Não. Não é coisa do passado.
25 de Abril Sempre!
Comemoramos este ano, alguns só o assinalam, o cinquentenário do 25 de Abril.
Aquela “dia inicial inteiro e limpo” que abriu portas a todos os sonhos, permitiu a Revolução dos Cravos que pasmou o mundo e que haveria de transformar o país cinzentão e “orgulhosamente” só, numa das mais avançadas democracias do mundo. Uma democracia que, em tempo recorde pôs fim à guerra e iniciou a descolonização, elegeu uma assembleia constituinte e criou uma constituição modelar, iniciou o desenvolvimento económico e social e conseguiu integrar sem roturas institucionais ou violências mais de 1 milhão de portugueses que, por vontade própria ou alheia tiveram que rumar ou retornar ao continente português.
O 25 de Abril e o Movimento dos Capitães que o originou, os milhares de resistentes à ditadura que ao longo do quase meio século que durou, mantiveram acesa a chama da esperança, os homens e mulheres jovens e menos jovens que pagaram com a sua liberdade e em muitos casos com a própria vida, o preço daquela madrugada tão esperada, são um marco histórico e belo que mereceu e merece o aplauso da esmagadora maioria dos portugueses.
Assim continua. Independentemente dos olhos e dos interesses com cada um o vê, cinquenta anos depois. Com os olhos e a vontade com que cada um, desde o próprio dia e até hoje, o quis ver, com a forma que o 25 de Abril de 74, respondeu aos seus sonhos e como os seus interesses foram por ele satisfeitos ou beliscados.
O
25 de Abril de 1974 encerra em si múltiplos
dias e sonhos onde cabem todos, inclusivamente essas minorias que desde a
primeira hora o combatem por opção de classe, interesse económico ou má
formação.
Cabem todos porque ele, o 25 de Abril, é multifacetado e policromo. Até 24 de Abril foi resistência e coragem, no próprio dia começou sendo um golpe de estado militar que rapidamente foi apropriado pelo povo e transformado em Revolução dos Cravos.
No início do dia seguinte voltava à ribalta o golpe militar com o anúncio da Junta de Salvação Nacional, a surpresa da sua composição e a nomeação, em Maio, de Spínola para Presidente da República. Os dias que se lhe seguiram, até ao 11 Março, foram de intensa luta entre o “golpe e a Revolução”.
Face à derrota sofrida pelos golpistas do 11 de Março, a Revolução toma a dianteira e cumpriram-se sonhos: aconteceram as nacionalizações, o salário mínimo passou de 3.300$ para 4.000$ (+ 20%), foram implementados os subsídios de férias e de desemprego e a licença de parto.
A 25 de Novembro de 75, regressa o golpe. A revolução é travada e o país é sujeito às regras das democracias liberais e capitalistas. É o tempo da Europa connosco! Situação que hoje se mantém com Portugal a “vestir-se” no pronto-a-vestir europeu com “fatos” construídos em série e que tentamos depois adaptar.
Todavia, como as últimas eleições deixaram bem visível, de novo aconteceu Abril. Um Abril que permite a alternância através do voto, que respeita o voto popular ao ponto de, com grande pena minha, deixar sentar na vice-presidência da Casa da Democracia um ex-dirigente do movimento bombista que pôs Portugal a arder ou fingir indiferença face à decisão do Presidente da República Portuguesa (Mário Soares já o havia feito mas às claras) de, meio às escondidas, atribuir ao chefe e fundador da organização terrorista de extrema-direita, o Grande Colar da Ordem da Liberdade.
É o conjunto
de acontecimentos e de valores que em cada momento e a cada sector da nossa
sociedade, entusiasma ou deprime que impõe o 25 de Abril de 1974, então como
agora, uma quinta-feira e sempre “ o dia
inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio/E livres
habitamos a substância do tempo”
São todos estes “Abriles” que encerram a beleza do Movimento dos Capitães e o espírito de Abril. São todas estas possibilidades de O olhar e O entender que permitem e garantem que o 25 de Abril dos Cravos e da Liberdade não seja “coisa do passado” antes continue a ser futuro para Portugal e para os Portugueses.
Que viva Abril!
Diogo Serra
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