Ameaçados de morte em tempo de paz*
O nosso território, cuja
excelência é por todos reconhecida, vive há décadas sob ameaça de extinção.
Não estou a falar na falta
de emprego para os nossos jovens, no isolamento a que somos sujeitos, nem
sequer do contínuo e alarmante envelhecimento e despovoamento porque esses são,
apesar de nocivos e persistentes, por demais conhecidos.
Refiro-me ao perigo real de
um desastre nuclear com implicações catastróficas para o todo nacional mas,
particularmente gravosas para quantos persistem em viver no Norte Alentejano (e
na Beira Baixa) uma vez que coabitamos com uma Central Nuclear que já há muito
ultrapassou o seu limite temporal e, porque não foi desmantelada como se impunha,
se transformou numa séria ameaça para quantos à sua volta vivem e trabalham.
E esta ameaça não está em
Chernoyl, ou em Fukushima. Esta convive connosco há algumas décadas.
Os menos atentos serão
tentados a chamar-me alarmistas até porque, como bem sabemos, Portugal não
possui centrais nucleares, esquecendo que apesar disso a mais perigosa Central
Nuclear da Ibéria (porque já há muito ultrapassou o seu limite útil de vida) se
situa aqui al lado, em Almaraz, paredes meias com o Rio Tejo e a uns meros 100
quilómetros das nossas casas.
Até agora, apesar de
estarmos em risco muitos de nós fingíamos não saber da existência de uma
Central que desde há tempos vêm acumulando problemas e aumentando os riscos de
acidente não se envolvendo ou mesmo censurando os poucos que de forma
militante, de um e outros lados da fronteira, persistiam em denunciar os
perigos e exigir o encerramento da Central Nuclear.
De recordar que o Movimento
Sindical de Classe e diferentes grupos ecologistas do Norte Alentejano e da
Extremadura há muito organizam e participam em diversas iniciativas pelo
encerramento de Almaraz.
Mas foi o serôdio despertar
do governo português para com Almaraz que trouxe para a discussão pública a
presença e continuidade deste perigo que sobre nós paira. E porquê? Porque o
Governo de Rajoy decidiu autorizar a construção de um aterro para resíduos
nucleares na Central de Almaraz sem previamente ouvir o governo português,
conforme está obrigado.
Por essa razão o governo
português anunciou ir apresentar “queixa em Bruxelas”.
Pessoalmente não posso deixar
de apoiar a iniciativa bem como a postura do Ministro do Ambiente de recusar ir
a uma reunião sobre uma matéria cuja decisão já terá sido tomada. Porém, não
posso deixar de inquietar-me sobre a posição do Governo de Portugal se esta não
visar mais longe que o simples arrufo de não ter sido consultado sobre a dita
construção.
O que está verdadeiramente
em causa não é a decisão do governo Rajoy de autorizar a construção do aterro
ter sido tomada sem ouvir o governo português. O que está verdadeiramente é a
necessidade de a Central de Almaraz ser encerrada e “limpa” como já há muito
deveria estar.
O que está verdadeiramente
em causa e no Norte Alentejano deveria lembrá-lo permanentemente é o direito
que temos de trabalhar e viver no Norte Alentejano sem pender sobre nós o
perigo de uma hecatombe nuclear.
É sobre isto que queremos
que (também) o governo português tome uma posição enérgica junto de Madrid e de
Bruxelas.
* Publicado no Jornal Fonte Nova de dia 11-01-2017
* Publicado no Jornal Fonte Nova de dia 11-01-2017
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