Comboios: Vamos tê-los ou, vamos só vê-los passar?*
O problema das acessibilidades
que não temos, continua a pesar significativamente no conjunto de
constrangimentos ao desenvolvimento do nosso território.
São as vias rodoviárias
ultrapassadas ou com insuficiências que não temos conseguido eliminar: os
estrangulamentos do IP2, em Estremoz, a ponte de Santa Eulália que não permite
a passagem veículos de médio porte sejam de passageiros ou de mercadorias, as
vias ferroviárias desactivadas ou obsoletas, a auto-estrada que só nos toca, o
IC 13 que teima em não se concretizar, etc…etc..etc…
Apesar disto, de tempos a tempos
a nossa pacatez (?) é abalada por notícias que parece augurarem um tempo novo
mas que retirado o involucro com que as mascaram, nos voltam a colocar no mais
absurdo isolamento.
Agora tem sido “o tempo das
ferrovias” com as trombetas do poder a anunciarem a chegada do comboio rápido e
com os amplificadores locais a fingirem que “agora é que é”.
O lançamento da reconstrução de
11 km de via entre Elvas e o Caia e o início da via ferroviária, para comboios
de mercadorias em velocidade alta, entre Sines e Elvas trouxe até nós os primeiros-ministros
de Portugal e Espanha, uma comissária de Bruxelas, a comunicação social de um e
outro lado da fronteira e muita propaganda e demagogia.
Entre nós, por desconhecimento,
por má-fé ou por imposição ideológica, políticos e fazedores de opinião
afadigaram-se em integrar o foguetório, desconhecendo ou fingindo não saber que
esta iniciativa “imposta de fora” será, se não forem tomadas outras medidas, o
acelerar e intensificar do nosso isolamento.´
Os exemplos são inúmeros e
deveriam deixar-nos de sobreaviso.
A rede rodoviária que nos
impuseram aí está a mostrar-nos que as auto-estradas que nos tocam, a A23 a
norte e a A6 a sul não são as vias para o desenvolvimento que merecemos mas
barreiras que acentuam o nosso isolamento.
Situação que se irá agravando se
o IC 13 teimar em não ser construído em toda a sua extensão, se não for
construída uma via que atravesse longitudinalmente o norte alentejano ligando a
A23 à A6.
Em termos ferroviários o que é
para nós fundamental é a electrificação da Linha do Leste em toda a sua
extensão, a requalificação do material circulante e a disponibilização do
transporte de passageiros com horários ajustados e, no caso da cidade capital
de distrito, com a construção de um ramal que aproxime o comboio da cidade e
dos portalegrenses.
A nova via que se anuncia para
transportar mercadorias entre o Porto de Sines e Espanha só terá interesse para
o Norte Alentejo se nessa via de velocidade alta circularem passageiros e se a
Plataforma Logística do Sudoeste Ibérico ficar sedeada no Caia e se estender
por ambos os lados da antiga fronteira e se todo este território, incluindo a
sua capital – Portalegre for garantido acesso fácil e rápido.
Só assim, passaremos a ter
comboio em vez de, como até agora, continuarmos a ver passar os comboios…
Diogo Júlio Serra
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