quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Dia Internacional dos Direitos …do futebol (?)


            Dia Internacional dos Direitos …do futebol (?)

 




A 10 de Dezembro de 1948, cumprem-se hoje, data em que escrevo o presente texto, 74 anos, 58 estados assinavam a Declaração dos Direitos do Homem, que hoje chamamos de Direitos Humanos. Dois anos depois a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamava esta data como o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Tratava-se num e noutro caso de promover a paz e a preservação da humanidade no pós 2ª Guerra Mundial que vitimara milhões de pessoas mas também de garantir a cada indivíduo os direitos mínimos necessários ao viver do ser humano.

Quer um, quer outro documentos não seriam ratificados por Portugal a não ser depois de derrubado o regime ditatorial do autoproclamado estado novo. Registe-se, a propósito, que a Constituição saída da Revolução incorporou na totalidade o espirito da Declaração dos Direitos Humanos. A Declaração só foi assinada por Portugal em 1976 e só em 1998, a 22 de Dezembro, a Assembleia da República declara o dia 10 de Dezembro como Dia Nacional dos Direitos Humanos.

Passados mais de 70 anos desde a assinatura da Declaração dos Direitos Humanos e quase 50 depois de declarado o Dia Nacional dos Direitos Humanos em Portugal, hoje 10 de Dezembro de 2022, o país e a cidade está focado no futebol.

Na comunicação social, nas conversas e nas preocupações está agora o Portugal-Marrocos, o sabermos de Ronaldo joga ou não joga, se vamos ou não continuar no mundial e todavia vivemos num tempo em que os direitos humanos são constantemente violados, quando a guerra e os seus horrores voltaram a instalar-se na Europa enquanto persistem as matanças na Síria, na Palestina.

No nosso país, na nossa região e na nossa cidade são muitos e graves os atentados aos direitos humanos. Tão graves que deveriam estar à cabeça das nossas preocupações, no local que teimamos em preencher com o futebol. Tão sérios que deviam mobilizar-nos para a intervenção necessária ao assumirmos, cada um, a nossa quota-parte no combate às guerras e na defesa e manutenção da paz. No combate à ganância e na efetivação dos direitos que a Declaração proclama, o 10 de Dezembro celebra e a nossa Constituição consagra.

A guerra na Ucrânia e as políticas que a alimentam em vez de lhe dar combate, para onde também estamos a ser arrastados, o tratamento desumano aos que nos procuram para trabalharem, a supressão dos direitos devidos a quem trabalha, que crescem no país e na região, a indiferença com que olhamos a pobreza que cresce à nossa volta e que é produzida pela ganância de uns poucos são posturas totalmente contrárias ao espirito que da Declaração quer da proclamação do Dia dos Direitos Humanos.

Neste dia em que alguns nem reparamos e que nos devia estimular a promover a paz e a cidadania é fundamental que consigamos sobrepor a mesquinhez e o individualismo à militância pela Paz e pela vida, porque só assim a mudança será possível.

Que neste Dia Internacional dos Direitos Humanos todos saibamos interpretar o que um homem do povo, um poeta popular há muito nos gritou:

O mundo só pode ser

Melhor do que até aqui

Quando consigas fazer

Mais pelos outros que por ti!

Ainda é tempo!

 

Diogo Júlio Serra

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