E…Viva a
Festa!
Em 1976, vivíamos ainda a
‘ressaca’ do golpe militar do 25 de Novembro, realizou-se pela primeira vez.
A 23 de Setembro, a então Feira
Internacional de Lisboa, concentrava nas suas instalações, todo o Portugal
democrático e representações de diversos países do mundo e na sua rica
programação cultural ostentava, caso único num país há pouco saído das amarras
do isolamento, os maiores nomes da música mundial.
Logo essa primeira vez não foi
fácil. A tenacidade e coragem dos seus organizadores foi posta à prova por
diversas ‘adversidades’ a que nem faltou a tentativa bombista de cortar a
energia e a sua superação marcaria a vontade que a continuou a erguer
anualmente, com apenas uma interrupção. Neste caso por a direita no poder (no
país e na autarquia de Lisboa) ter negado a utilização do espaço – o Alto da
Ajuda – para a sua realização.
Os jornais da época deixaram
registado o êxito de que se revestiu essa festa montada pelo trabalho
voluntário de milhares de portugueses, animada culturalmente pelo que de melhor
tinham o país e o mundo e usufruída por muitos milhares de milhares de todas as
idades, condições e posicionamento político-partidário.
O seu êxito, desta e de quantas
se lhe seguiram, é o ‘segredo’ de uma festa que construída por um partido político
se destina a todo um povo que queira em paz desfrutar do que de melhor temos no
país. Sejam os nossos artistas -cantores, pintores, escritores, poetas, gentes
do teatro e do cinema - a nossa gastronomia, o nosso artesanato, as nossas tradições
e também a democracia que a Constituição consagrou e o futuro que todos
sonhamos e merecemos.
Esta é para mim, uma verdade
inatacável. Eu, que participei na construção e usufrui dessa primeira Festa,
nas que se lhe seguiram tenho sido muito mais beneficiário que ‘construtor’,
continuo a ter o primeiro fim-de-semana de setembro como referência e a Atalaia
como lugar onde anualmente revejo amigos, partilho sonhos, conquistas e mágoas
e deleito-me vivendo em três dias o mundo com que sonho e agora já avô continuo
a querer ajudar a construir. Um mundo como a Festa. Com igualdade, liberdade, fraternidade,
solidariedade e paz.
Por estas razões não acredito
que a cegueira, que o ódio e o preconceito alimentam, parta ou tenha apoio de
pessoas que independentemente da qualidade em que o fizeram, já estiveram na
Festa.
E todavia, mais uma vez,
assistimos a uma campanha orquestrada e bem paga, de guerrilha mediática contra
a Festa, quem a faz e quem a usufrui.
É assim desde o seu início.
Em 1976, embalados pelo golpe de
estado vitorioso, os argumentos foram as bombas, em 1987 ‘as bombas’
chamavam-se Nuno Abecassis e Cavaco, há dois anos era a Covid e a necessidade
de ficarmos prisioneiros, o ano passado foi, já nem me lembro o quê. Agora o
argumentário centra-se no ataque aos artistas que ali vão atuar e a sua, dizem,
insensibilidade em atuarem para quem, novamente são os do costume e os seus
megafones quem o diz, apoia a guerra que eles e quem os maneja, trouxeram para
a Europa.
Somos cada vez mais a perceber
que esta bem orquestrada e paga campanha contra a Festa, nada tem a ver com
ela, que diga-se com verdade tem vindo a somar exemplos de responsabilidade,
defesa da saúde e da sanidade dos portugueses, defesa dos trabalhadores (todos)
e particularmente dos trabalhadores do espetáculo a quem os poderes não só
impediram de trabalhar como deixarem entregues à sua sorte.
A maioria dos papagaios do ódio
sabem (alguns não o saberão, nem isto nem coisa nenhuma) que o problema não
está, nunca esteve, na defesa da saúde, na proliferação do tal vírus, do tal
IVA que dizem não ser pago, etc… etc… o problema para eles e para os donos é
haver neste país quem continue a interpretar e bem os versos de Manuel Alegre
magistralmente cantadas na Festa por Adriano.
O problema é o que a Festa
anualmente lhes “esfrega na cara” e que foi magistralmente traduzido na intervenção
de uma dirigente juvenil num comício de encerramento e que cito de cor:
“Neste tempo assim
vivido/tivemos Festa outra vez/porque temos um Partido/Comunista e Portuiguês.”
É isto! Este é o problema de
quantos (já lão vão mais de cem anos) não conseguem discernir que ‘o mundo pula
e avança’.
Para os outros muitos que não
são prisioneiros do preconceito e da intolerância uma palavra amiga: - Venham
daí, porque a vida são dois dias e a Festa do Avante são três.
Encontramo-nos lá. E, boas
férias!
Diogo Júlio Serra
(publicado no Jornal do Alto Alentejo de 24 de Agosto de 22)
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