quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Ameaçados de morte em tempo de paz

Ameaçados de morte em tempo de paz*


O nosso território, cuja excelência é por todos reconhecida, vive há décadas sob ameaça de extinção.

Não estou a falar na falta de emprego para os nossos jovens, no isolamento a que somos sujeitos, nem sequer do contínuo e alarmante envelhecimento e despovoamento porque esses são, apesar de nocivos e persistentes, por demais conhecidos.

Refiro-me ao perigo real de um desastre nuclear com implicações catastróficas para o todo nacional mas, particularmente gravosas para quantos persistem em viver no Norte Alentejano (e na Beira Baixa) uma vez que coabitamos com uma Central Nuclear que já há muito ultrapassou o seu limite temporal e, porque não foi desmantelada como se impunha, se transformou numa séria ameaça para quantos à sua volta vivem e trabalham.

E esta ameaça não está em Chernoyl, ou em Fukushima. Esta convive connosco há algumas décadas.

Os menos atentos serão tentados a chamar-me alarmistas até porque, como bem sabemos, Portugal não possui centrais nucleares, esquecendo que apesar disso a mais perigosa Central Nuclear da Ibéria (porque já há muito ultrapassou o seu limite útil de vida) se situa aqui al lado, em Almaraz, paredes meias com o Rio Tejo e a uns meros 100 quilómetros das nossas casas.

Até agora, apesar de estarmos em risco muitos de nós fingíamos não saber da existência de uma Central que desde há tempos vêm acumulando problemas e aumentando os riscos de acidente não se envolvendo ou mesmo censurando os poucos que de forma militante, de um e outros lados da fronteira, persistiam em denunciar os perigos e exigir o encerramento da Central Nuclear.

De recordar que o Movimento Sindical de Classe e diferentes grupos ecologistas do Norte Alentejano e da Extremadura há muito organizam e participam em diversas iniciativas pelo encerramento de Almaraz.
Mas foi o serôdio despertar do governo português para com Almaraz que trouxe para a discussão pública a presença e continuidade deste perigo que sobre nós paira. E porquê? Porque o Governo de Rajoy decidiu autorizar a construção de um aterro para resíduos nucleares na Central de Almaraz sem previamente ouvir o governo português, conforme está obrigado.

Por essa razão o governo português anunciou ir apresentar “queixa em Bruxelas”.

Pessoalmente não posso deixar de apoiar a iniciativa bem como a postura do Ministro do Ambiente de recusar ir a uma reunião sobre uma matéria cuja decisão já terá sido tomada. Porém, não posso deixar de inquietar-me sobre a posição do Governo de Portugal se esta não visar mais longe que o simples arrufo de não ter sido consultado sobre a dita construção.
O que está verdadeiramente em causa não é a decisão do governo Rajoy de autorizar a construção do aterro ter sido tomada sem ouvir o governo português. O que está verdadeiramente é a necessidade de a Central de Almaraz ser encerrada e “limpa” como já há muito deveria estar.

O que está verdadeiramente em causa e no Norte Alentejano deveria lembrá-lo permanentemente é o direito que temos de trabalhar e viver no Norte Alentejano sem pender sobre nós o perigo de uma hecatombe nuclear.

É sobre isto que queremos que (também) o governo português tome uma posição enérgica junto de Madrid e de Bruxelas.

* Publicado no Jornal Fonte Nova de dia 11-01-2017

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