que fizeram Abril.
Hoje quase meio século depois
voltamos a um tempo em que governantes de faz de conta voltaram a ser meros
“manajeiros” à ordem dos “DDT” que voltaram a decidir da vida e da morte dos
governados.
E por isso, fundamentalmente por
isso, neste país que ousou sonhar, empobrece-se e morre-se a trabalhar enquanto
um conjunto de famílias (as do antigamente e outras entretanto nascidas) voltam
a enriquecer na proporção em que cresce a pobreza e diminuem as condições de
vida da população e dos trabalhadores.
O Estado (como com Salazar) volta
a “enriquecer” à custa da miséria do país e do portugueses e também como com
Salazar voltamos a ser arrastados para guerras com as quais nada temos a ver.
No passado dia 27 (quinta-feira)
a maioria absoluta do PS aprovou na especialidade o Orçamento de Estado que o
governo desenhou e que garante aos mais ricos continuarem a enriquecer e
condena os trabalhadores e os reformados a continuarem o seu empobrecimento. É
um OE que não corresponde aos problemas do país. Está amarrado aos compromissos
com a União Europeia e as suas imposições, negligenciando as respostas que os
trabalhadores e todos os que vivem do seu trabalho ou pensão precisam.
Um OE que tem na redução da
dívida e contenção do défice o elemento que justifica a opção pelo capital, que
falha na resposta à defesa e salvaguarda dos serviços públicos, à valorização
dos seus trabalhadores e ao papel que cabe ao Estado na dinamização da economia
e na promoção da coesão social e territorial.
Muitos, demasiados penso eu,
afadigam-se em fazer-nos crer que governo e maioria não fazem o que devem por
falta de meios. Outros porque perfeitamente enfeudados aos interesses de “quem
manda” vão mais longe e subscrevem acordos cuja finalidade é tão só branquear o
“saque”. E nós, os que sonhámos, construímos e defendemos o sonho e assistimos
agora à instrumentalização da pobreza e da fome pelos que a provocam e às
feiras de vaidades exibidas em festarolas e discursatas para “pobrezinho” ver,
vamos continuar a esperar?
Até quando?
Diogo Júlio Serra
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