quarta-feira, 14 de março de 2018



Comboios: Vamos tê-los ou, vamos só vê-los passar?*

O problema das acessibilidades que não temos, continua a pesar significativamente no conjunto de constrangimentos ao desenvolvimento do nosso território.

São as vias rodoviárias ultrapassadas ou com insuficiências que não temos conseguido eliminar: os estrangulamentos do IP2, em Estremoz, a ponte de Santa Eulália que não permite a passagem veículos de médio porte sejam de passageiros ou de mercadorias, as vias ferroviárias desactivadas ou obsoletas, a auto-estrada que só nos toca, o IC 13 que teima em não se concretizar, etc…etc..etc…

Apesar disto, de tempos a tempos a nossa pacatez (?) é abalada por notícias que parece augurarem um tempo novo mas que retirado o involucro com que as mascaram, nos voltam a colocar no mais absurdo isolamento.

Agora tem sido “o tempo das ferrovias” com as trombetas do poder a anunciarem a chegada do comboio rápido e com os amplificadores locais a fingirem que “agora é que é”.

O lançamento da reconstrução de 11 km de via entre Elvas e o Caia e o início da via ferroviária, para comboios de mercadorias em velocidade alta, entre Sines e Elvas trouxe até nós os primeiros-ministros de Portugal e Espanha, uma comissária de Bruxelas, a comunicação social de um e outro lado da fronteira e muita propaganda e demagogia.

Entre nós, por desconhecimento, por má-fé ou por imposição ideológica, políticos e fazedores de opinião afadigaram-se em integrar o foguetório, desconhecendo ou fingindo não saber que esta iniciativa “imposta de fora” será, se não forem tomadas outras medidas, o acelerar e intensificar do nosso isolamento.´

Os exemplos são inúmeros e deveriam deixar-nos de sobreaviso.

A rede rodoviária que nos impuseram aí está a mostrar-nos que as auto-estradas que nos tocam, a A23 a norte e a A6 a sul não são as vias para o desenvolvimento que merecemos mas barreiras que acentuam o nosso isolamento.

Situação que se irá agravando se o IC 13 teimar em não ser construído em toda a sua extensão, se não for construída uma via que atravesse longitudinalmente o norte alentejano ligando a A23 à A6.

Em termos ferroviários o que é para nós fundamental é a electrificação da Linha do Leste em toda a sua extensão, a requalificação do material circulante e a disponibilização do transporte de passageiros com horários ajustados e, no caso da cidade capital de distrito, com a construção de um ramal que aproxime o comboio da cidade e dos portalegrenses.

A nova via que se anuncia para transportar mercadorias entre o Porto de Sines e Espanha só terá interesse para o Norte Alentejo se nessa via de velocidade alta circularem passageiros e se a Plataforma Logística do Sudoeste Ibérico ficar sedeada no Caia e se estender por ambos os lados da antiga fronteira e se todo este território, incluindo a sua capital – Portalegre for garantido acesso fácil e rápido.

Só assim, passaremos a ter comboio em vez de, como até agora, continuarmos a ver passar os comboios…

Diogo Júlio Serra
 *publicado no Alto Alentejo de 14-3-18

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