sexta-feira, 17 de junho de 2022

Palavras leva-as o vento. É pela luta que lá vamos!

 


Palavras leva-as o vento. É pela luta que lá vamos!

 

A Declaração da OIT – Organização Internacional do Trabalho passará a integrar uma nova categoria de direitos: O direito a um ambiente de trabalho seguro e saudável.

Este direito agora aprovado junta-se aos quatro que faziam já parte da declaração adoptada em 1998: a liberdade de associação e o reconhecimento efectivo do direito à negociação colectiva, a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório, a abolição efectiva do trabalho infantil e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e profissão.

É uma boa notícia para os trabalhadores e um avanço significativo nos direitos regulamentados em instituições internacionais.

Por cá, ao que parece, a gravíssima situação com quem se debatem os trabalhadores e que faz crescer o número dos que empobrecem a trabalhar fez tilintar campainhas no gabinete do 1º ministro e despertar António Costa para a realidade que o Movimento Sindical de Classe há muito vem denunciando: a distribuição da riqueza produzida em desfavor do trabalho, coloca o nosso país como “campeão” no que respeita à apropriação, pelo capital, da riqueza produzida e dessa realidade estar a destruir a economia e a levar à ruína grande parte do nosso tecido económico, baseado em pequenas e muito pequenas empresas suportadas pelo mercado interno e assente no poder de compra das famílias em particular dos trabalhadores por conta de outrem.

É por demais compreensível a necessidade de aumentar significativamente o salário médio em Portugal que, registe-se está a ser “devorado” pelo também baixíssimo salário mínimo nacional. Já não o será a forma como o Primeiro-Ministro colocou essa necessidade na agenda política.

De facto, não é pelo apelo à consciência social de quem todos sabemos não a ter ou avançando números de aumentos nominais que podem produzir impacto mediático mas não garantem, mesmo que aplicados a correcção dos males conhecidos.

Vejamos:

Que “moral” tem o governo central para apontar crescimentos médios de 5% ao ano quando enquanto empregador impõe aos seus trabalhadores aumentos de 0,9% para um ano em que a inflação se estima ultrapassará os 8% ?

Como é que pode ser sincera a vontade de fazer crescer (mesmo que nominalmente) os salários médios quando se recusa anular a legislação/travão colocada à negociação colectiva nos tempos da troika?

É, dir-me-ão alguns, uma aposta na sensibilização do capital para que este assuma o papel social das empresas no esforço que é necessário para valorizar o trabalho e os trabalhadores. Se o é, a situação é ainda mais grave. Significa que o Primeiro Ministro não conhece quer os patrões e as suas associações, quer os seus próprios ministros.

A “gritaria” que de imediato foi organizada contra esse “atentado” ao sacrossanto lucro envolve as associações patronais, membros do governo e segmentos do partido que o suporta.

 Não há saída para a situação? Não há nada a fazer? Só nos resta aceitar?

Claro que não. Claro que há solução e nem é preciso inventar nada de novo.

A solução está como sempre na união, mobilização e vontade de quem produz a riqueza  e esses não são quem um dirigente associativo patronal veio esta semana dizer a Portalegre. Não são o sector privado (ou público). São os trabalhadores e estes a partir do Alto Alentejo deram-nos nos últimos dias sinais de grande alento: os trabalhadores da empresa Águas de Portugal e os trabalhadores da Corticeira Amorim em Ponte de Sor,  na rua e em luta, mostraram-nos que é possível!

Que não se cansem. Que o seu exemplo frutifique. Porque é com a luta que lá vamos!

 

Diogo Júlio Serra

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