quarta-feira, 18 de maio de 2022

MAIO, MADURO MAIO!

 

MAIO, MADURO MAIO…*

Dia 27 de Maio, por todo o país e incluindo todos os setores de atividade os trabalhadores voltam à rua para reafirmarem as exigências do 1º de Maio de Trabalho digno e com Direitos pelo aumento dos salários e das pensões pelo direito à contratação coletiva e pela jornada de trabalho semanal de 35 horas para todos os trabalhadores.

E porque, como não se cansam de afirmar o aumento do salário é (de facto) justo e necessário, exigem, e com razão, o aumento do salário mínimo para níveis que garantam um mínimo de dignidade mas também, que ele empurre em vez de absorver os salários superiores de forma a inverter a tendência de esmagamento do salário médio.

Em 2022, 136 anos depois dos acontecimentos de Chicago e 60 anos depois da conquista das oito horas nos campos do Alentejo e Ribatejo continuam a ser os salários dignos e a redução dos horários de trabalho as bandeiras desfraldadas pelo movimento sindical em praças e avenidas de todo o país.

Como sempre, desde que a classe trabalhadora assumiu a luta pelos seus direitos, não lhes faltará quer o apoio dos seus representados quer a censura dos que continuam a entender os trabalhadores como peças descartáveis na sua sede de lucros. Não faltarão ainda os que por desconhecimento ou cegueira ideológica continuarão a ver justeza nas reivindicações mas impossibilidades de concretização pelas mil e uma razões que o capital lhes vendeu e vende.

Importa pois, partir para o debate e ganhar a sociedade para a justeza da exigência de trabalho digno e com reposição de direitos.

O apoio da classe trabalhadora é não só esperado como da maior justiça tanto mais que as reivindicações correspondem a uma necessidade por todos reconhecida, face à perda de poder de compra dos salários. Situação que se vem agravando na última década.

Também a censura de quantos persistem em ver os trabalhadores como peças do (seu) mecanismo de multiplicação de lucros não será surpresa. Como também não o serão as posições marcadas pelos medos semeados pelos próprios detentores do capital ou pelos seus megafones de serviço na comunicação social ou até entre a classe trabalhadora.

É para estes últimos, para os que por medo ou traição se posicionam contra a justeza das reivindicações e das lutas necessárias à sua concretização, que deverá ser canalizado o esclarecimento e a persuasão. E não será difícil mostrar-lhes que as reivindicações apresentadas pelos trabalhadores portugueses no 1º de Maio e renovadas no próximo dia 27 são não apenas justas e necessárias mas também possíveis de satisfazer.

O gráfico acima da autoria do economista Eugénio Rosa mostra-nos a evolução da distribuição da Riqueza Produzida entre o capital e o trabalho. Um olhar, por menos atento, notará de imediato que independentemente da evolução da riqueza produzida ela é injustamente distribuída: os trabalhadores receberam em 2019, sob a forma de “ordenados e salários” 35% do PIB enquanto para os donos do capital reverteu em “excedente bruto da exploração” 41% do PIB.

É uma trajetória que tem vindo a ser agravada. Entre 2008 e 2019, a parte do Trabalho no Produto Interno Bruto, diminuiu de 36,5% para 35% enquanto a do Capital aumentou de 40,6% para 41%

 A situação é de tal modo escandalosa e afastada da média europeia que foi o próprio governo, que não pode ser “acusado” de “pró-trabalhadores”, quem decidiu avançar com a chamada Agência para o Trabalho Digno que, apesar de ser pouco mais que uma operação de cosmética, mereceu de imediato ataques desabridos das associações patronais.

O problema, é já de um problema nacional que se trata, não pode ficar mais tempo sem solução. A perda acentuada do poder de compra dos salários e o esmagamento dos rendimentos dos trabalhadores mais qualificados (que incorretamente gostam de apelidar de classe média) está a colocar problemas em cadeia e que ultrapassam em muito a tragédia que significa em Portugal empobrecer-se a trabalhar.

Atente-se que são os trabalhadores qualificados do público e do privado os que “alimentam” as economias locais e têm sido esses os que têm sofrido as maiores perdas nas últimas décadas.

O exemplo da Função pública aqui ilustrado com a tabela de evolução salarial dos Assistentes Técnicos é ilustrativo da perda de poder de compra dos salários, do esmagamento do salário médio e da passagem a um país de salário mínimo.

Uma situação que coloca problemas gravíssimos à gestão dos recursos humanos das empresas onde já coexistem trabalhadores com décadas de experiência e altas qualificações com recém admitidos, unidos pelo salário mínimo ou muito próximos desse patamar.

São estas as razões que justificam a luta.

É Justo e Necessário o aumento do salário.

Diogo Júlio Serra

*publicado no Jornal do Alto Alentejo (sem os gráficos)

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