Setembro, mês de todos os males?
Quando este meu texto estiver nas
mãos dos leitores do “nosso” alto Alentejo já teremos passado quer o equinócio
do outono, quer o nono mês do calendário que adoptamos. Terão por isso sido
ultrapassadas as muitas datas que anualmente assinalo com tristeza, umas,
alegria outras e, até, algumas com um duplo sentimento de dor e alegria.
Permitam-me que exemplifique. Em
cada ano setembro começa em alta, para mim e milhares de outros que
habitualmente rumam para a Terra dos Sonhos a edificar ou a usufruir a Festa do
Avante. Uma festa que é muito mais que uma grande manifestação politica e
ideológica do partido que a promove é, como este ano voltou a mostrar, uma
festa para todos, todos, todos.
Mas porque a Festa são três dias
de imediato se apresentam as datas que nos recordam o que de pior o homem pode
ser. Com a chegada do dia 11, dia em que a barbárie se fez sentir em vários
pontos do mundo, Em 1973 com o golpe fascista de Pinochet que afogou em sangue
o sonho de todo um povo que em redor de Salvador Allende acreditou ser possível
construir um Chile de progresso e paz e em 2001 com o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center. Uma e
outra destas “efemérides” continuariam a matar muito para além das datas citadas.
E chegou o equinócio de outono arrastando consigo recordações
de má memoria para os alentejanos. A 27 de setembro de 1979, no Escoural, dois
operários agrícolas, Caravela e Casquinha, eram assassinados a tiro, por uma
força da GNR, quando procuravam defender o fruto do seu trabalho, Um crime
brutal a mando de um ministro apostado em restabelecer o latifúndio.
Recordo que também a nossa cidade não se alheou da onda de
repúdio que este duplo assassinato suscitou. Portalegre assistiu a uma das
maiores manifestações aqui realizadas, manifestação em silêncio que partiu do
Rossio e terminou frente ao Governo Civil e com os comerciantes a cerrarem as
portas à sua passagem como se do verdadeiro funeral se tratasse.
No dia a seguir no mês
mas cinco anos atrás Portugal havia sentido e derrotado uma das primeiras
tentativas de Spínola na Presidência da Republica, travar pela força a marcha
da Revolução. Era a maioria silenciosa, principescamente paga para colocar o
general do monóculo como caudilho de país autocrático que a sua desmedida
ambição impunha.
O golpe, mais um, foi derrotado mas num tempo em que alguns procuram
reescrever a história transformando heróis em implicados de Abril e terroristas
em heróis e democratas importa que recordemos os objetivos dos golpistas
encabeçados por Spínola.
·
Organizar até 31 de outubro um referendo destinado à
aprovação de um projeto de Constituição provisória e adiar as eleições para
novembro de 76
·
Acabar com o MFA – Movimento das Forças Armadas, ficando o
Presidente, ele, com o poder supremo das forças armadas.
·
O Presidente da Republica, ele próprio, ficaria com
competência de nomear e exonerar livremente o primeiro-ministro e os ministros.
Foram
derrotados e a Revolução pode continuar e, também por isso, o 28 de setembro é
para mim, em cada ano, assinalado com um misto de tristeza e alegria. Tristeza
por não terem, os vencedores, sabido aprofundar essa vitória. Alegria por ter
sido possível travar mais essa tentativa golpista e por eu próprio com muitos
outros termos podido participar nas barreiras que também no nosso distrito
desmontaram a golpada.
Outros
golpes e outras intentonas se foram sucedendo com estes ou outros
protagonistas, com maior violência e sucesso mas o importante é que apesar de
tudo a Revolução aí está. Adiada é certo, mas viva e capaz de retomar o caminho
que iniciou e a Constituição da Republica acolhe.
Setembro terminou. Que viva Abril!
Diogo Júlio Serra
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