Dia
Internacional dos Direitos …do futebol (?)
A 10 de Dezembro de
1948, cumprem-se hoje, data em que escrevo o presente texto, 74 anos, 58
estados assinavam a Declaração dos Direitos do Homem, que hoje chamamos de
Direitos Humanos. Dois anos depois a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamava
esta data como o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Tratava-se num e noutro
caso de promover a paz e a preservação da humanidade no pós 2ª Guerra Mundial
que vitimara milhões de pessoas mas também de garantir a cada indivíduo os
direitos mínimos necessários ao viver do ser humano.
Quer um, quer outro
documentos não seriam ratificados por Portugal a não ser depois de derrubado o
regime ditatorial do autoproclamado estado novo. Registe-se, a propósito, que a
Constituição saída da Revolução incorporou na totalidade o espirito da
Declaração dos Direitos Humanos. A Declaração só foi assinada por Portugal em
1976 e só em 1998, a 22 de Dezembro, a Assembleia da República declara o dia 10
de Dezembro como Dia Nacional dos Direitos Humanos.
Passados mais de 70
anos desde a assinatura da Declaração dos Direitos Humanos e quase 50 depois de
declarado o Dia Nacional dos Direitos Humanos em Portugal, hoje 10 de Dezembro
de 2022, o país e a cidade está focado no futebol.
Na comunicação
social, nas conversas e nas preocupações está agora o Portugal-Marrocos, o
sabermos de Ronaldo joga ou não joga, se vamos ou não continuar no mundial e
todavia vivemos num tempo em que os direitos humanos são constantemente
violados, quando a guerra e os seus horrores voltaram a instalar-se na Europa
enquanto persistem as matanças na Síria, na Palestina.
No nosso país, na
nossa região e na nossa cidade são muitos e graves os atentados aos direitos
humanos. Tão graves que deveriam estar à cabeça das nossas preocupações, no
local que teimamos em preencher com o futebol. Tão sérios que deviam
mobilizar-nos para a intervenção necessária ao assumirmos, cada um, a nossa
quota-parte no combate às guerras e na defesa e manutenção da paz. No combate à
ganância e na efetivação dos direitos que a Declaração proclama, o 10 de
Dezembro celebra e a nossa Constituição consagra.
A guerra na Ucrânia e as políticas que a alimentam
em vez de lhe dar combate, para onde também estamos a ser arrastados, o
tratamento desumano aos que nos procuram para trabalharem, a supressão dos
direitos devidos a quem trabalha, que crescem no país e na região, a indiferença
com que olhamos a pobreza que cresce à nossa volta e que é produzida pela
ganância de uns poucos são posturas totalmente contrárias ao espirito que da
Declaração quer da proclamação do Dia dos Direitos Humanos.
Neste dia em que alguns nem reparamos e que nos
devia estimular a promover a paz e a cidadania é fundamental que consigamos
sobrepor a mesquinhez e o individualismo à militância pela Paz e pela vida,
porque só assim a mudança será possível.
Que neste Dia Internacional dos Direitos Humanos
todos saibamos interpretar o que um homem do povo, um poeta popular há muito
nos gritou:
O mundo só pode ser
Melhor do que até aqui
Quando consigas fazer
Mais pelos outros que por ti!
Ainda é tempo!
Diogo Júlio Serra
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