A JUSTIÇA NÃO SE AGRADECE MAS...REGISTA-SE!*
O Município de Portalegre
atribuiu este ano a Medalha de Mérito Municipal, grau ouro, a uma das mais
emblemáticas instituições do nosso concelho, a Cooperativa Operária
Portalegrense, reconhecendo assim o papel daquela “casa” na construção da
“Portalegre Operária” e do papel que desempenhou ao longo dos seus 119 anos de
vida.
Tratou-se de uma decisão
que reconhece o trabalho desenvolvido desde os finais da monarquia até aos dias
de hoje e a importância politica, económica e social que assumiu em diferentes
períodos da nossa história e, também por isso, é uma decisão que enobrece quem
a propôs e aprovou.
A atribuição desta
distinção é a homenagem devida aos 41 trabalhadores da Corticeira Robinson que
a fundaram e aos milhares de outros que ao longo da sua secular existência a
mantiveram nos lugares cimeiros da intervenção cívica na cidade e no concelho.
A Cooperativa Operária
Portalegrense mantém a sua matriz mas, como a cidade e o concelho, foi
alterando a sua intervenção.
Criada como resposta à
cíclica e grave escassez e carestia do pão, rapidamente se afirmou no plano
económico e, sobretudo, como instrumento de intervenção politico-sindical e
baluarte do republicanismo emergente.
Numa altura em que
Portalegre era um importante baluarte operário a Cooperativa Operária, a sua
loja, a sua escola e os seus salões eram o porto seguro da acção
político-social e em particular do republicanismo e do sindicalismo.
Hoje a situação da
Cooperativa é diferente, como diferentes são a situação do concelho e da
cidade.
A Portalegre operária é
apenas uma recordação e as principais “ofertas” da Cooperativa em espaços e
serviços perderam a importância de outros tempos. O aparecimento das grandes
superfícies comerciais e os novos hábitos de consumo impuseram o fim da “Loja
da Cooperativa” e tornaram desnecessários os serviços de cozinha e salão de festas
então fundamentais para a realização dos casamentos e baptizados dos operários
da cidade.
A Cooperativa evoluiu como
a cidade. Hoje está diferente quanto aos objectivos e à sua intervenção. Hoje a
aposta é na cultura e na solidariedade.
Tive a honra de integrar a
delegação que em nome da Cooperativa recebeu a distinção perante a aprovação de
uma sala apinhada de portalegrenses mas é da mais elementar justiça
reconhecermos que ali, eramos apenas os representantes legais dos operários que
a fundaram, dos muitos e muitas que a fizeram crescer e perdurar e, no que aos
tempos mais próximos diz respeito, dos que a mantiveram de pé quando as enormes
carências económicas e humanas ameaçavam seriamente a sua continuidade.
Ali, perante a sala de
festas dos portalegrenses a abarrotar, eu e Alexandra Janeiro éramos apenas a
imagem e a voz dos muitos outros que
contra ventos e marés impediram o seu encerramento.
Ali, connosco, estavam
também o Fausto Janeiro, o Júlio Pires, O Hélio Pereira, o Manuel Braga, o
Constantino Cortes, o Josué Damião.
Que consigamos, cooperantes e cidade, a
mantê-la viva e actuante!
Diogo Serra
*Publicado no Jornal Alto Alentejo de 31-05-2017