quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Ninguém quer trabalhar? Pois!

 

Ninguém quer trabalhar? Pois!

 


Em 2021, quarenta e sete anos depois da Revolução do Cravos e quarenta e seis após o golpe que a travou e permitiu o regresso dos velhos poderes, o Governo de Portugal, pela voz do seu ministro da Economia, anunciou ao país ter decidido premiar os patrões que têm trabalhadores abrangidos pelo aumento (miserável) do Salário Mínimo Nacional.

Pelo segundo ano consecutivo, o governo premeia os patrões cujas políticas salariais são o espelho de um país confinado ao espartilho do trabalho mal remunerado, de baixa e muito baixa produtividade, da precariedade e da submissão ao “subsidiozinho”.

E não se pense que a medida visa apoiar os pequenos e muitos pequenos empresários que, também eles se têm que multiplicar em “invenções “ para conseguirem sobreviver.

O Governo, o mesmíssimo governo e o partido que o suporta, que se recusam a revogar as normas mais gravosas da legislação laboral impostas pelas troikas internacional e nacional, que enquanto empregador está a exaurir os serviços de quadros médios e superiores necessários ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado. Que corre o sério risco (será que não é isso que quer?) de ver paralisados o Sistema de Ensino e o Serviço Nacional de Saúde por incapacidade de repôr os que se reformam e atrair novos quadros, apresenta-se “orgulhoso” em subsidiar os patrões que pagam o SMN com um subsídio por trabalhador abrangido de 12 euros/mês.

As centrais patronais, como já é habitual, lá vieram a público dizer que é pouco mas é um bom sinal. Vislumbram – como eu – que independentemente do montante é um sinal de afirmação que o partido socialista e o seu governo darão continuação à vontade que os levou a derrubarem o seu próprio governo – o regresso às políticas de favorecimento do capital em desfavor do trabalho e dos trabalhadores.

E tudo isto num tempo e num país em que a parte da riqueza produzida e depois distribuída para o trabalho é de pouco mais de 36% já abaixo da média da “europa comunitária”.

Quando são vários os estudos que nos mostram que em Portugal, hoje o número de pobres aumenta e entre eles e com um número muito significativo há portugueses que empobrecem a trabalhar. Um quinto da população portuguesa, segundo o INE vive na pobreza e neste número 60% são trabalhadores efectivos. A análise aos perfis dos empregados mostra que representam 32,9% dos pobres e 10,8% do total da população com trabalho.

Tudo isto, e não é nada pouco, num tempo e num país em que a cada dia patrões e a sua comunicação social, inundam as nossas casas e pensamentos com a falta de gente para trabalhar, com hotéis, restaurantes e fabricas que não conseguem recrutar pessoal, com o pessoal do campo a dizer-nos que é ano de fartura de azeitona mas que não conseguirão gente para a recolher.

Com um governo apostado em governar (como diz mas não faz) à esquerda seriam possíveis tais situações?

Mais, será possível a um país, seja qual seja, que aposte no Turismo (ou qualquer outro sector económico) como sua principal ferramenta de desenvolvimento e permita a esse sector manter-se como o que mais mal paga aos seus trabalhadores, que fomente a precariedade e a sazonalidade. Um sector que não forme, não cuide, não conserve?

Não, não é possível. Um país desenvolvido e moderno tem que assentar num pro­jecto de de­sen­vol­vi­mento cre­dível e sus­ten­tado. Deve as­sentar, numa época em que se de­sen­volvem novas tec­no­lo­gias (num quadro de en­ve­lhe­ci­mento da po­pu­lação e de uma acen­tuada quebra de­mo­grá­fica), so­bre­tudo no de­sen­vol­vi­mento e en­ri­que­ci­mento hu­mano. Deve apostar de forma inequí­voca na edu­cação, na for­mação, na valorização do trabalho e dos trabalhadores.

Que pensemos nisto, todos, quando fizermos as nossas escolhas!

Diogo Júlio Serra.

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