As Primeiras Eleições Livres para as Autarquias Locais*
Cumprem-se agora, no próximo dia 12 de Dezembro,
quarenta e cinco anos das eleições autárquicas de 1976, as segundas eleições
livres depois do esmagamento da 1ª Republica. Foram, também em Arronches, o
verdadeiro teste à vontade dos cidadãos se envolverem na gestão da coisa
publica e também, uma grande afirmação de convivência democrática e de procura
de soluções a nível local.
Com as estruturas salazaristas desmanteladas ou
paralisadas pelo medo, sem contar com a presença das antigas organizações
republicanas e com as organizações partidárias recentemente formadas e sem
experiência político-partidária e as já existentes acabadas de sair da
clandestinidade foram os cidadãos e em particular os jovens quem, no nosso
concelho e a exemplo do que já fora feito para garantir o recenseamento,
meteram mãos à obra e assumiram o esclarecimento indispensável e, quantas
vezes, o trabalho burocrático necessário a garantir a apresentação das
candidaturas.
As
figuras reconhecidamente opositoras ao regime derrubado, na sua maior parte
organizadas à volta do Centro Republicano Arronchense e que imediatamente ao 25
de Abril deram corpo à organização concelhia do MDP/CDE já haviam tomado as
suas opções partidárias e dividiam-se agora, pelo MDP, pelo PPD e pelo CDS
entretanto criados, pelo Partido Socialista, fundado em 1973 e pelo Partido
Comunista Português que atravessara a ditadura e recuperava agora muitos dos
seus quadros que haviam permanecido no MDP/CDE e nas organizações associativas.
Apresentaram-se
a escrutínio 3 forças políticas: A FEPU – Frente Eleitoral Povo Unido,
constituída pelo Partido Comunista Português o MDP/CDE e a Frente Socialista
Popular, O PS - Partido Socialista Português e o CDS – Centro Democrático e
Social. [1]
Estavam inscritos nos cadernos
eleitorais 3.440 cidadãos e exerceram o seu direito de voto 2.323 eleitores,
(67,55 %). As eleições foram ganhas pelo Partido Socialista que ficou em
primeiro lugar para todos os órgãos.
Dos resultados eleitorais sairia o
primeiro executivo municipal eleito livremente pelos seus concidadãos cuja
composição correspondia aos votos expressos pelos eleitores do concelho:
Miguel Joaquim Lagarto, Pedreiro/Mestre-de-obras, (PS) –
Presidente e como vereadores, António Branco Pereira Marouço, Industrial de
Moagem (FEPU); Gil da Conceição Palmeiro Romão, Funcionário da Segurança Social
(PS); Joaquim Teodoro Carvão Patacas, Comerciante. (CDS) e José Henrique Goucho
Marouço, Comerciante (FEPU).
Para a Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia os
resultados não foram diferentes pelo que a composição ficou assim ordenada: restantes
órgãos a votação e composição foram as seguintes:
Assembleia Municipal
José Francisco Dias, sapateiro (PS), Presidente,
António Luís Palmeiro Bigares, comerciante (PS) 1º Secretário, Júlio Fernandes,
comerciante (PS), 2º Secretário e os deputados municipais: Artur Américo da
Conceição Bastos, funcionário público (FEPU),Manuel Joaquim Charrua Santos,
gerente comercial, (FEPU), António Mendes Mota, Eng.º técnico – aposentado (CDS),
Arménio José Vieira Grilo, comerciante (CDS) e João Augusto Venâncio Gravito,
serralheiro, (PS).
As três Juntas de freguesia do concelho
passaram a ser presididas por cidadãos eleitos pelo Partido Socialista e foram
constituídas alianças (as primeiras) PS/CDS destinadas a afastarem dos órgãos
executivos e de direção os eleitos da FEPU dando os resultados seguintes:
Junta de Freguesia de Assunção
Luís
Dâmaso – Comerciante, PS – Presidente
José
Augusto Germano da Silva – Carpinteiro, CDS – Secretário
José
Francisco Trabuco – Funcionário Corporativo, PS – Tesoureiro.
Junta de Freguesia de Esperança
António
Sena Manuelito – Agricultor, PS – Presidente
João
Baptista Duarte – Comerciante, PS – Secretário
Vítor
Bengala Nunes – Mecânico, PS - Tesoureiro
Junta de Freguesia de Mosteiros
Manuel
Joaquim Caldeira Palma – Padeiro, PS – Presidente
João
António Pereira, Comerciante, PS – Secretário
João
António Rodrigues Marques, PS – Tesoureiro.
Quarenta e cinco anos depois já não são muitos os que de
entre eles ainda estão entre nós: O Gil Romão, que integrou o primeiro
executivo municipal, Charrua Santos e João Gravito eleitos na Assembleia
Municipal. O Vitor Nunes e o Manuel Palma que integraram os executivos das suas
freguesias estão connosco e são testemunhas do que então vivemos e que importa
manter vivo: a enorme capacidade e vontade de eleitores e eleitos em
ultrapassaram as inúmeras barreiras que a inexperiência e a debilidade dos
meios ao dispor impunham a todos.
Os “papéis” eram na sua maioria policopiados e só alguns,
os essenciais eram feito em papel baratinho e apenas a uma cor, na tipografia mais
próxima.
Os cartazes eram colados por todo o concelho usando o
pincel da caiação e com cola feita a partir da água, da soda caustica e da
farinha. As paredes, as de maior visibilidade e facilidade de acesso eram
duramente disputadas ma escadas, escadotes e muitas vezes a própria cola eram
partilhados por todas as candidaturas.
O “som”- as cornetas transportadas no tejadilho dos carros
(quando os havia) distribuíam “berraria” disfarçada de música ou de slogans de
campanha e os comícios e sessões de esclarecimento multiplicavam-se por todo os
concelho e garantiam, então era assim, sempre casas cheias.
O espirito de ”festa” foi até às urnas de voto. Em cada uma
das secções de voto existentes no concelho, escrutinadores e delegados das
listas concorrentes, todos voluntários pró-bono, eram mimados com petiscos e
bebidas, levados pelos eleitores e que transformavam as salas mais reservadas
de cada secção em local de peregrinação para quem garantia as mesas de voto e
os que aí iam votar.
Conhecidos os resultados eleitorais, quer a euforia dos
vencedores quer a tristeza dos vencidos cedo deu lugar à festa e à celebração
de, pela primeira vez, os dirigentes de cada uma das autarquias do concelho
serem aqueles que os seus pares livremente haviam escolhidos.
Foi assim, que também aqui, se deitaram as sementes à
terra. Sementes que germinaram e que permitiram que este ano, quarenta e cinco
anos depois, voltássemos a decidir quem irá dirigir por mais um mandato os
órgãos do município.
[1] O PPD não apresentou listas mas integrou filiados seus
nas listas CDS