Cumprir e fazer cumprir a Constituição!
Ao
longo da nossa história enquanto país independente só por quatro ocasiões
fizemos reunir Assembleias constituintes que produziram diferentes
Constituições.
No
século XIX e no seguimento da Revolução Liberal em que pela primeira vez a
Nação elaborou e fez aprovar a Carta Constitucional, no século XX quando da
implantação da República que elegeu uma Assembleia Constituinte que elaborou e
aprovou a Constituição Republicana de 1911, em 1933 quando em plena ditadura
Salazar plebiscitou a sua constituição, visando dar um ar de legitimidade à
ditadura terrorista que comandava e em 1976 quando a Assembleia Constituinte
eleita pela primeira vez, pelo voto geral e universal dos portugueses aprovou a
Constituição da República que hoje se mantém e que consagra a Revolução dos
Cravos que derrubou a ditadura e nos recolocou no seio das nações livres e
democráticas.
Hoje,
quando se cumpre o 48º aniversário da sua proclamação, venho falar-vos dessa
Constituição saída da vontade popular expressa nas primeiras eleições gerais,
universais e livres, após os 48 anos da Ditadura que uns apelidam de terrorista
ou fascista e outros, os que a impunham, denominavam de Estado Novo.
Comemorar
o 48º aniversário da promulgação da Constituição da República Portuguesa é
festejar um dos acontecimentos mais significativos da Revolução de Abril. O
registo em forma de lei da vontade do povo português manifestada na primeira
eleição verdadeiramente democrática realizada em Portugal, por sufrágio direto
e universal, e que contou com a participação de 91,66% dos 6 231 372 cidadãos
eleitores inscritos para votar.
Vontade
interpretada de forma sublime pelos deputados constituintes entre os quais os
que ali estavam em representação do nosso distrito e que quero aqui recordar: Júlio
Miranda Calha, Domingos do Carmo Pereira e João do Rosário Barrento Henriques, eleitos
pelo Partido Socialista e António Joaquim Gervásio, que viria a ser substituído
por Joaquim Diogo Velez, eleito pelo Partido Comunista Português.
Os
processos de revisão constitucional já concluídos (sete) modificaram muitas das
suas disposições originárias, adaptando-a às necessidades de cada momento e à
correlação de forças politicas e sociais que as promoveram mas mantendo-lhe a
marca que a caraterizou desde a sua promulgação em 2 de Abril de 1976 – uma das
leis fundamentais mais progressistas da Europa e do mundo que garante: a defesa
dos valores do estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no
pluralismo, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades
fundamentais; a subordinação do poder económico ao poder político democrático;
os direitos individuais e coletivos dos trabalhadores; o direito ao trabalho, o
acesso à saúde, à educação, à cultura, à justiça, à segurança social e à
habitação.
No
ano em que assinalamos o cinquentenário da Revolução dos Cravos e quando os
derrotados em Abril, estão aí, às claras, com as suas habituais charlatanices à
procura de oportunidades para capitalizarem o justo descontentamento, em
oportunidades do retrocesso de que nunca desistiram, é a hora de refletirmos
sobre o país que hoje temos e o que justifica a justa insatisfação de muitos
portugueses para com o estado da democracia.
Reflexão
tanto mais importante quando a justa insatisfação de muitos portugueses, tantas
vezes ignorada ou olhada com desdém, fez-se agora ouvir com estrondo nos
resultados eleitorais do passado dia 10 de Março.
Estou
certo de que o estado da democracia e dos portugueses não resulta da
Constituição mas do seu incumprimento, pelo que o futuro passa pelo seu
cumprimento.
Quanto
mais cidadãos conhecerem a Constituição e o que nela está expresso, quanto
melhor for conhecido o contexto em que nasceu e se concretizou a Revolução que
esta consagra, mais portugueses compreenderão que os problemas, graves, que nos
afetam e ferem e o estado atual da nossa democracia não resultam da
Constituição, mas do seu incumprimento.
A
efetivação dos direitos fundamentais constitucionalmente consagrados exige um
poder político determinado em cumprir e fazer cumprir a Constituição e a adoção
de políticas que se identifiquem com os seus valores e princípios e isso não
tem sido conseguido.
É
preciso garantir o futuro.
Cumpra-se a
Constituição!
Diogo Serra
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