quarta-feira, 1 de junho de 2022

1º de Maio em Arronches

 


1º DE MAIO – DIA DA CLASSE TRABALHADORA

Neste ano de 2022, em Portugal, voltámos a comemorar Maio em Liberdade.

Com organização da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, os trabalhadores voltaram a sair à rua para com alegria e luta celebrarem os seus heróis, assinalarem as suas vitórias, reivindicarem trabalho digno com reposição de direitos e novas conquistas civilizacionais.

Nem sempre foi assim em Portugal. Ainda não pode ser assim em muitos países e regiões.

O Primeiro de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, é assinalado em todo o mundo mas ainda não o é, em muitos locais, em Liberdade.

Em jeito de história.

O primeiro de Maio foi proclamado como dia Internacional dos Trabalhadores pelo Congresso Socialista reunido em Paris no ano de 1889, em homenagem à luta dos trabalhadores têxteis de Chicago e às suas reivindicações e como repudio à repressão que sobre eles se abateu três anos antes.

A partir de 1890, não mais se deixou de assinalar este dia com ações reivindicativas, com festa e luta conforme os condicionalismos vividos pelos trabalhadores de cada país.

Em Portugal a data foi assinalada desde o primeiro ano, até porque no Congresso de Paris haviam participado como delegados, os portugueses Manuel Luís de Figueiredo e Francisco Viterbo de Campos. Em Lisboa cerca de 8 mil pessoas realizaram uma romagem à campa de José Fontana local onde intervieram Evaristo Judícibus e Manuel Luís de Figueiredo. No Porto realiza-se uma concentração no Monte Aventino que juntou milhares de trabalhadores.

No nosso distrito e em particular na cidade de Portalegre o 1º de Maio começa também a ser assinalado logo em 1890 mas tão só com referências na imprensa local. As sessões públicas só se iniciam em 1893 e só em 1898 acontece a primeira manifestação de rua.

O 1º de Maio em Arronches

A história do movimento operário no nosso concelho ainda está por fazer. Muitos dos registos que chegaram até nós constam das atas do município ou dos registos de correspondentes locais de alguns dos jornais operários e republicanos da época, na sua maioria já do período republicano.

Tendo em conta que Arronches era um” baluarte do republicanismo” e conhecida a existência de operários (artesãos e rurais) entre os seus principais vultos será fácil percecionarmos que as movimentações operarias e em particular o 1º de Maio não ficaram à porta do concelho. Aliás, a atribuição do nome 1º de Maio ao Passeio Publico, nos primeiros anos da república e a forma como aqui foi recebida a Comissão Executiva do Congresso Operário em digressão de propaganda junto do mundo rural, bem como as referências registadas à ação e influência no seio do Movimento Republicano (ainda durante a monarquia) do operário José Lopes, podem confirmar tal ideia.

A queda da 1ª Republica e a imposição da ditadura militar e do salazarismo dificultaram, também aqui, quaisquer ações públicas de comemoração operária mas, mesmo assim, eram “normais” e publicas as pequenas ações e gestos que desafiando a ditadura assinalavam a data.

Os mais velhos recordamos o “ Mestre Armando”, mecânico, natural de Alcântara, casado com Dona Ana Elói e residente ao cimo da rua do Arco.

Era mecânico (e também conduzia o carro de aluguer) da estação de serviços do Sr. Marcelino Salgueiro. Sempre de fato de macaco de ganga azul, de operário como gostava de ensinar aos mais jovens. Trabalhador incansável trabalhava todos os dias de semana, feriados e dias santos. A exceção era o dia 1 de Maio. Nesse dia pura e simplesmente não trabalhava e era vê-lo manhã cedo na Praça da Republica e depois no Café Lusitano, fato completo e gravata vermelha, a comemorar o Dia Internacional do Trabalhador e, dessa forma, a afrontar a ditadura.

A Revolução de Abril abriu as prisões e as mentes. O 1º de Maio de 1974 foi o mar de gente que validou o Movimento dos Capitães e o regime democrático. Do que foi nas grandes cidades e particularmente em Lisboa existem registos suficientes para o atestarmos.

Em Arronches foi igualmente o dia maior da nossa história moderna. Foi de longe a maior manifestação alguma vez aqui realizada mas foi também o dia em que a esmagadora maioria dos arronchenses estiveram juntos e felizes.

A Manifestação do 1º de Maio, organizada a partir do Centro Republicano por ativistas do MDP e por “velhos republicanos” foi de facto uma enorme manifestação de unidade e liberdade.

Aos arronchenses convocados/avisados através da aparelhagem sonora montada na “4L” com que o Zé Martinho anunciava as sessões de cinema e pelas vozes do comerciante António Bigares e do Carteiro Luís Balbino, juntaram-se mais umas dezenas de manifestantes vindos de Portalegre com o Eduardo Basso. Todos, levando à frente a bandeira nacional empunhada por mestre Carrefe e mestre Luís Balbino percorreram as principais ruas da vila e na Praça escutaram os discursos proferidos da varanda do Centro Republicano Arronchense.

Em 1975, em condições já muito diferentes, com uma intensa luta partidária que opunha em particular socialistas e comunistas foi ainda possível, em Arronches, comemorar Maio em Unidade.

Foi possível porque amizade e respeito que unia os protagonistas locais foi mais forte que as diretrizes partidárias.

Estava anunciada, então já pelo movimento sindical, a manifestação e comício na praça da Republica, quando a estrutura local do Partido Socialista, seguindo as diretivas nacionais anunciou o “seu” Primeiro de Maio com piqueniques no campo.

Foi necessário por em ação o respeito e a amizade que unia todos os que aqui tinham uma palavra a dizer. E funcionou! De manhã, com todos, (as fotos mostram as várias bandeiras das forças politicas presentes) na manifestação e comício na Praça da Republica. De tarde, todos, no convívio campestre com piquenique e bailarico nos terrenos adjacentes.

A partir desse ano, o Primeiro de Maio não voltou a ser comemorado em Arronches, com ações de rua. As comemorações passaram a ser distritais e todos os arronchenses que o pretendiam passaram a deslocar-se para Portalegre.

 

Diogo Júlio Serra

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