Incompetência ou maldição?
A
fábrica dos Robinson ou fábrica da rolha foi ao longo de quase dois séculos um
factor de modernidade e desenvolvimento de Portalegre e, sempre, a principal
empregadora dos portalegrenses.
Foi-o
desde a sua fundação por George Robinson pai em 1840 e principalmente durante a
gestão de George Robinson filho e continuou a sê-lo durante várias décadas
quando em 1940 a família Robinson se afastou da empresa e esta passou para a
posse duma sociedade de capital português.
Desde a
fundação até à década de 80 do século passado a Robinson continuou a garantir
emprego a um número significativo de famílias portalegrenses e a levar o nome
de Portalegre aos vários continentes mesmo quando as rolhas já haviam dado
lugar a novas aplicações na construção civil e na aeronáutica.
Quando
a democracia política abriu portas ao regresso dos “velhos senhores”, os
“chico-espertos” iniciaram o processo que em diferentes áreas e a coberto do
poder político de então, haveriam de abrir caminho ao refazer dos monopólios.
No
sector corticeiro também foi assim. No processo de alianças, as aquisições e
concentrações criaram o monopólio no sector deixando de fora, por vontade ou
não das que ficaram, algumas empresas detentoras de know-how, de clientes, mas
necessitadas de mudanças estruturais que os novos tempos impunham.
A
Robinson foi das que optou por não se deixar absorver e era no final do século
passado “um sobreiro” com trabalhadores dedicados, know-how, clientes fiéis em
vários continentes mas totalmente cercada por “árvores de outra qualidade” que
assumiu morrer de pé. No sector, passou a nome maldito.
O nome
“maldito” colou-se à Fundação que visava manter viva a cultura operária e doar
à cidade um espaço de memórias e de futuro e ainda perpectuar a industria
corticeira em Portalegre.
O mesmo
viria a suceder com uma nova empresa, a Robcork, anunciada em 2009, com o
objectivo de continuar a Robinson, mas inaugurada apenas em 2015 e já
encerrada.
Que se
saiba, esta empresa nem sequer arrancou com o processo produtivo. Viu ser-lhe
declarada a falência em Janeiro deste ano. O Estado Português, detentor de 95%
dos créditos da Robcork, recusou a proposta de viabilização apresentada e impôs
a falência da Empresa.
É
maldição? É incompetência? Os culpados serão sempre entidades e pessoas
exteriores à cidade e à região?
Claro
que não! Muitas das responsabilidades de chegarmos ao estado actual podem e
devem ser encontradas no nosso território, entre decisores políticos e gestores
de empresas e instituições mas, reconhecendo-o, é fundamental não perdermos a
perspectiva do porquê e quem deve assacar com o principal dessas
responsabilidades.
Em
relação à Corticeira Robinson está há muito identificada a “culpa”, a qual se
deve às alterações estruturais necessárias e que não foram encetadas e à
própria autarquia que não soube ou não quis garantir com a necessária agilidade
a transferência da fábrica para instalações com as condições necessárias.
Também
em relação à Fundação são conhecidas muitas das razões e particularmente as que
se prendem com a incapacidade financeira e política da sua principal/única proprietária.
E a Robcork?
Talvez também consigamos intuir. Mas é preciso que quem “esteve por dento da
coisa” venha explicar o que na verdade se passou. E que não venham com o
“paleio” de que se trata de um investimento privado e que, por isso, não tem
nada a explicar senão aos seus accionistas. Naquele investimento privado estão
(pelo menos 12 milhões de euros) que serão pagos pelo pagador do costume.
Aguardemos.
Diogo J. Serra
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