1º
DE MAIO – DIA DA CLASSE TRABALHADORA
Neste ano de 2022, em Portugal, voltámos a comemorar Maio em Liberdade.
Com organização da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, os
trabalhadores voltaram a sair à rua para com alegria e luta celebrarem os seus
heróis, assinalarem as suas vitórias, reivindicarem trabalho digno com
reposição de direitos e novas conquistas civilizacionais.
Nem sempre foi assim em Portugal. Ainda não pode ser assim em muitos
países e regiões.
O Primeiro de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, é assinalado
em todo o mundo mas ainda não o é, em muitos locais, em Liberdade.
Em jeito de história.
O primeiro de Maio foi proclamado como dia Internacional dos Trabalhadores
pelo Congresso Socialista reunido em Paris no ano de 1889, em homenagem à luta
dos trabalhadores têxteis de Chicago e às suas reivindicações e como repudio à
repressão que sobre eles se abateu três anos antes.
A partir de 1890, não mais se deixou de assinalar este dia com ações
reivindicativas, com festa e luta conforme os condicionalismos vividos pelos
trabalhadores de cada país.
Em Portugal a data foi assinalada desde o primeiro ano, até porque no
Congresso de Paris haviam participado como delegados, os portugueses Manuel
Luís de Figueiredo e Francisco Viterbo de Campos. Em Lisboa cerca de 8 mil
pessoas realizaram uma romagem à campa de José Fontana local onde intervieram
Evaristo Judícibus e Manuel Luís de Figueiredo. No Porto realiza-se uma
concentração no Monte Aventino que juntou milhares de trabalhadores.
No nosso distrito e em particular na cidade de Portalegre o 1º de Maio
começa também a ser assinalado logo em 1890 mas tão só com referências na
imprensa local. As sessões públicas só se iniciam em 1893 e só em 1898 acontece
a primeira manifestação de rua.
O 1º de Maio em Arronches
A história do movimento operário no nosso concelho ainda está por
fazer. Muitos dos registos que chegaram até nós constam das atas do município
ou dos registos de correspondentes locais de alguns dos jornais operários e
republicanos da época, na sua maioria já do período republicano.
Tendo em conta que Arronches era um” baluarte do republicanismo” e
conhecida a existência de operários (artesãos e rurais) entre os seus
principais vultos será fácil percecionarmos que as movimentações operarias e em
particular o 1º de Maio não ficaram à porta do concelho. Aliás, a atribuição do
nome 1º de Maio ao Passeio Publico, nos primeiros anos da república e a forma
como aqui foi recebida a Comissão Executiva do Congresso Operário em digressão
de propaganda junto do mundo rural, bem como as referências registadas à ação e
influência no seio do Movimento Republicano (ainda durante a monarquia) do operário
José Lopes, podem confirmar tal ideia.
A queda da 1ª Republica e a imposição da ditadura militar e do
salazarismo dificultaram, também aqui, quaisquer ações públicas de comemoração
operária mas, mesmo assim, eram “normais” e publicas as pequenas ações e gestos
que desafiando a ditadura assinalavam a data.
Os mais velhos recordamos o “ Mestre Armando”, mecânico, natural de
Alcântara, casado com Dona Ana Elói e residente ao cimo da rua do Arco.
Era mecânico (e também conduzia o carro de aluguer) da estação de
serviços do Sr. Marcelino Salgueiro. Sempre de fato de macaco de ganga azul, de
operário como gostava de ensinar aos mais jovens. Trabalhador incansável
trabalhava todos os dias de semana, feriados e dias santos. A exceção era o dia
1 de Maio. Nesse dia pura e simplesmente não trabalhava e era vê-lo manhã cedo
na Praça da Republica e depois no Café Lusitano, fato completo e gravata
vermelha, a comemorar o Dia Internacional do Trabalhador e, dessa forma, a
afrontar a ditadura.
A Revolução de Abril abriu as prisões e as mentes. O 1º de Maio de 1974
foi o mar de gente que validou o Movimento dos Capitães e o regime democrático.
Do que foi nas grandes cidades e particularmente em Lisboa existem registos
suficientes para o atestarmos.
Em Arronches foi igualmente o dia maior da nossa história moderna. Foi
de longe a maior manifestação alguma vez aqui realizada mas foi também o dia em
que a esmagadora maioria dos arronchenses estiveram juntos e felizes.
A Manifestação do 1º de Maio, organizada a partir do Centro Republicano
por ativistas do MDP e por “velhos republicanos” foi de facto uma enorme
manifestação de unidade e liberdade.
Aos arronchenses convocados/avisados através da aparelhagem sonora
montada na “4L” com que o Zé Martinho anunciava as sessões de cinema e pelas
vozes do comerciante António Bigares e do Carteiro Luís Balbino, juntaram-se
mais umas dezenas de manifestantes vindos de Portalegre com o Eduardo Basso.
Todos, levando à frente a bandeira nacional empunhada por mestre Carrefe e
mestre Luís Balbino percorreram as principais ruas da vila e na Praça escutaram
os discursos proferidos da varanda do Centro Republicano Arronchense.
Em 1975, em condições já muito diferentes, com uma intensa luta
partidária que opunha em particular socialistas e comunistas foi ainda
possível, em Arronches, comemorar Maio em Unidade.
Foi possível porque amizade e respeito que unia os protagonistas locais
foi mais forte que as diretrizes partidárias.
Estava anunciada, então já pelo movimento sindical, a manifestação e
comício na praça da Republica, quando a estrutura local do Partido Socialista,
seguindo as diretivas nacionais anunciou o “seu” Primeiro de Maio com
piqueniques no campo.
Foi necessário por em ação o respeito e a amizade que unia todos os que
aqui tinham uma palavra a dizer. E funcionou! De manhã, com todos, (as fotos
mostram as várias bandeiras das forças politicas presentes) na manifestação e
comício na Praça da Republica. De tarde, todos, no convívio campestre com piquenique
e bailarico nos terrenos adjacentes.
A partir desse ano, o Primeiro de Maio não voltou a ser comemorado em
Arronches, com ações de rua. As comemorações passaram a ser distritais e todos
os arronchenses que o pretendiam passaram a deslocar-se para Portalegre.
Diogo Júlio Serra
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