Entre a realidade vivida e a realidade “fabricada”!
Os casos e casinhos que preenchem
a atenção dos nossos “media” são tão
só um novo instrumento para nos distrair dos verdadeiros problemas que nos
afectam.
A sucessão de casos e debates em
torno deles tem como objectivo descentrar a discussão dos conteúdos políticos e
alimentar a ladainha do “são todos iguais” e as agendas reaccionárias que aí
estão.
Nos últimos dias a somar à
realidade mediática marcada pelos grandes meios também a comunicação social
regional tem tentado manter na agenda, a partir de declarações proferidas pelo
presidente da CCDRA, o perigo “dos atrasos nas obras de diversos equipamentos
de saúde” e das preocupações sobre a perda de parte significativa dos fundos
alocados para tais construções e na procura de culpados para essas situações. E
tudo “contado” como se o que estivesse em causa não fosse a incompetência ou
desleixo do poder central no garantir de tais tarefas.
O mesmo e com a mesma fonte, o
que se refere à situação “vergonhosa” como é tratada a nossa região no que
respeita às acessibilidades.
De novo a realidade mediática a
tentar fazer-nos acreditar que o Poder Central, responsável pela situação para
onde nos atiraram, vai agora “presentear-nos” com as acessibilidades
ferroviárias que nos “roubou”, com as rodovias que nos são necessárias mas não
construiu e com o tratamento politico que sempre nos negou.
Pela voz do Presidente da CCDRA
sistematicamente ampliada e repetida pela comunicação social local, ficámos a
saber do esforço “enorme” que a CCDRA vem fazendo para trazer o caminho de
ferro à cidade ou para que a Linha do Leste não continue parada “no tempo dos comboios
a vapor”. E até, pasme-se, o que de bom tem para nós, no caso para os
portalegrenses, termos sido brindados com mais uma rotunda, não para nos
impedir de morrer no entroncamento “ilegal” do IP2 na entrada sul da cidade
mas, na estrada que nos liga a Arronches, a 200 metros do outro que já lá
existia mas agora, destinado a levar-nos para a nova escola da GNR.
Que a tal estação só chegue à
cidade lá para 2030, data em que se prevê a linha do leste ficar toda electrificada,
ou que Portalegre “ganhou” uma rotunda (200 mil euros) pelas mesmíssimas politicas
que outros (Campo Maior p.ex) “ganharam novas áreas de parqueamento industrial,
(15 milhões de euros).
Que a descoberta da necessidade
de aproximação da ferrovia à cidade é uma reivindicação antiga, que dos milhões
do PRR só se prevê que aqui possam chegar migalhas ou que os que agora fazem
tais anúncios são os mesmíssimos que têm impedido ou esquecido as nossas (do
território) reivindicações, são verdades que não estão “na agenda”.
Casos, casinhos e a ampla
“animação” mediática procuram esconder as manobras de chantagem sobre os
municípios relativamente à linha de desresponsabilização do Estado por via
chamada descentralização de competências e, também, a inércia e desinteresse em
garantir no território a mobilidade drasticamente reduzida e que foi imposta
por vários meses de estradas cortadas e pontes destruídas pelo mau tempo de
Dezembro último.
As infra-estruturas, quer pelo
seu valor intrínseco, quer pelo contributo que podem dar para o desenvolvimento
das regiões, são determinantes se inseridas numa política de desenvolvimento
integrado e sustentado, que partindo do aproveitamento dos recursos existentes,
os potenciem, os afirmem e contribuam para combater as assimetrias e as
desigualdades. A mobilidade em melhores condições é um anseio e aspiração das
populações e uma condição indispensável para a actividade económica.
O transporte de passageiros e mercadorias,
além de depender do nível dos serviços disponibilizados, deve estar ancorado
numa rede de infra-estruturas que assuma uma perspectiva intermodal,
complementar entre as suas diversas formas, valendo cada uma delas por si
(aérea, rodovia e ferrovia), mas que interligadas assumem uma relevância maior.
Esta a discussão que devemos ter.
O aproveitamento das
infraestruturas e as condições naturais e de corredores aéreos de Ponte de Sor,
a existência de uma rodovia qualificada, garantindo a ligação rápida e segura
entre as três cidades do Alto Alentejo e o acesso aos principais centros urbanos
e com uma rede ferroviária modernizada e electrificada.
Estes sim são os casos reais que
importa discutir.
E não basta continuar a agitar a
proximidade da inauguração da Linha Sines/Caia que a U.E. paga e impôs. Para o
Alto Alentejo o fundamental é a eletrificação da Linha do Leste e a sua conexão
com essa linha de Alta Velocidade que possa escoar os bens aqui produzidos e
permitir aos cidadãos reduzir significativamente os tempos de viagem, entre
Portalegre, Lisboa ou o Norte do País e fazendo-o com padrões de qualidade
consentâneos com o nosso tempo.
No que à rodovia diz respeito é
fundamental a conclusão do IP2 e do IC 13, a ligação em perfil de auto-estrada
da A6 com a A23 unindo Elvas/Campo Maior, Portalegre, Castelo Branco e um novo
itinerário que ligando Estremoz a Abrantes quebre o isolamento a que Ponte de
Sor/Avis/Sousel foram votados.
É esta realidade, a nossa
realidade e não as realidades mediáticas, fabricadas para nos entreter, que o
Alto Alentejo precisa ver debatida e, sobretudo, alterada.
Que seja agora!
Diogo Júlio Serra